Há um erro comum na análise histórica que consiste em confundir as precedências.
Lembrei-me disto numa conversa em que se discutia como o nosso tempo tinha produzido uma filosofia tão pobre intelectualmente como a actual, que venera o liberalismo político, negação da possibilidade de produção de conceitos em favor da aleatoriedade das escolhas, ou o pragmatismo em Filosofia, negação da própria possibilidade de Filosofia em favor da simples análise linguística.
Mas qual o espanto em uma época pobre intelectualmente produzir uma filosofia pobre?
8 comentários:
O André Carapinha está-se, suponho, a referir à Filosofia portuguesa, concerteza! Mesmo essa luta, com bons ou maus modos,e tenta adaptar-se e seguir em frente: temos os "argumentistas",MM Carrilho & Cia, os neo-kantianos( grupo forte do António Marques) e os pragmatistas. Temos o António Damásio, com uma obra já mundialmente famosa na interpretação do pensar/pensando, tinhamos o Fernando Gil,o José Gil lá vai fazendo obra, o Paulo Tunhas, que brilhou em Paris com os neo-lacanianos...
A nível internacional, o renovamento da filosofia analítica prossegue e tenta mesmo aplicar-se a domínios dispares, como a análise política e a denúncia da representação, com a releitura de Marx e Bakounine. Jean-Claude Milner e os seguidores de Kunh e Richard Rorty parecem ter um sucesso fabuloso. FAR
Mister André: 17 horas depois de ter postado o seu texto, 12 horas depois de eu ter tentado compreender o " drama " que envolve o pensar o Mundo , o Ser e o Desejo, hoje, V.Excia responde nickles.O que é obra, mas não colhe, por todas as razões deste mundo, como deve tentar entender.
Eu não sei o que pensar disto tudo: o mister André mete-se em " empreitadas " para as quais não está preparado, por falta de tempo ou incúria ou falta de respeito pelos leitores, vá o diabo e escolha, ou tenta, à boa maneira socrática, fazer falar o " pessoal"? Esperemos que tudo seja pelo bom sentido!
De qualquer modo, eu afasto-me deste tipo de charadas... onde o que me parece estar em jogo é uma pessima manobra de diversão estalinista e fora de prazo! FAR
Carissimo FAR: Não sei porque perco tempo a dizer-lhe isto, nem espero que compreenda, porque não é esse o seu mundo, mas nem toda a gente vive para os blogues e internet e quejandos. Há quem tenha uma vida.
Muito relutantemente, devido ao seu tom novamente sobranceiro, que já me agastou bastante no passado, como sabemos, vou dar-me ao desprazer de responder brevemente aos seus comentários (inclui o post do Deleuze):
1- Quanto aquele: se se pretende compreender o menos que seja sobre o mundo actual tem-se PELO MENOS de compreender o que é a Sociedade de Controlo como Deleuze a definiu. Infelizmente, não se vê muita gente a fazê-lo.
2- Quanto a este: quando falo da pobreza da Filosofia estou exactamente a referir-me à filosofia actual. A questão não é a de existirem autores, ou filósofos; a questão é a riqueza, ou não, da própria filosofia que é produzida.
Se quer exemplos, pois justamente são TODOS os filósofos/autores e movimentos que referiu, e ESPECIALMENTE a escola analítica que, não sei se reparou, já está descrita brevemente no post (v. "pragmatismo", a sua alma gémea). Concedo que este tema mereceria uma discussão melhor e mais alargada, mas o seu tom desmotivou-me, (não) espero que compreenda.
André Carapinha: O Deleuze é dificilimo. Andei a reler o Mille Plateaux, há pouco. Uns capítulos. Eles( com o Foucault, o Lyotard...) bem diziam que os textos deles eram como caixas de ferramentas, cada qual tira a que deseja e depois, logo se vê... Eles diziam( nos seminários...) que não havia prioridades na leitura, que ler Nietzsche também o podiamos fazer através dos comentários do Pierre Klossowski...
O que é, no entanto, preciso dizer, se se pode pensar isso, é que ele já tinha comentado e apurado meia dúzia de grandes teorias de filósofos- Espinosa, Husserl,Sartre...que fervilham de contradições e requerem anos e anos de estudo e enquadramento.
Deve saber que o Deleuze, no meio daquele labirinto de conceitos-projecções da Différence et la repétition, por exemplo- entra no campo da estratégia política(s). E nos textos póstumos( como nos do Guattári) defende a OLP , enquanto o Foucault tinha ficado " entusiasmado " com a revolução dos Ayotollah iranianos, tudo isso muito romanceado e sem dogmas...FAR
A filosofia deve estar bem escrevinhada e ajeitadinha para ocupar o seu lugar nos escaparates. As pessoas passam, olham e compram felizes por consumir palavras pouco usuais e cachos de ideias para atar e pôr ao fumeiro. A filosofia pode estar a substituir o Prozac, por obra e graça dos Lou Marinoffes pelo mundo fora, mas para estas várias correntes que surdem dos esgotos das universidades continua a ser uma pobre ideologia ocupacional de pessoas que falharam no divã de Freud (em português, o cadeirão do arquitecto Tomás Taveira). Acabaram os tempos de “cherchez la femme”!
A filosofia “follow the money” tal como a ciência, a arte ou a religião. A hiper-abundância de produtos de consumo trouxe os filósofos à terra. Pagar os preços da Apple obriga vender livros.
E porque a « máquina » Deleuze deveria ter casado com o « desejante » Guattari, para terem filhos anti-édipo, acabo com René Vienet: « la théorie révolutionnaire (…) a commencé par une critique des conditions d’existence inhérents au capitalisme surdéveloppé : la pseudo abondance de la marchandise et la réduction de la vie au spectacle, l’urbanisme répressif et l’idéologie ».
A arrogância é a venda dos intelectuais. Portanto a época é pobre, a filosofia é pobre, a itelectualidade é pobre. E o que fazem os intelectuais e os filósofos para mudarem isso? Apregoam o mal estar dos campos de sua responsabilidade através de lamentos digitais. Que triste sina a vossa não terem nascido numa era mais helénica, não acham?
Com que então, eu arrogante? Homessa. Quem me lê, sente o contrario. As coisas são muito dificeis, problemáticas e complexas. Esse ponto de mira é essencial.E eu pratico-o. Todos os dias, claro. Para tudo: vida, escrita e desejo(s).
Ainda agora li um texto do Umberto Eco- in A Guerra do falso- sobre as sete vidas do Roman Jakobson. Que coisa admirável, que força, que ultrapassagens sucessivas e que destino intercontinental.
Claro, a filosofia é o recalcado da política, como a literatura o é da filosofia.
Sartre no final da vida- vida espantosamente terrível...-mudou radicalmente as suas perspectivas- onde já na fase maoista não se vislumbrava uma onça de protagonismo e de espúrio vedetismo- e apostou tudo no anarquismo, nas suas conversas com Benny Levy, o lider das " brigades rouges " francesas...
Enfim, o modelo de intelectual vanguarda do proletariado morreu com Maio 68. FAR
Caro Daniel:
O ressentimento não lhe faz bem. Como habitualmete, tolda-lhe a visão, desvia o seu olhar um pouco para a direita, de modo que aquilo que lê lhe aparece inclinado.
Esteja descansado que eu sou, e assumo-me como um homem do meu tempo. Isso dá-me o dever de o compreender.
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