domingo, 16 de dezembro de 2007

Mambo 33

Se o mundo é a parte avançada da minha casa, o que é a casa de cada um?
Sempre me intrigou a relação entre as estruturas e os seus habitantes, tanto quanto me surpreende o diálogo entre um corpo e quem o habita...

No período dos descobrimentos, já as casas parecem querer ganhar águas que as movimentem nesse sonho e por isso, têm a forma de barcos, virados ao contrário como que temporariamente recolhidos. (Madeira)
Para os lados de Montalvo, dos arrozais do Sado, existem as casas dos descendentes de escravos, que se estruturam numa sanduíche de madeiras e feno e em que a cozinha é situada ao ar livre, frente à casa, mostrando os doces hábitos africanos de ligação à terra, ao sol, à natureza, ao espaço. (Não consigo apontá-las ...)

No período da colonização dos Açores, o conceito de casa para lá transportado foi o dos habitantes para lá mudados, casas do sul, do Algarve, em que a diferença mais notória era a chaminé que ganhara a forma da chaminé de barco. Foto abaixo: Stª Bárbara/Açores; Piodão

A casa de influência árabe, revela-se sobretudo na cor branca e pelos seus terraços, onde os povos do deserto fixariam as estrelas, recolheriam água, desenvolveriam o estudo da geometria e matemática. foto abaixo: Loulé

Também existem os Palheiros da Tocha que são construções de apoio à pesca.
Casas ligadas à pesca da sardinha, onde se guardavam as alfaias e redes e que a partir de 1930, com a valorização do verão como possibilidade de praia, passaram a ser casas de praia.
foto: abaixo: Palheriro da Tocha

Junto à linha fronteiriça, na época medieval, na zona arraiana (Sortelha, Sabugal, Almeida…) aparecem as casas que se têm que moldar à geografia interior do Castelo que protegia a aldeia, em defesa dos inimigos de Castela.
A casa romana, no período neolítico, já traduz o surgimento da agricultura e a posse da terra, significa a sua divisão entre os homens, passando a ser rectângular a forma de distribuição dos terrenos e das próprias casas. A forma da mulher na arquitectura deixa de ser eloquente, num tempo patriarcal. casas foto abaixo: Piodão; Sortelha

Já as casas em redor das cidades, por exemplo em Mafra, sofrem influências orientais japonesas e chinesas, configurando os seus telhados em forma da cobertura dos pagodes, onde parece que existem no seu desenho, asas a aconchegarem-se no ninho.
foto abaixo: Mafra
Por exemplo, explica-me Justino Brito, a casa Celta (Briteiro), circular, primitiva e pertencente ainda a um período de matriarcado, onde a forma da mulher grávida era o símbolo de fertilidade, tem o seu telhado em forma de seio e na sua fachada dois braços de pedra que serão os braços acolhedores com que a mãe estreita o seu filho ao amamentá-lo. Este tipo de casa primitiva era um ponto de apoio à maternidade. foto abaixo: Soajo; Briteiros; Tourém



Os pés em desatino domingueiro, estacionaram-me em frente a um estendal de feira, para que o olhar pudesse sair e deliciar-se com pequenas amostras de diferentes casas, no rectângulo da península Ibérica.
Num enorme vertical e linear mapa, lá estavam aplicadas nas suas três dimensões, as diferenças na arquitectura popular portuguesa, reproduzidas por hábeis mãos e rigorosa e curiosa mente conjunta.
De admirar, que este casal português que desde 1980 trabalha estes temas, Justino Brito e Teresa Taveira, não sejam amplamente apoiados e convidados para as escolas e com contrapartidas (claro!!!) para palestrar sobre o seu saber, investigação, produção; seria belíssimo para os alunos à disciplina de História, Filosofia, Psicologia, História de Arte e Desenho, no mínimo, matutava eu enquanto gulosamente sorvia aquelas histórias todas, que amavelmente me iam chovendo, encharcando-me dos encantamentos... da Península e dos seus perfumes de viagens, ancorados na casa Portugal.

meia.cana@oniduo.pt
http://www.meiacana.org/
Exposição na Galeria Municipal de Quarteira em Abril de 2008.

Alguém se lembrou (3)


Campas no cemitério nacional de Arlington, onde são enterrados militares americanos. Arredores de Washington. EUA. 2007

Foto Jota Esse Erre

Alain Badiou: O que é a "ruptura" de Nicolas Sarkozy

"Il est tout à fait essentiel que Sarkosy ait fait campagne sur le motif de la rupture. Rupture, profondes réformes, mouvement aussi incessant que celui des moustiques: Sarkozy annonce qu’ il va surmonter la crise morale de la France, il va la remettre au travail. C´est quand même formidable de dire aux gens, dans l’état où ils sont, et du haut du costume trois pièces du maire de Neuilly: "Je vais vous remettre au travail, moi !". On dirait une bourgeoisie du XIX siècle s’adressant à sa bonne. Mas non, c’est la rupture, c’est le renouveau. Le contenu est évidement l’obéissance sans réserves aux exigences des potentats du capitalisme mondialisé. La situation militaire est l’affaire des Américains, la situation intérieure celle des grands financiers, etc. On frappera que les faibles, les pauvres, les étrangers. La "rupture" est en realité une politique de la courbette ininterrompue, qui va se présenter comme une politique de la régénération nationale".
O grande filósofo francês, prof. na École Normale Supérieure da Rue D’Ulm - Paris, acaba de publicar um pequeno livro altamente polémico contra a via para a salvação do Capitalismo proposta por Sarkozy, o novo PR gaulês.
O panfleto, com 160 páginas, está a deflagar uma imensa polémica. Até o Le Monde, pela pena de R-P-Droit, se "comoveu" com a terrível diatribe de Badiou... Dentro de dias, tentaremos apresentar um texto mais alargado, claro.

Alain Badiou, «De quoi Sarkosy est-il le nom? »
Nouvelles Éditions Lignes, Paris Nov. 2007


FAR

Sinais


Desenho Maturino Galvão

sábado, 15 de dezembro de 2007

Alguém se lembrou (2)


Monumento aos mortos nas guerras coloniais. Belém. Lisboa. 2007

Foto Jota Esse Erre

Sinais


Desenho Maturino Galvão

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Terra

African Kids/12 (Angola 06)
Foto:G.Ludovice

Não há medida curta naquela desempoeirada alegria de menino.
Porquê? De quê? Mistério de vida, que escolhe nos mais pequeninos e frágeis, um exemplo flamejante para os mais encorporados de tudo, porque estes são afinal os mais débeis e aqueles os mais sabedores, porque enroupados por esse mistério, do simples sentir.

Sinais


Desenho Maturino Galvão

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Cores de Novembro


São cores de plástico. Ajuda. Lisboa. 2007

Foto Jota Esse Erre

Putin: fuga para a frente

Ninguém pode ter as cartas e as regras do jogo, ao mesmo tempo. Putin parece que pode. Uma semana após a "banhada" das Legislativas, o PR russo "escolhe" o seu sucessor, Dmitry Medvedev, o patrão-encarregado do Kremlin na Gazprom, o "fiel" serventuário mais apolítico da banda dos quatro candidatos à sucessão. Numa conjuntura internacional muito confusa, a instabilidade política russa só conforta os próceres das soluções mais extremistas e isolacionistas, uma espécie de pacto secreto onde os mais fortes ditam as regras e exploram sem escrúpulos... E a lista de iniciativas desenvolvimentistas russas perfila um conluio cínico com os grandes da U.Europeia e o novo clube dos produtores de petróleo. Estão a ver a cena?!?
Tudo parece como num conto de fadas. Mas a realidade é bem diferente: uma surda guerrilha de clãs "instalou-se" nas alcatifadas antecâmaras do super-poder russo, em Moscovo. Segundo os grandes analistas internacionais, Putin tenta "matar" a guerra de clãs que se instalou entre o todo-poderoso ministro da Defesa, Sergei Ivanov, e o chefe da casa-civil presidencial, Igor Sechin. Ambos, com carreira na FSB/ KGB, queriam condicionar a sucessão de Putin. Ivanov, pormenor muito curioso/perigoso, tinha mesmo dado forma à constituição de uma equipe de campanha... Putin não gostou e nomeou, em Setembro passado, um novo PM, Viktor Zubbkov, para despistar os incautos e ganhar tempo...até às Legislativas. Agora, mais liberto de mãos, nomeou um aparatchik liso, fiel e inodoro, da média/alta classe de St. Petersburgo, com provas dadas e da maior das confianças: o tecnocrata Dmitry Anatolevitch Medveded. Por quanto tempo? Com que credibilidade Putin pode "impor" esta escolha? O diabo que escolha, apesar da margem de manobra do presidente russo ser ainda enorme. Mas há divergências e apetites insaciáveis.
Os grandes jornalistas do F. Times- Catherine Belton e Neil Buckley- dizem que estamos na "estação das intrigas" em Moscovo. E citam as incontornáveis opiniões de Olga Kryshtanovskaya e Nikolai Pterov, dois opinion-makers de alto coturno, que juram que nada está ainda decidido...para suceder a Putin, que quer continuar a "mandar"...
Putin foi obrigado a nomear um não FSB/KGB para se perfilar como seu sucessor. É uma fraqueza e um desafio. Mas, segundo os analistas,o que é importante para Putin é que Medvedev não pertença à FSB/KGB e não tenha laços com os burocratas que controlam os quatro pilares repressivos do regime - Interior, Procurador-Geral, Defesa e Serviços de Segurança Interna e Externa. Porque Putin quer continuar a " controlar " esses pontos-chave do poder russo, esteja onde estiver no organigrama de Estado. A ver vamos, portanto.

FAR

Sinais


Desenho Maturino Galvão

José Mário Branco

Meu irmão, o teu melhor qanda posto por aí.
E seja como for: o José Mário Branco é um músico estrondoso do estrondo, um daqueles qaté mete impressão, e não é pouca, seus suinos, é pa respeitar isto.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Chicken Madness

A propósito da "cimeira" abaixo descrita, é imprescindível ver isto.

("Chicken Madness" é também o próximo tema de Los Santeros, if you know what I mean...)

Curiosos paradoxos (só mais uns)

Um dos artigos aprovados na nova constituição boliviana, que segundo certas alminhas é uma constituição "a caminho da ditadura", é a impossibilidade de reeleger o presidente.
Mas aquilo que a oposição boliviana mais contesta é um artigo que prevê que uma pequena parte das receitas das províncias (incluindo, claro, as mais ricas), reverta numa espécie de "rendimento mínimo" cujo destino é um subsídio de 20 euros por mês para os pobres bolivianos.
A esmagadora maioria dos pobres bolivianos são índios (tal como Morales).
As províncias que contestam esta reforma, e cujo principal argumento é "retirar a autonomia às provincias", são as mais ricas, e onde a população indigena é menor. De tal modo contestam que ameaçam com a secessão.

Um saboroso fracasso


Declaração de intenções: sou angolano.

Esta "cimeira" foi uma grande vitória para nós, africanos. Em primeiro lugar, e talvez pela primeira vez, os poucos líderes democraticos no nosso continente deram de si. Fizeram-se ver. O Abdoulaye Wade, presidente do Senegal e meu novo herói, fez-nos a todos o favor de abandonar a palhaçada prevista, os "Acordos de Parceria Económica". Esses "acordos" seriam, bem o sabemos, mais uma etapa desse percurso traçado em Lomé e Cotonou, isto é, o caminho do neo-colonialismo, e mais uma vez, qual ironia macabra, ratificados por quem nós próprios africanos temos a infelicidade de nos representar. Ou seja, o "livre comércio" unilateral: a destruição das possibilidades de criação de uma economia minimamente sustentável, a pura importação dos produtos em troca da exportação das matérias-primas, como sempre com as mais-valias delas a escaparem-se por entre os nossos dedos e a fugirem para as contas astronómicas das "empresas civilizadas". Alguém lhe escapa a equação? Quando se diz "neo-colonialismo" não é por capricho.

Pois bem: ao contrário do que se possa supor lendo os títulos dos jornais, finalmente uma cimeira UE-África foi um fracasso, e graças à resistência de poucos líderes africanos, desta vez, curiosamente?, democratas. Agora restará uma dúvida nas cabeças bem pensantes, "liberais", "democratas" e etc. aqui na nossa Europa: porque é que são os ditadores africanos que anseiam pelas "receitas de liberdade" do "mercado livre", e porque é que os poucos democratas africanos as rejeitam.

Ficará para a consideração "teórica" entre o valor da "democracia" e do "mercado", e muito bem comparado com a "questão do Pinochet".

Outra guerra


Vítima de outro tipo de guerra. Cais do Sodré. Lisboa. 2007

Foto Jota Esse Erre

Sinais


Desenho Maturino Galvão

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Terra

African Woman/10 (Kaponte 06)
foto: G.Ludovice

O negócio de carvão faz parte do primeiro pestanejo do sol de muitas mamãs angolanas, vive-se do que em honestidade permitir levar pela nascente noite para os fundilhos do bairro, algo de comer à garotada, bem contada talvez a única refeição maior do dia.
Pois, que é das intranquilas árvores?
Na pegada até Catengue, Caimbambo, Cubal, Quilengues, nos confins do distrito em Chongorói, carrinhas empoeiradas de longos quilómetros, trazem-nas já em destino de paus. Parece que ganharam ares de fantasma, onde se arredonda a profundeza das sucessivas sobrevivências em mistura com o engenho. Debaixo da terra viram carvão, que vai soprar na fuba calores, medidos depois em cada mãozita que vai à boca, em vontades que brilham.
Um montito de carvão não chega para assar um peixe nem um churrasco, nos seus dez a vinte kwanzas, mas muitas famílias têm o seu sustento diário, nesse estreitar vagaroso de montinho a montinho, numa esperança que se desengonça em continuidade.

Laranja ...


...Em Belém. Lisboa. 2007

Foto Jota Esse Erre

domingo, 9 de dezembro de 2007

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Khan e Halter dão ar de sua graça

Borges gostava de dizer que "nós próprios somos uma citação", asserção que um dia o famoso MacAdam nos deve explicar. Ora, na parafernália da Gestão das Superfícies Impressas (GSI), a Imprensa de hoje "força-nos" a viver com os produtores de conceitos e preceitos que obedecem a uma "vertical do poder" de espanto e repercussão (Baudrillard), que não nos deixa indiferentes, de forma alguma.
Tudo isto que elaboro neste momento, constitui, já, uma interrelação fantasmática que o desejo pode e deve averiguar. Jean-François Khan, jornalista e panfletário, e Marek Halter, judeu apátrida e romancista, dois pesos-pesados da segunda linha dos editorialistas dos mass-médias franceses, acabaram de publicar mais dois volumes de ensaios, que Annette Lévy- Willard critica e apresenta no Libération, clicar aqui.
Jean-François Khan, actual director do semanário "populista " de esquerda" Marianne", é um dos mais prolixos dos jornalistas franceses da actualidade. Andou por muito lado e beneficiou de grandes cumplicidades nos meios de negócios sionistas e socialistas pariseenses. Goste-se ou não das suas ideias, Khan multiplica os pseudónimos e fez de uma revista, sem espaço político à partida, o espaço contraditório de todos os republicanos em mal de razão, dando guarida nas suas páginas a vultos da "onda" de um JP. Chevènement, como Régis Debray ou Max Gallo, ou ainda outros personagens mais inclassificáveis em mutação ideológica Esquerda/ Direita, como Couteaux ou Targuinaeff, de bons e maus momentos. Philippe Cohen, Maurice Safran e o grande biografo Pierre Péan, o tal que fez"fogo" contra a aventura Colombani/ Minc no Le Monde, " ajudam " Khan na missa sofisticada pelo nacionalismo racionalista à la française...Halter já não consegue comover os seus companheiros como dantes, apesar de beneficiar ainda de um "fundo de comércio" ideológico que lhe permite sobreviver na guerra israelo-árabe mediática. Vamos ver o que nos diz Annette L- Willard, pois:

"Le temps est-il venu des bilans, des testaments politiques ? Peut-être. En tout cas pour deux personnalités voyantes de la scène médiatique et intellectuelle française qui publient en même temps – mais pas ensemble – un livre en forme de manifeste de combat.
«C’est un combat républicain», annonce, avec la voix forte qui lui est habituelle, Jean-François Kahn en introduction de son Abécédaire mal-pensant (éditions Plon), suite à son Dictionnaire incorrect.
On pourrait parler de «combat moral» pour Marek Halter, philosophique, presque religieux, quand il lance au lecteur : Je me suis réveillé en colère (Editions Robert Laffont). Dans une série de promenades imaginaires autour de l’historique place des Vosges à Paris, il rencontre un personnage qui semble sorti des romans d’Isaac B. Singer, du fond de la Pologne juive d’avant-guerre.
Dialoguant avec ce «sage», Marek Halter peut expliquer ce qu’il pense des grandes affaires de ce monde. Avec gravité. Comme l’antisémitisme et le racisme, le problème des banlieues revu au prisme de sa jeunesse en Russie : «Dans notre bande de voleurs à Kokland, la conscience d’appartenir à un groupe pourchassé, craint et haï, surpassait notre appartenance ethnique. Aussi, entre les Ouzbeks, les Russes, les Tartares et les Juifs, il n’y avait jamais de problèmes. Ce n’est malheureusement pas le cas dans nos banlieues. La rage des pauvres contre l’Etat est grandissante mais, impuissants, ces derniers la reportent sur les pauvres d’autres communautés.»
L’écrivain, apatride et français, prend parti – contre l’idéologie dominante – pour le communautarisme, au nom de la diversité culturelle et ethnique. La République, explique-t-il, ne sait répondre aux émeutes que par plus de répression et plus de police : «La meilleure réponse ? C’était la seule possible de la part d’une République qui, depuis sa création, gomme tout ce qui n’entre pas dans son moule.»
Emportements. Le «républicain» Jean-François Kahn aime aussi plus le peuple que les idées dévoyées de la République. Au mot «Peuple» de son Abécédaire, il s’énerve contre ceux qui agitent le danger du «populisme» devenu politique et idée à abattre : «Pourquoi l’expression dans sa version stalinienne est-elle aujourd’hui utilisée de façon à ce point obsessionnelle, boulimique, quasi paranoïaque, concernant n’importe qui, à propos de n’importe quoi, à seule fin d’empêcher l’examen, de clore le débat, d’excommunier la différence ?» Pour lui, le phénomène révèle une «phobie maladive du peuple».
"

FAR

Mambo 32 (1) - Cimeira África /Europa

1. Por questões de alfabeto, parece-me que fica melhor ser África/Europa e não Europa/África.
2. Por hospitalidade genuína, parece-me que as visitas estão em primeiro lugar, nas listas, à mesa, nos começos... Mas isto não seria caso de nota, se os acordos da APE, fossem justos para os povos africanos, que sendo vossos/nossos iguais, vivem realidades completamente diferentes, que não podem permitir o doce egocêntrico sonho europeu da liberalização de mercado, sem que não fiquem ofendidas/fendidas as suas ainda frágeis economias africanas.
As vossas/nossas visitas regressam à tão mágica casa África, parece-me, que Algo descontentes ...
Que página foi dobrada, esperando ser virada? O tempo, a des-sorrirá?

Alguém se lembrou


Monumento aos que morreram nas guerras coloniais. Lisboa. 2007

Foto Jota Esse Erre

A Cimeira

Apinoquei-me p'ra ir ao Darrefour.
É fim de semana
Cimeira.
Sinto-me um pinoca.
Os olhos do mundo postos em mim.

Cá na colectividade sou o maior.
Mandei vir a pretalhada.
Excedi-me no Orçamento, mas há quem faça pior.

De fato de treino lá vou até ao Darrefour...
Dar o quê?!

(Coisas menores geram textos menores. Que é que queriam?...)

sábado, 8 de dezembro de 2007

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Tramonto a caprera


Sardenha. 2007

Foto Francesca Pinna

Momento da semana

No Parque das Nações, um senhor de fato e gravata é entrevistado pela SIC:

- Sabe o que é o Darfur?
- Sim. É um hipermercado.
- Tem a certeza?!
- Claro. É o hipermercado dos preços baixos.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Sinais


Desenho Maturino Galvão

IRONIA EM BELÉM


No monumento aos que morreram nas guerras coloniais a limpeza é feita por um imigrante africano. Lisboa. 2007

Foto Jota Esse Erre

Liberais yankees criticam erros estratégicos dos homólogos russos

Quem segue apaixonadamente a evolução da conjuntura russa, não pode perder um artigo de análise ontem publicado no NY Times, da autoria de um especialista em temas russos, Nicolai N. Petro. Ainda não tive tempo de analisar os textos que no Público saíram assinados, só para ver as modas. De qualquer das formas, o blogue bate-se na linha da frente para tentar perceber as grandes mudanças da Geopolítica mundiais. A folgada vitória de Putin - e o F. Times diz que ela pode ser a sua consagração ou calvário - beneficiou dos erros estratégicos da Coligação Liberal - Outra Rússia- que englobava a nata da inteligentzia moscovita e alguns famosos experts do big-business, Ryzhhov, Irina Khakamada, Gregory Yavlinsky, Kasyanov e Boris Nemtsov, de braço-dado com Garry Kasparov é o chefe-de-fila do gang etno-nacionalista, o famigerado Eduard Limonv, de tristíssima e fedorenta aura de assaltos e perversões xenófobas pró-russas.
A análise de N.Petro é de grande amplitude, conjugando valores essenciais das sondagens de longo alcance e descortinando o "oportunismo"ideológico das alianças contranatura dos liberais com o nacionalista Limonov. Até parece que houve sabotagem premeditada no seu envolvimento na coligação "Outra Rússia", de acordo com as teses sibilinas do autor. Há três anos que Limonov se tinha "colado" à coligação, sendo temido e respeitado pelo "poder de fogo" das suas milícias, com provas dadas... Houve cisões por causa da adesão de Limonov - as de Yavlinsky e Kasyanov - mas Gasparov, Ryzhkov e Nemtsov continuaram. E as sondagens e audiências, que tinham partido de valores altos. cairam a pique, como também sucedeu com os outros partidos "liberais", União das Forças de Direita e Yabloko.

"The problem, it seems, is not that the opposition cannot get its message to the Russian public- nor even the message itself. The problem is with the messengers, who have managed to alienate their natural constituency- RussiaŽs growing middle class", assinala o articulista, que adianta ainda outra razão de tomo: " The party of V. Putin, which has pleged to continue the policies that have increased average salaries from 80 dólares to 500, a month, which has dramatically increased social spending and reduced the poverty level from 27 percent to 15 percent".
"Far from indicating a retreat from democracy, the Russian electorate’s rejection of the current opposition may be a sign of the countrie’s progress toward a mature democracy", observa o autor, depois de lamentar as observações de Boris Berezovsky, no exílio londrino, sublinhando a "manipulação centenária das autoridades russas que transformaram o povo num rebanho de mentecaptos".

FAR

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Terra


Somewildwish/16
Foto:G.Ludovice

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Panorama stradale


Sardenha. 2007


Foto Francesca Pinna

Segredo desvendado

Caros Josina MacAdam e irmão:

A verdade tão perto e vós que não atinais. Terão talvez de reforçar a dose de Fósforo Ferrero... a droga de eleição noutros tempos.
Não têm quaisquer motivos para se sentirem “desonrados” com o comportamento do pater familia. Muito pelo contrário.
Ao contrário dos outros superheróis cuja proeminência decorre de acidentes estranhos- por exemplo, Spiderman é o Peter Parker mordido por uma aranha radioactiva-, fortuitos e involuntários, o ethos vigilante do SuperViggi é deliberado e construído. Coloca-se uma ‘pedra’ na boca e aguarda-se pelo início da ronda. Vigiando e punindo camisas negras e de outras cores, comunistas e outros inimigos da liberdade, entre os mais recentes e daninhos os ‘Chavistas’, novos filhos da puta, “Putinistas”.
Quanto à benigna rusga dita “socrática”, estou certo que o seu propósito era o de promover os Direitos, Liberdades e Garantias. Pelo que não estranho o sorriso de beatitude- também dito ‘agostiniano charrado’- do SuperViggi.
Cara Josina, comungo da sua saudação à Democracia, mas pode pousar os Grandes Códigos. O Direito não se aplica aos SuperHeróis. Veja o que diz Aristóteles sobre o Batman: “There are men so godlike, so exceptional, that they naturally, by right of their extraordinary gifts (no caso, ter ido ao Café Central da P…) transcend all moral judgment or constitutional control”.
Portanto, minha cara, quando deparar com uma operação policial, lembre-se que eles estão sujeitos à lei e ignoram que estão presos. Nosotros, os SuperViggis gozamos de uma ordem mais elevada de legitimidade.
“There is no law which embraces men of that calibre: They are themeselves the Law”. A propósito, não há aí nada para fumar?

JSP

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Venezuela hoy

A Venezuela é, hoje por hoje, uma das questões essenciais no debate político à Esquerda. Eu diria mesmo a questão essencial, onde se revelam velhas e novas fracturas. De facto, o programa chavista, ao contrário de outros, nada tem de inócuo: é um programa "socialista" (nacionalização dos grandes meios de produção, redução do horário laboral, redistribuição generalizada da riqueza, por exemplo). Mas é também um programa aplicado verticalmente, do topo para a base, e baseado numa figura populista e com laivos autoritários (o que não é o mesmo que ditatoriais, como se sabe – e temos cá no burgo um "socialista" que nos comprova isso mesmo). No posicionamento perante Chavez, e tomando em conta estes aspectos complementares, revelam-se as velhas e as novas linhas do pensamento político à Esquerda.
Chavez perdeu um referendo em que eu, provavelmente, votaria contra, mas não festejaria a vitória. No geral, aprecio a constituição chavista de 1999, mas este projecto tem algo que por si só me repele: a possibilidade de eleição ad eternum do presidente. Contudo, aprecio menos ainda a oposição venezuelana que hoje canta vitória, que corresponde em termos políticos aos tradicionais caudilhos sul-americanos que fizeram da corrupção generalizada sistema, e em termos sociais às classes privilegiadas que temem perder o estatuto. Esses, que todos os dias se queixam do caminho chavista para a ditadura (mas que se queixam nos media sem que alguém os incomode), não foram, ao contrário de Chavez, capazes de reconhecer uma única das suas derrotas. É natural: não estavam habituados a algo mais que a "saudável alternância democrática" do pântano dos centrões. A Democracia, já se sabe, é uma ideia muito bonita, mas só quando nos convém. Também no nosso burgo, a Direita garante que a Venezuela está a caminho da Ditadura, e isto apesar de não existir um único preso político (ao contrário de Portugal onde, segundo a mesma Direita, há um, o Mário Machado), de a oposição dominar a generalidade dos media (mesmo que, na sua santa ingenuidade, a Casa Branca insista em afirmar que "não teve acesso às televisões"), e de o Presidente aceitar a derrota sem banhos de sangue ou demonstrações de força (ao contrário do que fez a oposição quando, eles mesmos, foram derrotados nas urnas e urdiram um golpe de estado contra um lider eleito). Os limites da Democracia terão, então, necessariamente de ser outros. Talvez sejam, precisamente, a nacionalização dos grandes meios de produção, a redução do horário laboral, ou redistribuição generalizada da riqueza, por exemplo. Daí que se possa concluir que a Democracia pode ser tudo, mas não pode ser Democracia Socialista. Isso já ultrapassa o admissível pelas boas consciências democráticas da Direita, seja ela "Conservadora" ou "Liberal".
Como escrevi neste blogue anteriormente, a América Latina é o grande laboratório das alternativas à Esquerda no século XXI. Não é por acaso que Chavez ou Morales são atacados, boicotados, difamados, de tal modo que, daqui a uns tempos, já a novilingua da "Direita Liberal" conseguiu fazer passar essa extraordinária asserção de que a Venezuela é uma "ditadura". Seria conveniente não cairmos nós próprios nessa esparrela.

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Botas a matar outra vez. Agora na horizontal


Nova Iorque. 2007

Foto Jota Esse Erre

Ségolène faz mea culpa soft para sacudir PS francês

Os socialistas franceses estão num estado ruinoso abracadabrantesco: direcção política não funciona, tenores seduzidos pelo método-glutão Sarko são mais que muitos: fala-se de Jack Lang para ministro da Justiça; e Grupo Parlamentar sem iniciativa política ajustada. É o caos, portanto.
Como é um partido de poder, o PSF francês não tem estrutura para suportar os dilacerantes caminhos da Oposição.
É a velha história da social-democracia europeia "apanhada" pelos efeitos destrutores da Mundialização e do turbo-capitalismo. Mais histriónicos e abertos que os seus compadres alemães, os "enfants de Mitterrand" sonham, com as oportunidades e deslizes de ocuparem o poder, em voz alta. E, estando na mó de baixo, expõem na praça pública os seus defeitos e males. O que até nem é mal pensado.
Ségo publicou a sua versão da "Campanha" presidencial onde arrebatou cerca de 17 milhões de votos contra Sarkozy. O Livro sai hoje e teve o condão de ter sido revisto e "manipulado" por Bernard-Henri-Lévy. Chama-se: "Ma plus belle histoire, c’est vous".
O Liberátion, que apoiou inequivocamente Ségo contra Sarko, deu hoje grande destaque a esse acontecimento, clicar aqui.
Fundamentalmente, Ségo volta à primeira linha do espaço político francês...para fazer as contas contra os seus falsos amigos e retratar-se da vitória do candidato da Direita tutti-color. "Je ne connais encore ni le lieu, ni la date, mais je sais qu'un jour, nous nous retrouverons", assinala, precisando: " L`histoire continue. C’ est-à-dire le combat".

«Je ne connais encore ni le lieu, ni la date, mais je sais qu’un jour, nous nous retrouverons.» C’est ainsi que se termine Ma plus belle histoire, c’est vous, le livre de Ségolène Royal qui sera demain en librairie. L’ancienne candidate socialiste à la présidentielle, filant la métaphore sportive, assure avoir «repris l’entraînement». «N’ayons pas peur», écrit-elle aussi en s’adressant à ces hommes et ses femmes qui, comme elle, «pensent que quelque chose s’est levé (pendant la campagne, ndlr) qui ne s’arrêtera pas». «Je gagnerai un jour pour eux» , assure aussi l’ex-candidate au début du livre. Pour ceux qui nourrissaient encore quelques doutes, les choses sont donc claires: «l’Histoire continue. C’est-à-dire le combat.»
L’ensemble du livre est évidemment à décortiquer à l’aune de cette détermination. Et même si la présidente de la région Poitou-Charentes ne dévoile rien de sa stratégie future (lire ci-contre), l’objectif est bien celui-là : tirer les leçons de la défaite pour être à nouveau candidate en 2012. Et la meilleure manière d’y arriver était manifestement, même si elle s’en défend, «derefaire le match» . Celui qu’elle a perdu contre Nicolas Sarkozy. Mais aussi celui qui l’a opposée à ses propres amis. Ma plus belle histoire est en fait un récit vérité d’une défaite. La vérité selon Royal, donc forcément subjective. Petites notes de lecture.
Le procès en incompétence. «Etais-je préparée pour l’élection présidentielle?», demande Royal. «Beaucoup plus qu’on ne l’a dit, mais sans doute moins qu’il ne l’aurait fallu», admet-elle. Jurys citoyens, nucléaire iranien, épisode du Hezbollah, «bravitude», justice chinoise… Toujours avec âpreté, l’ex-candidate défend ses positions. Pour elle, ces«bourdes qui n’en étaient pas» trouvent leur origine dans la primaire socialiste, «son cortège de coups bas et de petites phrases assassines».
Chers camarades. Sans surprise, l’ex-candidate ne ménage guère ses amis socialistes. A commencer par Michel Rocard, venu lui demander de se retirer, à quelques heures du dépôt des candidatures… «Presque un gag», moque Royal. Au delà, c’est toute la horde d’éléphants «qui a juré de m’écraser», assure-t-elle. Tout y passe: les absences de DSK et les «tours pendables» joué par «ses peu recommandables cerbères», les pressions de Laurent Fabius sur son lieutenant Claude Bartolone, qui a rejoint l’équipe de campagne… Mention particulière pour Lionel Jospin, «l’homme du déni majeur», qui a séché la cérémonie d’investiture pour assister au spectacle de Pierre Perret, «préférant sans doute les jolies colonies de vacances». Au-delà de ses ténors, c’est le «manque de travail et de réflexion collective du parti» que fustige, impitoyable, l’auteur. Un parti dont personne ne peut dire quelle est la position sur «tous les grands sujets économiques ou internationaux»…
(…)
«Je ne suis ni Jeanne d’Arc ni la Vierge Marie», assure Ségolène Royal. De sa visite à Notre Dame de la Garde à ses multiples citations et postures bibliques, la référence chrétienne a horripilé nombre de ses camarades. A son tour, elle s’agace de ces critiques. Selon elle, loin d’être en contradiction avec les idéaux de gauche, «la parole religieuse est une parole à côté des autres». Qui aurait même constitué une ressource face aux épreuves de la campagne.
(...)
Libération


FAR

domingo, 2 de dezembro de 2007

Terra

(Portugal 07) foto:G.Ludovice

Esperanças paradas de uma mulher, na Europa

African Woman/9 (Angola 06) foto:G.Ludovice

Movimentos de esperança de uma mulher, em África

Sinais


Desenho Maturino Galvão

O Cais do Sodré

Há os que morrem de inveja, os que vivem de vigiar...
Há os que não viajam com medo de enjoar...
Há os que não conseguem viver de pé.

São os que vigiam e se agacham e acham que o melhor é fazer rusga no Cais do Sodré.

"Vamos à caça?", perguntou o intrujão.
"Vamos.", assentiu a família.
"Nada melhor que caçar nas bandas do Cais do Sodré.", afirmou o intrujão.
"Sobretudo para descredibilizar os sacanas dos grevistas", retorquiu a família.
"Bom, bom...", admoestou o intrujão.

Lá partiram rumo ao Cais do Sodré achando que na Cruzada pontuariam. Uma dezena de alcoolizados encontram.

O intrujão vocifera.

(pouco, porque um Mugabe se avizinha...)

Céline

Correspondência de Céline revela dispositivos de alta perfomance escritural e crítica Acaba de sair nova edição da correspondência de L.F. Céline com a sua excelente secretária, Marie Canavaggia, desta feita na Editora Gallimard. Philippe Lancon revelou no Libé como tudo se pode ler.

Céline et la «vache matière»

Quand l’auteur de «Mort à crédit» écrivait depuis Elseneur.
PHILIPPE LANÇON

Louis-Ferdinand Céline Lettres à Marie Canavaggia 1936-1960 Édition établie et annotée par Jean-Paul Louis, Gallimard, 752 pp., 39 euros. David Alliot L’Affaire Louis-Ferdinand Céline. Les archives de l’ambassade de France à Copenhague 1945-1951 Horay, 183 pp., 20 euros.

Ecrire c’est danser, danser fatigue. «Mais si je cesse de danser une seconde alors la mort m’emporte.» Lettre de Céline à sa secrétaire, Marie Canavaggia, Copenhague, 5 mai 1947. Le barde infernal est en prison depuis décembre 1945, pour un mois encore. On a tué son éditeur, Robert Denoël, sur l’esplanade des Invalides. Sa mère vient de mourir. Il ne l’avait pas vue depuis sa fuite, en juin 1944. «Je me repens effroyablement de mes duretés envers elle, écrit-il dans une autre lettre. Je la vois encore nous quittant comme un pauvre chien congédié au coin de l’avenue Junot.» Vivre en fuite, en exil, au trou ? «L’aventure de loin chère amie c’est toujours de l’aventure, de près c’est du somnambulisme atroce.» Le somnambule marche et rêve donc, en horreur surexposée. Et d’abord il écrit : Féerie pour une autre fois, des ballets et des centaines de lettres, dont celles à Marie Canavaggia.
«Hirondelle». Cette correspondance avait été publiée, en 1995 et en deux tomes, aux éditions du Lérot. La nouvelle édition touchera un public plus large, et c’est mérité : elle tient une place centrale dans l’édifice épistolaire peu à peu réuni par Gallimard, entre les Lettres de prison à Lucette Destouches et à Maître Mikkelsen, l’efficace avocat danois de Céline, celles à Milton Hindus, son admirateur et soutien américain, et bien sûr celles à la NRF.
A l’époque danoise, Marie Canavaggia a 50 ans et vit à Paris. Elle traduit des auteurs anglo-saxons, dont Henry James et John Cooper Powys. Elle est corse. Céline lui écrit : «Marie vous êtes l’hirondelle d’hiver, mais l’hirondelle.» Et on dirait du Sade. Mais quand, amoureuse peut-être, elle entre en sentiments (on n’a pas ses lettres, mais on le devine aux réponses de Céline), il s’énerve : «Que voulez-vous qu’un bagnard foute de votre guitare ! Je vous aime bien mais pas dans cet infernal babillage autour du cul ! du cœur ! enfin de ce que vous voulez !» Guitare, hanches et sérénade ? A la casse. Marie est là pour bosser, être «sérieuse», récupérer l’argent qui manque chez débiteurs et éditeurs : «Vite, au galop, sans chichis, repentirs, racinismes, bovarysmes, desbordevalmorysmes, pisanismes et sans morale surtout.»
Libération

Vechio borgo


Sardenha. 2007

Foto Francesca Pinna

sábado, 1 de dezembro de 2007

Qual a função do apóstrofo?


(recebido por mail)

Conto que me perdoem

Voltei. Não trago boas notícias. O meu pai passou-se. Ontem foi comprar droga no café da esquina, “ O Central da...”, do nosso bairro. Eu e o meu irmão estamos desonrados. Já tinha ouvido falar do suicídio de classe, mas não estou preparada para viver com um burguês decadente. Que se lixe o marxismo. Onde estão privacidade e recato? E isto é cá por casa e pela vizinhança. Na madrugada de hoje apanhou com uma das novas rusgas socráticas e safou-se. Ali, ao Cais do Sodré, percebida a dimensão do aparato policial, o velho meteu a pedra na boca e, ao contrário de Demóstenes, calou-se com um sorriso de beatitude nos lábios. Velho, pior que um carocho, com sorte. Feito o desabafo vou voltar ao estudo dos códigos. Quando for dentro só lhe resta esta vossa,

Josina MacAdam
para o defender. Vivó Direito e a Democracia.

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Putin: mandar como Estaline e viver como Abramovitch!

As legislativas russas, primeira volta indirecta das Presidenciais de Março próximo, desenrolam-se hoje. Os observadores internacionais mostram-se muito cépticos sobre a " pureza " dos processos eleitorais " usados " pela clique de Putin. As incógnitas sobre o que se irá desenrolar no assimétrico tabuleiro político russo, são mais que muitas. A grande imprensa mundial tem alertado para as violações ao código eleitoral induzido pela OPCE, de uma forma branda. A vitória de Putin parece ser irremediável. Um grave incidente ocorreu na última semana com a prisão de Garry Kasparov, que desencadeou uma forte pressão dos EUA, da União Europeia e de vários governos do Oeste. A manipulação político-partidária conduzida pelo partido do manda-chuva do Kremlin, a Rússia Unida, atingiu foros de escandalosa perversidade e alto cientismo. Kasparov tenta implementar os processos da Revolução " Laranja ", que tanto sucesso imediato deram na Ucrânia e na Geórgia, apesar de tudo. Mas isso não chega e foi preso durante cinco dias.
O grau de popularidade de Putin tem ultrapassado todas as vicissitudes: a destruição do consórcio petrolífero Youkos, com prisão siberiana para Khodorowski; a mão-baixa sobre os impérios siderúrgicos e de diamantes, com o afastamento compulsivo das direcções em exercício modernizador; tudo foi feito pelo " núcleo duro " do Kremlin para controlar a economia...e o poder.
"Never before in Russian history have so few exercised such tight control over a national wealth that is so vast and liquid, in more ways than one. The stakes of relinquishing power have grown commensuralety for Putin. If he becomes prime minister, a vast network of informal arrangements that made the president and his entourage the managers of Russia most lucrative natural ressources will have to be dismantled- redirected away from the Kremlin and toward the prime minister ", escrevia no final de Outubro passado, no NY Times, Leon Aron, especialista de Estudos Russos no American Enterprise Institute de Washington.
Ora, para se efectivar essa gigantesca troca de poder e influência nos sectores vitais da economia e sociedade russa, caso Putin venha a assumir a pele de líder partidário, o novo Czar teve a ousadia de alcunhar de " chacais ", epíteto que "comoveu a opinião pública mundial, os homens que o indicaram a Eltsin como provável sucessor, nos finais dos anos 90. E desencadeou nos ultimos dias da campanha uma catalinária ensurdecedora contra Anatoly Chubais, Boris Nemtsov, Igor Gaidar, entre outros, acusando-os de terem sido eles os responsáveis pelo antigo descalabro económico e social da Rússia.
O Wall Street Journal apelidou tal denúncia de "pequena novidade", apesar de destacar que " Poutin acrescentou uma nova aleivosia acusando os liberais de trabalharem para potências estrangeiras e traírem a pátria, exprimindo a pena de os ver ainda enquadrados na realidade russa". "The institution that dominates Russian society today is the KremlinŽs " vertical of power" - a combination of formal and informal controls and curbs which is rather different from the checs and balances in democratic states. This vertical of power has President Putin at the top. It extends not only to the federal government and United Russia party, but also to other parties, regional and local governments, big business, civil society and mass media".
O mais maquiavélico é que, segundo o Financial Times divulgou há dias, Putin anda a tentar lançar um programa de modernização estrutural da indústria russa, com objectivos apontados até 2025, onde tenta aliciar o que resta da administração liberal da malha industrial do seu país e a fomentar fortes incentivos, a posteriori, para os grandes conglomerados internacionais, de diversas nacionalidades e forte motivação capitalista.

FAR

Chipre (4)




Nicósia. Chipre. 2007

Fotos FFC