Soneto III
C´est fait, mon coeur, quittons la liberté.
De quoi, meshuy ( désormais) servirait la défense,
Que d´agrandir et la peine et l´offense;
Plus ne suis fort ainsi que j´ai été.
La raison fut un temps de mon côté:
Or, révoltée, elle veut que je pense
Qu´il faut servir et prendre en récompense
Qu´oncq( que jamais) d´un tel noeud nul ne fut arrêté.
S´il se faut rendre, alors il est saison,
Quand on n´a plus devers soi la raison.
Je vois qu´Amour, sans que je le desserve,
Sans aucun droit, se vient saisir de moi ;
Et vois qu´encore il faut à ce grand roi,
Quand il a tort, que la raison le serve.
FAR
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
Os vinte e nove Sonetos de Amor de Étienne de La Boétie (3)
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
Táxi Bamako (4)
Da Capital do Império
Olá,
Hoje creio eu que vos vou surpreender. Desculpem-me o meu entusiasmo mas vou falar-vos de cinema, mais precisamente de um filme que fui há dias ver. “There will be blood” que não sei como vai ser chamado aí desse lado do charco.
Antes disso tenho a dizer-vos que eu continuo a ser um grande fã do cinema. Só vi televisão pela primeira vez na minha vida aos 20 anos de idade em 1972 (um dos benefícios do colonialismo) e o cinema foi aquilo que marcou o meu mundo áudio visual. Dai que só use a televisão para ver futebol e noticias e todos os dias diga para mim: “Tenho mais de duzentos canais de televisão e não tenho nada para ver.”
Talvez por isso continuo também a preferir ver os filmes na sala de cinema, apesar de aqui nos Estados Unidos às vezes ficar irritado com o reflexo pavloviano dos americanos que quando entram na sala de cinema têm que ter na mão um pacote enorme de pipocas e noutro um copo enorme de cartão de Coca-Cola. Americano, qualquer que seja a sua idade, quando compra bilhete de cinema começa a sentir o sabor de pipoca e o gosto de Coca-Cola. Está-lhes gravado no seu AND e por isso têm que entrar na sala com isso na mão. O resultado é que as vezes os filmes iniciam-se e o maralhal ainda está a mastigar pipocas ou então a chupar o fim da Coca-Cola pela palhinha que com o gelo a derreter provoca aquele barulho irritante schlup schlup schlup. Ou então a meio do filme alguns têm que ir despejar a Coca-Cola, algo que acontece principalmente em dois escalões etários, os muitos jovens e os mais velhos idades em que a capacidade das bexigas está em ordem inversa ao tamanho dos filmes.
Mas apesar dessa pequena irritação cultural americana nada bate um filme visto no écran grande. Raramente vejo filmes na televisão e creio que nunca aluguei um DVD, embora tenha uma colecção enorme dos meus filmes favoritos em vídeo … que nunca vejo.
Isto tudo a propósito de “There will be blood” um filme cujos minutos iniciais de um tal Daniel Plainview (o actor Daniel Day Lewis) a garimpar num buraco no meio de uma zona semi desértica inospitável, sem outro som que o da picareta e do seu respirar são só por si memoráveis.
Plainview reincarna o princípio da América. A terra hostil, a pobreza dos que a exploram, a sua cobiça, a sua energia, a sua brutalidade.
Plainview (que se pode traduzir por “vista clara”) é isso mesmo. O seu individualismo, o seu egoísmo, a sua capacidade de usar as necessidades dos outros para ele avançar, estão ali à vista clara de todos, como também estão a sua criatividade, a sua vontade de vencer, ultrapassando barreiras físicas, económicas e sociais.
A religião surrealista evangélica que acompanha os pobres nessas zonas abandonadas também está lá em coexistência tensa e nervosa, às vezes em confronto com o capitalismo que cresce e se fortalece nessas zonas, formando a identidade americana e do seu capitalismo. Às vezes em “cooperação” forçada a lembrar Henrique IV de França que em 1593 se converteu ao catolicismo porque “Paris vale bem uma missa”. Plainview “converte-se” também ao evangelismo louco porque precisa disso para avançar.
É um filme com momentos de ternura (uma curta cena de Plainview com o seu filho num comboio, sem palavras, sem abraços, sem beijos, é magistral) mas sempre de tensão, de incerteza que é afinal aquilo que é a vida principalmente em situações novas e difíceis.
Sangue ao contrário do que o titulo possa indicar há pouco. Na cena de um trabalhador que morre num poço de petróleo o seu sangue e o seu corpo misturam-se na lama, no sujo da nova força que revoluciona a paisagem, o país.
Capitalismo criador e que como tudo o que cria também destrói. A analogia da América está ali, numa história bem contada que prende qualquer pessoa sem pretender ensinar ninguém, sem pretensiosismos intelectuais, uma vitória para o realizador Paul Andersen a provar que na “indústria” do cinema americano se produz também arte do mais alto calibre.
Daniel Day Lewis faz um papel como há muito não se vê no cinema. A voz e a pronúncia que usa durante quase todo o filme ficou-me gravado na memória com um ponto de interrogação E três dias depois a luz acendeu-se no meu cérebro. É uma imitação perfeita da voz do falecido realizador/actor John Houston. Não sei o porquê disso. Mas actuação de Day Lewis vale só por si o preço do bilhete. Junte-se a isto uma cinematografia extraordinária e música composta por Jonny Greenwood do grupo Radiohead, e “There will be blood” é uma vitória, um triunfo para aqueles que como eu gostam do cinema.
Façam-me um favor: se este ano forem ao cinema duas vezes, uma delas tem que ser para ver este filme.
Abraços,
Da capital do Império,
Jota Esse Erre
Hoje creio eu que vos vou surpreender. Desculpem-me o meu entusiasmo mas vou falar-vos de cinema, mais precisamente de um filme que fui há dias ver. “There will be blood” que não sei como vai ser chamado aí desse lado do charco.
Antes disso tenho a dizer-vos que eu continuo a ser um grande fã do cinema. Só vi televisão pela primeira vez na minha vida aos 20 anos de idade em 1972 (um dos benefícios do colonialismo) e o cinema foi aquilo que marcou o meu mundo áudio visual. Dai que só use a televisão para ver futebol e noticias e todos os dias diga para mim: “Tenho mais de duzentos canais de televisão e não tenho nada para ver.”
Talvez por isso continuo também a preferir ver os filmes na sala de cinema, apesar de aqui nos Estados Unidos às vezes ficar irritado com o reflexo pavloviano dos americanos que quando entram na sala de cinema têm que ter na mão um pacote enorme de pipocas e noutro um copo enorme de cartão de Coca-Cola. Americano, qualquer que seja a sua idade, quando compra bilhete de cinema começa a sentir o sabor de pipoca e o gosto de Coca-Cola. Está-lhes gravado no seu AND e por isso têm que entrar na sala com isso na mão. O resultado é que as vezes os filmes iniciam-se e o maralhal ainda está a mastigar pipocas ou então a chupar o fim da Coca-Cola pela palhinha que com o gelo a derreter provoca aquele barulho irritante schlup schlup schlup. Ou então a meio do filme alguns têm que ir despejar a Coca-Cola, algo que acontece principalmente em dois escalões etários, os muitos jovens e os mais velhos idades em que a capacidade das bexigas está em ordem inversa ao tamanho dos filmes.
Mas apesar dessa pequena irritação cultural americana nada bate um filme visto no écran grande. Raramente vejo filmes na televisão e creio que nunca aluguei um DVD, embora tenha uma colecção enorme dos meus filmes favoritos em vídeo … que nunca vejo.
Isto tudo a propósito de “There will be blood” um filme cujos minutos iniciais de um tal Daniel Plainview (o actor Daniel Day Lewis) a garimpar num buraco no meio de uma zona semi desértica inospitável, sem outro som que o da picareta e do seu respirar são só por si memoráveis.
Plainview reincarna o princípio da América. A terra hostil, a pobreza dos que a exploram, a sua cobiça, a sua energia, a sua brutalidade.
Plainview (que se pode traduzir por “vista clara”) é isso mesmo. O seu individualismo, o seu egoísmo, a sua capacidade de usar as necessidades dos outros para ele avançar, estão ali à vista clara de todos, como também estão a sua criatividade, a sua vontade de vencer, ultrapassando barreiras físicas, económicas e sociais.
A religião surrealista evangélica que acompanha os pobres nessas zonas abandonadas também está lá em coexistência tensa e nervosa, às vezes em confronto com o capitalismo que cresce e se fortalece nessas zonas, formando a identidade americana e do seu capitalismo. Às vezes em “cooperação” forçada a lembrar Henrique IV de França que em 1593 se converteu ao catolicismo porque “Paris vale bem uma missa”. Plainview “converte-se” também ao evangelismo louco porque precisa disso para avançar.
É um filme com momentos de ternura (uma curta cena de Plainview com o seu filho num comboio, sem palavras, sem abraços, sem beijos, é magistral) mas sempre de tensão, de incerteza que é afinal aquilo que é a vida principalmente em situações novas e difíceis.
Sangue ao contrário do que o titulo possa indicar há pouco. Na cena de um trabalhador que morre num poço de petróleo o seu sangue e o seu corpo misturam-se na lama, no sujo da nova força que revoluciona a paisagem, o país.
Capitalismo criador e que como tudo o que cria também destrói. A analogia da América está ali, numa história bem contada que prende qualquer pessoa sem pretender ensinar ninguém, sem pretensiosismos intelectuais, uma vitória para o realizador Paul Andersen a provar que na “indústria” do cinema americano se produz também arte do mais alto calibre.
Daniel Day Lewis faz um papel como há muito não se vê no cinema. A voz e a pronúncia que usa durante quase todo o filme ficou-me gravado na memória com um ponto de interrogação E três dias depois a luz acendeu-se no meu cérebro. É uma imitação perfeita da voz do falecido realizador/actor John Houston. Não sei o porquê disso. Mas actuação de Day Lewis vale só por si o preço do bilhete. Junte-se a isto uma cinematografia extraordinária e música composta por Jonny Greenwood do grupo Radiohead, e “There will be blood” é uma vitória, um triunfo para aqueles que como eu gostam do cinema.
Façam-me um favor: se este ano forem ao cinema duas vezes, uma delas tem que ser para ver este filme.
Abraços,
Da capital do Império,
Jota Esse Erre
Michel Rocard: Ségo é simpática mas não serve para líder
O antigo PM francês, Michel Rocard, uma das grandes personalidades da Esquerda mundial, escreveu ontem uma tribuna no Libération, onde tenta alertar os seus companheiros de partido contra a” muita má saúde - em quase paralisia “, em que se encontra o PS francês. Aponta, nomeadamente, as seguintes falhas essenciais: “ Não é capaz de ter um discurso coerente”; “ Não faz a análise do que diferencia o capitalismo do pleno emprego e do crescimento rápido, que conhecemos de 1945 até 1972, do capitalismo de crescimento mole, da precariedade e do desemprego que se conhece agora”; “Não sabe o que fazer com a Europa”.
Rocard alerta para a “crise económica e financeira que nos ameaça” - recessão nos EUA, estagnoflacção na Europa - e bate na tecla, vezes sem conta, como não existe “discurso político” credível, a “indecisão” vai impor, mais cedo ou mais tarde, a criação de “opções claras e conflituosas que só elas podem ilustrar uma linha política praticável, audaciosa e responsável”. A “crise actual é mais intelectual do que de liderança”, observa, para admitir, frontal: “ Ségolène é simpática e carismática, mas não possui, com evidência, as capacidades necessárias para assumir a responsabilidade a que postula. Representa uma certeza de derrota, a que se acrescenta uma grave crise no partido “.
«Chers amis de Libération, votre une du 8 janvier «Gauche cherche leader» était drôle et bien venue. Mais si le crime de particide n’est pas encore défini dans le droit contemporain, il est bel et bien en train de se commettre. Votre une est un élément du massacre.
Le Parti socialiste est en très mauvaise santé, en fait en quasi-paralysie, et cela depuis longtemps, nous le savons tous. Le traitement que l’on fait de cette situation dépend bien sûr du diagnostic. Et le diagnostic, c’est que la crise était latente depuis longtemps, s’est lourdement aggravée sous le mandat de François Hollande, et ne doit pas grand-chose à son départ. Elle est due pour l’essentiel au fait que le PS n’est plus capable de tenir un discours cohérent. Il n’a pas fait l’analyse de ce qui distingue le capitalisme de plein-emploi et de croissance rapide que nous avons connu de 1945 à 1972 du capitalisme de croissance molle, de précarité et de chômage que nous connaissons aujourd’hui. Il ne sait pas non plus quoi faire de l’Europe, à propos de laquelle la déploration de la mort de l’Europe politique ne saurait remplacer l’analyse pourtant manquante du rôle possible de l’Europe telle qu’elle est devant la crise économique et financière qui nous menace.
L’absence d’un futur leader qui s’impose et la multiplication excessive des candidatures peu évidentes est le résultat mécanique de cette situation : puisqu’il n’y a pas de discours, il n’y a évidemment personne qui soit capable de le prononcer mieux qu’un autre !
Cette situation a une cause simple et évidente : l’obligation où le PS s’est mis lui-même de ne parler qu’à l’unanimité. Le droit du Parti aujourd’hui c’est que le PS ne peut parler que si pro-européens et anti-européens sont d’accord, et que si sont d’accord aussi ceux qui veulent rejeter l’économie de marché et ceux qui comme moi pensent que ce n’est ni possible ni souhaitable. On ne peut évidemment rien dire de clair et de convaincant sous une pareille condition.
Formellement, cette contrainte autoparalysante est le résultat de la tragique décision de synthèse prise par François Hollande à la fin du 74e congrès du Parti (au Mans), contre le gré d’ailleurs de la majorité de sa propre majorité. C’était perceptible au Mans : la base du Parti voulait des signaux clairs, et ne veut plus promettre des ruptures infaisables et conduisant nul ne sait où. Cette même majorité latente qui veut réformer pas à pas, en n’annonçant que ce qu’on peut faire, était également repérable à l’université d’été de La Rochelle.
Or il faut à cette majorité potentielle du temps et de la sérénité pour maîtriser les données de ces controverses et pour préparer des choix rugueux et conflictuels mais clairs sans lesquels la social-démocratie française est vouée à la disparition.
C’est une vieille histoire. Depuis l’avant-guerre, chaque fois que les socialistes français ont une lourde difficulté politique, ils préfèrent, au prix de l’indécision, chercher leur sauvegarde dans leur «unité» ou leur «rassemblement» plutôt que de choisir les décisions claires et conflictuelles qui seules peuvent illustrer une ligne politique praticable, audacieuse et responsable. L’accumulation de ces non-décisions sur des décennies est la cause de la crise actuelle, qui est intellectuelle plus que de leadership.
Or il y a autre chose. Choisir maintenant le candidat du Parti socialiste à l’élection présidentielle de 2012, avant que le Parti ne se soit reconfiguré pour définir et soutenir le discours, c’est offrir aux médias une cible magnifique pour quatre ans. Personne n’est capable de résister quatre ans au pilonnage multiquotidien qu’implique cette situation. A toutes nos élections présidentielles de la Ve République, tous ceux qui sont partis trop tôt ont toujours perdu : Poher, Chaban, Barre, moi-même, Balladur et Royal. Seul Sarkozy semble démentir la séquence, mais il a eu la chance stratégique d’alimenter médias et opinion, sur une autre bataille, celle de la direction de l’UMP.
Jouer explicitement ce jeu, c’est-à-dire pour le PS choisir son prochain premier secrétaire en pensant choisir du même coup son candidat présidentiel, c’est offrir un surcroît de chances à Ségolène Royal. Or le problème est que cette candidate avenante et charismatique n’a à l’évidence pas les capacités nécessaires aux responsabilités qu’elle postule. Elle représente une certitude de défaite, au prix en plus d’une très grave crise dans le Parti.
Personne d’autre n’est actuellement disponible. Il est essentiel que Delanoë s’occupe de Paris exclusivement et pour longtemps, il est acquis que Dominique Strauss-Kahn fait son métier à Washington et pour longtemps.
L’émergence d’un nouveau leader charismatique est possible, c’est même la solution la plus probable, mais il faut des années pour que le PS soit capable de définir et d’adopter un vrai projet social-démocrate qui supporte le discours et les mêmes années pour qu’émerge le meilleur avocat de ce discours. Telle est la situation de fait.
La survie du PS mais aussi et surtout la salubrité générale et la préservation des chances de notre candidat pour 2012 exigent donc impérativement que notre première décision, au 75e congrès, le prochain, soit l’annonce que nous choisirons notre candidat pour l’élection présidentielle de 2012 à l’automne 2011 et en aucun cas avant.
Cela veut dire que le prochain secrétaire général aura comme mandat dominant sinon exclusif d’amener le Parti à accoucher d’un projet, c’est-à-dire de piloter les débats en provoquant chaque fois que nécessaire les votes discriminants nous amenant vers un peu plus de cohérence et de clarté en confirmant la voie sociale-démocrate qu’ont déjà choisie tous nos autres partis frères du Parti des socialistes européens. Il nous faut là une personne soucieuse de vision mondiale, d’analyses économiques et stratégiques et surtout pas un débatteur médiatique.
Nous n’aurons donc pas - et c’est une précaution de survie que de ne pas le chercher - un premier secrétaire charismatique et volubile, élu pour briller dans la controverse verbale permanente avec le chef de l’Etat. Or ça n’a aucune importance. Il n’y a aucun moyen connu de mettre en cause l’ultra domination de Sarkozy sur la France avant les élections présidentielle et législatives de 2012.
Au contraire, c’est plutôt la réapparition d’une opposition cohérente, respectée, sûre de son projet, et clairement en phase avec ses alliés internationaux qui donnera du poids à la présence du PS dans les débats, même si son nouveau chef n’est pas candidat présidentiel et ne privilégie pas le duel personnel dans les médias.
Nous serons moins fringants et moins personnalisés, mais nous serons plus rigoureux parce que plus cohérents. Naturellement cela va manquer au monde des médias. Vous aurez moins de photos conflictuelles, d’occasion de titres vengeurs et de grands moments d’affrontements à l’image. Tant pis.
Les conditions de maintien en bon état des grandes forces démocratiques du pays sont absolument prioritaires sur la pérennisation d’un débat médiatique qui n’intéresse que vous et dont l’opinion commence à se lasser.
C’est d’autant plus important à gauche que les dernières élections ont sanctionné l’impuissance définitive du PC, des Verts et des trotskystes. Le PS reste seul. Nous sommes nombreux à savoir assez bien comment le faire rebondir. Mais nous avons besoin pour cela que vous nous compreniez, au lieu de nous casser le travail.
C’est pour cela que votre une pleine d’humour tombe si mal.
Désolé de vous le dire aussi fermement.»
Michel Rocard. Libération
FAR
Rocard alerta para a “crise económica e financeira que nos ameaça” - recessão nos EUA, estagnoflacção na Europa - e bate na tecla, vezes sem conta, como não existe “discurso político” credível, a “indecisão” vai impor, mais cedo ou mais tarde, a criação de “opções claras e conflituosas que só elas podem ilustrar uma linha política praticável, audaciosa e responsável”. A “crise actual é mais intelectual do que de liderança”, observa, para admitir, frontal: “ Ségolène é simpática e carismática, mas não possui, com evidência, as capacidades necessárias para assumir a responsabilidade a que postula. Representa uma certeza de derrota, a que se acrescenta uma grave crise no partido “.
«Chers amis de Libération, votre une du 8 janvier «Gauche cherche leader» était drôle et bien venue. Mais si le crime de particide n’est pas encore défini dans le droit contemporain, il est bel et bien en train de se commettre. Votre une est un élément du massacre.
Le Parti socialiste est en très mauvaise santé, en fait en quasi-paralysie, et cela depuis longtemps, nous le savons tous. Le traitement que l’on fait de cette situation dépend bien sûr du diagnostic. Et le diagnostic, c’est que la crise était latente depuis longtemps, s’est lourdement aggravée sous le mandat de François Hollande, et ne doit pas grand-chose à son départ. Elle est due pour l’essentiel au fait que le PS n’est plus capable de tenir un discours cohérent. Il n’a pas fait l’analyse de ce qui distingue le capitalisme de plein-emploi et de croissance rapide que nous avons connu de 1945 à 1972 du capitalisme de croissance molle, de précarité et de chômage que nous connaissons aujourd’hui. Il ne sait pas non plus quoi faire de l’Europe, à propos de laquelle la déploration de la mort de l’Europe politique ne saurait remplacer l’analyse pourtant manquante du rôle possible de l’Europe telle qu’elle est devant la crise économique et financière qui nous menace.
L’absence d’un futur leader qui s’impose et la multiplication excessive des candidatures peu évidentes est le résultat mécanique de cette situation : puisqu’il n’y a pas de discours, il n’y a évidemment personne qui soit capable de le prononcer mieux qu’un autre !
Cette situation a une cause simple et évidente : l’obligation où le PS s’est mis lui-même de ne parler qu’à l’unanimité. Le droit du Parti aujourd’hui c’est que le PS ne peut parler que si pro-européens et anti-européens sont d’accord, et que si sont d’accord aussi ceux qui veulent rejeter l’économie de marché et ceux qui comme moi pensent que ce n’est ni possible ni souhaitable. On ne peut évidemment rien dire de clair et de convaincant sous une pareille condition.
Formellement, cette contrainte autoparalysante est le résultat de la tragique décision de synthèse prise par François Hollande à la fin du 74e congrès du Parti (au Mans), contre le gré d’ailleurs de la majorité de sa propre majorité. C’était perceptible au Mans : la base du Parti voulait des signaux clairs, et ne veut plus promettre des ruptures infaisables et conduisant nul ne sait où. Cette même majorité latente qui veut réformer pas à pas, en n’annonçant que ce qu’on peut faire, était également repérable à l’université d’été de La Rochelle.
Or il faut à cette majorité potentielle du temps et de la sérénité pour maîtriser les données de ces controverses et pour préparer des choix rugueux et conflictuels mais clairs sans lesquels la social-démocratie française est vouée à la disparition.
C’est une vieille histoire. Depuis l’avant-guerre, chaque fois que les socialistes français ont une lourde difficulté politique, ils préfèrent, au prix de l’indécision, chercher leur sauvegarde dans leur «unité» ou leur «rassemblement» plutôt que de choisir les décisions claires et conflictuelles qui seules peuvent illustrer une ligne politique praticable, audacieuse et responsable. L’accumulation de ces non-décisions sur des décennies est la cause de la crise actuelle, qui est intellectuelle plus que de leadership.
Or il y a autre chose. Choisir maintenant le candidat du Parti socialiste à l’élection présidentielle de 2012, avant que le Parti ne se soit reconfiguré pour définir et soutenir le discours, c’est offrir aux médias une cible magnifique pour quatre ans. Personne n’est capable de résister quatre ans au pilonnage multiquotidien qu’implique cette situation. A toutes nos élections présidentielles de la Ve République, tous ceux qui sont partis trop tôt ont toujours perdu : Poher, Chaban, Barre, moi-même, Balladur et Royal. Seul Sarkozy semble démentir la séquence, mais il a eu la chance stratégique d’alimenter médias et opinion, sur une autre bataille, celle de la direction de l’UMP.
Jouer explicitement ce jeu, c’est-à-dire pour le PS choisir son prochain premier secrétaire en pensant choisir du même coup son candidat présidentiel, c’est offrir un surcroît de chances à Ségolène Royal. Or le problème est que cette candidate avenante et charismatique n’a à l’évidence pas les capacités nécessaires aux responsabilités qu’elle postule. Elle représente une certitude de défaite, au prix en plus d’une très grave crise dans le Parti.
Personne d’autre n’est actuellement disponible. Il est essentiel que Delanoë s’occupe de Paris exclusivement et pour longtemps, il est acquis que Dominique Strauss-Kahn fait son métier à Washington et pour longtemps.
L’émergence d’un nouveau leader charismatique est possible, c’est même la solution la plus probable, mais il faut des années pour que le PS soit capable de définir et d’adopter un vrai projet social-démocrate qui supporte le discours et les mêmes années pour qu’émerge le meilleur avocat de ce discours. Telle est la situation de fait.
La survie du PS mais aussi et surtout la salubrité générale et la préservation des chances de notre candidat pour 2012 exigent donc impérativement que notre première décision, au 75e congrès, le prochain, soit l’annonce que nous choisirons notre candidat pour l’élection présidentielle de 2012 à l’automne 2011 et en aucun cas avant.
Cela veut dire que le prochain secrétaire général aura comme mandat dominant sinon exclusif d’amener le Parti à accoucher d’un projet, c’est-à-dire de piloter les débats en provoquant chaque fois que nécessaire les votes discriminants nous amenant vers un peu plus de cohérence et de clarté en confirmant la voie sociale-démocrate qu’ont déjà choisie tous nos autres partis frères du Parti des socialistes européens. Il nous faut là une personne soucieuse de vision mondiale, d’analyses économiques et stratégiques et surtout pas un débatteur médiatique.
Nous n’aurons donc pas - et c’est une précaution de survie que de ne pas le chercher - un premier secrétaire charismatique et volubile, élu pour briller dans la controverse verbale permanente avec le chef de l’Etat. Or ça n’a aucune importance. Il n’y a aucun moyen connu de mettre en cause l’ultra domination de Sarkozy sur la France avant les élections présidentielle et législatives de 2012.
Au contraire, c’est plutôt la réapparition d’une opposition cohérente, respectée, sûre de son projet, et clairement en phase avec ses alliés internationaux qui donnera du poids à la présence du PS dans les débats, même si son nouveau chef n’est pas candidat présidentiel et ne privilégie pas le duel personnel dans les médias.
Nous serons moins fringants et moins personnalisés, mais nous serons plus rigoureux parce que plus cohérents. Naturellement cela va manquer au monde des médias. Vous aurez moins de photos conflictuelles, d’occasion de titres vengeurs et de grands moments d’affrontements à l’image. Tant pis.
Les conditions de maintien en bon état des grandes forces démocratiques du pays sont absolument prioritaires sur la pérennisation d’un débat médiatique qui n’intéresse que vous et dont l’opinion commence à se lasser.
C’est d’autant plus important à gauche que les dernières élections ont sanctionné l’impuissance définitive du PC, des Verts et des trotskystes. Le PS reste seul. Nous sommes nombreux à savoir assez bien comment le faire rebondir. Mais nous avons besoin pour cela que vous nous compreniez, au lieu de nous casser le travail.
C’est pour cela que votre une pleine d’humour tombe si mal.
Désolé de vous le dire aussi fermement.»
Michel Rocard. Libération
FAR
Terra
Foto:G.Ludovice
"Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis,
porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. (...)"
porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. (...)"
Do Livro do Desassossego, Bernardo Soares (heterónimo de Fernando Pessoa)
domingo, 13 de janeiro de 2008
Geometria
Alain Badiou-III: “A coragem é uma questão de tempo”
De uma entrevista dada pelo autor, “De quoi Sarkozy est-il le nom?”, diatribe super-radical de grande impacto mundial contra o capitalismo neoliberal, inserta no jornal Humanité, de 6/Nov-07, mais alguns pontos nucleares sobre a sua argumentação.
I.“O serviço dos bens, para retomar a expressão de Lacan, é o serviço do capitalismo liberal. Os bens são produzidos e distribuídos num regime de economia de Mercado. Se estamos ao serviço do serviço dos bens, é isso que devemos apoiar. Ora, do meu ponto de vista, o capitalismo liberal não fixa nenhuma orientação para o futuro da colectividade. O cidadão não passa senão por ser o que comparece perante o Mercado. É o consumidor, tal como é sinalizado pela circulação das mercadorias. Por isso, a nossa sociedade tal qual se encontra não consegue representar o seu futuro colectivo. As pessoas, elas próprias na sua particular existência, estão excluídas de construir o que ultrapasse o consumo e o aforro. É isso a desorientação.”
II. “A coragem consiste em fazer finca-pé num ponto. Não só de duração curta, mas também longa. É uma questão de tempo. Boa parte da opressão actual é uma opressão sobre o tempo. Estamos constrangidos a arcar com um tempo dividido, descontínuo e disperso. No qual, a rapidez é o momento maior. Esse tempo não é o do projecto, mas sim, o do consumo, o do assalariado. A coragem poderá consistir em tentar impor uma outra temporalidade. A fazer força em certos pontos contra ventos e marés, numa duração que não dependerá de critérios de sucesso ou de derrota impostos pelo modelo da sociedade liberal “.
III. “Os oprimidos não têm outra hipótese a não ser a sua disciplina. Quando não se tem, nem o dinheiro, nem armas, nem poder, não existe outra coisa senão a unidade. A nossa questão central. É, portanto, qual é a forma que pode tomar uma outra disciplina? Do ponto de vista filosófico, penso que é necessariamente uma disciplina da verdade, uma disciplina gerada pelo próprio processo. O que surge, o que acontece, deve ser a lei comum para essa disciplina ser realizada. Dito de outra forma, é o próprio processo político que deve engendrar a sua disciplina.”
FAR
I.“O serviço dos bens, para retomar a expressão de Lacan, é o serviço do capitalismo liberal. Os bens são produzidos e distribuídos num regime de economia de Mercado. Se estamos ao serviço do serviço dos bens, é isso que devemos apoiar. Ora, do meu ponto de vista, o capitalismo liberal não fixa nenhuma orientação para o futuro da colectividade. O cidadão não passa senão por ser o que comparece perante o Mercado. É o consumidor, tal como é sinalizado pela circulação das mercadorias. Por isso, a nossa sociedade tal qual se encontra não consegue representar o seu futuro colectivo. As pessoas, elas próprias na sua particular existência, estão excluídas de construir o que ultrapasse o consumo e o aforro. É isso a desorientação.”
II. “A coragem consiste em fazer finca-pé num ponto. Não só de duração curta, mas também longa. É uma questão de tempo. Boa parte da opressão actual é uma opressão sobre o tempo. Estamos constrangidos a arcar com um tempo dividido, descontínuo e disperso. No qual, a rapidez é o momento maior. Esse tempo não é o do projecto, mas sim, o do consumo, o do assalariado. A coragem poderá consistir em tentar impor uma outra temporalidade. A fazer força em certos pontos contra ventos e marés, numa duração que não dependerá de critérios de sucesso ou de derrota impostos pelo modelo da sociedade liberal “.
III. “Os oprimidos não têm outra hipótese a não ser a sua disciplina. Quando não se tem, nem o dinheiro, nem armas, nem poder, não existe outra coisa senão a unidade. A nossa questão central. É, portanto, qual é a forma que pode tomar uma outra disciplina? Do ponto de vista filosófico, penso que é necessariamente uma disciplina da verdade, uma disciplina gerada pelo próprio processo. O que surge, o que acontece, deve ser a lei comum para essa disciplina ser realizada. Dito de outra forma, é o próprio processo político que deve engendrar a sua disciplina.”
FAR
Post com dedicatória
sábado, 12 de janeiro de 2008
Madrid me mata (6)
Henning Mankell: China coloniza África
"China coloniza África e, claro, Moçambique !!!
- diz o escritor Henning Mankell
País cheio de pobres, a China exporta-os para África.
Aqui, os Chineses comportam-se como autênticos colonizadores, como os Portugueses, uma forma terrível de colonização, os Africanos são mal tratados por eles.
Podemos fazer aos pobres não importa o quê.
Se África se enche de Chineses, é claro que Moçambique também.
E chegando, levam as matérias-primas.
Ora, os dirigentes de Moçambique tiram proveito financeiro desta política - eis o que diz, entre outras coisas, o escritor sueco Henning Mankell, um dos romancistas mais lidos no mundo, que vive há mais de 20 anos com um pé em Moçambique e outro na Suécia, ele, que é genro do grande cineasta Ingmar Bergman e que se prepara para publicar um livro que se vai chamar "O chinês" (com base do trabalho de pesquisa feito na China e em África).
Leia aqui, em francês, uma entrevista exclusiva, com o título "O que me revolta", que deu ao Nouvel Observateur."
Com a devida vénia ao Diário de um Sociólogo e ao Ponte

(foto Sérgio Santimano)
- diz o escritor Henning Mankell
País cheio de pobres, a China exporta-os para África.
Aqui, os Chineses comportam-se como autênticos colonizadores, como os Portugueses, uma forma terrível de colonização, os Africanos são mal tratados por eles.
Podemos fazer aos pobres não importa o quê.
Se África se enche de Chineses, é claro que Moçambique também.
E chegando, levam as matérias-primas.
Ora, os dirigentes de Moçambique tiram proveito financeiro desta política - eis o que diz, entre outras coisas, o escritor sueco Henning Mankell, um dos romancistas mais lidos no mundo, que vive há mais de 20 anos com um pé em Moçambique e outro na Suécia, ele, que é genro do grande cineasta Ingmar Bergman e que se prepara para publicar um livro que se vai chamar "O chinês" (com base do trabalho de pesquisa feito na China e em África).
Leia aqui, em francês, uma entrevista exclusiva, com o título "O que me revolta", que deu ao Nouvel Observateur."
Com a devida vénia ao Diário de um Sociólogo e ao Ponte

(foto Sérgio Santimano)
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Henning Mankell,
Moçambique
Cantar as janeiras
Mais um ano, mais um degrau na subideira para o mundo perfeito. Em boa hora, no ano de 713 a. C., o rei Numa Pompílio, sucessor de Rómulo, integrou no calendário romano o mês de Janeiro, facultando, aos filhos do estilhaçado Império, trinta e um dias para renovar esperanças e definir objectivos, que o resto do ano cumprirá. Se em Dezembro se limpam gavetas e armários, em Janeiro abrem-se portas e janelas. A palavra “Janeiro” teve origem em Jano, deus das portas, portões e cancelas, dos princípios e dos fins, representado com duas cabeças, uma olhando em frente, outra para trás. Com um olho no passado e outro no futuro, o mês de Janeiro abre uma caixa de Pandora… de coisas boas. (The Pandoras, banda americana dos anos 80, numa versão psicadélica de “You Don’t Satisfy”. Mas nessa década, o Vidal Sassoon, champô e condicionador, muda o aspecto do rock. The Pandoras ao ar livre em “You' re All Talk”. E metidas com Cherie Currie das Runaways).
Da Austrália vem uma boa ideia para este ano. Há 40 anos que a empresa Westaff fornece Pais Natal para lojas e centros comerciais. Em 2007 entrou na moda do politicamente correcto que desabrocha pelo planeta. Aconselhou aos seus empregados, contratados para representar o famoso habitante da Lapónia, na festiva quadra natalícia, que trocassem o bonacheirão e tradicional riso “ho, ho, ho” por “ha, ha, ha”. O insólito pedido tem uma explicação simples. Matar infiéis, em conjunto com os amigos americanos, engrandeceu-lhes o vocabulário com o calão do G.I. Joe. A expressão “ho” é uma abreviatura de “whore” (puta) na gíria das ruas americanas. E, não é correcto, sujeitar os ouvidos das criancinhas a palavrões, quando dão um empurrão na economia, acelerando o consumo. Se, começam desde cedo, em contacto com o vernáculo, a educação não encaixa, as transgressões suceder-se-ão e é provável que acabem a fumar e beber em palco como o Nick Cave. A empresa dá uma explicação mais científica assentada na Psicologia. Sari Hegarty, coordenadora do recrutamento de Pais Natal, explica-se: “pedimos aos nossos Pais para tentarem certas técnicas, como baixar o tom da voz e usar “ha, ha, ha”, para encorajar as crianças a aproximarem-se e a conhecer o Pai Natal”. Por causa dos americanos, os australianos têm mais para mostrar que “Fuck off Is the Only Thing You Have to Show” (das brasileiras Cansei de Ser Sexy).
Certo dia Brigitte Bardot desabafou: “dei a minha beleza e a minha juventude ao homem. Vou dar a minha sabedoria e experiência aos animais”. Brigitte esteve no topo da interacção humana. Cantou só e acompanhada. Cantaram-lhe. Jean-Luc Goddard pô-la a perguntar o óbvio. No filme “En Cas de Malheur”, de Claude Autant-Lara, Jean Gabin gostaria de estar sentado no lugar do espectador. Bem poderia ser a garota de Ipanema. Sem dúvida a mulher mais excitante do mundo. Mas isso terminou e, em alternativa, entregou-se aos bichos. Quer salvá-los da crueldade e voracidade humana. E não é a única… a olhar os animais. A Quercus recomendava neste Natal: “coma bacalhau mas com moderação”. O peixe da Consoada está em vias de extinção e a Igreja não vai autorizar o fim do jejum de carne nesta época. O fiel amigo não tem substituto. Assim, amigo que come amigo, deve libertar a consciência ecológica para que a relação de amizade perdure. Enquanto não vem a clonagem apela-se ao racionamento e ao chupar bem as espinhas para evitar o desperdício. (A rainha do rock não tem espinhas. Joan Jett também pertenceu às Runaways. Ela em “I Love Rock ‘n’ Roll”. E em “Crimson & Clover”, uma versão de Tommy James & The Shondells).
Nas terras lusas o ano começa bem.(...) (Continue a ler o Táxi Pluvioso no Pratinho De Couratos)
Da Austrália vem uma boa ideia para este ano. Há 40 anos que a empresa Westaff fornece Pais Natal para lojas e centros comerciais. Em 2007 entrou na moda do politicamente correcto que desabrocha pelo planeta. Aconselhou aos seus empregados, contratados para representar o famoso habitante da Lapónia, na festiva quadra natalícia, que trocassem o bonacheirão e tradicional riso “ho, ho, ho” por “ha, ha, ha”. O insólito pedido tem uma explicação simples. Matar infiéis, em conjunto com os amigos americanos, engrandeceu-lhes o vocabulário com o calão do G.I. Joe. A expressão “ho” é uma abreviatura de “whore” (puta) na gíria das ruas americanas. E, não é correcto, sujeitar os ouvidos das criancinhas a palavrões, quando dão um empurrão na economia, acelerando o consumo. Se, começam desde cedo, em contacto com o vernáculo, a educação não encaixa, as transgressões suceder-se-ão e é provável que acabem a fumar e beber em palco como o Nick Cave. A empresa dá uma explicação mais científica assentada na Psicologia. Sari Hegarty, coordenadora do recrutamento de Pais Natal, explica-se: “pedimos aos nossos Pais para tentarem certas técnicas, como baixar o tom da voz e usar “ha, ha, ha”, para encorajar as crianças a aproximarem-se e a conhecer o Pai Natal”. Por causa dos americanos, os australianos têm mais para mostrar que “Fuck off Is the Only Thing You Have to Show” (das brasileiras Cansei de Ser Sexy).
Certo dia Brigitte Bardot desabafou: “dei a minha beleza e a minha juventude ao homem. Vou dar a minha sabedoria e experiência aos animais”. Brigitte esteve no topo da interacção humana. Cantou só e acompanhada. Cantaram-lhe. Jean-Luc Goddard pô-la a perguntar o óbvio. No filme “En Cas de Malheur”, de Claude Autant-Lara, Jean Gabin gostaria de estar sentado no lugar do espectador. Bem poderia ser a garota de Ipanema. Sem dúvida a mulher mais excitante do mundo. Mas isso terminou e, em alternativa, entregou-se aos bichos. Quer salvá-los da crueldade e voracidade humana. E não é a única… a olhar os animais. A Quercus recomendava neste Natal: “coma bacalhau mas com moderação”. O peixe da Consoada está em vias de extinção e a Igreja não vai autorizar o fim do jejum de carne nesta época. O fiel amigo não tem substituto. Assim, amigo que come amigo, deve libertar a consciência ecológica para que a relação de amizade perdure. Enquanto não vem a clonagem apela-se ao racionamento e ao chupar bem as espinhas para evitar o desperdício. (A rainha do rock não tem espinhas. Joan Jett também pertenceu às Runaways. Ela em “I Love Rock ‘n’ Roll”. E em “Crimson & Clover”, uma versão de Tommy James & The Shondells).
Nas terras lusas o ano começa bem.(...) (Continue a ler o Táxi Pluvioso no Pratinho De Couratos)
sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
2008
Táxi Bamako (3)
Cecília : “Sarko é forreta, mesquinho e falocrata”
È uma verdadeira saga. O divórcio entre Cecília e Sarkozy começa a ser narrado nas páginas de livros de Inquérito jornalístico de alta categoria. É o caso deste assinado por Anna Bitton, publicado na prestigiosa Editora Flammarion. O retrato psico-social de Sarkozy começa a sair dos contornos plásticos (como diria Morin…) em que ele se posta publicamente. Cecília, que ainda não recuperou o antigo amante a viver em Nova York, “o verdadeiro amor da sua vida”, confessa os traços essenciais da personalidade do actual PR francês à jornalista. O perfil de sádico e machão, que ele mostra desde sempre, contribuiu para o calvário da vida da mulher que “raptou” obsessivamente. Cecília queria suceder ao marido como presidente da autarquia de Neuilly-sur-Seine, a melhor do país, e tornar-se escritora. Sarko tirou-lhe paulatinamente o tapete, e ela, hop, amante em Nova York, francês deslocado a trabalhar na Publicidade…Esta passagem nua,crua e fatal: “És uma idiota !. Para os outros, ele afirmava que era genial !”. Para o nosso dossier, pois, ficar mais completo. Ontem no Die Zeit, vinha inserida uma anedota terrível em torno da Carla, daquelas que toda a gente vai falando durante a semana . “Agora, ela pensa sacar o Papa Benedito XVI !”.
“Elle dit Sarkozy «pingre et sauteur»
Cécilia d’Anna Bitton, éd. Flammarion, 180 pp., 16 €.Portrait compatissant d’une quinquagénaire immature et torturée, nourri de confidences vraisemblablement authentiques de Cécila Sarkozy, le livre d’Anna Bitton est symptomatique de la dérive dans laquelle le sarkozysme entraîne le journalisme. Il n’est pas moins impudique que le chef de l’Etat lui-même. D’où la surprise de l’auteure, qui a candidement regretté hier qu’on veuille l’interdire. Anna Bitton raconte la pathétique histoire d’une femme «trop belle, trop grande, trop vert glacée», maltraitée par un mari sadique. «Il lui disait toujours : "T’es conne." Et aux autres il disait : "Elle est géniale".» Voici donc, en une formule, la thèse de ce portrait. L’héroïne«qui n’a jamais travaillé que pour servir ses époux» voulait «exister par elle-même pour enfin avoir d’elle une image à la hauteur de son allure».
C’est que Cécilia Sarkozy se voyait femme politique. En 2002, elle se sent prête : «Je serai vraisemblablement candidate en 2008 à Neuilly et je réfléchis à un programme avec une petite équipe.» C’était l’époque où elle «admirait Ségolène Royal» et regrettait qu’il n’y ait pas plus de «nanas intelligentes à l’UMP». Mais son mari dit non à ses ambitions, politiques comme littéraires (elle voulait «écrire un livre»). C’est ici que se noue le drame. Il «aimait comme on emprisonne, […] il la voulait grande de taille, ça le grandissait lui, mais pas trop haute». Alors, elle se révolte : «Il faut arrêter de parler d’amour tout le temps» s’écrie-t-elle.
Elle est rabaissée par le clan qui entoure son mari «ce sont des jeunes mecs qui se sont retrouvés gonflés de pouvoir et qui se sont pris pour les princes de Paris». Dans ce monde de brutes, la belle trouvera réconfort à New York, auprès du bel Attias, «l’homme de sa vie». «Je crois que je n’avais jamais aimé avant lui», dit-elle. Elle revient pourtant. Jusqu’au divorce. Car non content d’être «un sauteur», le Président serait aussi «pingre», au point qu’elle se demande «comment payer un loyer» avec ce qu’on lui laisse. Elle s’affole : «Nicolas ne va pas laisser son fils vivre sous les ponts, quand même!» Pause. «Mon fils ne sera pas comme ceux de Nicolas, avec des chaussures à 2000 euros.» On lit que l’ex-première dame ne désespère pas de reconquérir, à New York, celui qu’elle «a tellement fait souffrir». De quoi nourrir le prochain épisode de ses aventures… »
ALAIN AUFFRAY. Libération
FAR
“Elle dit Sarkozy «pingre et sauteur»
Cécilia d’Anna Bitton, éd. Flammarion, 180 pp., 16 €.Portrait compatissant d’une quinquagénaire immature et torturée, nourri de confidences vraisemblablement authentiques de Cécila Sarkozy, le livre d’Anna Bitton est symptomatique de la dérive dans laquelle le sarkozysme entraîne le journalisme. Il n’est pas moins impudique que le chef de l’Etat lui-même. D’où la surprise de l’auteure, qui a candidement regretté hier qu’on veuille l’interdire. Anna Bitton raconte la pathétique histoire d’une femme «trop belle, trop grande, trop vert glacée», maltraitée par un mari sadique. «Il lui disait toujours : "T’es conne." Et aux autres il disait : "Elle est géniale".» Voici donc, en une formule, la thèse de ce portrait. L’héroïne«qui n’a jamais travaillé que pour servir ses époux» voulait «exister par elle-même pour enfin avoir d’elle une image à la hauteur de son allure».
C’est que Cécilia Sarkozy se voyait femme politique. En 2002, elle se sent prête : «Je serai vraisemblablement candidate en 2008 à Neuilly et je réfléchis à un programme avec une petite équipe.» C’était l’époque où elle «admirait Ségolène Royal» et regrettait qu’il n’y ait pas plus de «nanas intelligentes à l’UMP». Mais son mari dit non à ses ambitions, politiques comme littéraires (elle voulait «écrire un livre»). C’est ici que se noue le drame. Il «aimait comme on emprisonne, […] il la voulait grande de taille, ça le grandissait lui, mais pas trop haute». Alors, elle se révolte : «Il faut arrêter de parler d’amour tout le temps» s’écrie-t-elle.
Elle est rabaissée par le clan qui entoure son mari «ce sont des jeunes mecs qui se sont retrouvés gonflés de pouvoir et qui se sont pris pour les princes de Paris». Dans ce monde de brutes, la belle trouvera réconfort à New York, auprès du bel Attias, «l’homme de sa vie». «Je crois que je n’avais jamais aimé avant lui», dit-elle. Elle revient pourtant. Jusqu’au divorce. Car non content d’être «un sauteur», le Président serait aussi «pingre», au point qu’elle se demande «comment payer un loyer» avec ce qu’on lui laisse. Elle s’affole : «Nicolas ne va pas laisser son fils vivre sous les ponts, quand même!» Pause. «Mon fils ne sera pas comme ceux de Nicolas, avec des chaussures à 2000 euros.» On lit que l’ex-première dame ne désespère pas de reconquérir, à New York, celui qu’elle «a tellement fait souffrir». De quoi nourrir le prochain épisode de ses aventures… »
ALAIN AUFFRAY. Libération
FAR
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Sarkozy
Série: música boa como o caralho (1)
Harry Manx ao vivo em Sines - 2007. Eu estou na assistência e apareço no video.
As terras são minhas
As terras são minhas, ó camarada
eu sou mais ou menos o dono delas
talvez devesses tirar da ideia essas parvoices
no fundo não passas de um tolo
e, deixa-me dizer-te, as tolices não se pagam
tá bem que não faz mal andares por aí
a pregar essa musiquinha aos peixinhos,
ninguém te liga. Não faz mal, só aborreces
um pouco às vezes, mas no fundo
já estamos todos habituados às tuas merdas
Já agora: uma vez que tocámos no assunto
olha que por ora, estamos quietinhos
mas tempos houve em que tu e os outros
filhos da puta teus iguais
fizeram muita merda, e isso não se perdoa
andaram por aí a dizer que as terras não eram
minhas, seus cabrões, mas de quem haviam
de ser? Vossas é que não são, que nunca
fizeram nada por isso, foi o meu bisavô
que aqui plantou o primeiro pé de laranjeira
Tem em atenção que essas coisas não se esquecem
se te toleramos é porque não fazes mal
a ninguém. Mas nós não nos iludimos;
sabemos muito bem que um dia destes
outros iguais a ti vão começar com as parvoices
do costume,e como sempre vão-se multiplicar
e serão centenas ou milhares, mas atenção:
já estamos muito bem preparados, ó cabrão
nessa altura não teremos o mais pequeno problema
em vos atirar para cima todas as bombas que pudermos
eu sou mais ou menos o dono delas
talvez devesses tirar da ideia essas parvoices
no fundo não passas de um tolo
e, deixa-me dizer-te, as tolices não se pagam
tá bem que não faz mal andares por aí
a pregar essa musiquinha aos peixinhos,
ninguém te liga. Não faz mal, só aborreces
um pouco às vezes, mas no fundo
já estamos todos habituados às tuas merdas
Já agora: uma vez que tocámos no assunto
olha que por ora, estamos quietinhos
mas tempos houve em que tu e os outros
filhos da puta teus iguais
fizeram muita merda, e isso não se perdoa
andaram por aí a dizer que as terras não eram
minhas, seus cabrões, mas de quem haviam
de ser? Vossas é que não são, que nunca
fizeram nada por isso, foi o meu bisavô
que aqui plantou o primeiro pé de laranjeira
Tem em atenção que essas coisas não se esquecem
se te toleramos é porque não fazes mal
a ninguém. Mas nós não nos iludimos;
sabemos muito bem que um dia destes
outros iguais a ti vão começar com as parvoices
do costume,e como sempre vão-se multiplicar
e serão centenas ou milhares, mas atenção:
já estamos muito bem preparados, ó cabrão
nessa altura não teremos o mais pequeno problema
em vos atirar para cima todas as bombas que pudermos
quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
Da Capital do Império
Olá!
Sei que vocês devem estar em pulgas para saber como é que a esperança e a mudança foram derrotadas pela experiência e mudança. Ou por outras palavras como é que aquela que é a sogra de todos os americanos – a Hilária - conseguiu deitar um balde de água gelada sobre a Obamania que assolava os Democratas americanos e certas elites bem pensantes.
A Hilária sempre teve o problema e a imagem de actuar como uma sogra. Vocês devem-me a presidência, devem estar agradecidos por eu estar a fazer isto, eu é que sei, eu é que tenho experiência, eu é que vou mudar as coisas. Daí que ela tivesse começado a chorar após a porrada que apanhou no Iowa do Obama a quem o Bill Clinton - furioso com a perspectiva de não vir a ser o primeiro marido - chamou outro dia do “maior conto de fadas da minha vida”. Tendo em conta que a palavra fada em inglês (fairy) tem um significado duplo eu presumo que isso foi dar o voto dos “gays” da América ao Obama.
Mas voltando ao choro da Hilária tenho a dizer que se uma das regras modernas da política é que uma mulher não chora, aparentemente a malta gostou. Humanizou a sogra, mostrou que afinal a Hilária é humana, não é só a sogra má, dura como um prego da construção civil, que nunca dobra e que – pelo que eu sei – é capaz de atirar com jarras de flores quando está furiosa ou obrigar o marido a dormir num dos sofás da Casa Branca quando este cometeu infidelidades sexuais do tipo oral com uma tal Mónica. Um dia antes do choro a Hilária tinha entrado na cena de se “tornar mais humana” ao afirmar no debate que o facto de as sondagens indicarem que as pessoas gostam mais do Obama “como pessoa” tinha “magoado os meus sentimentos”. As mulheres (57% do eleitorado de New Hampshire) e “as classes trabalhadoras e média baixa” (??) pelos menos gostaram de ver o lado humano da mulher do Bill e votaram por esmagadora maioria pela Hilária e …. hasta la vista Obama.
Tenho a dizer que antes de a Hilária atirar com o balde de água fria eu fui também apanhado na “onda Obama” que afinal parece ter rebentado muito antes da costa, deixando os surfistas da onda sem saberem se tentam apanhar outra onda ou se mudam de praia. Cheguei mesmo a pensar no impacto em redor do mundo dos “racistas americanos” ao terem um presidente não caucasiano.
Tal como muitos outros eu gosto do Obama porque ele - como se dizia nos meus tempos de juventude – manda bons pécos. E todos nós gostamos de bons pécos. “Audacidade da esperança”, “a história invulgar que é a América”, “subir ao topo do morro e ver a esperança a brilhar” e sempre a palavra “mudança”. Cada três frases tem a palavra “mudança”, o que outro dia num debate na televisão levou a uma cena cómica com todos so candidatos a dizerem que eles é que são “mudança”. Parecia um programa de companhias de mudanças. Eu mudei de canal.
A malta adora o Obama também porque ele nunca fala em si. É sempre “nós” ou “vocês”. Acaba sempre os discursos com “vamos mudar a América”. Nada de escolhas difíceis entre o mau e o pior (o que é a realidade de se governar, principalmente uma super potencia como por exemplo escolher entre o Irão e o Kim Jong mentally Ill) mas sim sempre entre o bom e melhor.
A brancalhada adora o Obama porque este nunca os faz sentir culpados pela escravatura. O que confunde o eleitorado negro e algum maralhal de esquerda porque desde os anos 60 que a identidade negra requer como prova de tal a acusação de culpa moral da brancalhada por todos os males que afligem não só a comunidade negra como o mundo. Até agora os autoproclamados lideres “africano americanos” têm insistido que o progresso da sua comunidade depende da brancalhada reconhecer que têm uma obrigação de culpa para com eles. Há que dizer que muitos fazem a transacção de bom grado ou cinicamente como se exemplifica pelos pedidos de desculpa pela história que abundam agora pelo mundo fora.
O Obambi nunca menciona a questão da raça e tem um slogan que é “uma nação, um povo”. O que me faz lembrar o Kenneth Kaunda que costumava gritar nos fins dos discursos “uma Zâmbia, uma nação” ao que os zambianos mais cínicos acrescentavam sempre “uma merda” ou em termos mais anglófonos “one fuck up”.
Qual a diferença entre o Obambi e a Hilária? Um é por mudança e esperança; a outra também … e tem experiência.
A Hilária faz uso da psicologia barata do Dr Phil afirmando que é “uma pessoa verdadeira com sentimentos” e que a campanha eleitoral “é muito pessoal para mim”.
O Obambi traz para os comícios a versão feminina do Dr Phil que é a Oprah.
Estou certo que a maior parte da malta não vota pelas diferenças políticas que poucos sabem quais são mas sim pelo “feel good” que cada candidato possa projectar junto do eleitorado pelas imagens de televisão. Estamos ao fim e cabo na era do Dr Phil, da era em que o que é importante é sentirmo-nos bem.”
O que eu gosto nas eleições americanas para além do Dr Phil e da Oprah é que os candidatos quando interrogados sobre os detalhes da sua política podem dizer que vão fazer isto, aquilo e aqueloutro quando na verdade não podem fazer nada. O presidente nos Estados Unidos tem governo mas nada faz sem apoio do congresso e como nos Estados Unidos não há a tal “disciplina partidária” que existe aí do outro lado do charco a coisa complica-se ainda mais. Maravilhoso.
Por isso os candidatos podem prometer tudo e depois culpar tudo o que está mal “em Washington”. Dai que para além de “mudança” a outra palavra favorita seja “Washington” É impressionante. Todos os candidatos culpam tudo “em Washington” que é uma palavra que significa impasse, burocracia, surrealismo etc. Todos querem ir para Washington para acabar com a influência dos lobistas, pôr “Washington em contacto com as vossas necessidades”, “concertar” o sistema de saúde etc. etc.O Mitt Romney até tem um cartaz que afirma em letras grandes “Washington is broken”. Mas ele e todos querem vir para Washington mesmo que esteja “broken”. E para tal estão dispostos a participar numa campanha que dura quase dois anos e custa centenas de milhões de dólares. O que me leva a crer que para se ser candidato à presidência nos Estados Unidos tem que se ser um narcisista patológico, estilo Hugo Chavez.
Mas é democracia. Americana. Sem dúvida única. E este ano pelos visto vai ser quente. A máquina Clinton vai triturar o Obambi ao que parece e depois vamos a ver se o resto da América quer quatro anos com a sogra ou se prefere um republicano para equilibrar o congresso democrático e deixar Washington sem poder funcionar. Depois o processo começa outra vez estilo “American Idol”.
Abraços,
Da capital do Império
Jota Esse Erre
Sei que vocês devem estar em pulgas para saber como é que a esperança e a mudança foram derrotadas pela experiência e mudança. Ou por outras palavras como é que aquela que é a sogra de todos os americanos – a Hilária - conseguiu deitar um balde de água gelada sobre a Obamania que assolava os Democratas americanos e certas elites bem pensantes.
A Hilária sempre teve o problema e a imagem de actuar como uma sogra. Vocês devem-me a presidência, devem estar agradecidos por eu estar a fazer isto, eu é que sei, eu é que tenho experiência, eu é que vou mudar as coisas. Daí que ela tivesse começado a chorar após a porrada que apanhou no Iowa do Obama a quem o Bill Clinton - furioso com a perspectiva de não vir a ser o primeiro marido - chamou outro dia do “maior conto de fadas da minha vida”. Tendo em conta que a palavra fada em inglês (fairy) tem um significado duplo eu presumo que isso foi dar o voto dos “gays” da América ao Obama.
Mas voltando ao choro da Hilária tenho a dizer que se uma das regras modernas da política é que uma mulher não chora, aparentemente a malta gostou. Humanizou a sogra, mostrou que afinal a Hilária é humana, não é só a sogra má, dura como um prego da construção civil, que nunca dobra e que – pelo que eu sei – é capaz de atirar com jarras de flores quando está furiosa ou obrigar o marido a dormir num dos sofás da Casa Branca quando este cometeu infidelidades sexuais do tipo oral com uma tal Mónica. Um dia antes do choro a Hilária tinha entrado na cena de se “tornar mais humana” ao afirmar no debate que o facto de as sondagens indicarem que as pessoas gostam mais do Obama “como pessoa” tinha “magoado os meus sentimentos”. As mulheres (57% do eleitorado de New Hampshire) e “as classes trabalhadoras e média baixa” (??) pelos menos gostaram de ver o lado humano da mulher do Bill e votaram por esmagadora maioria pela Hilária e …. hasta la vista Obama.
Tenho a dizer que antes de a Hilária atirar com o balde de água fria eu fui também apanhado na “onda Obama” que afinal parece ter rebentado muito antes da costa, deixando os surfistas da onda sem saberem se tentam apanhar outra onda ou se mudam de praia. Cheguei mesmo a pensar no impacto em redor do mundo dos “racistas americanos” ao terem um presidente não caucasiano.
Tal como muitos outros eu gosto do Obama porque ele - como se dizia nos meus tempos de juventude – manda bons pécos. E todos nós gostamos de bons pécos. “Audacidade da esperança”, “a história invulgar que é a América”, “subir ao topo do morro e ver a esperança a brilhar” e sempre a palavra “mudança”. Cada três frases tem a palavra “mudança”, o que outro dia num debate na televisão levou a uma cena cómica com todos so candidatos a dizerem que eles é que são “mudança”. Parecia um programa de companhias de mudanças. Eu mudei de canal.
A malta adora o Obama também porque ele nunca fala em si. É sempre “nós” ou “vocês”. Acaba sempre os discursos com “vamos mudar a América”. Nada de escolhas difíceis entre o mau e o pior (o que é a realidade de se governar, principalmente uma super potencia como por exemplo escolher entre o Irão e o Kim Jong mentally Ill) mas sim sempre entre o bom e melhor.
A brancalhada adora o Obama porque este nunca os faz sentir culpados pela escravatura. O que confunde o eleitorado negro e algum maralhal de esquerda porque desde os anos 60 que a identidade negra requer como prova de tal a acusação de culpa moral da brancalhada por todos os males que afligem não só a comunidade negra como o mundo. Até agora os autoproclamados lideres “africano americanos” têm insistido que o progresso da sua comunidade depende da brancalhada reconhecer que têm uma obrigação de culpa para com eles. Há que dizer que muitos fazem a transacção de bom grado ou cinicamente como se exemplifica pelos pedidos de desculpa pela história que abundam agora pelo mundo fora.
O Obambi nunca menciona a questão da raça e tem um slogan que é “uma nação, um povo”. O que me faz lembrar o Kenneth Kaunda que costumava gritar nos fins dos discursos “uma Zâmbia, uma nação” ao que os zambianos mais cínicos acrescentavam sempre “uma merda” ou em termos mais anglófonos “one fuck up”.
Qual a diferença entre o Obambi e a Hilária? Um é por mudança e esperança; a outra também … e tem experiência.
A Hilária faz uso da psicologia barata do Dr Phil afirmando que é “uma pessoa verdadeira com sentimentos” e que a campanha eleitoral “é muito pessoal para mim”.
O Obambi traz para os comícios a versão feminina do Dr Phil que é a Oprah.
Estou certo que a maior parte da malta não vota pelas diferenças políticas que poucos sabem quais são mas sim pelo “feel good” que cada candidato possa projectar junto do eleitorado pelas imagens de televisão. Estamos ao fim e cabo na era do Dr Phil, da era em que o que é importante é sentirmo-nos bem.”
O que eu gosto nas eleições americanas para além do Dr Phil e da Oprah é que os candidatos quando interrogados sobre os detalhes da sua política podem dizer que vão fazer isto, aquilo e aqueloutro quando na verdade não podem fazer nada. O presidente nos Estados Unidos tem governo mas nada faz sem apoio do congresso e como nos Estados Unidos não há a tal “disciplina partidária” que existe aí do outro lado do charco a coisa complica-se ainda mais. Maravilhoso.
Por isso os candidatos podem prometer tudo e depois culpar tudo o que está mal “em Washington”. Dai que para além de “mudança” a outra palavra favorita seja “Washington” É impressionante. Todos os candidatos culpam tudo “em Washington” que é uma palavra que significa impasse, burocracia, surrealismo etc. Todos querem ir para Washington para acabar com a influência dos lobistas, pôr “Washington em contacto com as vossas necessidades”, “concertar” o sistema de saúde etc. etc.O Mitt Romney até tem um cartaz que afirma em letras grandes “Washington is broken”. Mas ele e todos querem vir para Washington mesmo que esteja “broken”. E para tal estão dispostos a participar numa campanha que dura quase dois anos e custa centenas de milhões de dólares. O que me leva a crer que para se ser candidato à presidência nos Estados Unidos tem que se ser um narcisista patológico, estilo Hugo Chavez.
Mas é democracia. Americana. Sem dúvida única. E este ano pelos visto vai ser quente. A máquina Clinton vai triturar o Obambi ao que parece e depois vamos a ver se o resto da América quer quatro anos com a sogra ou se prefere um republicano para equilibrar o congresso democrático e deixar Washington sem poder funcionar. Depois o processo começa outra vez estilo “American Idol”.
Abraços,
Da capital do Império
Jota Esse Erre
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Quem é?
Telegramas
Krugman revela-se pessimista sobre o ano 2008, em especial para a Economia USA - Das fanfarronices ao medo, é o título de uma desassombrada análise de política económica de Paul Krugman, inserta no NY Times. E o que nos diz ele de relevante? O desemprego aumenta…porque os efeitos do colapso do imobiliário residencial parecem “incontroláveis”, desvirtuando a miragem agitada pela cassete dos refrães do ano transacto. “The levees have been breached, and the repercussions of the housing crisis are spreading across the economy as a whole”, justifica. Para indicar que, não se podendo ainda falar de uma “formal recessão”, o que “parece claro é que 2008 será um ano muito agitado para a economia americana”. Tudo por causa, pontua, “da fraca prestação global da economia dos anos GWBush: dois anos e meio de desemprego, três anos e meio de bom mas não suficiente crescimento, e mais dois anos de renovado abrandamento económico”. Os candidatos presidenciais que apostam na mudança, Hillary Clinton e Barack Obama, podem ter chances num contexto depressivo como este, reflecte. Mas, pondera, os candidatos do establishment – Republicanos - podem fazer aparecer o dispositivo maior de contra-ataque quando as coisas giram mal - o pivô da banha-da-cobra transferido para o medo. “You see, for 30 years American politics has been dominated by a political Robin.Hood inreverse, giving unto those that hath while taking from those who don´t. And one secret of that long domination has been a remarkable flexibility in economic debate. The policies never change- but the arguments for these policies turn on a dime”. Os democratas querem voltar ao nível de impostos da era Clinton, de forma a atenuarem o grave deficit da Segurança Social, um dos maiores flagelos do liberalismo bushista sem rodeios…
Quénia: elites apostam no tribalismo, a ferro e fogo - A política da terra queimada ensanguenta a África de maior potencial. Depois do genocídio inumano praticado pelos warlords na Serra Leoa e na Libéria, a “vitrina” democrática da África do Oeste, a Costa do Marfim, quase um protectorado francês por causa da riqueza agrícola insofismável, há mais de dois anos, assiste impávida ao desenrolar de um processo político auto-destruidor de proporções alarmantes. Os franceses têm estacionado um volumoso contingente de tropas de intervenção. E organizaram o exército do “socialista”, Laurent Gbagbo, cuja família tentacular se meteu a gerir negócios muito rentáveis. O caso do Quénia, na Costa Oriental, com um processo democrático quasi-regular desde 2002, outro dos “celeiros de África” e com um potencial turístico enorme, degenerou por causa da ambição de um dos filhos mais exemplares dos independentistas do país, Raila Odinga. Os erros cometidos por corrupção e nepotismo pelo PR mal reeleito, Mwai Kibaki, deram o lamiré para uma purga étnico-tribal impensável nos dias de hoje. Os EUA e sobretudo a África do Sul tentam salvar os móveis, tentando sentar à mesa das negociações, o PR, membro da etnia dos Kikuyu, e o líder contestatário e multimilionário, pertencente à etnia dos Kalengin, R. Odinga, ele que já tinha apoiado o agora contestado presidente contra o ditador Moi, nos anos 90. Será que existem conexões entre os grandes “barões” envolvidos nos negócios entre a África do Sul e o Quénia, dispostos a ganharem quotas de mercado para as suas especulações económicas, nem sempre muito curiais e cristalinas?
Irão: Ahmadinejad perde apoios do Líder Supremo - O líder religioso, ayatollah Ali Khamenei, está muito descontente com os resultados da política económica apurados pelo PR , Mahmoud Ahmadinejad. Segundo a correspondente em Teerão do NY Times, Nazila Fathi, Khamenei num contexto mais desanuviado pelo fim das ameaças temporárias de ataque dos EUA, recuperou muitas das críticas ao populismo e primitivismo demagógico da política económica do governo presidido por Ahmadinejad. A inflação ronda os 20 por cento, o desemprego os 16 e não se vislumbra um esboço mínimo de estratégia económica sustentável. Entretanto, Khamenei nomeou um líder radical para comandante de uma das mais importantes milícias do país, que tinha sido demitido por Ahmadinejad. E enviou como emissário especial ao Cairo, Ali Laranjani, da ala moderada do antigo ayatollah Khatami, factos que deixaram por terra o PR desorientado e a perder força cada dia que passa. Entretanto, as eleições Legislativas na próxima Primavera podem acentuar o fm de um período de grande desequilíbrio político e crise económica multissectorial.
FAR
Quénia: elites apostam no tribalismo, a ferro e fogo - A política da terra queimada ensanguenta a África de maior potencial. Depois do genocídio inumano praticado pelos warlords na Serra Leoa e na Libéria, a “vitrina” democrática da África do Oeste, a Costa do Marfim, quase um protectorado francês por causa da riqueza agrícola insofismável, há mais de dois anos, assiste impávida ao desenrolar de um processo político auto-destruidor de proporções alarmantes. Os franceses têm estacionado um volumoso contingente de tropas de intervenção. E organizaram o exército do “socialista”, Laurent Gbagbo, cuja família tentacular se meteu a gerir negócios muito rentáveis. O caso do Quénia, na Costa Oriental, com um processo democrático quasi-regular desde 2002, outro dos “celeiros de África” e com um potencial turístico enorme, degenerou por causa da ambição de um dos filhos mais exemplares dos independentistas do país, Raila Odinga. Os erros cometidos por corrupção e nepotismo pelo PR mal reeleito, Mwai Kibaki, deram o lamiré para uma purga étnico-tribal impensável nos dias de hoje. Os EUA e sobretudo a África do Sul tentam salvar os móveis, tentando sentar à mesa das negociações, o PR, membro da etnia dos Kikuyu, e o líder contestatário e multimilionário, pertencente à etnia dos Kalengin, R. Odinga, ele que já tinha apoiado o agora contestado presidente contra o ditador Moi, nos anos 90. Será que existem conexões entre os grandes “barões” envolvidos nos negócios entre a África do Sul e o Quénia, dispostos a ganharem quotas de mercado para as suas especulações económicas, nem sempre muito curiais e cristalinas?
Irão: Ahmadinejad perde apoios do Líder Supremo - O líder religioso, ayatollah Ali Khamenei, está muito descontente com os resultados da política económica apurados pelo PR , Mahmoud Ahmadinejad. Segundo a correspondente em Teerão do NY Times, Nazila Fathi, Khamenei num contexto mais desanuviado pelo fim das ameaças temporárias de ataque dos EUA, recuperou muitas das críticas ao populismo e primitivismo demagógico da política económica do governo presidido por Ahmadinejad. A inflação ronda os 20 por cento, o desemprego os 16 e não se vislumbra um esboço mínimo de estratégia económica sustentável. Entretanto, Khamenei nomeou um líder radical para comandante de uma das mais importantes milícias do país, que tinha sido demitido por Ahmadinejad. E enviou como emissário especial ao Cairo, Ali Laranjani, da ala moderada do antigo ayatollah Khatami, factos que deixaram por terra o PR desorientado e a perder força cada dia que passa. Entretanto, as eleições Legislativas na próxima Primavera podem acentuar o fm de um período de grande desequilíbrio político e crise económica multissectorial.
FAR
Mar
São as húmidas e incertas paragens.
O novelo da espuma e o clamor, sempre aquele clamor...
O medo vem da incerteza da vaga, da confusão do olhar.
Imensidão líquida, baloiço da intranquilidade.
Lá em baixo a incerteza do olhar; o peito, aflito, à procura da saída.
Uma quilha a perfurar as manhosas esquinas das ondas.
Vê-lo de longe, ao longe, na firmeza da terra. Sabê-lo ali, ao alcance dos sentidos.
O mar.
O novelo da espuma e o clamor, sempre aquele clamor...
O medo vem da incerteza da vaga, da confusão do olhar.
Imensidão líquida, baloiço da intranquilidade.
Lá em baixo a incerteza do olhar; o peito, aflito, à procura da saída.
Uma quilha a perfurar as manhosas esquinas das ondas.
Vê-lo de longe, ao longe, na firmeza da terra. Sabê-lo ali, ao alcance dos sentidos.
O mar.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
Terra
Foto:G.Ludovice
O sal tem a sua toca em qualquer mar ou desaguados olhos, mas a linha larga azulíssima da Praia Morena não é uma qualquer casa de apoio aos peixes, lá banha-se também o que mais fundo palpita no ser humano. E por ventura são-lhe ainda acrescidas como néctar, as inquietas acrobacias dos meninos que a povoam em desdobráveis esperanças, nesse seu quê...
Madrid me mata (5)
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
Esta vai sem rascunho
Pronto, pá ( permita que te trate desta forma...).
Agora estás onde ninguém que se prezasse deveria estar.
À espera da hora em que o teu corpo virá a ser cinzas e nada,
aquele intermédio entre lágrimas de circunstância que já nada acrescentam.
Agora, finalmente, podes caminhar pelas ruas a gritar pela Fátima.
Ninguém te virá prender, ninguém te confinará ao Limoeiro...
As tuas primeiras cinzas hão-de voar pelo cinzento desta Lisboa cada vez mais cinzenta.
Voa para longe, acaso possas.
Pede-lhes vintes e bate as asas.
Procura o espaço, a dimensão onde te entendam.
Libertino.
Luís com z.
Onde te compreendam.
Agora estás onde ninguém que se prezasse deveria estar.
À espera da hora em que o teu corpo virá a ser cinzas e nada,
aquele intermédio entre lágrimas de circunstância que já nada acrescentam.
Agora, finalmente, podes caminhar pelas ruas a gritar pela Fátima.
Ninguém te virá prender, ninguém te confinará ao Limoeiro...
As tuas primeiras cinzas hão-de voar pelo cinzento desta Lisboa cada vez mais cinzenta.
Voa para longe, acaso possas.
Pede-lhes vintes e bate as asas.
Procura o espaço, a dimensão onde te entendam.
Libertino.
Luís com z.
Onde te compreendam.
Táxi Bamako (2)
A Sarkogénie vista por Ph. Sollers
Claro que comprei, e já li e devorei , os dois últimos livros de Sollers. “Un vrai Roman.Mémoires” , na Plon Edit. E o outro “Guerres Secrètes”, na Carnetsnord. Ambas de Paris. Sabendo nós que Sollers trabalha na Gallimard como director literário. Nas Mémoires, que o Gérard de Cortanze já tinha revelado/desbravado um pouco no livro hagiógráfico que lhe dedicou, o autor de “Logiques” revela que fez as pazes com Derrida, pouco tempo antes da morte do filósofo admirável, que, por acaso, lhe dedicou um livro inteiro de análise, “La Dissémination”.
Bem. No texto que irão ler, Sollers diverte-se com finura e inteligência sobre as “fanfarronadas” do nosso pequenino Sarkozy. Ainda agora vi um trabalho da CNN- Paris sobre o evento quasi-nupcial do PR francês. Será que ainda ele está a tempo de se arrepender? Sollers garante que “Hollywood se esfarrapa de inveja”…Tudo isto terá a ver com a tenda, as amazonas e o resto, que Kadhaffi montou nos jardins do palácio presidencial de Paris? E o nosso escritor preferido recorda que Pascal dizia, siblino, que “uma coisa tão visível como a vaidade do Mundo seja tão pouco conhecida, que seja uma coisa estranha e surpreendente de dizer que é uma estupidez procurar as grandezas, isso é qualquer coisa de admirável”. Trata-se de uma dupla ironia, se bem entendem. Sollers não deixa passar em claro, o facto de Sarkozy não diferenciar Céline de Albert Cohen, “o gosto mais elementar exige uma opção”, frisa. Os pormenores picantes estão todos no texto, vistos e analisados sem dó nem piedade.
« Décidément, Sarkozy m'inspire, sa vie est un roman fabuleux, la mienne aussi, mais en sens contraire. Plus il s'étend à l'extérieur, plus je plonge à l'intérieur, et c'est pourquoi je le devine mieux que personne. Tout ce que je lis sur lui me semble faux, vieilli, superficiel, à côté de la plaque, sourdement jaloux, fasciné à l'envers. Il faut le dire une bonne fois: Sarkozy est le génie de notre époque, celle du spectaculaire intégral.
Parler à son sujet de "coups médiatiques", c'est ne rien comprendre au nouveau réel dans lequel nous sommes entrés. J'entends murmurer qu'il serait vulgaire: oui, sans doute, et alors? L'ère planétaire est vulgaire, et la dominer nerveusement n'est pas à la portée de n'importe qui. Sarkozy plus fort que tous les autres guignols du spectacle? C'est l'évidence, et tout patriote français devrait en être fier. Les pauvres Américains, à travers Time, se dévoilent en parlant de la mort de la culture française. Elle est pourtant là, ultravivante sous leurs yeux, et ils ne voient rien. La preuve: le même Time proclame le triste Poutine "homme de l'année". Quelle misère! Autre affirmation dérisoire: il n'y aurait pas, aujourd'hui, en France, un seul écrivain qui ait une global significance. Quel aveuglement! Je suis là, pourtant, je suis global, et ma significance est aussi variée que profonde. D'accord, on ne le sait pas assez, mais ça viendra. Pour l'instant, imaginez seulement qu'au lieu du couple idéal Sarkozy-Bruni, nous ayons aux commandes l'attelage poussif et provincial Ségo-Bayrou! A quoi n'avons-nous pas échappé ! Vive la France!
Toujours plus fort
Il y a eu le voyage en Chine, et Sarko, très à l'aise au milieu de l'armée en terre cuite rassemblée pour lui; sa mère, surtout, à qui le président chinois, ému, a offert un châle. Cette présence maternelle n'a pas été assez commentée, d'autant plus qu'une autre mère, celle de Carla Bruni, est arrivée par la suite. Les mères, les enfants, voilà qui est admirablement joué. La Chine? Bientôt les jeux Olympiques, et n'oublions pas que l'Opéra de Pékin est de construction française. Il y a eu ensuite Sarko en Algérie, les ruines de Tipasa, et le surgissement d'Albert Camus dans le discours présidentiel. Camus, c'est du solide, suivez mon regard, vers une union méditerranéenne et humaniste future. Il y a eu l'ébouriffante mise en scène de la visite de Kadhafi à Paris, sa tente, ses amazones, sa virée au Louvre et à Versailles, sa chasse à Rambouillet, son allure de seigneur hirsute et abrupt, ses déclarations de roi du désert, les indignations programmées qu'il fallait, les affaires. Quel film!
Il y a eu, il y a toujours, l'attente fiévreuse d'Ingrid Betancourt et la sollicitude permanente du président sauveur d'otages. Il y a eu le rapt de Carla à Disneyland, nouvelle percée à gauche, sabre dans le caviar, la mode, la chanson, les réseaux d'amants, la branchitude, Libération, Les Inrockuptibles, les fantasmes poussés à bout, la fuite en Egypte, les mystères de Louxor, l'annonce d'un mariage inouï et, pourquoi pas, d'un heureux événement (les mères sont là), bref, un modèle de campagne à l'intérieur des lignes ennemies, avec, en plus, promotion sociale du côté d'une très bonne famille italienne (aucune française n'aurait fait le poids). Franchement, avez-vous vu mieux depuis Bonaparte? Du haut des pyramides, quarante siècles contemplent cet exploit. Le Président est là, il jouit, il médite. Carla, le soir, lui chante doucement une berceuse, et Hollywood se convulse d'envie. Vous persistez à me parler du pouvoir d'achat, de l'augmentation des salaires et des sans domicile dans la rue? Quelle mesquinerie! Et le penseur mondial de la gauche radicale, Badiou, qui compare Sarko à Pétain! Quelle ringardise! Vous ne voyez donc pas ce soleil nouveau de la République se lever sur le Nil?
Encore plus fort
Là, le vieil anticléricalisme français en reste baba: Sarkozy chanoine, reçu par le pape, et vantant les "racines chrétiennes" de la France. Déjà la conversion tardive de Tony Blair au catholicisme avait de quoi inquiéter. Mais avec le chanoine Sarko béni par Benoît XVI en même temps que le sans-culotte Bigard, on atteint des sommets révolutionnaires. Les vieux cathos sont épouvantés, les anticathos stupéfaits: toujours l'attaque simultanée sur deux ailes, aucun doute, le génie militaire est là. Le Président cite, pêle-mêle, Pascal, Bossuet, Péguy, Claudel, Bernanos, Mauriac, Maritain, Mounier, René Girard, des théologiens comme Lubac et Congar. Il offre à Sa Sainteté son livre extraordinaire sur les religions et deux éditions originales de Bernanos, et s'attire une remarque courtoise du pape, à savoir qu'il a déjà lu cet auteur dans la Pléiade. Je vais proposer aux éditions Gallimard une publicité: "Le pape lit la Pléiade." Pas celle de Sade, assurément, mais sait-on jamais.
L'avenir nous dira si, par autorisation spéciale, le mariage de Sarko et Bruni pourra être célébré à Notre-Dame de Paris. Avouez-le: ce serait grandiose, et je ne manquerais pas de vous faire part de mes réflexions. Pour l'instant, juste un peu d'eau froide: puisque le Président s'est mêlé de citer Pascal, une pincée des Pensées ne lui fera pas de mal. "Qu'une chose aussi visible qu'est la vanité du monde soit si peu connue, que ce soit une chose étrange et surprenante de dire que c'est une sottise de chercher les grandeurs, cela est admirable." Quant à nos amis-ennemis américains qui nous voient culturellement morts, rappelons-leur tout de même qu'à ce jour, chez eux, 124 condamnés à mort ont été innocentés, dont 15 grâce aux tests ADN. Et soyons précis: dans plusieurs Etats, dont la Californie, où les prisons comptent plus de 600 détenus en attente d'être exécutés, des études ont mis en évidence le coût financier de la peine capitale (jusqu'à 70% de plus que pour une incarcération à perpétuité).
(…)»
Ph. Sollers. LeJDD.fr
FAR
Bem. No texto que irão ler, Sollers diverte-se com finura e inteligência sobre as “fanfarronadas” do nosso pequenino Sarkozy. Ainda agora vi um trabalho da CNN- Paris sobre o evento quasi-nupcial do PR francês. Será que ainda ele está a tempo de se arrepender? Sollers garante que “Hollywood se esfarrapa de inveja”…Tudo isto terá a ver com a tenda, as amazonas e o resto, que Kadhaffi montou nos jardins do palácio presidencial de Paris? E o nosso escritor preferido recorda que Pascal dizia, siblino, que “uma coisa tão visível como a vaidade do Mundo seja tão pouco conhecida, que seja uma coisa estranha e surpreendente de dizer que é uma estupidez procurar as grandezas, isso é qualquer coisa de admirável”. Trata-se de uma dupla ironia, se bem entendem. Sollers não deixa passar em claro, o facto de Sarkozy não diferenciar Céline de Albert Cohen, “o gosto mais elementar exige uma opção”, frisa. Os pormenores picantes estão todos no texto, vistos e analisados sem dó nem piedade.
« Décidément, Sarkozy m'inspire, sa vie est un roman fabuleux, la mienne aussi, mais en sens contraire. Plus il s'étend à l'extérieur, plus je plonge à l'intérieur, et c'est pourquoi je le devine mieux que personne. Tout ce que je lis sur lui me semble faux, vieilli, superficiel, à côté de la plaque, sourdement jaloux, fasciné à l'envers. Il faut le dire une bonne fois: Sarkozy est le génie de notre époque, celle du spectaculaire intégral.
Parler à son sujet de "coups médiatiques", c'est ne rien comprendre au nouveau réel dans lequel nous sommes entrés. J'entends murmurer qu'il serait vulgaire: oui, sans doute, et alors? L'ère planétaire est vulgaire, et la dominer nerveusement n'est pas à la portée de n'importe qui. Sarkozy plus fort que tous les autres guignols du spectacle? C'est l'évidence, et tout patriote français devrait en être fier. Les pauvres Américains, à travers Time, se dévoilent en parlant de la mort de la culture française. Elle est pourtant là, ultravivante sous leurs yeux, et ils ne voient rien. La preuve: le même Time proclame le triste Poutine "homme de l'année". Quelle misère! Autre affirmation dérisoire: il n'y aurait pas, aujourd'hui, en France, un seul écrivain qui ait une global significance. Quel aveuglement! Je suis là, pourtant, je suis global, et ma significance est aussi variée que profonde. D'accord, on ne le sait pas assez, mais ça viendra. Pour l'instant, imaginez seulement qu'au lieu du couple idéal Sarkozy-Bruni, nous ayons aux commandes l'attelage poussif et provincial Ségo-Bayrou! A quoi n'avons-nous pas échappé ! Vive la France!
Toujours plus fort
Il y a eu le voyage en Chine, et Sarko, très à l'aise au milieu de l'armée en terre cuite rassemblée pour lui; sa mère, surtout, à qui le président chinois, ému, a offert un châle. Cette présence maternelle n'a pas été assez commentée, d'autant plus qu'une autre mère, celle de Carla Bruni, est arrivée par la suite. Les mères, les enfants, voilà qui est admirablement joué. La Chine? Bientôt les jeux Olympiques, et n'oublions pas que l'Opéra de Pékin est de construction française. Il y a eu ensuite Sarko en Algérie, les ruines de Tipasa, et le surgissement d'Albert Camus dans le discours présidentiel. Camus, c'est du solide, suivez mon regard, vers une union méditerranéenne et humaniste future. Il y a eu l'ébouriffante mise en scène de la visite de Kadhafi à Paris, sa tente, ses amazones, sa virée au Louvre et à Versailles, sa chasse à Rambouillet, son allure de seigneur hirsute et abrupt, ses déclarations de roi du désert, les indignations programmées qu'il fallait, les affaires. Quel film!
Il y a eu, il y a toujours, l'attente fiévreuse d'Ingrid Betancourt et la sollicitude permanente du président sauveur d'otages. Il y a eu le rapt de Carla à Disneyland, nouvelle percée à gauche, sabre dans le caviar, la mode, la chanson, les réseaux d'amants, la branchitude, Libération, Les Inrockuptibles, les fantasmes poussés à bout, la fuite en Egypte, les mystères de Louxor, l'annonce d'un mariage inouï et, pourquoi pas, d'un heureux événement (les mères sont là), bref, un modèle de campagne à l'intérieur des lignes ennemies, avec, en plus, promotion sociale du côté d'une très bonne famille italienne (aucune française n'aurait fait le poids). Franchement, avez-vous vu mieux depuis Bonaparte? Du haut des pyramides, quarante siècles contemplent cet exploit. Le Président est là, il jouit, il médite. Carla, le soir, lui chante doucement une berceuse, et Hollywood se convulse d'envie. Vous persistez à me parler du pouvoir d'achat, de l'augmentation des salaires et des sans domicile dans la rue? Quelle mesquinerie! Et le penseur mondial de la gauche radicale, Badiou, qui compare Sarko à Pétain! Quelle ringardise! Vous ne voyez donc pas ce soleil nouveau de la République se lever sur le Nil?
Encore plus fort
Là, le vieil anticléricalisme français en reste baba: Sarkozy chanoine, reçu par le pape, et vantant les "racines chrétiennes" de la France. Déjà la conversion tardive de Tony Blair au catholicisme avait de quoi inquiéter. Mais avec le chanoine Sarko béni par Benoît XVI en même temps que le sans-culotte Bigard, on atteint des sommets révolutionnaires. Les vieux cathos sont épouvantés, les anticathos stupéfaits: toujours l'attaque simultanée sur deux ailes, aucun doute, le génie militaire est là. Le Président cite, pêle-mêle, Pascal, Bossuet, Péguy, Claudel, Bernanos, Mauriac, Maritain, Mounier, René Girard, des théologiens comme Lubac et Congar. Il offre à Sa Sainteté son livre extraordinaire sur les religions et deux éditions originales de Bernanos, et s'attire une remarque courtoise du pape, à savoir qu'il a déjà lu cet auteur dans la Pléiade. Je vais proposer aux éditions Gallimard une publicité: "Le pape lit la Pléiade." Pas celle de Sade, assurément, mais sait-on jamais.
L'avenir nous dira si, par autorisation spéciale, le mariage de Sarko et Bruni pourra être célébré à Notre-Dame de Paris. Avouez-le: ce serait grandiose, et je ne manquerais pas de vous faire part de mes réflexions. Pour l'instant, juste un peu d'eau froide: puisque le Président s'est mêlé de citer Pascal, une pincée des Pensées ne lui fera pas de mal. "Qu'une chose aussi visible qu'est la vanité du monde soit si peu connue, que ce soit une chose étrange et surprenante de dire que c'est une sottise de chercher les grandeurs, cela est admirable." Quant à nos amis-ennemis américains qui nous voient culturellement morts, rappelons-leur tout de même qu'à ce jour, chez eux, 124 condamnés à mort ont été innocentés, dont 15 grâce aux tests ADN. Et soyons précis: dans plusieurs Etats, dont la Californie, où les prisons comptent plus de 600 détenus en attente d'être exécutés, des études ont mis en évidence le coût financier de la peine capitale (jusqu'à 70% de plus que pour une incarcération à perpétuité).
(…)»
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Um país governado a trouxe-mouxe
Trouxe -mouxe : a torto e a direito; confusamente; a esmo; atabalhoadamente (Dic. Porto Ed., 5ª ed.)
Portugal, para além de se destacar por vários fenómenos bizarros, é o único país cuja governação é inédita.
Tudo, no que diz respeito a esse âmbito anda a trouxe-mouxe.
Vejam-se e ouçam-se os discursos do PR e do PM. Não há melhor exemplo do que é o trouxe -mouxe. Se um se manifesta a torto (Cavaco, por via das dúvidas...), logo outro se mostra a misturar alhos com bogalhos e faz gala de se parecer como um tontinho de Direita...
No fundo, não faz mais que exercer a política do trouxe-mouxe... É consequente.
Portugal tem revelado uma grande queda (salvo-seja) para a exportação: até agora, e em curto espaço de tempo conseguimos exportar três ex - primeiros ministros - três para lugares que ninguém aceitaria: o Guterres, o Ferro e o Durão. Estou de acordo, desde que não me cobrem por isso.
Exportamos o que é possível e ainda temos de reserva o Santana Lopes...
Que é que acham?...
Se calhar acham, ó europeus, que a vossa alternância é melhor que a nossa?...
E ainda cá ficámos com o Ingenheiro... Pois. Esse. O José.
O que amplificou (fiado na maioria) a teoria do trouxe-mouxe. O mesmo que escolheu uma equipa ministerial em que sabia que cada um era mais 'trouxe-mouxista' que o outro ( excepção feita à detentora da pasta da Cultura - que, como todos sabeis, não existe, não se manifesta e está sempre, algures, de férias...).
Com efeito, o trouxe-mouxismo consiste - explicando-o às crianças e ao povo - em dar a ideia de que se está a fazer algo para que tudo fique na mesma sabendo, no entanto, que tudo ficará bem pior.
Porém, nem tudo o que o 'trouxe-mouxismo' aportou foi mal: houveram inovações, pois então!
O trouxe-mouxe do Ingenheiro deu-nos a vertente AP (arrogância-policial) que já cá faltava. O vinte e cinco de Abril de 74 foi há... sei lá... é fazer as contas... e este país não suporta uma tão longa ausência de bufos. E o Ingenheiro criou a AGAE/DGS - e daí surgiu a alavanca para o progresso e desenvolvimento da Nação.
Impera, portanto, esta filosofia, baseada no trouxe-mouxe.
Eu, que produzo riqueza para que aqueles putos de Trás -os - Montes comprem cigarros e os fumem sem que nenhuma autoridade da República os venha autuar ou aos seus pais ou, ainda, aos comerciantes que lhes vendem os maços de tabaco sem receio a qaulquer lei que lhes proíbe a comercialização de tal produto a menores , mas que serei punido por fumar um cigarro no parque de estacionamento do Centro Comercial Rio Sul do Seixal, sem que me perguntem nada.
É a governação a trouxe-mouxe. O deixa andar. Nós legislamos e eles acatam.
A Fátima Campos Ferreira para adjunta do PM, já!
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
Os vinte e nove Sonetos de Amor de Étienne de La Boétie (2)
Soneto II
C´est Amour, c´est Amour, c´est lui seul, je le sens:
Mais le plus vif Amour, la poison la plus forte,
À qui oncq ( jamais) pauvre coeur ait ouverte la porte.
Ce cruel n´a pas mis un de ses traits perçants,
Mais arc, traits et carquois, et lui tout dans mes sens.
Encore un mois n´a ( il n´y a) pas, que ma franchise( liberté) est morte,
Que ce venin mortel dans mes veines je porte,
Et déjà j´ai perdu et le coeur et le sens.
Et quoi! Si cet amour à mesure croissoit,
Qui en si grand tourment dedans moi se conçoit?
Ô crois, sit u peux croitre, et amende en croissant.
Tu te nourris de pleurs, des pleurs je te promets,
Et pour te refraichir( reposer), des soupirs pour jamais:
Mais que le plus grand mal soit au moins en naissant.
FAR
C´est Amour, c´est Amour, c´est lui seul, je le sens:
Mais le plus vif Amour, la poison la plus forte,
À qui oncq ( jamais) pauvre coeur ait ouverte la porte.
Ce cruel n´a pas mis un de ses traits perçants,
Mais arc, traits et carquois, et lui tout dans mes sens.
Encore un mois n´a ( il n´y a) pas, que ma franchise( liberté) est morte,
Que ce venin mortel dans mes veines je porte,
Et déjà j´ai perdu et le coeur et le sens.
Et quoi! Si cet amour à mesure croissoit,
Qui en si grand tourment dedans moi se conçoit?
Ô crois, sit u peux croitre, et amende en croissant.
Tu te nourris de pleurs, des pleurs je te promets,
Et pour te refraichir( reposer), des soupirs pour jamais:
Mais que le plus grand mal soit au moins en naissant.
FAR
Cuecas na cabeça

Quando o sol aperta mesmo em Novembro e não há chapéu as cuecas servem. Bairro Alto. Lisboa. 2007
Foto Jota Esse Erre
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Portugal
domingo, 6 de janeiro de 2008
Carla-III
O JDD (Journal Du Dimanche) realiza, hoje, a sua manchete sobre o iminente casamento de Sarkozy com Carla Bruni. O “Le Canard Enchainé” desta semana já tinha alertado para essa eventualidade. No entanto, segundo o Canard, a mãe do Sarko torce muito forte contra essa eventualidade. Ela lá deve saber… O filhinho é que não pode estar sózinho nas frias dependênciais do palácio presidencial. O “Le Point” desta semana traz uma fotografia- a Da Semana- com imagens do Sarko e Carla no Egipto, com uma legenda muito controversa e ambígua. O show must go on (a suivre…)
FAR
FAR
Conto
Zero mortos
O primo mais encorpado, o pontão loiro da família morena, segurava-lhe os dedos como se ela os tivesse como finos tubinhos de vidro, enquanto caminhavam em pensadas passadas.
O recinto era de apertos, mesmo dentro dos sapatos.
Esperaram. Havia de chegar alguém com o familiar mais velho.
Imaginaram o saco preto em escasso balanço, a surgir pendurado na cerimónia de uma mão que tresanda todos os dias, àquele peso de corpo no melhor fato e ripas de caixa, tudo junto.
Não veio.
Antes lhes depositaram junto aos enlagrimados olhos, um berço completo com pernas de insecto em fraca madeira. O lençol estava sem arrumação própria na sua lisura, a dobra desalinhava-se no carril debruado da almofada. Parecia habitado em desvolume.
Não chovia nem tinham a pressa ganha nos tempos carregados de fortes cinzentos, por isso, deixaram-se estar a matutar sobre o objecto em vez do objecto esperado, ter ali a sua sombra.
Ela espreitou primeiro o céu e logo a alcofa, e em instinto feminino baixou com solenidade o pequeno lençol, naquele gesto de inventar um rosto seu.
Encontrou umas cinzas espalhadas.
O primo minguou os seus dedos de menina na sua palma grande, cova de suores maiores. Cinzas? Era o mais velho. Já tinham acabado os sacos?
A neta esticou num repente de abismação, o pano até à fronha. As suas mãos ficaram uminha nas do primo.
Passado o deslavado que traz o susto, ela arqueou as costas e afundou os olhos uma vez mais na alva almofada, quando no seu desejo avistou nela um couro cabeludo bem branco, de penteado com risca de lado.
Não havia meio de começar aquela trovoada, para os levar na furibunda corrida de pés ainda enxutos?
Trouxe o lençol mais para o meio do berço, concretizando então o resto do antepassado nas suas carnes de antigamente, as rugas das assentadas da existência, o sorriso sempre malandro a boicotar o juízo dos outros, o negro vivo dos olhos a camalearem as desenluadas noites e os seus lábios de vermelho carnudo já com conversas de serão grande, a mexerem-se no desenho das frases. Era ele.
Sem esperas, pontapeteou a coberta para o alto, deitou para fora braços e pernas e num salto de gazela que escapa de afilado fim por um triz, susteve-se agilmente em si próprio, no areado piso.
Em assombrosa satisfação, depois esquinou rumo ao traço mais directo para a sua casa, o mais velho. Ninguém esquece esse caminho, é como saber engolir as estrelas sempre que não são tocáveis.
O primo, avariado de realidades, seguiu-o ao longe encostado na meia desconfiança, enquanto se des-soltava custosamente dos sonhos malucos da mais nova.
O recinto era de apertos, mesmo dentro dos sapatos.
Esperaram. Havia de chegar alguém com o familiar mais velho.
Imaginaram o saco preto em escasso balanço, a surgir pendurado na cerimónia de uma mão que tresanda todos os dias, àquele peso de corpo no melhor fato e ripas de caixa, tudo junto.
Não veio.
Antes lhes depositaram junto aos enlagrimados olhos, um berço completo com pernas de insecto em fraca madeira. O lençol estava sem arrumação própria na sua lisura, a dobra desalinhava-se no carril debruado da almofada. Parecia habitado em desvolume.
Não chovia nem tinham a pressa ganha nos tempos carregados de fortes cinzentos, por isso, deixaram-se estar a matutar sobre o objecto em vez do objecto esperado, ter ali a sua sombra.
Ela espreitou primeiro o céu e logo a alcofa, e em instinto feminino baixou com solenidade o pequeno lençol, naquele gesto de inventar um rosto seu.
Encontrou umas cinzas espalhadas.
O primo minguou os seus dedos de menina na sua palma grande, cova de suores maiores. Cinzas? Era o mais velho. Já tinham acabado os sacos?
A neta esticou num repente de abismação, o pano até à fronha. As suas mãos ficaram uminha nas do primo.
Passado o deslavado que traz o susto, ela arqueou as costas e afundou os olhos uma vez mais na alva almofada, quando no seu desejo avistou nela um couro cabeludo bem branco, de penteado com risca de lado.
Não havia meio de começar aquela trovoada, para os levar na furibunda corrida de pés ainda enxutos?
Trouxe o lençol mais para o meio do berço, concretizando então o resto do antepassado nas suas carnes de antigamente, as rugas das assentadas da existência, o sorriso sempre malandro a boicotar o juízo dos outros, o negro vivo dos olhos a camalearem as desenluadas noites e os seus lábios de vermelho carnudo já com conversas de serão grande, a mexerem-se no desenho das frases. Era ele.
Sem esperas, pontapeteou a coberta para o alto, deitou para fora braços e pernas e num salto de gazela que escapa de afilado fim por um triz, susteve-se agilmente em si próprio, no areado piso.
Em assombrosa satisfação, depois esquinou rumo ao traço mais directo para a sua casa, o mais velho. Ninguém esquece esse caminho, é como saber engolir as estrelas sempre que não são tocáveis.
O primo, avariado de realidades, seguiu-o ao longe encostado na meia desconfiança, enquanto se des-soltava custosamente dos sonhos malucos da mais nova.
LUIZ PACHECO

Em toda a cidade que dorme e respira, eu luto com a dispneia e escrevo. Em toda a cidade que repousa e se esquece, na Avenida dos Combatentes eu debato-me contra a morte e escrevo diante da minha pequena tribo que dorme. A tribo dorme: a Lina mostra um punho fechado (ideias avançadas terá a mocinha?); o rapaz está de costas e quase destapado (parece um Cupido cansado; na larga queixada, porém, uma expressão terrena, máscula - a cara camponesa e rude do avô Matias); o bebé ressona ou balbucia qualquer uma esperança que só ele entende. Ela, a Irene, a minha pequena deusa de tranças loiras, encosta-se a mim e calada cálida repousa cansada. Sou um deus grego ! Fauno serôdio, Pan sem flauta, Orfeu decaído de quantas desilusões e frios cinismos, um Vulcano cornudo às ordens de Vocências, do meu espaldar senhorial contemplo o rebanho provisório que inventei, patriarca e profeta do meu próprio futuro. E receio, oh como receio, que os deuses a valer me castiguem! E desejo, oh como desejo, que chegue a manhã e eu esteja respirando ainda pelos foles dos pulmões que o enfizema vai dilatando minguando a elasticidade; que o meu coração eia! sus! bata ainda quando, num quintal que não sei, perto, o galo canta.
COMUNIDADE

Visitem o Pimenta Negra.
Madrid me mata (4)
Terra
Foto:G.Ludovice
Mulher distante
"Esta mulher cabe nas minhas mãos. É branca e loira e levá-la-ia nas minhas mãos como uma cesta de magnólias.
Esta mulher cabe nos meus olhos. Envolve-a o meu olhar, o meu olhar que nada vê quando a envolve.
Esta mulher cabe nos meus desejos. Despida, está sob a anelante labareda da minha vida e queima-a o meu desejo como uma brasa.
Todavia, mulher distante, nas minhas mãos, os meus olhos e os meus desejos conservam inteira a sua carícia, porque só tu, mulher distante, só tu cabes no meu coração."
Esta mulher cabe nos meus olhos. Envolve-a o meu olhar, o meu olhar que nada vê quando a envolve.
Esta mulher cabe nos meus desejos. Despida, está sob a anelante labareda da minha vida e queima-a o meu desejo como uma brasa.
Todavia, mulher distante, nas minhas mãos, os meus olhos e os meus desejos conservam inteira a sua carícia, porque só tu, mulher distante, só tu cabes no meu coração."
Pablo Neruda
"OS MALEFÍCIOS DO TABACO"
"A última coisa que apetece a um fumador pachola e contentinho, com quase meio século de cadastro e dois restinhos de pulmão ao seu dispor, é ver convertida em polémica filosófica e motivo de apaixonadas doutrinas a pequenina e mecânica pulsão de puxar por um rolinho de papel, entalá-lo entre os lábios e chegar-lhe um fósforo. Olhando para trás, não tenho o remorso do crime hediondo, premeditado a frio e na minúcia, com o tresloucado objectivo de extinguir os meus contemporâneos e de me apossar das riquezas do mundo, para meu mando e desmando. Não. Vejo mais um puto que foi ao café antes de tempo e que, por entre a curiosidade e a propensão para partilhar as liturgias conviviais, se foi habituando a meter lufadas de calor nas entranhas e a achar que, ao expeli-lo, os argumentos saíam muito mais inteligentes. E, afinal, o Hemingway fazia-o, o Albert Camus também e o Bogart, esse então, era inimaginável sem o cigarro na boca. Eu não via então no tabagismo uma vocação de raça ou tribo, princípio ou credo, confraria ou partido. E o mesmo sucedia com a maioria dos meus amigos, que o curso da vida iria levando a abdicar do cigarro (ou do charuto ou do cachimbo) ao ritmo dos sustos que a saúde lhes foi pregando. Retardatário, eu aguardo ainda o meu, numa qualquer esquina que bem pode ser a próxima. Mas ainda não me apeteceu empenhar as energias - que tudo na vida requer e para tudo na vida fazem falta - na abdicação de um pequeno prazer, mesmo que feito de mero hábito e auto-sugestão.
Sei que é um vício e gosto dele: como a personagem do Wilde, resisto a tudo menos à tentação. Não me imagino, por isto, herói nem mártir. Não me pinto vítima, nem resistente. Enuncio o mais rudimentar dos porque-sins da vida quotidiana, convencido, como sempre estive, de que é nela que a felicidade se joga. E sobre esta matéria, é o que tenho para dizer ao jovem médico que vi na televisão e que, de tão louro, imberbe e feroz no discurso sanitário de apuramento da raça, me fez evocar os netos das experiências do Dr. Mengele.(...)" (Continue a ler no Diário de Notícias de 6/1/2008)
Nuno Brederode Santos
Sei que é um vício e gosto dele: como a personagem do Wilde, resisto a tudo menos à tentação. Não me imagino, por isto, herói nem mártir. Não me pinto vítima, nem resistente. Enuncio o mais rudimentar dos porque-sins da vida quotidiana, convencido, como sempre estive, de que é nela que a felicidade se joga. E sobre esta matéria, é o que tenho para dizer ao jovem médico que vi na televisão e que, de tão louro, imberbe e feroz no discurso sanitário de apuramento da raça, me fez evocar os netos das experiências do Dr. Mengele.(...)" (Continue a ler no Diário de Notícias de 6/1/2008)
Nuno Brederode Santos
Um tiro no pé
A Mestranda Maria Regina Rocha - professora, ela própria - acaba de prestar um grande serviço à classe dos professores portugueses.
Descobre na sua tese de mestrado aquilo que há quase uma década toda a gente sabia: os manuais são maus, não prestam, mas o ME (Ministério da Educação) manda que se escolha um manual e as escolas cumprem, os pais pagam e toda a lógica parte daqui.
Que professor se poderá pôr à margem deste esquema sem incorrer num risco de vir a ter um processo disciplinar por via de utilizar outros materiais que não o manual adoptado? Sabendo da penúria que reina nas nossas escolas públicas (fotocópias, carência de recursos físicos e técnicos...), um professor não poderá fazer mais que encolher os ombros e seguir com o manual adoptado.
O problema que, provavelmente, a Mestranda Maria Regina Rocha (ela própria professora, insisto...) , terá esquecido é que existe algo chamado prática pedagógica: perante a penúria de um manual que o professor é obrigado a aceitar, o professor pode tentar enriquecer os conteúdos que o manual não contempla: acrescentando novos textos, novas perguntas, outros meios.
Para a opinião pública (que, pessoalmente, não existe neste país) ficará a ideia de que os professores que temos não sabem escolher um manual e, em consequência, os nossos meninos e meninas estão a ser prejudicados por esse facto.
Não é verdade: os nossos meninos e meninas não são educados para a importância da leitura, em casa não entram livros, nem jornais, a leitura entra por obrigação da escola e se os pais não fiscalizarem, o livro que foi comprado permanecerá intacto.
Basta andar em qualquer transporte público deste país para verificar que em Portugal não existe o hábito da leitura: uns dormem, outros olham o vazio e, os que vão acompanhados, palram em voz alta.
Maria Regina Rocha não descobriu nada de novo.
Na Escola Pública actual ninguém lê, quanto mais ir para além do que é básico na interpretação de um texto.
Há mais de uma década. Espero que o seu Mestrado seja de Arqueologia, vai ter vinte.
Descobre na sua tese de mestrado aquilo que há quase uma década toda a gente sabia: os manuais são maus, não prestam, mas o ME (Ministério da Educação) manda que se escolha um manual e as escolas cumprem, os pais pagam e toda a lógica parte daqui.
Que professor se poderá pôr à margem deste esquema sem incorrer num risco de vir a ter um processo disciplinar por via de utilizar outros materiais que não o manual adoptado? Sabendo da penúria que reina nas nossas escolas públicas (fotocópias, carência de recursos físicos e técnicos...), um professor não poderá fazer mais que encolher os ombros e seguir com o manual adoptado.
O problema que, provavelmente, a Mestranda Maria Regina Rocha (ela própria professora, insisto...) , terá esquecido é que existe algo chamado prática pedagógica: perante a penúria de um manual que o professor é obrigado a aceitar, o professor pode tentar enriquecer os conteúdos que o manual não contempla: acrescentando novos textos, novas perguntas, outros meios.
Para a opinião pública (que, pessoalmente, não existe neste país) ficará a ideia de que os professores que temos não sabem escolher um manual e, em consequência, os nossos meninos e meninas estão a ser prejudicados por esse facto.
Não é verdade: os nossos meninos e meninas não são educados para a importância da leitura, em casa não entram livros, nem jornais, a leitura entra por obrigação da escola e se os pais não fiscalizarem, o livro que foi comprado permanecerá intacto.
Basta andar em qualquer transporte público deste país para verificar que em Portugal não existe o hábito da leitura: uns dormem, outros olham o vazio e, os que vão acompanhados, palram em voz alta.
Maria Regina Rocha não descobriu nada de novo.
Na Escola Pública actual ninguém lê, quanto mais ir para além do que é básico na interpretação de um texto.
Há mais de uma década. Espero que o seu Mestrado seja de Arqueologia, vai ter vinte.
sábado, 5 de janeiro de 2008
Táxi Bamako (1)
Bamako. Mali. Nov. 2007
Foto Sérgio Santimano
Cá está uma nova série de fotos do Sérgio, que vai passar a ter presença mais assídua por aqui. As fotos desta série foram, na sua maior parte, tiradas a partir de um táxi ou de uma mota.
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
O meu balancete de 2007
Melhor político do Ano: Abaixo os políticos profissionais, mesmo democráticos.
Pior político do Ano: GW Bush. Arrisca-se a ficar na história como o pior PR de sempre da vida política americana.
Melhor livro do ano:
Poesia: Mário Cesariny, “Uma Grande Razão”( Antologia);
Ensaio: Alain Badiou, “De quoi Sarkozy est-il le nom?”;
Romance: PH. Roth, “Um Homem”.
Melhor Jornalista do Ano: Correspondentes do Financial Times em Moscovo, Neil Buckley e Catherine Belton
FAR
Pior político do Ano: GW Bush. Arrisca-se a ficar na história como o pior PR de sempre da vida política americana.
Melhor livro do ano:
Poesia: Mário Cesariny, “Uma Grande Razão”( Antologia);
Ensaio: Alain Badiou, “De quoi Sarkozy est-il le nom?”;
Romance: PH. Roth, “Um Homem”.
Melhor Jornalista do Ano: Correspondentes do Financial Times em Moscovo, Neil Buckley e Catherine Belton
FAR
Portugal 2008
Mulheres que não se vislumbram, atenção!
“Poeta procura modelo para poemas. Sessões de pose exclusiva, durante o sono recíproco. René Char, 8 ter, rue des Saules, Paris (Inútil vir antes do anoitecer. A luz é-me fatal).
Quem vislumbrou, questionam André Breton e Paul Éluard, quem surpreendeu o nosso amigo René Char depois que encontrou a mulher modelo para o poema, mulher com que ele sonhava, mulher bela que lhe lhe sanciona o despertar? A mulher era também um perigo, tanto para o poeta como para si própria. Nós abandonamo-los à beira de um precípicio. Ninguém. Quem nos pode informar onde nos conduz este perfume perdido?”
In "Alentours III", O.C. André Breton. Vol.1. Pléiade/ Gallimard. France
FAR
Quem vislumbrou, questionam André Breton e Paul Éluard, quem surpreendeu o nosso amigo René Char depois que encontrou a mulher modelo para o poema, mulher com que ele sonhava, mulher bela que lhe lhe sanciona o despertar? A mulher era também um perigo, tanto para o poeta como para si própria. Nós abandonamo-los à beira de um precípicio. Ninguém. Quem nos pode informar onde nos conduz este perfume perdido?”
In "Alentours III", O.C. André Breton. Vol.1. Pléiade/ Gallimard. France
FAR
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Sem casa
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
Alain Badiou: Sarkozy elabora uma ontologia do lucro!
“Il élabore, nôtre president, une ontologie du profit: ce qui n´a pas de profitabilité n´a pas de raison d´être”, aponta Alain Badiou , um dos mais polémicos filósofos da actualidade mundial, num panfleto politico e ideológico de alta voltagem, intitulado, “De quoi Sarkosy est-il le nom?”. O manifesto está a causar imenso impacto no interior do espaço politico europeu. A mensagem principal elabora através de uma perfomativa construção filosófico-científica , a tese de que “se nada contribui para furar a realidade, se nada se situa fora dela, se nenhum ponto pode ser sustentado por si próprio, custe o que custar; então não existe senão a realidade e a submissão a esta realidade, a que Lacan chamava ´o serviço das utilidades`. Como se sabe, o serviço das utilidades é o dispositivo dos que possuem a posse dos bens”.
Badiou tenta erguer uma política de emancipação que rompa com a ordem das opiniões estabelecidas, a desigualdade e a protecção armada dessa realidade, a que chama “hipótese comunista”, mas que estilhaça o legado histórico perdedor da ex-USRR e das democracias de Leste. « Ce point est essential: dès le début, l´hypothèse communiste ne coincide nullement avec l´hypothèse «démocratique» qui conduira au parlementarisme contemporain. Elle subsume une autre histoire, d´autres événements. Ce qui, éclairé para l´hypothèse communiste, semble important et créateur est d´une autre nature que ce que sélectionne l´historiographie démocratique bourgeoise. C´est bien pourquoi Marx, donnant ses assises matérialistes à la première grande sequence effective de la politique d´émancipation moderne, d´une part reprend le mot «communisme», d´autre part s´écarte de tout «politicisme» démocratique en soutenant, à l´école de la Commune de Paris, que l´État bourgeois, fût-il aussi démocratique que l´on veut, doit être détruit».
«No fundo, apelido de comunismo, e era esse o sentido que já lhe era dado por Marx, uma sociedade que se postule livre da regra dos interesses. Uma sociedade na qual o que se procura, o que se faz, o que se quer, não seja determinado, de uma ponta à outra, pelos interesses individuais ou de grupo. É isso o comunismo. (…) Isso pode não ser um programa mas, sem esta concepção, penso que a vida política não tem interesse nenhum. E não tem interesse nenhum porque consiste em saber, tão-só, como se irá negociar entre os interesses de uns e dos outros , assinala numa entrevista a Fréderic Taddéi , inserta no colectivo ‘Réseau des Bahuts’».
Atenção, no entanto. Badiou não vive do passdo nem está prisioneiro de fórmulas arcaicas, tipo marxismo-leninismo grupuscular. “O marxismo, o movimento operário, a democracia de massa, o leninismo, o Partido do proletariado, o estado socialista, todas estas invenções notáveis do século XX, não são realmente de mais utilidade. Na ordem da teoria, devem ser certamente conhecidas e meditadas. Mas na ordem da política, tornaram-se impraticáveis. É um primeiro ponto de consciência essencial”, escreve no livro, onde insiste em sublinhar, como vivemos “num periodo intercalar dominado pelo inimigo”, a alternativa pode estar situada numa “nova relação entre o movimento politico real e a ideologia . (…) A hipótese comunista como tal é genérica, ela constitui o ´fundo` de toda a orientação emancipadora e classifica a única coisa que faz com que nos interessemos pela política e pela história”. Para ler e comentar, sem perder tempo, portanto.
Alain Badiou, “De quoi Sarkozy est-il le nom?", Edit. Lignes. Paris.2007
FAR
Badiou tenta erguer uma política de emancipação que rompa com a ordem das opiniões estabelecidas, a desigualdade e a protecção armada dessa realidade, a que chama “hipótese comunista”, mas que estilhaça o legado histórico perdedor da ex-USRR e das democracias de Leste. « Ce point est essential: dès le début, l´hypothèse communiste ne coincide nullement avec l´hypothèse «démocratique» qui conduira au parlementarisme contemporain. Elle subsume une autre histoire, d´autres événements. Ce qui, éclairé para l´hypothèse communiste, semble important et créateur est d´une autre nature que ce que sélectionne l´historiographie démocratique bourgeoise. C´est bien pourquoi Marx, donnant ses assises matérialistes à la première grande sequence effective de la politique d´émancipation moderne, d´une part reprend le mot «communisme», d´autre part s´écarte de tout «politicisme» démocratique en soutenant, à l´école de la Commune de Paris, que l´État bourgeois, fût-il aussi démocratique que l´on veut, doit être détruit».
«No fundo, apelido de comunismo, e era esse o sentido que já lhe era dado por Marx, uma sociedade que se postule livre da regra dos interesses. Uma sociedade na qual o que se procura, o que se faz, o que se quer, não seja determinado, de uma ponta à outra, pelos interesses individuais ou de grupo. É isso o comunismo. (…) Isso pode não ser um programa mas, sem esta concepção, penso que a vida política não tem interesse nenhum. E não tem interesse nenhum porque consiste em saber, tão-só, como se irá negociar entre os interesses de uns e dos outros , assinala numa entrevista a Fréderic Taddéi , inserta no colectivo ‘Réseau des Bahuts’».
Atenção, no entanto. Badiou não vive do passdo nem está prisioneiro de fórmulas arcaicas, tipo marxismo-leninismo grupuscular. “O marxismo, o movimento operário, a democracia de massa, o leninismo, o Partido do proletariado, o estado socialista, todas estas invenções notáveis do século XX, não são realmente de mais utilidade. Na ordem da teoria, devem ser certamente conhecidas e meditadas. Mas na ordem da política, tornaram-se impraticáveis. É um primeiro ponto de consciência essencial”, escreve no livro, onde insiste em sublinhar, como vivemos “num periodo intercalar dominado pelo inimigo”, a alternativa pode estar situada numa “nova relação entre o movimento politico real e a ideologia . (…) A hipótese comunista como tal é genérica, ela constitui o ´fundo` de toda a orientação emancipadora e classifica a única coisa que faz com que nos interessemos pela política e pela história”. Para ler e comentar, sem perder tempo, portanto.
Alain Badiou, “De quoi Sarkozy est-il le nom?", Edit. Lignes. Paris.2007
FAR
Madrid me mata (3)
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Os vinte e nove Sonetos de Amor de Étienne de La Boétie (1)
Pela primeira vez em Portugal, vamos divugar na íntegra, de forma a-periódica e não determinada, a obra poética de um dos pilares mais fantásticos do pensamento revolucionário, E. de La Boètie, que nos deixou, via Montaigne, nos primórdios da Revolução Francesa, um texto estratégico de valor incomparável. Lamenais, Marat e Maquiavel jamais cessaram de glorificar a visão e iconoclastia da “Servidão Voluntária-Contra o Um”. Montaigne reproduziu e salvou a parte poética - com referências alargadas no 28° volume dos Ensaios. Estes sonetos de grande beleza e emotividade foram dedicados a uma paixão - Madame de Guisssen, Corisande d´Andouins - muito famosa por , muito mais tarde, se ter transformado na amante do terrível Henri IV, conforme assinala Montaigne na apresentação do espólio.
Soneto I
Pardon, Amour, pardon; ô Seigneur! Je te voue
Le reste de mes ans, ma voix et mes écrits,
Mes sanglots, mes soupirs, mes larmes et mes cris;
Rien, rien tenir d´aucun, que de toi, je n´avoue.
Hélas! comment de moi ma fortune se joue!
De toi, n´a ( il n´y a ) pas longtemps. Amour, je me suis ris.
J ´ai failli, je le vois, je me rends, je suis pris.
J´ai trop gardé mon Coeur, or je le désavoue.
Si j´ai pour le garder retardé ta victoire,
Ne l´en traite plus mal; plus grande en est ta gloire,
Et si du premier coup tu ne m´as abattu,
Pense qu´un bon vainqueur, et né pour être grand,
Son nouveau prisonnier, quand un coup il se rend,
Il prise et l ´aime mieux s´il a bien combattu.
FAR
Soneto I
Pardon, Amour, pardon; ô Seigneur! Je te voue
Le reste de mes ans, ma voix et mes écrits,
Mes sanglots, mes soupirs, mes larmes et mes cris;
Rien, rien tenir d´aucun, que de toi, je n´avoue.
Hélas! comment de moi ma fortune se joue!
De toi, n´a ( il n´y a ) pas longtemps. Amour, je me suis ris.
J ´ai failli, je le vois, je me rends, je suis pris.
J´ai trop gardé mon Coeur, or je le désavoue.
Si j´ai pour le garder retardé ta victoire,
Ne l´en traite plus mal; plus grande en est ta gloire,
Et si du premier coup tu ne m´as abattu,
Pense qu´un bon vainqueur, et né pour être grand,
Son nouveau prisonnier, quand un coup il se rend,
Il prise et l ´aime mieux s´il a bien combattu.
FAR
terça-feira, 1 de janeiro de 2008
Madrid me mata (2)
ENTRANDO EN TI, CABEZA CON CABEZA
Entrando en ti, cabeza con cabeza,
pelo con pelo, boca contra boca:
el aire que respiras -la fijeza
del recuerdo-, respiro y en la poca
luz de la tarde -rayo que no cesa
entre los huesos abrasados- toca
los bordes de tu cuerpo; luz que apresa
la forma. Ya su cénit la convoca
a otro vacío donde su blancura
borra, marca de arena, tu figura.
El día devorando de sonidos
quema, de trecho en trecho, su espesura
y vuelca de ceniza la textura
en la noche voraz de los sentidos.
Severo Sarduy
pelo con pelo, boca contra boca:
el aire que respiras -la fijeza
del recuerdo-, respiro y en la poca
luz de la tarde -rayo que no cesa
entre los huesos abrasados- toca
los bordes de tu cuerpo; luz que apresa
la forma. Ya su cénit la convoca
a otro vacío donde su blancura
borra, marca de arena, tu figura.
El día devorando de sonidos
quema, de trecho en trecho, su espesura
y vuelca de ceniza la textura
en la noche voraz de los sentidos.
Severo Sarduy
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