Enquanto o NY Times fala do atelier da Boeing em Moscovo para desenhar o futuro 787, a The Nation alerta para os riscos de uma escalada esquizóide entre a Rússia e os USA...Há quem fale de "cortina de ferro ao contrário", forjada agora pelos americanos.
As críticas contundentes e dramáticas exprimidas por W. Putin na reunião de Munique para a Paz e a Cooperação na Europa, reflectem o profundo mal-estar que ameaça o futuro do relacionamento entre dois dos países mais fortes (militarmente) do Mundo. Stephen F. Cohen, politólogo da U. de New York, publicou um estudo na The Nation onde examina, ponto por ponto, o estado comatoso das relações bilaterais americano-russas. E a conclusão a que chega é a seguinte: os USA podem-se vangloriar do seu poder atómico, da sua supremacia tecnológica, mas a Rússia tem capacidades de resposta e retaliação de grande potencialidade, e o melhor é retomar o diálogo e a cooperação enquanto é tempo. De um suposto afrontamento militar/ atómico, ninguém sairia vivo...
O artigo gigantesco ( mais de 45 mil caracteres) detecta as perversidades e as falácias da pesporrência da administração pública e das elites do poder dos EUA para com o fim da União Soviética. Recorda as humilhações, a sobranceria e o neocolonialismo do estilo de intervenção yankee para com os heróis da democracia russa, Gorbachev e Ieltsin. " Contrariamente à opinião geral difundida, os maiores perigos para a Segurança dos EUA ainda residem na Rússia, pois, contrariamente ao menosprezo dos opinion-makers e da administração presidencial americana, foi com uma guerra fria não declarada que Washington recompensou os esforços de ambos os lados 15 anos após o fim da I Guerra Fria ".
S. Cohen frisa que" ninguém avalia o que para o Mundo representou o colapso russo de 1991", pois os prejuízos materiais e financeiros atingem, toda a proporção avaliada," o dobro dos prejuízos causados pela II Guerra Mundial ao estado soviético...". Actualmente, a Rússia tem as quintas maiores reservas de divisas do Mundo e tenta diversificar o investimento tecnológico atraindo o cooperante estrangeiro selectivo. Só que o desgaste emocional causado pela arrogância e prepotência dos " salvadores " americanos deixou as élites e o poder russo num estado de agressividade larvar e crescente. Que se vem endurecendo com o correr dos tempos e as gafes consecutivas da administração Bush .
" A crise profunda continua a flagelar a Rússia", dizem os meios universitários moscovitas.
" A estabilidade política do topo do regime está a perder qualidades, residindo no poder e na popularidade de Putin, tão-só. As elites do business e da alta administração que " capturaram " por privatização as fontes de riqueza mais importantes do país, estão particularmente agressivas. E essa " pose " pode constituir uma bomba ao retardador. As altas instâncias militares estão igualmente muito agitadas, com graves dissensões na hierarquia, poucos fundos, muitos abusos de autoridade e corrupção crescente. Uma súbita queda no preço do barril de petróleo, novas eclosões de terrorismo e separatismo ou o apagamento de Putin pode mergulhar de novo a Rússia numa crise perigosa ":
"Cerca de 1/4 da população mundial vive encostada à Rússia, com graves conflitos étnicos a fervilharem nesse complexo. Qualquer tipo de instabilidade na Rússia pode facilmente espalhar-se. Outra possibilidade tangível: os petrodólares dão à Rússia a possibilidade de optar pelo nacionalismo autoritário e a xenofobia. Muitas vezes chamado de "o cenário de Weimar", tal realidade não seria forçosamente fascista, mas tornava a Rússia mais hostil para com o Ocidente, devido à posse do arsenal nuclear variado e ao controlo de grande percentagem do petróleo e do gás mundial".
Cohen invoca o conceito de "cortina de ferro ao contrário", forjada pelos USA em torno da Rússia. Com a quebra de promessas - a NATO não alargaria o seu domínio na Europa Central - a exigência de concessões sem contrapartidas e ingerências aviltantes na política interna, tudo isto ao longo de 15 anos muito difíceis para um país a despertar para a democracia. " A guerra fria acabou em Moscovo mas não em Washington" sintetiza o investigador. E o cerco militar yankee provocou a corrida à renovação do arsenal militar russo, que pode tentar vender e conquistar aliados mais facilmente do que os EUA na China, no Irão e mesmo na Índia, onde já beneficiaram de posições dominantes.
E há mais factores adicionais de peso para evitar um perigoso " esfriamento " no relacionamento russo/americano: " Estado da Eurásia com mais de 25 milhões de muçulmanos, e com o Irão como vizinho, a Rússia pode-se imiscuir gravemente no conflito criado pelos USA no Mundo Islâmico, ou quer no Irão e Iraque. " Mesmo hoje a Rússia pode vencer uma guerra nas suas fronteiras através dos antigos territórios do império soviético. Tem a vantagem da proximidade geográfica, de controlar os mercados essenciais, de possuir os pipelines e as indústrias petrolíferas, para lá do relacionamento ancestral e da língua em comum " . A possibilidade de construir uma OPEP com armas atómicas é real e temível: imaginem ! Mas o pior ainda pode ser evitado, se ambas as duas maiores potências nucleares do Mundo se sentarem à mesa das negociações, ultrapassando falsas hegemonias e cortando cerce todos os estigmas de destruição.
FAR
7 comentários:
Caro FAR, desta vez um belo post; a César o que é de César, mas mais uma vez lamento não ter casado com uma tipa rica para ter tempo para ler o você lê, e escrever o você escreve. Alguns comentários ao que escreveu começando pelo Boeing 787, já conhecido pelo "Carrasco da Airbus". De facto foi um projecto a 100% da Boeing, com a cooperação de diversas unidades de negócio desta mesma companhia espalhadas pelo mundo, incluíndo a russa. Como sabe os russos têm do melhor que há no mundo na aviónica e respectiva engenharia de base, mas a esmagadora maioria está desempregada devido a mais um falhanço da política dessa besta quadrada e mafiosa chamada Putin. O o primeiro 787 vai sair da fábrica de Everett ainda este ano, iniciando-se os testes de voo e respectiva certificação ainda este ano, com entregas aos clientes em 2008. Uma lição de eficiência e rapidez à indústria da EUtopia, e à salada russa de accionistas onde governos se misturam com privados. Uma calamidade mais do que esperada. É óbvio que os maiores perigos residem na Rússia, e não por acaso que os países europeus mais sufocados, castigados e "sodomizados a sangue frio", e para não usar outras palavras, pela ex-URSS acolhem de braços abertos a instalação dos sistemas anti-míssil dos EUA. Gato escaldado de água fria tem medo. O resto é conversa. Quanto ao muro ao contrário, bom só lhe digo que se ele existe vai ficar muito pior com os democratas. Históricamente os democratas são os maiores proteccionistas e isolacionistas que há memória ou registo nos EUA. Quanto ao resto cheira-me a discurso de judeu preconceituoso e ressabiado principalmente quando passa um atestado de menoridade aos russos com a dita sobraceria, neocolonialismos, etc, etc. O que eu sei é que se os russos não acabam com a mafiocracia que reina na Rússia e se não mandam o Putin de castigo para a linha da frente na Tchechenia para morrer muito rápidamente, algo de muito grave se está a desenhar no horizonte daquele povo notável. A guerra fria? Nunca acabou. Mudou foi de táctica, porque a estratégia foi sempre a mesma.
Não me parece que aja complot judaico para defender a Russia de Poutin. Os americanos jogaram mal e estão a fazer o que ninguém previa: juntar os russos com os chineses. Moscovo tem mais de 56 casinos e um nivel de vida incrível para a classe média alta, que consome tudo o que de bom se produz em Berlim, Londres e Paris.Avanti e diga sempre de sua justiça. FAR
Errata. aja é haja, claro. FAR
Vender o Estado ao desbarato (época Yeltsin) deu os seus frutos.
Putin é o único capaz de discordar e enfrentar dos americanos. Os "dirigentes" europeus são apenas o coro grego. Viva o vodka!
Poutin conseguiu unir tudo à sua volta: Igreja Ortodoxa, novo KGB, F. Armadas e Solzjenytsine.
O artigo é enorme e explica a safadez yankee: queriam declarar a fabulosa USRR " nação vencida", como no caso alemão e japonês. Hoje saiu um artigo muito bom no Financial Times, que põe o Poutin em sentido... O NY Times também tràs coisas muito interessantes sobre a Guerra e a Globalização. Até já e digam coisas, please! FAR
Wrong Dear Mr. FAR, o dinheiro de Putin é que fez o "milagre", não a política de dele. A fabulosa e utópica ex-URSS implodiu, é uma manta de retalhos, com gravíssimos problemas internos. Só um fdp como o Putin é que resolvia o assunto "Beslan" como resolveu, entre outros do mesmo calibre. Já reparou no gangster que o Putin mandou para Tchetchénia, tipo "Vice-Rei"? FAR francamente, não vejo nada de fabuloso na ex-URSS. Vejo uma mafiocracia, a comprar muita gente, incluíndo conhecidos "oppinion makers" internacionais, a venderem gato por lebre, e o H5N1 a meia dúzia de quilómetros de Moscovo. Imagino na Rússia profunda, e não acessível aos olhos do ocidente. Bom na Rússia, só a vodka e as gajas.
Permita-me discordar: os americanos " salvaram " Yeltsin e apoiaram o " golpe militar " dado pelo agrónomo com a condição de o Kremlin por os liberais a aplicarem as teorias do capitalismo mais selvagem. E isso no consulado de Clinton, que várias vezes " envergonhou " em público o seu compère Boris. O dinheiro a que se refere são, tão só, as royalties elevadas do preço do barril do petróleo e do gás. E foi a " mão invisível do mercado " que proporcionou ao Poutin esses co-fres fortes a abarrotar de divisas fortes. A política externa, a rasar as fronteiras, manu-militari conduzida com excessos e atropelos sanguinários, é a resposta do Poutine e clique às grandes provocações dos americanos e seus aliados ao longo destes últimos 15 anos.É que os generais russos já andam a concordar com Solzjenytzine que os EUA/ Ocidente quer " esmagar " a Rússia...Espero que tenha lido o artigo todo na versão original...As cenas e os sintomas de " versão policial " ou de monocórdico complot não têm hoje valor nenhum: os desafios são imensos e a pressão interactiva da Europa vale muito. FAR
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