segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

IX. Castoriadis: Socialismo ou Barbárie

"Afirmar que um social inerte tomou o lugar de um social fecundo, que toda a mudança radical é inconcebível a partir de agora, exprimiria a posição de que toda uma fase da história iniciada, digamos, no séc.XII, está em vias de desaparecimento, que entramos numa espécie de nova Idade Média, caracterizada quer pela tranquilidade histórica (vistas as coisas, a ideia parece cómica), quer por conflitos violentos e desintegrações mas sem nenhuma produtividade histórica: em suma uma sociedade fechada que estagna, não sabemos senão desagregar sem nada criar ( Seja dito entre parêntesis, esse é o sentido que dei ao termo 'barbárie', na expressão 'Socialismo ou Barbárie')".

"Não se trata de fazer profecias: Mas não creio que vivamos numa sociedade onde nada acontece. Primeiro, é preciso ver o carácter profundamente antinómico do processo. O regime empurra as pessoas para a privatização, favorece-a, subvenciona-a, acompanha-a. As próprias pessoas na medida em que não descobrem nenhuma iniciativa colectiva que lhes ofereça uma saída ou lhes dê sentido, retiram-se para a esfera privada. Mas também, é o próprio sistema que, para lá de um certo limite, não pode tolerar essa privatização porque a molecularização completa da sociedade acabaria por dar cabo dela ; por isso, assiste-se de vez em quando a tentativas para atrair de novo as pessoas para as actividades sociais. E os próprios indivíduos, cada vez que querem lutar, 'colectivizam-se' de novo".

"Todo o movimento parcial não só pode ser recuperado pelo sistema mas, como enquanto este durar, contribui de qualquer forma para o seu funcionamento. Apesar de tudo, o capitalismo pode funcionar não só apesar das lutas operárias, mas graças a elas. Sem essas lutas não viveríamos nesta sociedade como é regida agora, mas sim numa sociedade fundada sobre o trabalho de escravos industriais: E essas lutas ajudaram a contestar as significações centrais do imaginário capitalista: a propriedade, a hierarquia, etc".

"A democracia é impossível sem a liberdade e a diversidade de opinião. A democracia implica que seja impossível que alguém invoque uma ciência qualquer para dizer, no âmbito da política, "isto é verdadeiro" ou "isto é falso". Dito de outra forma, aquele que "possuísse" essa ciência, poderia, e deveria, tomar o lugar do corpo político, do soberano ".

In C. Castoriadis,"Domaines de l´homme", págs. 79/257. Edt. Du Seuil. France
FAR

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