sábado, 18 de março de 2006

Encontros de conspiradores





Poema


Foto de Ivone Ralha

No tempo em que os suicidas falavam
Amar-te teria consequências.

Mas teria?
Ou nem uma última ruga
Viria alterar a face das coisas
Dispô-las pela primeira vez a meu favor?

(Uma ruga que me deixasse para sempre limpo
Para sempre autêntico
E que imediatamente me recompensasse
Do acto por excelência cabotino
De desaparecer a deixar rasto
De desaparecer em contracção, em convulsão de teatro).

Alexandre O'Neill

sexta-feira, 17 de março de 2006

Os homens de Cavaco

As primeiras nomeações do novo PR, Cavaco Silva, embora não surpreendam os mais atentos, não podem deixar de causar preocupação. Para o Conselho de Estado, rompendo com a lógica de equilíbrio seguida por Sampaio (que tinha como convidado, por exemplo, Carlos Carvalhas, de forma a manter o PCP representado neste orgão), Cavaco mostra a sua verdadeira face de homem do partido (e pensar que ganhou as eleições com aura de "suprapartidário"...): três históricos do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, Manuela Ferreira Leite e Dias Loureiro, um do CDS, Anacoreta Correia, e o seu mandatário nacional de campanha, João Lobo Antunes, provocando uma clara maioria de direita num orgão que se quer representativo das diversas sensibilidades da sociedade portuguesa. Mas piores, porque as consequencias serão mais graves, são os indícios da orientação cavaquista recolhidos pelas nomeações dos diversos assessores: para a economia foi escolhido João Borges de Assunção, um ultraliberal do grupo da Católica, defensor do emagrecimento ao máximo do estado, que recentemente acusou o governo de ter "um preocupante pensamento antieconomicista". Para a ética e ciências da vida, uma das áreas mais importantes da acção governamental, Cavaco nomeou Maria do Céu Neves, uma professora universitária da linha da direita católica próxima da Opus Dei. E é com ela que se aconselhará quanto a matérias como o aborto, a eutanásia ou a clonagem. Para os assuntos sociais, David Justino, o inenarrável ex-ministro da educação do governo PSD/CDS. Finalmente, para a assessoria-chave dos assuntos políticos, teremos António de Araújo, um dos nomes da nova direita conservadora ligada à revista Atlântico, que já se mostrou contra a pílula do dia seguinte, o "direito à pornografia" e a favor da criminalização específica de actos homossexuais com adolescentes; e nada mais nada menos que João Carlos Espada, o ex-maoísta-actual-neoconservador, visceralmente pró-americano, que já escreveu no Expresso a favor da guerra do Iraque, contra os casamentos gay, cuja cruzada pessoal é o que chama "a crise de valores da civilização ocidental". Pela amostra, isto promete. Aqueles que votaram Cavaco com a ilusão que seria um presidente suprapartidário, gerador de consensos e alinhado ao centro, que percam as ilusões: Cavaco será igual a si próprio. Nunca foi, ao contrário do que quis fazer crer a nojenta campanha em que tantos opinadores e jornalistas alinharam, um homem do centro, mas sim da direita, até mesmo, em determinados aspectos como as questões "morais", da ala mais à direita no PSD (e estas, curiosamente ou talvez não, serão questões em que a função presidencial terá mais importância). Nada contra, mas que se assumisse em vez de fazer toda uma não-campanha, em que surgiu como uma figura salvadora desprovida de ideologia e apenas preocupada com "o país". Aqueles que, não sendo de direita, se deixaram enganar por este conto do vigário, que se habituem. Terão cinco anos para pensar no que fizeram.

A que há de vir

Aquela que dormirá comigo todas as luas
É a desejada de minha alma.
Ela me dará o amor do seu coração
E me dará o amor da sua carne.

Ela abandonará pai, mãe, filho, esposo
E virá a mim com os peitos e virá a mim com os lábios
Ela é a querida da minha alma
Que me fará longos carinhos nos olhos
Que me beijará longos beijos nos ouvidos
Que rirá no meu pranto e rirá no meu riso.
Ela só verá minhas alegrias e minhas tristezas
Temerá minha cólera e se aninhará no meu sossego
Ela abandonará filho e esposo
Abandonará o mundo e o prazer do mundo
Abandonará Deus e a Igreja de Deus
E virá a mim me olhando de olhos claros
Se oferecendo à minha posse
Rasgando o véu da nudez sem falso pudor
Cheia de uma pureza luminosa.
Ela é a amada sempre nova do meu coração
Ela ficará me olhando calada
Que ela só crerá em mim
Far-me-á a razão suprema das coisas.
Ela é a amada da minha alma triste
É a que dará o peito casto
Onde os meus lábios pousados viverão a vida do seu coração
Ela é a minha poesia e a minha mocidade
É a mulher que se guardou para o amado de sua alma
Que ela sentia vir porque ia ser dela e ela dele.

Ela é o amor vivendo de si mesmo.
É a que dormirá comigo todas as luas
E a quem eu protegerei contra os males do mundo.

Ela é a anunciada da minha poesia
Que eu sinto vindo a mim com os lábios e com os peitos
E que será minha, só minha, como a força é do forte e a poesia é do poeta.


Vinicius de Moraes, Rio de Janeiro, 1933

Foto de José Carlos Mexia
"...prometi a mim mesmo dignificar as profissionais do amor e nunca mais chamar filho da puta a quem não o merecesse. Filho de Alá pareceu-me um insulto muito mais contundente."

Luís Sepúlveda, Diário de Um Killer Sentimental, trad. Pedro Tamen, Público

Post dedicado aos meus amigos do Savana


A Oficina de Teatro de Almada estreia no próximo dia 18 de Março, na Casa da Juventude – Ponto de Encontro, em Cacilhas, pelas 22.30 horas a sua mais recente produção: um recital de poesia composto por textos de: Alberto Pimenta, Jorge de Sena, Mário – Henrique Leiria, Abade de Jazente, João de Deus, Mendes de Carvalho, Ruy Belo, Armando Silva Carvalho, Ary dos Santos, Almada Negreiros, Fernando Assis Pacheco, Bocage, Luiz Pacheco e Bernardo Guimarães. A entrada é livre.

quinta-feira, 16 de março de 2006

Se me perguntares
Quem sou eu

Cavada de bexiga de maldade
Com um sorriso sinistro
Nada te direi
Nada te direi
Mostrarte-ei as cicatrizes de séculos
Que sulcam as minhas costas negras
Olhar-te-ei com olhos de ódio
Vermelhos de sangue vertido durante séculos
Mostrar-te-ei minha palhota de capim
A cair sem reparação
Levar-te-ei às plantações
Onde sol a sol
Me encontro dobrado sobre o solo
Enquanto trabalho árduo
Mastiga meu tempo
Levar-te-ei aos campos cheios de gente
Onde gente respira miséria em toda a hora
Nada te direi
Mostrar-te-ei somente isto
E depois
Mostrar-te-ei os corpos do meu Povo
Tombados por metralhadoras traiçoeiras,
Palhotas queimadas por gente tua
Nada te direi
E saberá porque luto.
Armando Guebuza
Moçambique, 1977

(...) A multidão não parava de passar. Era o centro do centro da cidade. O homem estava sozinho, sozinho. Rios de gente passavam sem o ver.
Só eu tinha parado, mas inutilmente. O homem não me olhava. Quis fazer alguma coisa, mas não sabia o quê. Era como se a sua solidão estivesse para além de todos os meus gestos, como se ela o envolvesse e o separasse de mim e fosse tarde de mais para qualquer palavra e já nada tivesse remédio. Era como se eu tivesse as mãos atadas. Assim às vezes nos sonhos queremos agir e não podemos.
O homem caminhava muito devagar. Eu estava parada no meio do passeio, contra o sentido da multidão.
(...)
Agora eu penso no que poderia ter feito. Era preciso ter decidido depressa. Mas eu tinha a alma e as mãos pesadas de indecisão. Não via bem. Só sabia hesitar e duvidar. Por isso estava ali parada, impotente no meio do passeio. A cidade empurrava-me e um relógio bateu horas.
Lembrei-me de que tinha alguém à minha espera e que estava atrasada. As pessoas que não viam o homem começavam a ver-me a mim. (...)

‘O Homem’, em ‘Contos Exemplares’ de Sophia de Mello Breyner Andresen, Figueirinhas

Fotografia e Post de Ivone Ralha

terça-feira, 14 de março de 2006

Haia: Quem morreu, Milosevic ou o TPI?

O processo contra Slobodan Milosevic foi encerrado. Termina assim um caso jurídico que em tudo se parece com um casamento católico: foi a morte que os separou. Durou quatro anos. As relações entre o Tribunal Penal Internacional e Milosevic, passaram por altos e baixos. Este queixava-se, barafustava, mas o Tribunal gostava de o ver assim. Por isso empatava, empatava. Para os juízes o Milo tinha piada, assim como a cidade. Haia é uma cidade simpática, ganha-se bem, e aturar o jugoslavo todos os dias, até que nem era mau de todo. Com noites longas pela frente, numa cidade com vida nocturna razoável e boas strippers, folgas ao fim-de-semana e férias alargadas, os juizes não se podiam queixar. Com um bom emprego, não há pressa. E fizeram tudo para que o Tribunal se portasse de forma digna. Deixaram correr o marfim, até porque não queriam cometer falhas. Agora Milosevic morreu. Os juízes lavam daí as mãos. O Tribunal até é contra a pena de morte. O preso é que morreu, não foram eles que o mataram. Azar dele. Tomasse mais vitaminas e fizesse ginástica. Mas a vida continua. Depois de Milosevic ir desta para melhor, os juízes já esperam ardentemente por Karadzic e Mladic, os dois "most wanted men" da Jugoslávia. Porque um homem tem que trabalhar. Mas, tudo leva a crer que eles já não vão aparecer. Embora as instalações e as refeições sejam boas, aquilo é uma chatice. Nada acontece. Não há acção. Souberam que Milosevic ainda tentou animar a coisa, tomando umas pastilhas, mas faltou-lhe algo. Ferrero Rocher? Ainda pediu ao TPI, mas ele não alinhou. “Isto não é uma palhaçada”, disse. E não foi em cantigas. É um tribunal sério. Ou pensam o quê? Perante a morosidade e pouca eficácia, muitos ficaram mais próximos da posição dos Estados Unidos, que se recusaram a ratificar o Tratado que criou o TPI. O que é mau. Para eles, os soldados e chefes militares estão acima de qualquer tribunal internacional. São intocáveis e nas tropas da superpotência ninguém toca. E consideram que com eles não se brinca: quando se trata de matar, não há problema. No terreno ou na prisão, é indiferente. Agora pactuarem com burocratas e serem acusados de tal é que não. Isso é um insulto. Coisas, que nem a uma mãe se diz.
Morre em Londres a 14 de Março de 1883
*
"Um problema só surge,
quando estão reunidas todas as condições para solucioná-lo."
Karl Marx

Cada vez mais "hermanos". Isso é bom ou mau?

Continua a ter preconceitos contra os espanhóis? Há cada vez menos razões para isso. Em 2005, safámo-nos de entrar em recessão económica graças às nossas exportações para nuestros hermanos. No entanto, não deixa de ser preocupante a crescente dependência económica de Espanha. Algumas empresas portuguesas já tentaram, ou estão a tentar, penetrar no mercado espanhol, abrindo lojas, sucursais ou departamentos. No entanto, dizem ser um mercado difícil, muito nacionalista. Ao contrário de nós, os espanhóis têm apetência pelo produto nacional. Talvez por isso, o crescimento da economia espanhola tem rivalizado com a Irlanda, e há 12 anos que está acima da média europeia. Os seus produtos também já são muito visíveis em Portugal, que o digam os jovens e menos jovens que já elegeram as lojas de roupa espanholas com nomes ingleses como as suas favoritas. Talvez por isso, quase um terço das nossas importações já vem de Espanha. O facto de haver por cá cada vez mais empresas espanholas também contribui para esta subida. É o gene nacionalista a comandar, ou dito de outra forma, é a pescadinha de rabo na boca, com molho espanhol.

Foto de José Carlos Mexia

segunda-feira, 13 de março de 2006

If I Were A Rich Man

Há muito dinheiro a rolar em Portugal. As Ofertas Públicas de Aquisição do BCP sobre o BPI e a da Sonae sobre a PT, os lucros que os bancos e empresas apresentam, revelam que, embora à nossa escala, em Portugal está a aumentar a concentração da riqueza. Nesse aspecto está em sintonia com o resto do mundo. As fortunas aumentam e os multimilionários são cada vez mais. De acordo com a revista Forbes, em 2006 há 793 multimilionários em todo o mundo, ou seja, mais 102 do que no ano passado. A revista justifica a situação com o crescimento da economia mundial. É claro que nós por cá não demos por nada. A não ser Belmiro de Azevedo, que continua a ser o único português na lista dos homens mais ricos do mundo. Como tem uma fortuna de dois mil milhões de euros, ocupa a posição 350.
Em 2006, os Estados Unidos são os que continuam a concentrar mais multimilionários. Bill Gates continua na liderarança, com 41,9 mil milhões de euros, logo seguido por outro norte-americano, Warren Buffett, dono da Berkshire Hathaway. A terceira posição vai para o mexicano Carlos Slim Helu, e em quarto lugar está o pai do Ikea, Ingvar Kamprad.
Mas há algumas curiosidades. A libanesa Hind Hariri, de 22 anos de idade, é a multimilionária mais jovem do mundo. Ela herdou 1,4 mil
milhões de dólares do pai, o antigo primeiro-ministro Rafik Hariri, que foi assassinado. Em 2006, a fortuna dos 23 multimilionários da Índia chega perto dos 100 mil milhões de dólares, ultrapassando já os seus concorrentes japoneses. O petróleo e o gás estão também a encher os bolsos no leste da Europa. Os 33 multimilionários da Rússia têm uma riqueza superior a 172 mil milhões de dólares e estão quase ao nível dos 11 multimilionários da Arábia Saudita.

1896: Lisboa em polvorosa com a chegada de Gungunhana

Manhã cedo, 13 de Março de 1896, o vapor "África" fundeia a meio do Tejo, frente a Cacilhas. Fragatas, canoas, botes, dezenas de embarcações a remos e à vela rodeiam o navio que largou Lourenço Marques dois meses antes.
Lisboa está em festa. Milhares de pessoas acorrem ao cais para ver o último trofeu de guerra da monarquia. É a "fera cruel", o "pesadelo de todos os governos portugueses", o "régulo sanguinário", como o classificam os jornais nos últimos anos. É Ngungunhane (Gungunhana na ortografia colonial) capturado por Mouzinho de Albuquerque em Chaimite, a 28 de Dezembro de 1895. Depois de horas de insistências, alguns jornalistas conseguem permissão de subir a bordo. Encontram o grupo de 16 prisioneiros a estibordo num exíguo espaço mal iluminado com dois patamares de beliches. Nas esteiras superiores está Ngungunhane com sete das suas rainhas: Namatuco, Machacha, Patihina, Xisipe, Fussi, Muzamussi e Dabondi. No beliche inferior amontoam-se Godide, filho primogénito de Ngungunhane, o régulo Matibejane e as suas três mulheres, o régulo Zixaxa, Molungo, tio de Ngungunhane, e Gó, o cozinheiro do imperador.
Ngungunhane está exausto e horrorizado. Desde a captura em Chaimite que receia o fuzilamento. Chora, implora, treme, esconde o rosto com as mãos, oferece tudo o que já não tem para obter a libertação, dinheiro, gado, ouro, marfim, escravos, terras. Aos que o rodeiam pergunta sem cessar: "Digam-me o que querem de mim. Vai morrer? Para que lhes sirvo eu? Deixem-me regressar que morro se não vejo as minhas terras", traduz o intérprete.
(…)
Quem assim acaba enjaulado como troféu de caça, humilhado e escarnecido, fora o senhor do segundo maior império de África do século XIX. Um império que no seu esplendor se espraia do rio Incomáti à margem esquerda do Zambeze e do oceano Índico ao curso superior do rio Save. Olhando o actual mapa político da África Austral, ocupa mais de metade de Moçambique, um pedaço do Zimbabwe e entra pela África do Sul. Tem uma população estimada entre 500 mil a dois milhões de habitantes de várias etnias.
Retirado, com a devida vénia, de "Vidas Lusófonas"

domingo, 12 de março de 2006

Sócrates, ano I

Tomou posse há um ano o XVII Governo Constitucional.
Diga-nos o que pensa:


1. Os gajos são porreiros e estão dar-lhe bem
2. Só nos faltavam mais estas melgas para nos complicar a vida
3. É como no Titanic, mas sem violinos
4. Tá-se bem, meu, vamos na calma
5. Situação e Oposição pró Iraque já!
6. O leque de opções é limitado e permite a manipulação
7. Estou com pressa. Mandem-me um e-mail.

Foi um espectro que lhes deu

Vasco Pulido Valente e Constança Cunha e Sá, donos e senhores do blogue O-Espectro”, fecharam o estore e mandaram à fava os seus milhares de admiradores e apoiantes. Li coisas tão emotivas e pungentes como, por exemplo, a de um "escritor principiante" escrever que amava o VPV...
Claro, que havia os sabotadores e claques da direita e extrema-direita a "saquearem" o espaço, em conúbio com o despudorado fascismo-pornográfico, que deita abaixo mesmo os mais duros e sapientes.
Viram como o blogue do Vasco Pulido Valente e da Constança Cunha e Sá acabou 24 horas depois de Aníbal Cavaco Silva ter tomado posse? A elite nacional é terrivelmente oportunista e leviana. Mesmo o VPV: com carreira feita e muito bonita, não perdeu a pitada de se associar com a "cobra" CCS para darem com os burrinhos na água... Eu segui a par e passo o folhetim. Até imaginei que fosse um renascer do amor entre os dois. O blogue vivia do VPV, da sua classe, loucura e inteligência microscópica. O resto são cantigas.
FAR

Debates pré-socráticos intemporais





sábado, 11 de março de 2006

Audi Santana A8 4.2 V8 Quattro

Santana Lopes vai comprar o Audi A8, o seu carro de serviço quando estava à frente do Município de Lisboa. Lopes, que até nem precisa de automóvel, quer por um ponto final à peixeirada iniciada desde a aquisição do bólide, que na altura, custou à Câmara 115.000 euros. E quer resolver de vez o assunto da melhor forma: com par de chapadas de luva branca a Carmona Rodrigues, aquele ingrato. E porque é um português igual aos outros, a viver intensamente a crise que atravessamos, até publicita que vai recorrer a empréstimo bancário. Para que não haja mal entendidos. Gente séria é assim. Quando a compra se concretizar, já estão previstas várias festas organizadas pelas suas santanetes. É que este fim de Inverno tem estado muito parado, logo “um horror” para a gente gira. Por isso, não perca as reportagens na imprensa cor-de-rosa.
O carro já foi por duas vezes a leilão por 62.500 euros, mas ninguém lhe pegou. De recordar que entre Março de 2003 e Março de 2004, Santana Lopes mandou comprar 11 viaturas topo da gama no valor de 600.000 euros. Nove Peugeot e um Lância Thesis, que custaram perto de 50.000 euros cada, e o tal Audi A8.

11 de Março de 1975



A cronologia dos acontecimentos AQUI
11 M
Madrid, 2004

sexta-feira, 10 de março de 2006

Regressa esta sexta-feira a Lisboa. Musical escrito por Chico Buarque em 1978, está de volta ao Coliseu de Lisboa até 18 de Março. É baseada na «Ópera do Mendigo», de Jonh Gray, e na «Ópera dos Três Vinténs», de Bertolt Brecht e Kurt Weil. Retrata a Lapa Carioca dos anos 40 e o ambiente boémio que se vivia então no Rio de Janeiro.

Três meses depois....

09.03.2006
*
A frase
"Se ele for eleito, as pessoas ficam sem saber quem manda no país, Cavaco Silva ou José Sócrates".

O pensamento
"Ou Cavaco Silva consegue fazer algo para que a situação do país não continue tão má, e então vamos ter sarilho institucional, ou então não o consegue e teremos mais problemas e conflitos sociais".

Importa-se de repetir?
"Põe-se aqui uma questão de liberdade no centro direita que é o de funcionar independentemente de Cavaco Silva ser Presidente, se for eleito porque José Sócrates já vai ter lidar com Cavaco Silva e Cavaco Silva com José Sócrates, mas o PSD e o próprio CDS-PP vão poder agir fora daquilo que Cavaco Silva considere os parâmetros adequados para a intervenção política? É por isso que considero que o Parlamento vai ser um espaço muito interessante de intervenção e, por isso, tenciono assumir o meu cargo de deputado logo a seguir, tão depressa quanto possível, às eleições presidenciais".
*
Santana Lopes em entrevista à SIC Notícias
10.01.2006

quinta-feira, 9 de março de 2006

Chegou a presidência executiva

Cavaco Silva já é o novo Presidente da República. A primeira impressão que fica de um dia cheio de protocolos, discursos e comes e bebes é que os partidos da direita acabaram por conquistar o primeiro-ministro que sempre quiseram. Mas afinal o novo PR já namora o primeiro-ministro vigente. Lá no fundo renega os seus e considera Sócrates com um ADN político mais compatível com o seu. À esquerda a crítica continua cerrada. Já o PS não quis agitar águas, esteve muito consensual. Mário Soares saiu sem dar cavaco. Mas Cavaco nem deu por isso pois estava muito concentrado em apresentar o programa da sua governação. Que aponta para cinco desafios. Vão desde a criação de condições para um crescimento económico mais forte e qualificação dos recursos humanos, até à eterna questão da credibilidade da justiça e do sistema político. Curiosamente mostrou-se também preocupado com a sustentabilidade da segurança social. Ainda bem que o seu ídolo, Margareth Thatcher, não esteve presente, senão relembrava-lhe uns capítulos esquecidos de neoliberalismo. Mas de qualquer maneira, o governo de Sócrates que se cuide. Porque Cavaco quer que estes objectivos se cumpram e para tal vai acompanhar com exigência a acção governativa. E vai empenhar-se na promoção de uma “estabilidade dinâmica” no sistema político democrático. O que é que ele quis dizer com isto, as interpretações dos analistas dirigem-se para vários campos. Mas já está a marcar o debate político e a surgirem as primeiras acusações de interferência. A frase é forte e ameaça colar-se ao novo PR. Mas Cavaco Silva também foi profético. Lembrou a viagem inaugural de Pedro Álvares Cabral, que ocorreu há precisamente 506 anos. Mas aqui já é Cavaco, o astrólogo navegante a falar. E fica uma dúvida no ar. Será que está a pensar assentar arraiais na presidência, porque navegar é preciso? Durante quanto tempo? Uma proposta: o tempo mínimo garantido, com hipótese de troca em qualquer loja da FNAC.


Crédito: estamos a ficar mais sérios?

Depois das notícias alarmantes sobre o endividamento das famílias, ao que parece a rondar os 115%, eis que surge outra notícia digna de destaque, a apontar para outra perspectiva do problema. Vem no Diário Económico com o título “dívidas incobráveis atingem mínimo histórico”. O interessante da notícia é que isto acontece numa altura em que o crescimento económico não aparece ou é ínfimo e o número de desempregados não pára de aumentar. Reza assim a estória:
“A evolução do crédito mal parado atingiu em 2005 um valor mínimo. De acordo com os dados do Banco de Portugal, o crédito de cobrança duvidosa representa apenas 1,9% do total de crédito concedido. Este rácio tem apresentado uma tendência decrescente ao longo dos anos, tanto no sector empresarial como no sector do crédito às famílias. Em 1998, a taxa de delinquência financeira representava 4,5% dos créditos concedidos.
(…)
Explicações
. Juros baixos limitam o serviço da dívida, logo o risco de incumprimento.
. Baixo custo do dinheiro leva a que, em caso de incumprimento, a dívida não aumente a um ritmo acelerado.
. Aposta no crédito à habitação limite crédito ao consumo das famílias e torna-as mais conscienciosas do risco de longo prazo.
. Maior maturidade do sistema financeiro obriga a um maior controlo do risco nas empresas e nas famílias.
. Apatia do ciclo económico obriga empresas a controlar os seus custos financeiros e a recorrerem a autofinanciamento.”
Quem vai à festa de arromba de Cavaco?
Mais de 3000 convidados. Bush, «Nino» Vieria e Letízia cá estarão. Presidente do Brasil e família real inglesa declinaram convite. Do governo francês não vem ninguém

*
Título do jornal digital Portugal Diário

Na véspera da posse...

(Ao F. arom, com um grande abraço)

Feliz povo que madruga nestas claras manhãs de Março
e sai para as ruas
de cães pelas trelas
de catarros arfando nos nobres peitos
de saco com os restos da ceia
e nos passeios docilmente semeia
dejectos caninos
imundos escarros
multidões de pombos.

Como é lindo e agradável passear pelos passeios
desta pátria
por entre merda, gosma e penas.

Eu próprio já nem noto, ninguém nota...

(É claro que é chato
quando a merda ou a langonha se colam ao sapato...)

De resto, nem por isso...
Sacudimos os ombros e vamos à vida.

Acomodamo-nos, como no fumeiro se faz a cada chouriço.

quarta-feira, 8 de março de 2006

Uma flor para as melhores mulheres do mundo:
as que visitam este blogue.
*
Um dia, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.

O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E há-de voltar aos nosso membros lassos
A leve rapidez dos animais.

Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nós germinará a sua fala.
Sophia de Mello Breyner Andresen

Foto de Sérgio Santimano


Pode-se estar mutilado em muitas geografias
Os de corpo inteiro entendem-no menos
Sem uma perna vive-se
Com a ausência do infinito
Faltam-nos todos os membros.
É isso a verdade.

Nyiama Ludo, Edição do Grupo Experimental de Intervenção Cultural

terça-feira, 7 de março de 2006


Foto de José Carlos Mexia

PACOVIA

Pacovia é um outro nome para Estremunheira, país que tem uma dificuldade particular em acordar, em sentido literal, pois caiu num sono de digerir pedra, segundo dizem e onde as vias abertas pelas autovias tornaram um aperto de mão o que era distante e para trás dos montes. Mas Pacovia já não é o que era, uma sociedade de maçã reineta para proprietários de diabetes e comedores de análises, encostas saloias de legumes húmidos acenando a passantes de burrico atrelado à bunda, mulas antigas das beiras altas apostadas em dar cabo da pacinhência a almocreves da Estrela por caminhos tortuosos e veredas inconsistentes a caminho da capital, LISBIAOA, vizinhas madrugadoras de vozes urbanas, rachadas de sabão azul e algum tabaco, sol alegre desconstipado a secar lágrimas vadias, bandos de meninagem alvoroçada em areias brancas, nabiças rosadas de verde verde e joaquinzinhos saltitantes a pratear as noites em dias de insónia horariada nas traineiras dos confins. Pacóvia já nada é disto, Pacóvia é hoje um DESTINO TURÍSTICO, uma designlândia, lugar em que as vacas já não dão leite mas são objectos de arte-trite, nova forma estética, forma alvo para o público da terceira idade, eternamente jovem como diz o BCP, banco especializado em branquear carcanhóis peganhentos.
Pois bem, primo, os problemas agora avultam porque : a pacóvia roubaram-lhe o acento agudo – diz-se que foi parar ao i de Viagra em apoio a graus de erecção viáveis, tal como se diz do i de leite que... -, e secundo, tem Internet de banda larga. Em Pacóvia não há agora quem não circule na banda larga e não tenha pelo menos dois telemóveis estacionados em ambas as orelhas, simultânea ou alternadamente, cada uma em articulação protésica com um acesso específico a meio cérebro, meio raciocínio e dupla produtividade. É um dois em um que dobra a população activa telefonante, como se sabe base social do salto em frente, salto assumido pelos ministros de Pacóvia como uma salto por cima do obstáculo da dívida, agora a caminho dos quatro ponto oito – numero de má memória este 48.
Hoje tudo está diferente em Pacovia e os pacovienses não só se alimentam de postais ilustrados de gente simpática vestida de carnes étnicas sempre que Agosto os despeja numa hotelaria igual a outra hotelaria, como levam os portáteis para os piqueniques e a meio da melancia expandem memórias até que o disco duro lá meta a lua, o sistema solar, várias galáxias de vazio desconhecido, ou tristezas múltiplas de quilovaites e mesmo o mar, esse continente para o qual ainda não temos guelras que o tornem mais um assunto de bolso.
Sim, que sabemos nós dos extraterrestres, ouve-se na sombra dos pinheiros ainda não ardidos? Este é um tema recorrente dos piqueniques em Pacovia. Convém assinalar que o Piquenique é o verdadeiro herdeiro – peço desculpa pela rima -, da antiga Agora e que é nesse ambiente que se realizam os brainstorming nacionais, nova directiva para implementar a criatividade a todo o vapor e por todo o lado, visto o inglês para todos, desde o berço, não ter resultado em função da nova hegemonia cultural da China, a nova Hiperpotência ( este escrito é em parte inspirado em acontecimentos de 2008, altura em que o balanço da introdução do Inglês mostrará que os pacóvios desaprenderam completamente o português e não pensam em inglês porque não são capazes, além do que, a já explicitada hegemonia do chinês demonstrar que o erro não compensa quando se re-erra, o que já não vem do risco do dito novo, vindo antes das palas assumidas como largueza).
Para além dos enchidos de fumeiro, em Pacóvia, é de facto a temática extraterrestre a dominar a agenda cerebral. Os pacovios juntam ficção e estômago na mesma sandes, por assim dizer. Por fora a metafísica, a crosta do planeta imaginado, o Bil Gates, a utopia galáctica internetiana, por dentro o conduto, o gás que os move, a febra. Talvez isso tenha a sua razão de ser: os sarracenos terão sido expulsos de Pacovia quando varas de porcos pacovianas investiram contra eles numa verdadeira disciplina de centúrias romanas em antecipação da estratégia do quadrado, tão bem sucedida contra Casquela séculos depois. Os romanos, que civilizaram os pacóvios e lhes ensinaram a passar da fase “ao ar livre” para a fase “saneamento básico” ( que está por cumprir apesar da banda larga) deixaram na cultura pacóvia assinaláveis factores estruturantes do seu ser e costumes.
A Autoestrada, esse segredo que tudo aproxima e desenvolve o desconhecimento do pormenor, do detalhe, essa minudência insignificante, vem dos romanos, primeiros cultores de autoestradas.
E de facto o Porco é uma bandeira em Pacovia, tudo apontando para o reforço da sua idolatria ( não há loucura nem gripe que lhes chegue), ao ponto de vários antropólogos afirmarem que inconscientemente os pacóvios têm com os porcos a relação que os indianos têm com as vacas ( como sabem as vacas frequentam o espaço público como verdadeiras senhoras e não há interdito que lhes tolha a quadrupedia multidireccional. Foram já vistas em templos, poseuses, as quatro patas em escultura sexy, ocupando altares, o que, assinale-se, poderá acontecer ao suíno entre os pacóvios, caso a loucura Light prossiga).
Portanto, como se depreende, Pacovia está na crista da onda, tanto mais que os antigos pinhais são agora grandes colombos, verdadeiras hipercatedrais do pentaconsumo, essa forma de comprar cinco em um, descoberta recente e apenas implementada em Pacovia, tal como a VIA VERDE, essa criação genuinamente pacovia que até os Nokia finlandeses invejaram. E não fora a dívida pública os pacovios alegremente se piquenicariam a tempo inteiro nos pinhais ardidos à sombra das cinzas, como verdadeiros navegadores da banda larga, dobrando cabos de boas esperança em doses maciças e revelando a sua paixão pela ledura, essa nova forma de ler sem ler, de consumir já lido.
Será o primeiro país da EURINHEIRA a implementar próteses de leituras lidas nos estudantes, principalmente de português, essa língua que encanta os turistas e que é necessário reimplementar no ensino nacional como língua obrigatória. É verdade, o governo esqueceu-se do português, esse arcaísmo que já nem os brasileiros falam. Felizmente o turismo, desejoso de cor local, obrigou a que em sede de orçamento de estado, a verba do português fosse revista, turismo oblige!.


f.arom
Ali Farka Toure
The "Bluesman of Africa"
1939 - 2006
*
Oriundo do Mali, foi um dos nomes fundamentais da música africana moderna. Era um multi-instrumentista virtuoso e dedicava especial atenção aos blues. Trabalhou com vários músicos importantes. Ganhou dois Grammies, um com «Talking Timbuktu», um album de 1994 com Ry Cooder, e outro já este ano com «In the Heart of the Moon».

Da luta de classes na blogosfera

(A propósito das razões para uma ausência):

Estou longe deste blogue porque a isso fui obrigado: mudei-me para uma casa sem net, que não a terá nos próximos tempos. Pensando sobre este assunto, dei por mim a reflectir sobre a razão porque existem tantos blogues de direita, e tão desproporcionalmente em relação ao suporte que tem na sociedade. Vejam-se a quantidade de blogues "liberais", quando nem um partido "Liberal" existe por cá; ou quantos bloggers assinam com nomes "ilustres"; ou quantos blogues haverá no eixo Cascais-Porto.
A blogosfera é um novo media de caracteristicas únicas: a mais importante será ser horizontal, dispensando hierarquias que não as do mérito. Mas querer transformá-la numa utopia democrática é esquecer o carácter assimétrico que lhe subjaz: na possibilidade de acesso, no tempo que se dispõe, nas condições financeiras necessárias. Aqui, como no resto do mundo, querer ver todos como iguais é esquecer que nem todos dispõem das mesmas condições para a igualdade. Aqui, como no resto do mundo, regemo-nos por regras desiguais, em que nem todos tem as mesmas possibilidades de expressar a sua opinião. Querer esquecer isto, como fazem habitualmente os "liberais", é tapar ingenuamente o sol com a peneira, quando não pior: agir de má fé.
Revista K Setembro 1991
*
O poder só dá prazer ao princípio. Depois vicia. Com uma agravante: a partir de certa altura, não se consegue arranjar mais. Como se sabe, há um preconceito geral contra o poder ilimitado. Os maiores ditadores chegam a uma altura em que se sentem impotentes. É pena. Se o poder fosse como a heroína e se pudesse ir aumentando sempre com o mesmo efeito, ainda era capaz de experimentar. Assim, não.
Miguel Esteves Cardoso, in "Revista K"

Aconteceu a sete de Março

Po' Monkey's Lounge, Mississippi, 2000
Fotografia de Annie Leibovitz
*
Foi neste sexagésimo sexto dia do ano que morreu Luís Carlos Prestes (1990) e nasceu Maurice Ravel (1875), o compositor francês. Embora os separassem 115 anos, nenhum deles pareceu importar-se muito com isso. Prestes conheceu por certo a música de Ravel, quanto mais não seja quando visitava Jorge Amado que, na altura, devia estar a escrever o livro “Os Subterrâneos da Liberdade”: “Avô, mesmo que a gente morra, é melhor morrer de repetição na mão, brigando com o coronel, que morrer em cima da terra, debaixo de relho, sem reagir". Não acredito que Ravel tenha conhecido Prestes, mesmo como secretário-geral do Partido Comunista brasileiro, porque era mais dado a outras cantatas. Mas compôs tanto, tanto, que o seu Bolero ainda hoje toca nas rádios, principalmente em FM. Mas como estava a nascer ainda não se preocupava com os Classics Top Ten. Mas quem morreu neste dia sem conhecer a sua música foi São Tomás de Aquino (1274), se calhar castigado por ser do signo de Peixes. Mas deixou em testamento que neste dia, mas em 1957, a RTP iniciava as suas emissões regulares e que oito anos mais tarde, o telejornal noticiava que uma decisão do Concílio Vaticano II determinava que as missas passavam a ser celebradas nas línguas de cada país. Quem não ia muito à igreja era Jonas Savimbi, o dirigente da UNITA, que em 1993 ocupava a cidade do Huambo. Quem apanhou um desgosto com isso foi o cineasta Stanley Kubrick, o realizador da "Laranja Mecânica", que acabou por morrer em 1999. Mas teve uma alegria quando anos antes, em 1975, passaram a ser automáticas as comunicações via telex entre Portugal, Angola e Moçambique. Mas já não presenciou o chumbo do projecto de lei antiterrorista do Governo de Tony Blair, que foi rejeitado, em 2005, pela Câmara dos Lordes. Esta situação ainda se relacionava com Hans Blix, o chefe dos inspectores de armamento no Iraque, ao assegurar no seu relatório ao Conselho de Segurança da ONU, em 2003, que naquele país não havia provas de produção de armas de destruição maciça. Nem Londres nem Washington ligaram muito ao relatório, talvez porque estavam a comemorar a primeira conversa radiotelefónica transatlântica entre Nova Iorque e Londres, que ocorreu em 1926. Tudo isto se passou a 7 de Março, um dia em que a Lua se encaminha para a Fase Plena, ou seja, para a Lua Cheia, aquela noite onde tudo pode acontecer. Mas isso não é hoje, é só no dia 14. Calma.

É um político desempregado? Quer ser comentador de televisão?

Paulo Portas vai voltar ao comentário televisivo. Será esse o destino de todos os políticos falhados ou desempregados que, quando não sabem governar, vão opinar sobre a governação dos outros? Talvez seja esta a razão porque este reino da Dinamarca cheira tanto a podre. Não? Ao que parece, hoje na SIC, Portas vai também falar de cinema. Mas como fait divers. Porque Portas é um animal politico, não fifty/fifty uma vez que é mais animal que político. Portas diz que avança como comentador porque quer ser um contraponto à cultura de esquerda instalada em Portugal, porque o país real é menos à esquerda do que o país intelectual. Tá bem, ó melga.
Sobre o nome do programa, Clara de Sousa, a jornalista que o vai interpelar, diz: “Não é "estado de arte" mas "O estado da arte", uma tradução de "state of the art", que significa "conhecimentos actuais, últimos avanços". Muito profundo. A ver vamos.
Mas Portas pode não ficar por aqui. Já deve ter conhecimento do êxito de Vasco Pulido Valente na blogosfera, e tenho a impressão que, mais dia, menos dia, se atira para a cybéria com um blogue. Só resta saber com quem. Será com a Cinha, a Nuxa ou com a Nônô Vasconcelos de Abreu e Sá?

segunda-feira, 6 de março de 2006

Cavaco Silva em espanhol, a três dias da tomada de posse

-¿Cuáles son los retos que usted se ha marcado para su Presidencia?
-Portugal se ha visto envuelto en cuatro elecciones en los últimos dieciocho meses: Parlamento Europeo, Asamblea de la República, comicios municipales y elecciones presidenciales. Tiene ahora por delante la posibilidad de estar tres años y medio sin cualquier disputa electoral a nivel nacional, lo cual es una gran responsabilidad para que los políticos portugueses puedan hacer aquello que es necesario: tomar las medidas de fondo forzosas para vencer los desafíos que se presentan. En el campo económico, esas metas resultan de la globalización y de la ampliación de la Unión Europea al Este. Como presidente de la República pretendo crear las condiciones para preservar la estabilidad política, fundamental para que Portugal venza las dificultades, así como crear condiciones para alcanzar grandes consensos en las fuerzas políticas. Creo en las virtudes del diálogo para la acción, y tal como dije en la campaña electoral, estoy muy abierto a la cooperación estratégica con los otros órganos de soberanía, en particular con el Gobierno. Y siendo presidente, elegido directamente por el pueblo, voy a actuar de tal forma que pueda movilizar a los portugueses, aprovechar las energías nacionales, con el objetivo de vencer las dificultades en las que se encuentra el país.
Entrevista ao jornal espanhol ABC. 05.03.2006

Cavaco Silva, como vai ser? A visão de um cínico

A iminente chegada do dr. Cavaco a Belém, com pompa e circunstância, já começou a provocar remoinhos na política portuguesa.
O dr. Paulo Portas, sempre esse homem fatal, se não vai refazer "O Independente", vai, pelo menos, fazer um programa de opinião na SIC, para (adivinhem) afirmar a direita contra o "bloco central" PS- PSD, desta vez representado por Cavaco e Sócrates. (…)
Outro remoinho muito visível do advento de Cavaco é a crescente paixão de Sócrates por empresários. Cavaco disse constantemente na campanha que a primeira preocupação dele seria ajudar, promover e proteger essa criatura mítica "o empresário moderno português", que um dia nos tirará das garras da miséria. Sócrates não perdeu tempo. Toda a propaganda oficial, de resto eficiente, o tenta tornar o novo taumaturgo da economia. Não há dia em que caia do céu um novo milagre: um investimento, um projecto, um acto justiceiro contra a burocracia do Estado. (…)
Será curioso ver como Cavaco resiste à concorrência. Como será curioso ver se, do seu poleiro da SIC, Paulo Portas consegue impedir ou atenuar a unanimidade do "centrão", que por aí se prepara. Os remoinhos só agora começaram.
Vasco Pulido Valente, "Público" 05.03.2006

Cavaco Silva, como vai ser? A visão de um aficionado

Esta é a visão do jornalista/analista mais cavaquista, mais cabotino e mais sectário cá da praça sobre o seu grande ídolo: Aníbal Cavaco Silva. Chama-se Luís Delgado e é a face visível de um dos lobbies do sector dos media. O artigo de opinião vem hoje no DN. Aqui vão uns excertos, para precaver eventuais overdoses.

Salvo os imprevistos habituais, em dez anos de mandato - cinco mais cinco -, Cavaco Silva é uma personalidade fácil de ler, e compreender, pelos dez anos que passou como primeiro-ministro, os dez seguintes, em que se manteve quieto, mas não calado, e os próximos dez, como Presidente da República. Como vai ser Cavaco?
1. Linear. É a sua característica de personalidade e política mais vincada. Dele não se esperam surpresas, estados de alma, curvas sinusóides, depressões e maus momentos. (…)
2. Metódico. É a segunda característica da sua personalidade que mais sobressai, e só assim é que conseguiu traçar uma linha recta entre a chefia do Governo, a passagem pelo deserto e o regresso ao vértice político institucional português. (…)
3. Exigente. É a característica induzida pelo seu percurso de vida, particularmente na área académica, que lhe deu uma capacidade excepcional de exigência, profissionalismo e entendimento dos grandes problemas do país, da Europa e do mundo. (…)
4. Fechado. Pela equipa que escolheu para Belém, está confirmado o perfil de exigência e controlo que quer mostrar em Belém. (…)
Óscar 2006 para o melhor filme.

domingo, 5 de março de 2006

Noite de Óscares com um apresentador polémico

Este ano a apresentação da 78ª edição dos Óscares está a cargo de um senhor muito especial. É apresentador de um programa de humor político, que para muitos já é considerado um programa de culto. Trata-se de Jon Stewart. Para quem segue o "Daily Show" no cabo, sabe que é um dos melhores programas de sátira política e fake news de sempre. Jon e a sua equipa têm os republicanos como alvo muito especial, mas, no entanto, não deixam de ser temidos pelos políticos de todos os quadrantes. E têm um "carinho" muito especial pela Casa Branca e por W. Bush. Muito comentada e polémica foi a sua intervenção na CNN, no programa Crossfire, em que Jon Stewart carregou forte e feio nos apresentadores, numa altura em que decorria a campanha das últimas eleições presidenciais norte-americanas. Os críticos dos media dividiram-se. Uns consideraram a sua intervenção brilhante e outros uma palhaçada. O programa pode ser visto AQUI. Quantos aos Óscares 2006, são dificeis os prognósticos. Os meus preferidos são "Boa Noite e Boa Sorte", "Walk the Line", "Colisão" e "Munique".

A incontinência solidária de Sócrates

Foi mais um dos compromissos de José Sócrates, que ardilosamente agora quer cumprir, não o cumprindo. Lembram-se da promessa de subir até aos 300 euros mensais os apoios aos pensionistas, a que chama complemento solidário? Pois bem.
Numa altura que se anunciam medidas de desburocratização e o fim de muitos papéis que o Estado exigia;
numa altura em que pomposamente se anuncia que muitos campos das declarações de IRS ou IRC já vão estar preenchidos devido ao cruzamento de dados e que os contribuintes vão ter apenas de os confirmar;
Numa altura em que se criam empresas e marcas numa hora, eis que Sócrates decide cumprir a promessa do tal complemento soli(t)dário.
*
Mas primeiro, o facto de ter mais de 80 anos e ganhar menos de 300 euros são requisitos que podem não chegar. Por isso exige à partida que os idosos preencham sete documentos. Apenas sete. No debate parlamentar houve mesmo quem falasse em quatro requerimentos e dez documentos para se ter acesso ao tal complemento. Alguns desses documentos são para declararem os rendimentos dos filhos. Se estes tiverem rendimentos (não se sabe até quanto) já não têm direito ao tal complemento. Por este caminho, qualquer dia só também haverá subsídio de desemprego se os pais, cônjuges ou filhos não tiverem rendimentos! Com esta medida, Sócrates deve pensar que a maioria dos idosos carenciados vive por certo na Lapa ou na Quinta da Marinha. Só pode ser. E ao condicionar a ajuda ao rendimento dos filhos, exige provas. Mas não é o Estado que tem essas provas? Todos os filhos dos tais idosos pagam por certo impostos e têm declarações de rendimentos no sistema das Finanças. Afinal o show off da desburocratização é mesmo só isso? E já agora se os filhos tiverem rendimentos e não quiserem ajudar? E se os idosos não quiserem ser ajudados por razões que se prendem muitas vezes por questões pessoais? Aí já não há direito à solidariedade? Para Sócrates não. E justifica dizendo querer envolver a família nos problemas dos idosos. Está-se mesmo a ver que aqueles que nunca os apoiaram, é agora que o vão fazer. Além do mais está-se a imaginar idosos de mais de 80 anos, vivendo muitos deles isolados em regiões do interior, com mobilidade e desenvoltura para agarrarem nos sete impressos, e irem desembaraçados e frescos numa bela manhã, tratar da papelada às repartições de Finanças e juntas de freguesia. E começar o calvário dos requerimentos…
*
O que Sócrates pretende com a medida é torná-la o mais inacessível possível para que os idosos se sintam desmotivados e não adiram. Ao levar à prática tudo aquilo que diz combater, Sócrates quer afinal cumprir uma promessa, não a cumprindo. Isso é demagogia barata, utilizando de forma inqualificável a franja mais indefesa do tecido social português.
A 5 de Março de 1922 estreava-se o filme de F. W. Murnau "Nosferatu", um marco da história do cinema e do expressionismo alemão. Filmado na Checoslováquia, em 1921, foi o resultado de uma adaptação livre do romance de Bram Stoker, “Drácula”.

sexta-feira, 3 de março de 2006

Só para falar em aves raras

O governo aprovou ontem, em Conselho de Ministros, o regime de taxas da Entidade Reguladora da Comunicação Social. E eu a pensar que a entidade se chamava PJ e que já estávamos a pagar para essa freguesia. Afinal eles não foram ao 24 Horas para regular? Então foram fazer o quê? E se a PJ não é a entidade reguladora porque é que a verdadeira entidade reguladora não diz nada? Porque ainda não tinha um regime de taxas? Mas anda tudo com a gripe das aves, ou será só o Ministério Público?
Cartoon de Rui Pimentel, in "Visão"

Aves somos todos nós

As aves estão na ordem do dia. Para o bem e para o mal. Estão a alterar vidas e relações humanas de forma mais profunda do que se pensa. Já imaginou estar a discutir com uma mulher e dizer: "és mesmo uma mãe-galinha", ou pior: "vocês são todas umas galinhas!" Pode subentender que está a ser acusada de estar infectada com o vírus H5. E pior. Ficará na dúvida: "será que ele está a insinuar que eu tenho o H5N1"? Aí as coisas podem dar para o torto. É aborrecido e discriminatório, até porque há homens que são piores que elas. Já não é correcto dizer: "és mesmo uma ave rara". Implica que pode ser migratória e ser portadora do vírus. As relações sexuais também estão em perigo, até porque o H5N1 transmite-se, como todos, através de contactos "estreitos". Só nos faltava mais esta, já não nos chegava a SIDA. Portanto, se alguém se atrever a perguntar: “ó querida, vamos procriar”? Não se admire que ela responda: “não, vê-se mesmo que és uma ave de rapina. Podes estar infectado”. Como se vê, os homens também já não podem cantar de galo. Que mais nos irá acontecer…

Será o liberalismo uma masturbação ideológica?

A discussão sobre o liberalismo e as suas variantes estão a tornar-se num nicho de debate obsessivo na blogosfera. Num artigo de opinião sobre o Estado Social, publicado no Diário Económico, João Cardoso Rosas desmonta os argumentos de muitos arrivistas liberais. O analista considera que, devido á sua origem, o Estado social é de esquerda e direita, social-democrata e socialista, liberal e conservador. E apresenta quatro argumentos contra os defensores do fim do Estado.
*
O primeiro problema da tese referida é a sua falta de base histórica. O Estado social não é uma construção da esquerda. É consensual considerar-se que ele começou a ser criado através da introdução da segurança social pelo governo conservador e autoritário de Bismarck, na Prússia. No Reino Unido, o Estado social foi introduzido pelos governos liberais de Asquith e Lloyd George, a partir das ideias de Beveridge e Keynes. (…) Em Portugal, o Estado social começou a emergir no tempo do marcelismo, com a evolução da despesa em educação, saúde, assistência e segurança social. Mas foi apenas depois do 25 de Abril de 1974 que este Estado, ainda débil, se desenvolveu. Não podemos dizer que foi a esquerda a fazê-lo. O recente Estado social português foi sendo construído tanto por governos da esquerda como da direita. (…)
*
O segundo problema é a ideia de que o Estado social conduz ao empobrecimento da sociedade. Como se pode concluir de alguns dos exemplos de Estado social referidos, muitos dos países com um Estado social bem alicerçado são também dos mais ricos do mundo. O caso dos países nórdicos é exemplar, com a conciliação entre uma alta protecção social e os maiores índices de bem-estar económico e desenvolvimento humano. Mas a receita não vale apenas para os mais ricos. O prémio Nobel da Economia Amartya Sen tem demonstrado que uma despesa social criteriosa pode alavancar o próprio desenvolvimento dos países mais pobres.
*
O terceiro problema é a sua falta de apelo moral. Nos idos de 1974, o filósofo americano Robert Nozick tentou conferir apelo moral à ideia libertária de oposição ao Estado social apresentando-a como uma Utopia – um conceito que, até aí, parecia ser monopólio da esquerda socialista. Mas, para a maior parte das pessoas, essa utopia não é muito convincente. Ela corresponde a uma sociedade de risco máximo, no qual o dinheiro tudo compra, com excepção das liberdades básicas. (…)
*
O quarto problema é o seu desfasamento em relação aos partidos e ao eleitorado da direita. A base sociológica da direita em Portugal e na Europa é favorável à manutenção e ao aprofundamento do Estado social. O discurso da direita liberal ou libertária quase nunca vingou na Europa, com a notável excepção dos tempos de Margaret Tatcher. Mas tratou-se mesmo de uma excepção, contrária à tradição do Partido Conservador e também ao seu presente. (…) Entre o eleitorado de direita em Portugal, porventura ainda mais do que à esquerda, não cabe na cabeça de ninguém deixar de ter uma reforma garantida pelo Estado – por pequena que seja –, deixar de poder recorrer ao centro de saúde ou à urgência do hospital, não ter comparticipação nos medicamentos, etc. (…)

quinta-feira, 2 de março de 2006

Para um amigo... Armando (-me) em bluesman...

1.
Dia cinzento,
dia de ficar de pijama e olhar nuvens negras.
Hoje amanheci com uma tristeza.

Há manhãs chuvosas que nos deprimem,
e nem mesmo uma promessa de sol a meio da tarde nos faz sair deste limbo friorento.

Fico-me a olhar as trémulas árvores da rua: friorentas e quase nuas.
Penso que talvez seja uma delas, de braços descarnados a olhar para o céu cinzento.
Num arrepio, saio da janela e olho para a cama desfeita.

Dali saí há umas horas e ali hei-de voltar,
emaranhado num sonho de contornos cinza.
Uma certeza me ocorre: levantei-me com a tristeza.

Um dia feito de vaguear o meu olhar triste
por um sítio triste, vazio

2.
Talvez seja apenas uma árvore que olha as outras árvores, suas irmãs,
desta janela onde me plantei.

3.
Sentir a dança das nuvens: ora se esfregam no Sol, ora lhe fogem.
Farrapos fofos vestidos de branco, a dançar,
as nuvens desafiam o Sol,
dançam diante dele ou em seu redor.
Por vezes fogem e outras vezes voltam.

- desfazendo-se em lágrimas...

4.
Escrevo poemas cheios de ‘blues’
Misturo neles fado
E cantochão.
Batuques africanos
E o choro que vem de além-Atlântico.

Há mulheres de olhos bonitos
que nos deixam assim:
árvores despidas a estender aos céus uns braços descarnados
que prometem flores.


5.
Às vezes penso nos amores que poderia ter,
as vertiginosas paixões a que me entregaria.

Fosse eu árvore perene
e não esta nudez a que me entrego
a cada Outono que chega...

A pingar folhas – lágrimas,
tiritando sob as geadas da timidez.

6.

Longo solo de uma harmónica que soa triste.

A sala é ampla e está cheia de vozes.
Ruídos de copos e garrafas no balcão fluorescente do bar.
Casais que passam...

A harmónica espreme-se num choro longo.

O sorriso lindo daquela mulher na mesa da frente.
Os ombros que se desnudam numa promessa de seios fartos.

Numa nuvem azul, carregada de uma tempestade cósmica,
rompe a noite que me cerca.

Harmónica que pranteia solitária num palco árido.


7.
Agora te reencontro,
paixão desta distante adolescência.

Mares atravessados, desertos de solidão, noites em claro.

Por onde andámos?
Quando nos perdemos?...

Paixão primeira.

Desajeitado amor.

Reencontram-se os que se amaram
os que revolveram e reviraram terra e mares.

8.

Campos de algodão com mãos negras na madrugada.
Uma voz roufenha ecoa ao nascer do dia triste.
Os olhos encaram com os flocos brancos e sujos
o orvalho queima
somos mais de cem
numa colheita cativa.

Amanhã havemos de correr pelos campos
ao som claro e límpido da harmónica libertadora.
Ao sol iluminado e limpo do nosso cântico livre.

Pelos campos havemos de nos espraiar
com os olhos nos corpos das amadas.

E a harmónica há-de ecoar nestes campos de algodão
anunciando madrugadas de amor satisfeito.









Fernando Rebelo - Jan. - Mar. /06

quarta-feira, 1 de março de 2006


Foto de José Carlos Mexia

Choque de culturas

Eu descalçara os sapatos e metera os pés em água correndo, no meio da ilha de chanatos escuto, já vertical, os silêncios que as paredes da mesquita falam, lavradas de brancos acamados, o ronronar da água cessando. Contradiz o bulício que escapa do mercado a alguns passos, lá trafica-se a dólares em nuvem de cominhos, aqui fala-se entre bordados de estuque com a alma de Deus, naquela sua invisibilidade que só um silêncio acumulado de séculos corporiza, cada um dentro de si a guardá-lo, sem trela, apenas um olhar interior e todos ao mesmo tempo no gesto idêntico.
A proximidade do mercado parece desconexar o real dentro de mim.
Estou descalço e os meus pés ateus calam o que me ocorre, a regra fala em mim, a miopia bem treinada ajuda o ar concentrado : como é possível aquela paixão do preço, aquela compulsão de negociar que faz gritar, falar num tom de décibeis irrespeitosos e agora aqui, veto de falar, mudez de boca prisioneira de lábios cerrados, as mentiras para dentro como que empurradas a colher de pau, a boca arrependida de tanto tráfico???, tanta palavra cega, na antevisão de um dólar? Qual fé? Dólar e Deus, estranha parelha.

f.arom