Olá,
Nos Estados Unidos não há manifestações contra despedimentos. E também não há bilhete de identidade. Há outras formas de identificação e controlo e há outras manifestações de protesto claro está, mas Bilhete de Identidade à europeia, com dados centralizados, impressão digital e de fácil acesso pelas autoridades do governo central (neste caso federal) não há e ninguém o quer. Manifestações à europeia contra despedimentos porque uma fabrica já não dá os lucros desejados, não há.
O que reflecte uma diferença cultural entre os americanos e a generalidade dos europeus que marca todo modo de encarar a vida e as relações económicas e com o poder.
Depois de muitos anos vividos deste lado do charco tenho a confessar que eu partilho agora em grande parte do fascínio dos americanos pelo facto dos europeus que ao longo dos séculos foram sempre martirizados, explorados, agredidos e oprimidos pelos seus estados continuarem a acreditar que há uma contradição entre o interesse individual e o colectivo encarnado pelo estado, uma contradição entre o bem social e interesses económicos individuais.
É fascinante ver como muita da esquerda europeia continua a ser marcada pela crença na dependência igual de todos no governo - em tudo - como solução para os males do mundo.
Aqui pelo contrário há a crença que o interesse comum é melhor servido quando se permite aos indivíduos seguirem o seu interesse pessoal. É interessante notar que isto se reflecte na declaração de independência feita em nome não só do direito à “vida e liberdade” mas também do direito de cada cidadão à “procura da felicidade”.
Os autores dessa declaração – na sua sabedoria - não definem o que é “felicidade” mas tenho quase a certeza que isso explica o facto de que aqui deste lado do charco desde a fundação do país se acredita que lutar pelos interesses privados de cada um beneficia toda a sociedade.
E isso resulta em que os americanos aceitem muito mais facilmente as realidades duras do mercado e a consequências árduas dessas realidades. Para os americanos é perfeitamente natural para uma companhia despedir trabalhadores se a companhia tem que o fazer para sobreviver, por exemplo É por isso que não há manifestações contra despedimentos. A Chrysler por exemplo acaba de anunciar que nos próximos anos vai despedir 13.000 trabalhadores. Imagine-se o forrobodó em qualquer parte da Europa se isso acontecesse. Aqui está tudo a analisar os porquês dos males da Chrysler e da industria automóvel americana ….( de que eu aliás e como alguns se devem recordar já vos falei)
Mas vejam mais: Uma sondagem indicou que menos de um terço dos americanos acreditam que é responsabilidade do estado reduzir as disparidades de rendimentos e mais de 70 por cento acreditam que são os indivíduos que têm que assumir responsabilidade por cuidarem de si mesmos.
Talvez seja também por isso porque aqui é “tabu” para qualquer político falar em impostos para resolver problemas. Isso é que causa aqui forrobodó e quem propor tal coisa pode dizer “hasta la vista” à possibilidade de ser eleito.
Aí pelo contrario continua-se a acreditar que não há nenhum problema que não possa ser resolvido com um novo imposto. Por exemplo: Como é que o Jacques Chirac quer combater a pobreza no “mundo em desenvolvimento”? Um imposto aos bilhetes de avião. E toda a malta segue cantando e rindo….
Reflecte bem aquela aquela crença da “bien pensant” elite europeia que o estado pode socializar toda a gente a portar-se bem se se eliminar ao máximo o interesse individual. O Estado é que vai resolver os problemas da pobreza do “mundo em desenvolvimento”. Isto apesar de desde os anos 60 se terem gasto – só em África - mais de 500 mil milhões de dólares em ajuda de estado para estado … et voilá Monsieur le President…os resultados estão à vista.
Igualdade para os americanos significa igualdade de oportunidade. Liberdade significa oportunidade e não intromissão do estado. Daí que quase 80 por cento dos americanos acreditem que o poder dos Estados Unidos se deve na maior parte ao sucessos das empresas americanas e da sua economia
É a tal crença em que não há contradição entre o interesse individual e o interesse colectivo, a crença que o governo não pode socializar toda a gente e eliminar responsabilidade individual. Ao fim e ao cabo e como disse o antigo presidente da Universidade de Harvard Lawrence Summers “na história da humanidade nunca ninguém lavou um carro alugado”.
Faz pensar, não é?
Um abraço,
Da capital do Império
Jota Esse Erre
11 comentários:
Nos USA só existem dados centralizados para árabes ou visitantes de países atrasados (Portugal incluído).
O facto dos redatores da constuição USA terem escravos para poderem ler Comte descansados permitiu-lhes gerar uma obra-prima. E o Vicodin proporciona a essa "felicidade" almejada.
Dos USA gosto sobretudo da moda de tiroteios nas escolas e centros comerciais. Já devia ter sido importada para a Europa.
Muito interessante. Sou forçado a concordar com algumas das coisas aqui escritas. Especialmente numa lógica em que o Estado não pode e não deve substituir-se à vontade individual, que é basicamente o que tem acontecido na Europa e em Portugal.
Mas tb temos de reconhecer que o Estado pode ser repensado, mas que o Americano não é propriamente um exemplo.
O problema é que EUA e Europa mantêm sistemas opostos. Onde na Europa o estado se envolve demais, nos EUA envolvesse de menos ou mal.
JSR, meu caro: Parece que Ben Bernanke, o chairman da Reserva Federal, está muito preocupado com a fantasmática desigualdade nos rendimentos dos pobres cidadãos norte-americanos. E faz mesmo recomendações aos ministros de GW Bush. JSR não está, fascinado pelo american way of life, tomar a nuvem por Juno? Summers, um neo-keynesiano, cúmplice de Stiglitz, deve concordar com os sucessivos gritos de alarme que Paul Krugman tem emitido no NY Times, sobre a deriva e a desigualdade penalizadora da política de distribuição e rendimentos de Bush e seus muxaxos de intenções muito duvidosas, ou não é assim? Bernanke, há dois dias no F. Times de Londres, dizia que um pouco de Etado providência até era caaz de fazer bem à tremida e torcida economia americana. FAR
Errata. Deve ler-se aEstado e capaz, no seu devido lugar. FAR a 3. mil Kms e Lisboa
O Ben Bernanke foi nomeado por razões de ordem política, e não de ordem técnica. Não me espantam os comentários dele. Já se começa a sentir a falta do "maestro" Greenspan na Reserva Federal. O resto, NYTimes & Companhia, é a lenga lenga do custome.
o curioso é que com forrobodó ou sem forrobodó, algumas pessoas na europa tentem convencer-nos de que as necessidades de despedimentos cá deste lado se devem ao execsso de garantias e ao forrobodó. Pelos vistos, do outro lado, mesmo com todas as flexibilizações, há despedimentos em barda e ... sem forrobodó. O resultado? Está à vista no fosso cada vez maior cavado entre os muito ricos e os muito pobres.
Claro que os americanos ricos são espertos: convencem os tesos de que vale a pena manter a sua "liberdade de lutarem pela sua felicidade", é melhor para "todos"...
O que vale é que nós vamos pelo mesmo caminho: Os bancos onze meses do ano aconselhando a "flexibilização" sob pena da desgraça e da inevitabilidade de partir para a europa de leste "ganhar a vida" e um mês anunciando lucros record.
enfim uma conversa que já dá nauseas. Para além disso é mentira que os trabalhadores americanos sejam o modelo de lorpas exportado para o pagode ver. Há um movimento laboral que luta pelos seus direitos. Vão perguntar-lhes o a opinião deles sobre a "desgraça" que é a relativa estabilidade laboral e as garantias que (ainda) se vão vivendo na Europa.
Quando digo na Europa, excluo o nosso portugalinho. O ministro Pinho prestou um serviço aos sindicatos ao falar verdade e eles, se não fossem uns cretinos tinham agradecido, tomado nota e esperado na volta nas próximas negociações. O que é delicioso é que com este panorama caótico ainda hajam uns "teóricos" que acham que precisamos de ainda mais liberalismo.
«Nos Estados Unidos não há manifestações contra despedimentos»
Eu às vezes pergunto-me se o JSR vive mesmo nos Estados Unidos...
Ou, se vive, se a informação que obtém provém de algo mais que a Fox News. É que eu, do lado de cá, pareço estar muito mais bem informado sobre certas questões que por lá se passam. Por exemplo:
http://indymedia.us/en/topic/labor/archive.shtml
Ao sr. Anónimo das 11.52- Lenga-lenga é a sua ... Ainda por cima escondida no anonimato. As coisas são o que são: V. Excia não nasce ensinado nem se pode orgulhar de desprezar a interlecção dos refernciais maiores da Imprensa Mundial. O sr. anónimo só poderia fazer uma de duas coisas: ou abster-se por declarada incompetência, ou citar as revistas especializadas de Economia americanas de Harvard, Princepton e Nova York. Há pessoas que nãa as pensam... por isso querem permanecer fechadas na sua estupidez e maldade. FAR
Sr. FAR, você deve ter saudades das votações de braço no ar, de catecismos culturais, e de muitos outros tiques esquerdistas de 3ª classe. Declarada incompetência? Nem vou comentar, mas pelo jeito com que você debita frenéticamente tantos nomes ilustres, numa salada russa sem pés nem cabeça, você é uma de duas coisas, ou alguém que lhe passou uma grande carreira ao lado e hoje vive a apertar parafusos numa linha de montagem a três mil quilómetros daqui, ou então sou obrigado a manisfestar-lhe a minha "inveja", porque deve passar a santa vida a ler, blogar, e com dinheiro para gastos, sem mais preocupações. Quanto ao resto, fair play e boa educação são coisas muito bonitas.
Sr. Anónimo: Tenho montes de tempo e casei com mulher rica. Tenho um part-time na Porsche interessante. Nesta época terrível, posso considerar-me um homem feliz. Tenho é princípios, valores e ética.
Já tive um Jornal, escrevo noutro e conheco muito bem o " meio ", aqui, no Luxemburgo e Paris. Tentei arranjar parceiros para arrancar com um novo projecto, já por duas ou três vezes. Quem estiver interessado, apite. Tenho cinco ideias para o sucesso!
Sobre o teor dos meus artigos: eles são de uma coerência total! Tudo bate certo e dá bons resultados: a Teresa de Sousa do Público escreve nas mesmas águas- às vezes- e lá se confirma tudo.Portanto, as suas farpas tocam-me ao lado...
Seguindo o conselho de Nietzsche, o que há-de vir tem muita força, não lamento nada que perdi e estou aberto ao dinamismo subversivo do futuro. Quem corre por bem... FAR
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