sábado, 23 de setembro de 2006

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

2º mail de um amigo recém-chegado a estas lides:

Armando,

Desculpa este tempo de resposta. Pelos vistos os teus mails estavam perdidos nos botões do Outlook. A minha inexperiência no clicar não permitiu que os lesse mais cedo. Só agora é que estou a aprender a função de muitas destas teclas, porque, para mim, até meter a Internet, o computador era apenas uma máquina de escrever. Precisarei de algum tempo para funcionar com isto de forma aceitável.

Estás à vontade para colocar o meu mail no blog. Quanto a enviar desenhos e textos terás que me dar umas semanas para me familiarizar com esta bela invenção do U.S. Army aperfeiçoada pelo Bill Gates. Eu também abri um blog – pratinhodecouratos.blogspot.com – onde espero servir este tradicional manjar português enriquecido com Fado, Futebol e Fátima. E a novel realidade revelada pelo processo Casa Pia. Tudo bem misturado numa consistente refeição de alto valor calórico, com fazia a avó Castello Branco ou Eça de Queiroz. Se perguntares a um português o que é que ele sabe fazer, a resposta será impreterivelmente: “comer e beber”. Por isso, quero dar-lhes um osso para roer. A bebida pode ser Coca-Cola. (De facto, somos todos americanos, como escrevia o “Le Monde”, no dia seguinte ao desabar das torres).

Qual é a tua opinião sobre o “Doze Cadelas e nada mais”? Não sei se é perceptível, mas estou a tentar escrever as obras do/para o futuro. Em que se acentua um bombardeamento de informação ao leitor, sem perder tempo na caracterização de personagens, ou situações, ou sequer coerência lógica. Apesar de eu vagamente contar uma história, essa não é a prioridade principal. Pretendo retratar um mundo que se tornou absurdo. E, as pessoas, por incapacidade do cérebro assimilar toda a informação circundante perderam a essência e adquiriram uma opinião. Para se ter uma ideia deste fenómeno basta ouvir as diatribes dos comentadores contratados pela “televisão para a qual nós pagamos taxa” – Vitorino e Marcelo. Debitam pontos de vista baseados na ignorância, pois os seus cérebros são incapazes de abarcar toda a informação disponível sobre o assunto que doutamente versam, e vai daí dizem umas asneiras, que o coro grego marca com sendo pérolas de sapiência. Resumindo, ficámos estúpidos!

Maturino Galvão

Encontros D'Évora - 1976 (4)

 
Foto de José Pinto Sá Posted by Picasa

Aurora

A poesia não é voz - é uma inflexão.

Dizer, diz tudo a prosa. No verso

nada se acrescenta a nada, somente

um jeito impalpável dá figura

ao sonho de cada um, expectativa

das formas por achar. No verso nasce

à palavra uma verdade que não acha

entre os escombros da prosa o seu caminho.

E aos homens um sentido que não há

nos gestos nem nas coisas:

voo sem pássaro dentro.

Adolfo Casais Monteiro

Escaravelho


Sissine Rocha

« Dans l'Égypte ancienne, le scarabé était considéré comme un dieu, le dieu de l'Amour, de la Vie et de la Création.
Si une personne t'offre un bijou monté ou représentant un scarabé, c'est qu'elle t'aime et désire te protéger ... que ce soit un membre de ta famille ou un ami, car l'amour signifie aussi amitié ...»

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Poutine anda a dar cabo da economia russa

O Le Monde classifica a estratégia do patrão do Kremlin de " inquietante". E acusa a equipa presidencial composta por antigos colegas da KGB de ter elaborado uma nova economia nacionalizada sem racionalidade


O artigo de Valerie Malingre no Le Monde alerta para a política de depradação levada a cabo pelo consulado de Poutine e dos seus muchacos. E vê nisso mais um sinal das grandes manobras em execução dentro da fortaleza do Kremlin para tentar perpetuar o actual inquilino ad eternum. A economia está quase toda " kreminalizada ", passe a expressão de um cínico rigor alucinante.

Poutine directa ou indirectamente nomeou os patrões das maiores empresas russas, com as petrolíferas e gasíferas à cabeça. Entraram no Kremlin e foram-se depois sentar em cima
de milhares de milhões de dólares sem qualquer espécie de controlo. É obra. Poutine pode estar interessado em corromper ainda mais, dentro e fora da Rússia. Será que vai entrar na Internacional Socialista? Esperemos...O que ele quer entrar é no capital da EADS, a construtora europeia de aviões e parceira do gigante Airbus. Tudo para " amaciar " uma mais que provável alteração presidencial na duração dos mandatos.

O pior é que a Gazprom, o gigante mundial do gás, está a patinar na produção. Com as actuais jazidas em vias de exaustão. Descobriram outra no Mar do Norte, os furos de Iamal. Só que precisam, nada mais nada menos do que 65 biliões de dólares para a colocar a produzir. Aliàs, segundo a articulista, os " pouinekos " não investem em infra-estruturas. Só se diverdem em operações de capitalizaçào bancária, um pouco à roda do Mundo...

O cruzamento internacional dos investimentos e parcerias russas opera ainda só na Europa Central. Sexta-feira, 22 do corrente, o presidente russo vai a Paris encontrar-se com Chirac. O Irão, o petróleo e os investimentos bilaterais vão estar na ordem do dia.

FAR

Artigo do Le Monde aqui
 
Foto de José Carlos Mexia

Da série Vale do Grou: Inauguração da luz eléctrica. 1982 Posted by Picasa

Rima das palavras

Pensamento momento
mente fervente.
Destreza beleza
clamor Amor.

Trago pago
pão aldrabão.
Besunto presunto.

Prato farto
barriga amiga.
Naco parco
mente demente.

Ora fora
carneirada viciada.
Rixa rija.

Esperto aperto
gente valente.
Crio desvario.

João Autor

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

terça-feira, 19 de setembro de 2006

Da Capital do Império

Olá,
Weehawken. Hoboken. Mahwah. Hohokus. Poughkeepsie. Kayaderosseras.
São tudo nomes índios que eu anotei no meu livrinho de notas durante uma recente viagem a caminho do Canadá pela costa leste dos Estados Unidos.
Índios por estas bandas há agora muito poucos mas ao contrário do que acontece noutras partes do mundo aqui grupos étnicos nunca desaparecem. São transformados em helicópteros ou carros.
Assim temos os helicópteros Kiowa, Apache, Chinook e Cheyenne, tudo ao serviço das forças armadas americanas.
Os fabricantes de carros também gostam dos índios. Temos o Jeep Cherokee, o jeep Comanche. Há também veículos com nomes de chefes índios como por exemplo Pontiac ou o Sequoia. O que me leva a concluir que se o Ruanda fosse um estado americano hoje haveria de certeza um Helicóptero Hutu ou pelo menos um Jeep Kigali.
Há que dizer contudo que não são só os fabricantes de helicópteros e carros que gostam de nomes índios. Uma amiga disse-me que algures no estado de Nova Iorque deparou com um Motel Apache. Na recepção havia um pele vermelha, só que o seu nome não era “Grande Chefe que Dá Abrigo aos Caras Pálidas” mas sim … Patel. De onde eu venho os Pateles eram todos donos de lojas de fruta ou outro comércio mas não sei lá porque razão aqui nos States os imigrantes vindos da Índia gostam de comprar motéis e estações de gasolina e este Patel gostou do Motel Apache.
Antes de continuar quero-vos explicar de onde vem o nome Apache. É uma palavra da língua Zuni (outra tribo índia) que significa “inimigo”. Aqui, tal como em outras partes do mundo, a brancalhada fez uma confusão total com as línguas e nomes e quando perguntaram aos Zuni “quem vive ali” os Zuni responderam … “Apache”. E tinham razão como a história o provou!!!
Isto para já não falar dos Cherokees o nome menos amoroso dado pelos Choctaw a essa tribo. Cherokee significa “Pessoa que vive nas cavernas” ou seja …. troglodita. Não foi uma boa apresentação mas a malta não compreendeu!
A brancalhada fez também confusão com os Mohawk ( mohicanos) palavra que significa “canibal” na língua dos Adirondack., a tribo que habitava a região do estado de Nova Iorque e que detestavam os Mohawk. (Não sei o que aconteceu aos Adirondack mas quando fui a Nova Iorque não vi nenhum. O mistério intensifica-se pois não há também nenhum carro ou helicóptero Adirondack e também não constam das estatítiscas actuais. Há uma cadeia de montanhas com esse nome o que demonstra que na extinção tal como na vida não somos todos iguais. Nem todos os índios podem ser carros ou helicópteros. Alguns só servem para nome de montanhas.)
Mas enfim. Isso são três exemplos das relações amorosas que existiam entre as tribos dos selvagens inocentes que viviam em comunhão total com a natureza antes da chegadas das hordas assassinas da brancalhada que vieram causar o aquecimento global.
Agora as tribos índias lutam entre si em tribunais não por búfalos mas para estabelecerem casinos nas suas reservas. Como são “nações soberanas” o governo federal não pode impedir a construção de casinos e não lhes pode cobrar impostos. Os Seminoles descobriram isso em 1979 e em 1988 isso foi confirmado pelo Congresso. Algumas dessas tribos fazem hoje mais massa no jogo do que quando caçavam búfalos na pradaria e tal como nessa época não gostam da concorrência.
As tribos índias são pequenas (os Kiowa nao chegam a 10.000, os Cheyenes pouco mais de 11.500) os Apaches (cerca de 50.000) pelo que ser-se índio hoje pode ser a garantia de um cheque anual chorudo proveniente do casino. Pelo que há agora protestos que a palavra “índio” está a ser manipulada para criar novas tribos que depois formam “federações” com outras tribos minúsculas. Isto leva a que haja um interesse desmedido de pessoas que testam o seu ADN para provar que têm sangue índio e têm assim direito a uma fatia dos rendimentos de 22 mil e 700 milhões de dólares anuais dessa indústria de jogo nas reservas índias. Até já há uma “Associação Nacional do Jogo Índio” que representa “184 nações índias” muito mais do que as reconhecidas pelo governo federal espalhadas por 557 reservas 33% das quais tem casinos.
O que me leva a falar-vos do Museu Nacional do Índio Americano que abriu há dois anos atrás, ali perto do Congresso, a um quarteirão de distância dos dois excelentes (e à borla) museus de arte que existem aqui na Capital do Império.
Não que o museu tenha um casino. Mas eu, como muitos de vocês, cresci enamorado com nomes como Navajo, Nevada, Dakota (outro erro da brancalhada que confundiu Lakota com Dakota e daí o nome), Buffalo Bill, Kit Karson, Touro Sentado, Cavalo Louco e outros e portanto gostaria de ter visto um museu com história, com perspectiva de história.
Vi logo à entrada do bonito edifício que com a sua cúpula em círculo me fez lembrar o Museu Gaugenheim em Nova Iorque que não seria esse o caso. Uma canoa dos “natives” do Hawai (aparentemente também são classificados índios mas não sei se isso é para terem direito a casino) tinha a seguinte legenda: “He wa’a Hawaii, no na mak ahiki he kini a len i hala”. Isto obviamente para fazer os “natives” do Hawai sentirem-se orgulhosos da sua língua que ninguém percebe. Uma turista de língua espanhola olhou para a legenda e perguntou ao companheiro: “Eso es ingles?”
(Para compreender a legenda tem que se ir atrás da legenda para ler a versão em inglês. Bem feito! Agora jà sei como é que os “natives” se sentiam quando a gente lhes falava em língua opressora.)
Prova inicial de que este museu cai na nova moda da vitimologia que aflige o mundo, caindo na tentação de criar moralidade de todas as exibições, de transformar as exibições e museus em agências de terapia colectiva ou no mínimo numa sessão de terapia, transformando a dor da história em banalidade da psicologia pop.
As diversas tribos são apresentadas com lemas como “honrar o passado, preservar o futuro” (no local reservado à tribo Mashantucket Pequot); outra tribo tinha o lema “honestidade, amor coragem”; outra o lema “verdade, humildade e respeito”. Comecei a recear que quando começassem a referir-se à brancalhada isso fosse feito com o lema “Deus, Pátria e Família” mas para meu alívio isso não aconteceu. Aprendi contudo que durante “150 anos os barcos europeus trouxeram micróbios que devastaram as populações índias” e que “talvez 20 milhões de índios morreram como resultado directo do contacto”. Xissa! A brancalhada só faz merda cum caraças! Há no entanto que dizer que para não fazer a brancalhada sentir-se mal de todo o museu afirma que esta “tragédia… não foi intencional e (foi mesmo) inevitável”. Uf que alívio porque eu estava quase a cometer suicídio tal era o sentimento de culpa que sentia.
Sei que vocês que leram os livros do Kit Karson e viram o Audy Murphy nos filmes do Oeste querem saber se no museu se explica como é que os Sioux (o seu verdadeiro nome é Lakota; Sioux significa cascável o nome dado aos Lakota pelos Huron) escalpavam os seus inimigos ou como é que metiam paus aguçados pelos ouvidos dos traidores, ou formigas nos olhos regados com mel mas isso aparentemente só nos livros e filmes de coboiadas. Os Cascáveis eram todos gente boa e nobre como se sabe pelo Touro Sentado..
O que me recorda uma viagem que fiz há uns dois anos atrás pela reserva dos Navajos que tem 70.000 Quilómetros quadrados e estende-se pelo Arizona, Utah e Novo México. É uma paisagem de deserto encarnado com montanhas rochosas de uma beleza diferente e rara que não se deve perder. É pobre. Vêm-se pequenos ajuntamentos de algumas tendas índias misturadas com caravanas velhas e carros a cair de podre.
Na auto-estrada 40 numa enorme extensão de distâncias e horizontes sem fim a certa altura vi um sinal à beira da estrada com letras pintadas a branco em que se dizia: “Índios bons à sua frente”. (Good Indians ahead) Umas centenas de metros à frente uma pequena loja. Continuei. Umas centenas de metros mais frente um outro sinal. “ Ops. Já nos passou” (Oops. You missed us”). Tive que voltar atrás ! E lá falei com o Navajo e sua mulher com nomes que não me recordo mas que eram nomes anglófonos como Tom e Liza e que tem um bom negócio a vender artesanato índio a turistas vindos de toda a parte do mundo. Perguntei-lhe o porquê do sinal “Índios bons à sua frente”.
E ele respondeu-me: “é para os brancos não terem medo. Há muitos brancos que ainda pensam que a gente os vai escalpar”
Um Navajo com humor. Gostei dele.
Antes de me despedir um conselho. Não tirem fotografias a Navajos mesmo que sejam miúdos. Não gostam porque “não são animais de circo” e eu tive a sensação que se fosse noutra altura teria sido escalpado quando apontei uma câmara a uma miúda Navajo com uma cara de uma beleza rara, cabelos negros caídos sobre os ombros e uns olhos enormes escuros como o carvão.

Um abraço,

Da capital do império

Jota Esse Erre

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

Encontros D'Évora - 1976 (3)

 
A máquina era da Rita Benz Posted by Picasa

Iniciativas "2+2=5"


Este vosso blogue leva a cabo, a partir do primeiro de Outubro, mais uma edição da ‘Universidade de Outono’. Uma designação algo pomposa para uma iniciativa pouco original. Assim como que a Universidade de Verão do PSD, mas sem laranjada.
A comunicação principal, a cargo de Gomes da Silva, versa o White Man Burden nas sociedades africanas pós-coloniais de língua portuguesa. Como subtemas destacaríamos “O ‘chapa’ nas visões do Inferno”, “A monetarização do lobolo” e, questão securitária muito actual, “Prisão pública, cárcere privado”.
A agenda, que está sendo finalizada serenamente e com celeridade, inclui diversos aspectos das liberdades. Embrulhados nos formatos mais acessíveis - “Justificação da Europa a Duas Velocidades: o Muro de Berlim Erguia-se Exactamente a 1,80 de Altura”; razão porque a maioria só descobriu a liberdade em 1989, sobejando, pois, os casos de nanismo irreversível e de estrabismo muito agravado - e nas formas mais ensandecidas.
Entre estas últimas chamamos a atenção para o segmento sobre a Teoria do Estado, em particular do estado de excepção, que é dizer da ditadura do proletariado como fase transicional do percurso que termina na sociedade sem Estado. Já estão vários oradores inscritos.
O tema que provavelmente vai agitar as hostes prende-se com a natureza do fenómeno ‘viggi’. Contrariamente às teses apócrifas e/ou mal intencionadas, o ‘viggismo’, pesem embora os seus aspectos de grupo fechado e vitalício, não é um bastardo do vigilantismo nem um epifenómeno da vadiagem. Antes foi, por um lado, um serviço de pronto-socorro na garantia das liberdades civis, sem as quais, arranhem-se jus naturalistas, não há direitos humanos, e, por outro, uma brigada de ‘first responders’, acorrendo às vítimas de acidentes de viação, do banditismo, da pequena ignorância e do grande cio.
Nos terrenos da abstracção, chamamos a atenção dos interessados para o último relatório do DEA sobre os perfis do consumo de drogas leves. Este tem diminuído significativamente, à excepção da faixa dos 50-59 anos. Curioso.
Finalmente, para que termine em concórdia e alegria esta nova edição da Universidade de Outono do “2+2=5”, será feita a antecipação do livro que abusivamente a revista “Time” garante Christopher Hitchens, ex-comuna de Oxford, ora na Vanity Fair, vai publicar na década do atentado contra as torres do WTC: “BUSH: A STUDY in GREATNESS”.

Nota: As sessões terão lugar no British Bar, de acordo com uma agenda errática. Já aconteceu que um tema vai agendado para o primeiro dia, não se cumpre, é transferido para o final do evento, e ninguém aparece. Não raro, os palestrantes esquecem-se do respectivo assunto, substituem ou declinam, de todo. Por outro lado, o espaço disponível é muito limitado. Mas não esmoreçam. Se não conseguirem assento, que é o mais natural, aglomerem-se no exterior do British, pois, está sempre alguém a levantar-se e ir até à rua. Podem aproveitar e perguntar o que se passa lá dentro.

JSP


Foto tirada do "Oficina das Ideias" a quem agradecemos. Aproveitamos para recomendar, no mesmo blogue, a leitura deste texto sobre o British Bar

Pisa-papéis


Sissine Rocha

"L'idée est que des objets simples et usuels, s’ ils sont beaux, apportent au quotidien richesse et plaisir, voire une certaine spiritualité... On trouve peut-être là une des leçons les plus importantes et les plus facilement applicables de l'art de vivre japonais!" Philosophie Raku

A reentrée (2)

Gente
essencialmente vulgar
triviais passos perdidos.

Gente
que fala aos gritos
que tresanda.

Gente que se atropela e acotovela.
São os cadernos e os lápis.
As canetas e os compassos.

Finalmente os gajos vão para a escola já não os podia aturar...
tempos livres... a consola... manhãs na praia...
três meses ou mais que isso...

A propósito, aquela rapariga austríaca foi raptada durante quase 8 anos (entre os 10 e os 18...) não se pode considerar um percurso escolar alternativo?... Quer dizer: ela sabe falar, lê, escreve e não fuma, não bebe, nem se droga. Pais de todos os países: começai a sondar o vizinho mais sorumbático nas vossas redondezas!

domingo, 17 de setembro de 2006

 
Foto de José Carlos Mexia

Da série Vale do Grou: Inauguração da luz eléctrica. 1982 Posted by Picasa

Mail de um amigo recém-chegado a estas lides:

Armando,

Após uma epopeica aventura na instalação da Internet, – em Portugal tudo é epopeia. Outrora marítima na rota da Índia, hoje terrestre no comboio para Espanha –, aqui estou eu provando as delícias e-mailísticas como qualquer português moderno. Como um Baudelaire num paraíso artificial, consumo megas e gigas numa inebriante viagem pela informação, apimentada pelos sites brasucas de mulher pelada. Como um Galileu extasio perante a maquineta. Como um Freud associo sem levantar o rabo da cadeira. Como um Umberto Eco encontro o pêndulo de Bill Gates. Agora, já não me admira a fascinação dos nossos esperançados dirigentes pelas novas tecnologias, e este empurrar de velhos e novos para o teclado, na busca do Graal da evolução e do progresso. Pode ser que com os cliques, os portugas cheguem onde não chegaram com as caravelas. E eu espero que esta mensagem chegue ao teu computador.

Maturino Galvão

O "milagre finlandês"

Em entrevista à Noticias Magazine de hoje, o ministro finlandês da Educação, Antti Kalliomaki, vem explicar de forma muito simples as bases do "milagre educacional finlandês", que transformou em 30 anos um país relativamente atrasado num modelo de inovação, progresso e dinamismo. Ao contrário do que afirmam os ultraliberais, não parece ter a ver com privatização da educação ou cheques-ensino, mas com outras coisas muito simples:

Antti Kalliomaki: "No meu país todos tem direito a uma educação básica gratuita, que inclui o equipamento necessário e os livros escolares, transporte, serviços de saúde e refeições. (...) Não há propinas no ensino secundário, nos politécnicos e nas universidades. (...) O Ministério financia ainda as actividades extra-curriculares dos alunos do ensino básico e o transporte escolar na pré-primária. A educação é essencialmente financiada pelo governo e pelas autoridades locais."

Noutros pontos da entrevista, compreensivelmente demasiado extensa para ser aqui convenientemente transcrita, Kalliomaki indica os restantes pontos-chave do modelo educacional finalndês: a responsabilidade pela gestão das escolas é das autoridades locais, no entanto o programa e os objectivos educacionais são centralizados e definidos pelo Ministério; a autoridade máxima é um reitor, que é necessáriamente um professor; aposta-se cada vez mais no ensino profissionalizante, que absorve já 38,5 por cento do total de estudantes do secundário. É espantoso verificar como estas linhas se afastam inexoravelmente de modelos tidos e apresentados como "únicos" ou "inevitáveis" pelos ultraliberais de serviço. Aqui, o estado responsabiliza-se pela Educação, e assegura a sua gratuitidade, unica forma de promover a igualdade e evitar o desperdício de cérebros por questões sociais. Como diz a entrevistadora, ao que Kalliomaki concorda absolutamente, "vale a pena investir dinheiro na Educação porque esta dará retorno".

Paris, Texas - Wenders


Iracelma

Quase no fim do jantar 'zappei' na RTP África.
A miss nº 16 soou-me a cara conhecida. Fiquei para ver.
O programa era mau, muito mau, o câmara-man falhava planos atrás de planos, a realização era péssima. Percebi que se tratava de uma gala para eleger uma miss Angola-Portugal com duas-apresentadoras-duas, cada uma mais parva que a outra.
Para não parecer que aquilo era do género peças de carne na montra do talho arranjaram um esquema futebolístico: quartos-de-final; meias-finais e final (com lágrimas incluídas...).
A Iracelma, que foi minha aluna, resolveu levar à prova de talentos um texto seu. Leu mal, fez má-figura e, sobretudo, não percebeu que se encontrava numa montra, em exposição.
Fiquei chateado, claro.

Voltei

Estou de volta.
Agradado demais com o soberbo conto da Gabriela...
Espero estar à altura.

Fernando Rebelo

sábado, 16 de setembro de 2006

Oriana Fallaci (1929-2006)

Mambo 1

Recolho-me numa exigência de concha antiga para melhor perceber que houve um tempo em que tudo estava no lugar certo, no íntimo do homem e ao seu redor.. Malbaratada a existência numa perseguição à vida na sua imagem, as pernas ágeis da realidade confundem-se com a fantasia que enfarta, que acabrunha a própria inteligência, porque descascada da sensibilidade. Mas há edifícios belos a meio da indigestão!! Imaginem que isso superou o suor dos escravos, na construção das pirâmides. O que ficou na história foi a pedra aplaudida na sua serena firmeza, não os dorsos cantantes na ladainha das horas.. Assim, quando passo entre a exuberância técnica da cidade mal amada cheiro como que desesperos alheios esmagados pelo peso das aparências.
Não se pode continuar a achar parte integrante do quotidiano, aquilo que despedaça o ser humano, embora o caminho do indivíduo seja feito de luas e retornos ao nada. Existem paragens no deserto, é certo, mas ainda assim é pulsável a sensação de continuidade da linha que somos. Afasto-me do fumo dos escapes ansiando a clorofila num espasmo de alegria. Estou louca!!

(mambo-assunto)


Gabriela Ludovice

Metro (2)

 
Foto de José Salvado Posted by Picasa

Pax Sínica

Quem demandar o Xinjiang, a região/província autónoma dos muçulmanos na República Popular da China, mesmo que apenas sugestionado pela antropologia popular lusitana, uma receita de ignorância transversal e ‘diacrónica’, segundo a qual “lá, as chinesas têm olhos azuis”, constatará que está mudado, muito mudado, o ‘velho’ Turquestão Oriental. Ao abrigo do movimento de compensação dos desequilíbrios entre as províncias litorais e o interior, designado por, em tradução livre, “Go West”, a capital muçulmana, Urumqi, é hoje uma cidade ‘han’. Ou seja, grosso contado, 80 por cento dos residentes são de etnia chinesa, 20 por cento são urgires.
Por onde andam os ‘locais’? Por aí, pela vastidão e pela imperecível Kashgar da Rota da Seda (a mesma percentagem, no inverso). Note-se, todavia, que os crentes do Islão na China não estão acantonados no Xinjiang, pois, encontramo-los residualmente em outras áreas, como em Xian. Mostrado o ‘postal’, vamos ao que interessa.
Numa primeira fase, Pequim limitou os custos da integração desta região na República Popular a uma pequena operação de ‘mercearia’: o Governo Central mantinha a distância das cousas próprias do Islão, e, como contrapartida, os uigures não questionavam a soberania e dispensavam os mais remotos dos espaços vazios para a experimentação nuclear e espacial. Então, denominava-se Sinkiang e os conflitos eram querelas.
Com o colapso do império soviético da Ásia Central, o vírus ‘político’ das novas repúblicas independentes passou a fronteira da RPC e tomou a forma das frentes de autodeterminação uigur. Os conflitos subiram de patamar e multiplicaram-se as acções de contestação e correspondentes medidas de contenção, assumidas por ambas as partes na mais deliciosa ambivalência oriental. Os uigures reclamavam-se de um quadro de legitimidade “freedom fighter”, refutando quaisquer ligações ao fundamentalismo islâmico, e Pequim, não obstante o desenho da violência que enfrentava, negava combater o terrorismo ou terroristas. Tão só, um vago separatismo.
Exemplo desta linha de appeasement, recordar-se-á que os talibã bombardearam em desafio, ou convite, os Budas de Bamyan. Pequim, ‘adivinhando’ o que se seguiria, ofereceu-se para reconstruir/refazer aquela jóia do património mundial da Unesco, augurando, crê-se, que uns budas reerguidos de fresco seriam suficientes para manter o status quo. Não foi.
E veio, mesmo, o que a China suspeitava: Bin Laden atacou o coração do inimigo principal ou Grande Satã. Imediata e pouco discretamente, Pequim fez o upgrade dos grupos separatistas para “terroristas” e, desde então, tem actuado em conformidade. Porém, a estratégia chinesa não se esgota nesta linearidade. Pequim teve artes de, complementando o apoio tácito a Washington, activar um SCO (Shanghai Cooperation Organization), reunindo a Rússia e as suas antigas repúblicas- Cazaquistão, Turquemenistão, Quirguízia, Uzbequistão e Tajiquistão, os países da linha da frente, que acolheram bases militares ou outros apoios logísticos, na ofensiva americana no Afeganistão. O Irão quis juntar-se mas a sua pretensão foi rejeitada.
A organização de cooperação de Xangai, que este mês reúne- outro upgrade- na capital, Pequim, é, pois, uma forma de a China dizer aos EUA que está a jogo. Se o jogo for uma reedição do Great Game do século XIX, quando a Inglaterra e a Rússia Imperial disputavam exactamente os mesmos territórios. Deve ler-se “Foreign Devils on the Silk Road”, de Peter Hopkirk.

JSP no Império do Meio

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

 
Pintura de Filipe Gonçalves Posted by Picasa

Irmãos Cohn-Bendit apoiam Ségolène Royal através de tribuna impressa no Le Monde

E´ uma dupla infernal: " pilharam " o livro(s) de Castoriadis e, no post Mai 68,
fizeram um best-seller mundial. Tornaram-se alternativos e criaram a livraria -creche e ´república` Karl Marx, em Frankfurt nos anos 80. Depois de terem muito meditado, começaram a rentabilizar o capital mediático-político e conquistaram o partido dos Verdes de Joscha Fischer. Estiveram sempre do lado dos vencedores. Gabriel foi uns tempos professor de escola em França e acaba de aderir ao PS. Cohn-Bendit, eleito pelos ecologistas franceses, recusou ser ministro de Schröder; e é, hoje, lider dos Verdes da UE 25 no Parlamento Europeu. Como dizia o outro , não existem maus rapazes...

Como é que os manos - e na política europeia há poucos casos - chegaram até aqui? Vejamos. Forçados a escrever um artigo no Monde, no início da rentrèe? Ambição pura? Conhecimento da fraqueza congénita dos candidatos a candidato do PSF na corrida ao Eliseu, ao poder político mais concentrado da Europa dos 25? Desejo de se porem em bicos de pés a bradarem alto e bom som pelo nome e programa de Ségolène? Tudo isso junto realiza uma arte combinatória. De grande sageza e com objectivos inconfessáveis. Será desta que Daniel Cohn-Bendit vai para ministro do Interior para nomear o seu irmão Gabriel Prefeito da Normandia? Esperemos para ver. E sobretudo, como diz o Dany-le-Rouge, que tensão ainda tomará o frenesi"?!?. Justamente, a política da hora elegeu esta palavra-mala como ditirâmbica: Sarkosy foi frenético na Casa Branca com Bush ontem, os ataques machistas contra Ségolène são... frenéticos.

Jospin, o eterno looser presidencial, parece ter forçado a mão ao companheiro de Ségoléne e líder do PSF, François Hollande. Queria ter sido " escolhido " pelo líder. Para evitar que Hollande seja crucificado pela vitória ou derrota da sua companheira e mãe dos quatro filhotes de ambos. Jospin avistou-se também com os três candidatos restantes e avançou com promessas miríficas para desistirem. A grande novidade, segundo li no Canard, é que Michel Rocard, o mais emblemático dos socialistas franceses do século, mostra-se, cada vez mais, seduzido pelo estilo Ségolène. O não seja ele um indefectível de Jacques Seguella, o grande comunicador, que apostou tudo na madame Royal.

O artigo dos manos Cohn-Bendit exulta e subentende toda esta lógica perversa e diabólica da política politiqueira. Feita às mil maravilhas pelos antigos críticos e ferozes contestatários." Ségoléne nunca jamais atacou os seus rivais", na corrida à investidura. Os candidatos machos não a pouparam, " e não se criticaram entre si", alertam. Mesmo Martine Aubry, a fogosa filha belíssima de Delors e grande ambiciosa, atacou", de forma machista", segundo os manos, Ségolène :

Anunciando que Jacques Attali, será o guru da candidatura Ségolène, os manos Bendit dizem que a apoiam também. E Justificam em prosa bem batida e redonda: " Ela é a única
para responder a uma necessidade profunda da sociedade francesa: a transformação da função presidencial. Com efeito, ela é a única a incarnar essa necessidade de se ter uma presidência-cidadania à escuta da sociedade e capaz de mobilizar as inteligências colectivas para o bem do maior número ". Depois, no parágrafo seguinte, oferecem-se para a ajudar...

FAR

Ler mais no Le Monde de 15/9/2006

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Encontros D'Évora - 1976 (2)

 
Foto de Rita Benz Posted by Picasa

Que me quereis, perpétuas saudades?

Car j ' imite... Tout le monde imite.

Tout le monde ne le dit pas.


Aragon


Que me quereis, perpétuas saudades?

Com que esperança ainda me enganais?

Que o tempo que se vai não torna mais,

E, se torna, não tornam as idades.


Razão é já, ó anos, que vos vades,

Porque estes tão ligeiros que mostrais,

Nem todos para um gosto são iguais,

Nem sempre são conformes as vontades.


Aquilo a que já quis é tão mudado,

Que quase é outra cousa; porque os dias

Têm o primeiro gosto já danado.


Esperanças de novas alegrias

Não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,

Que do contentamento são espias.


Carlos de Oliveira

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Ivone Ralha


Amanhã, 14 de Setembro, pelas 18h e 30m, inauguração da exposição de pintura de Ivone Ralha, na Galeria CIDIARTE.

A exposição ficará patente ao público até dia 14 de Outubro de 2006, de Terça a Sábado, das 13h e 30m às 19h e 30m.

A Galeria CIDIARTE fica no Largo dos Stephens, 6-7-8-9, Lisboa (junto à rua das Flores)
 
Foto de José Carlos Mexia

Da série Vale do Grou: Inauguração da luz eléctrica. 1982 Posted by Picasa

Irão: Ali Khamenei controla Ahmadinejad

A saída honrosa dos EUA do Iraque passa pelo reatar das conversações com o Irão e a Síria. Privilegiando o poder do grande líder-mártir de Teerão em detrimento do atrabiliário PR...Super-revelações do " Le Canard Enchainè " e do NY Times sinalizam as grandes manobras

Ali Khamenei, que ficou maneta do braço esquerdo dois anos apòs o triunfo de Khomeyni, vítima de um atentado, foi consolidando seu poder e influência no interior da Mollacracia iraniana . Estabeleceu alianças à esquerda e direita. Mas mostrou-se sempre ultra-radical: opôs-se ao cessar-fogo na guerra irano-iraquiana, apoiou de alma e coração os guerrilheiros do GIA argelinos e vota sempre contra qualquer veleidade liberal, quer no que diz respeito aos direitos das mulheres, quer à liberdade religiosa . Essa postura convenceu o leader máximo da Revolução a escolhe-lo como sucessor em 1989. E ,hoje, vê-mo-lo na ribalta dos comícios iranianos a defender o projecto nuclear e a sua escolha como timoneiro do Hezbollah, Hassan Nasrallah, custe o que isso possa custar...

Eleito por um colégio de 80 altos religiosos( que ira ser sujeito a renovação no final do ano), Ali Khamenei acumula e controla directamente, os Negócios Estrangeiros, a Defesa, a Segurança, a Justiça e os Média audiovisuais.Imagine-se o poder máximo do leader. A série de cadeias de comando e manipulação a que dá guarida. E as tentações que controla e fareja ou desfaz!!! Com pouca bagagem teológica, Kamenei distinguiu-se pelas qualidades de fidelidade ao lider e pela rede de colaboradores e cúmplices que teceu, em especial com o antigo presidente Rafsanjani, que se meteu em negócios e perdeu influência para Ahmadinejad, pelo quql foi substituido.

O repórter do NY Times assinala que Khamenei conseguiu, a pouco e pouco, fundir o poder político com o poder religioso. "Khamenei teceu laços muito fortes com as milícias e os Guardas da Revolução. Ao mesmo tempo conseguiu que os mais fortes dos seminários xiitas lhe prestem apoio.Disfruta de grandes apoios no Conselho da Revolução, que controla todo o governo, e na Assembleia dos Sábios, que ajuda e supervisiona a decisão do líder máximo ", aponta Michael Slackman.

" Juntando o poder espiritual ao poder executivo da República, Khamenei tornou-se incontornável. Só na teoria se pode ousar criticá-lo. Ou tentar limitar os poderes que aufere: nomeia todos os chefes militares e da segurança interna. Em o poder de declarar a guerra. Tem que avalizar a eleição do Presidente da República, para este ser aceite. Nomeia 50 por cento dos elementos do Conselho da Revolução "., acrescenta o enviado especial do NY Times.

Sentindo-se ultrapassado pela demagogia populista de Ahmadinejad, Khamenei resolveu no início do Verão mostrar as suas garras. Ele que sempre se opôs contra o fim da fatwa contra Saldam Rushdie, vetou as ambições dos " radicais " que queriam abrir as válvulas das liberdades públicas e reformar o poder dos religiosos.Uma espécie de revolução fria ou golpe de estado palaciano ?. Tudo para afastar a sucessão de Khamenei, de quem se diz, a boca calada em Teerão, que se encontra muito doente. Poder enfraquecido e Presidente demagogo, excelente timing para tentar negociar o futuro do Iraque e precaver o programa nuclear do seu próprio país. Ninguém adivinha quem virá a ser o sucessor: o que se sabe é que Khatami foi convidado a ir aos EUA e Rafsanjani pode saltar em cima do fogo de novo.

FAR

terça-feira, 12 de setembro de 2006

 
Sissine Rocha

Azulejos/Barro Vermelho Posted by Picasa

Conto

Antes do passamento físico

É em surdina, nos acordares, visitado por duas moles colinas mesmo abaixo do já sem verde dos olhos, a ocuparem-lhe artisticamente o descomeço.
Antes do chapéu da sexta noite assentar, descruza miudamente os pensamentos, de modo a que a vontade do passeio não fique a atravessar-lhe a garganta em modo parado. Desliza pelo antigo pescoço os grossos dedos da mão descasada com a doença, arruma o seu volumoso caroço de Adão mais para cima, experimenta apagar a rouquidão já mecânica com murros curtos no peito e lança-se no ímpeto dessa utilidade, a sedução.
Há muitas estatuetas de esquina que quebram as ancas e o sedimento da resignação da idade, di-lo a sua mão escapulida à imobilidade ainda com desejos de pássaro - toda a superfície macia de uma mulher é de se voar. Nem todos podem fazer descaso disso. É uma benção inscrita no jeito duvidoso do homem, umas vezes parece que não sabe outra coisa mas alheio ao acto, estorva-lhe esse chilreio de mundos, parece que sobram do silêncio, as mulheres. O homem nesse arrogante descontacto, decora-se de outra ambição. A de ser o invasor dos espaços com seu arco macho, essa voz grave que emudece os olhos das casas e estremece de escuro as almas femininas que lá suportam o tecto.
Mas nem sempre o abraço do homem é vento a deformar a feitura composta de um rosto, há também a mansidão na mesma morada. É só saber o momento dessa estadia.
Sabem-no as mulheres que o servem, dorsos riscados pelas palmas alheias, que no corpo, a verdade existe em profundeza de temido rio.
Muito homem para também escancarar as pernas do riso, em velho tronco, ajeita-se de ossos parados, aterrados sem hélice sobre o compacto pavimento do macio ventre, sem escolha de não ser voado. Os céus vão e voltam sob azuis maiores.
Recompõe-se apressado na cor da sua adultez, agarrado a nada, antes das duas moles colinas desaguarem para o mistério.
A terra também há-de sorvê-lo em desejo tamanho de verme másculo, matuta devagarzinho o rio.

Fim

Nyiama Ludo

Metro (1)

 
Foto de José Salvado Posted by Picasa

Mortos-ricos e mortos-pobres

Terminei há pouco de ver uma série de documentários nas várias estações de televisão sobre o 11 de Setembro. Houve um que (naturalmente) me impressionou sobremaneira: ficcionava, através dos testemunhos dos sobreviventes, o que de facto se passou no interior das torres atingidas. O horror, o medo, os actos de coragem excepcional, etc. Acontece que dei por mim a pensar sobre o que terá aquele horror concreto, aquela experiência-limite de destruição e morte, de mais importante que o horror diário por que passam centenas, milhares, de seres humanos todos os dias por esse mundo fora, de tal modo que este é retratado em documentários, enquanto o outro permanece o triste sofrimento anónimo dos sem-voz. É que uma coisa é o valor simbólico e inscricionário do acontecimento 11 de Setembro, e a sua importância na definição de novos paradigmas históricos, e outra bem diferente é o acontecimento em si, o que lá se passou naquele dia concreto, com todas aquelas pessoas concretas. Vejam se me entendem: eu não estou a diminuir o sofrimento e a morte de milhares de americanos nesse hediondo ataque contra civis; o que eu gostava, era que de uma vez por todas se deixasse de dar mais importância a uns mortos que outros.

Estes pensamentos lembraram-me deste post que escrevi nos alvores deste blogue, sobre os atentados de Londres. Termina com esta frase: «a medida da barbárie é o relativismo quanto aos mortos».

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

Série de Ouro (8)

Ele: É necessário qualquer coisa mais, para além do fascínio. É esse o passo misterioso, impossivel de definir, que talvez nos afaste para sempre.
Ela: És demasiado taxativo, pensas ter todas as respostas, e porque dizes "para sempre", como se houvesse necessidade de um castigo, de carregar uma cruz, e mais: como se aquilo que vês hoje fosse cristalizado? Não sabes que as coisas mudam?
Ele: Talvez tenhas razão. É esse o defeito dos filósofos, vivem à procura de um modelo que fixe aquilo que talvez não se possa fixar, por estar sempre em mudança.
Ela: Vês? Ainda por cima não tens paciência nenhuma!
Ele: De qualquer modo, meu amor, os sonhos acabam. Amanhã vou partir.
Ela: Adeus, meu amor.
Ele: Adeus...
(Fim de Série)

Série de Ouro (7)

«Pode talvez chamar-se a teoria que tento praticar e o fundamental não é ter teorias todos as temos é tê-las e praticá-las que aí é que está a grande gaita, uma teoria masoquista do amor, marimbando-me. É assim: se amas, deseja para a pessoa amada o melhor, olha bem para ela e procura saber o que ela quer precisa deseja ama e procura dar-lho, tanto quanto possas mesmo anulando-te, desaparecendo da vida dela, sentindo-a viver feliz longe de ti e sabendo e chorando. É muito chato isto e às vezes insuportável de aturar, é um caminho debilitante para o suicídio. O contrário disto, que também já fui e sem remorsos nenhuns, é o vampiro. Já deixei para trás, porém, muitas vítimas e se não me arrependo não quero não desejaria fazer mais.»

Luiz Pacheco in "Exercícios de Estilo"

Instante

Esta coluna

de sílabas mais firmes,

esta chama

no vértice das dunas

fulgurando

apenas um momento,

este equilibrio

tão perto da beleza,

este poema

anterior

ao vento.

Carlos de Oliveira

Pote (4)

 
Margarida Veiga Magalhães Posted by Picasa

domingo, 10 de setembro de 2006

8º Prémio Literário Manuel Barbosa du Bocage

Dia 15 de Setembro
àS 21:30 HORAS

na Câmara Municipal de Setúbal
(Edifício Paços do Concelho)
No Salão Nobre da Câmara Municipal

Praça do Bocage
2901-866 Setúbal

o Nelson Ngungo Rossano, do Caminho dos Versos, recebe o 8º Prémio Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage

Do 2+2=5 um abraço de parabéns.

Encontros D' Évora - 1976 (1)

Foto de Rita Benz

Posted by Picasa
Pintura de Filpe Gonçalves

Tango

Se por acaso nos amarmos esta noite,

amanhã há-de ser como se nada tivesse acontecido.

Mas, se nos amarmos esta noite,

será com raiva e desespero de amanhã ser como se nada tivesse acontecido.


Amei-te ao nascer das luzes sobre o asfalto molhado,

ou amei-te anos sem fim?

Lembro-me de ti não sei donde, talvez

dos sonhos de todos os homens que antes de mim sonharam

o amor como uma nova eternidade.


Adolfo Casais Monteiro

sábado, 9 de setembro de 2006

Summertime - Ella Fitzgerald


Olivier Roy: USA criaram a "jihad/guerra santa global"

O politólogo do CNRS francês publicou um texto no NY Times onde afirma que a FINUL será incapaz de desarmar o exército do Hezbollah, a guerra civil iraquiana tende a crescer e o Irão irá assumir-se como a potência regional

O politólogo e grande especialista do Médio Oriente acusa a " arrogância e impotência " da política norte-americana no Médio Oriente, que aglutinou a origem diferenciada dos problemas na Palestina, no Líbano e no Iraque, e que deviam e mereciam ser tratados separadamente, o que originou agora numa mistura que despoletou uma guerra santa global.

Roy aponta que a " guerra contra o terror " incrementou as " tensões " no Médio Oriente. "Qualificou superiormente o radicalismo árabe e o religioso, ao mesmo tempo. E promoveu o Irão na liderança regional por destruição dos seus arqui-inimigos Saddam Hussein e os taliban), do mesmo modo que propulsou os xiitas ao poder no Iraque ", sublinha.

" A democratização constitui um falhanço total por uma razão simples: ignorou o facto de que jamais poderia existir um projecto abstracto, de início, um sistema político Jeffersioniano; devendo ser, pelo contrário, ligado e enraizado em dois elementos que fornecem a legitimidade a qualquer projecto no Médio Oriente - nacionalismo e Islão ", pontua.

Roy volta a insistir na tese de que a administração Bush-Cheney ( o staff do vice anda desmoralizado segundo outras notícias veiculadas pelo NYT) desviou o dinheiro e as tropas do combate no Afeganistão, que era e é uma das possíveis soluções para a vasta zona. Ao mesmo tempo que o envio de tropas de ocupação como metáfora real da " guerra contra o terror" falhou redondamente.

" A guerra contra o terror espalhou os exércitos ocidentais em prolongados conflitos locais onde as alternativas são mais importantes do que o global terror (nacionalismo, territorialidade, guerras civis, etc). Estes exércitos estrangeiros estão exaustos e errantes, mostrando-se incapazes de fazer frente no longo termo a qualquer tipo de hostilidades e mudanças , frisa.

" A consequência de tão descomunais erros radica no contraditório discurso da administração Bush: não abranda a guerra contra o terror e, consequentemente, recusa discutir com as forças políticas alcunhadas de terroristas (Hamas, Hezbollah e regime iraniano), enquanto que, ao mesmo tempo, não tem força para avalizar um crescendo de força contra eles ", remata.

FAR
 
Foto de José Carlos Mexia

Da série Vale do Grou: Inauguração da luz eléctrica. 1982 Posted by Picasa

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

Contos do Verão .6

O Verão a acabar. Agora vem aí o Outono. Bela estação para se começar o ano escolar. A queda das folhas faz-me lembrar a depressão do meu pai. O homem ficou preso aos tiques e às convicções de “Grande Timoneiro”. Uma mistura, caseira, do Henrique Monteiro, do Expresso, com o José Manuel Fernandes, do Público, e ainda com os maneirismos do Espada, de Oxford. Só que o meu pai, coitado, propôs-se objectivos mais modestos. Tentou educar a família. Família alargada, entenda-se. E, num Verão como este que está no fim, passámos a ser menos. Foi as últimas férias que passámos juntos. Quase juntos. A minha madrasta, acabada a Universidade, estava a estagiar e a lutar pelo primeiro emprego. O meu pai tratava de nós e da casa. Parecia a “Música no Coração” sem governanta. Isto é, o meu pai fazia também de governanta. Acordávamos e deitávamo-nos com hora marcada. Aliás tínhamos hora para tudo. Para as refeições, para a praia, para os jogos, para as lições. E, quão divertidas as aulas que tínhamos! Português, Matemática e Música. As de música então eram um espanto. Sobretudo os últimos 30 minutos. O meu pai convocava a especial atenção do meu irmão, na altura, com três anos, trazia o xirico e o canário do Härz, punha o James Brown a cantar o “sex machine” e tudo solava. O timoneiro gostava do multiculturalismo. Na primeira quinzena de Julho e durante o mês de Agosto foi assim, todos os dias, à mesma hora. Não sei se estas rotinas eram por amor a Phileas Fog ou a Kant. Sei como tudo acabou. Faz, por esta altura, anos. Já em Setembro, o xirico e o canário apanharam-se com a gaiola aberta e fugiram. Quem a abriu? Penso que um foi para Norte e o outro para Sul. A minha madrasta feito o estágio entrou para os quadros da empresa e mandou o meu pai ir pregar para outra freguesia. Ao meu pai caiu-lhe um muro, maior do que o de Berlim, em cima. Deixou-se de querer educar. Mas, nem sabe o êxito que teve. Um dia, no Outono, ou noutra estação qualquer, eu e o meu irmão, cada um por si, sairá a cantar por aí o “I’m a sex machine” , esvoaçando para Norte ou para Sul.

Josina MacAdam

Flor & flores


Foto de José Salvado

Amor e trevas

Ao Alexandre O´Neill


Falta sempre dizer

o que vem mais do fundo;

a palavra melhor

não se fez para ouvidos.


O coração desperto

em vão fica à escuta

-no ar pairam só asas.


A. Casais Monteiro

Retratos de Gente

France Rocha
(Sissine)

Farfouille de St. Etienne
Exposição de trabalhos em cerâmica

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

Série de Ouro (6)

«O amor humano é um acto de solidão. Vi-te pela primeira vez no corpo de outra mulher. O nosso amor é uma série de acasos, encontros e desencontros, aparece nos olhos desta, nas palavras de outra, nas carícias e ternuras de uma outra... Vive, cresce, enriquece-se de semelhanças e contrastes, sedimentos, memórias, repulsas, ódios, amarguras, desesperanças, todas elas casuais, inesperadas... É como um feto: rola no calor vazio do mar uterino até tomar forma, definir-se entre homem e mulher, leva tempo, uma vida interior a nascer, até nascer, inteiro, perfeito e definido. E quando isso acontece, quando sabemos tudo dele, está pronto para morrer.»

Luiz Pacheco, in "Exercícios de Estilo"

Contos pequeníssimos

esta grandeza de não a ter

é mais pequena que a de não desejar tê-la


e se o preço de participar é grandeza

não contem comigo

não participo

não participo nem contra grandeza


nasci ar

em forma de gente


nasci luz

em forma de gente


não me compreendo

e respiro-me

e vejo-me textual


a forma de gente faz-me agir fora do que nasci ar

fora do que nasci luz


e nasci ar para forma de gente

e nasci luz para forma de gente


nasci antes de mim

antes de forma de gente



era génio antes de nascer

em forma de gente

a forma de gente não me deixa ser o génio que nasci.

José de Almada Negreiros

Pote (3)

Margarida Veiga Magalhães Posted by Picasa

Os primeiros cem dias do consulado de Romano Prodi relançam imagem da Itália solidária e activa

A edição mundial do New York Times elogia a prática política do sucessor de Berlusconi. A Comissão Europeia, a ONU e os EUA saúdam a " habilidade " e a "determinação " do PM italiano. Um rumo claro e exequível para a política externa europeia parece agora ser possível. Por outro lado, a Itália pode refazer a sua abalada economia dinamizando os laços tangíveis que a ligam ao Irão, ao Iraque e à Síria. Para lá das relações estreitas que a ligam à nova Líbia de Kadafi.

O texto da magnífica Christine Fauvet-Miscia, especialista em temas europeus do Le Figaro, tem o condão de nos tranquilizar sobre a empolgante caminhada da heteróclita coligação de centro-esquerda dirigida por Romano Prodi. Insere-se no bom clima de aceitação mundial da experiência da alternância política italiana. Tão massacrada pelo populismo extremista e nauseabundo incarnado pela coligação de direita - extrema direita dirigida pelo polémico e imprevisível Sílvio Berlusconi, a quem Bush facultou o seu estratego principal para o salvar da derrota irremediável.

Christine Miscia recorda as palavras de Prodi no seu périplo europeu, a Bruxelas, Paris e Berlim, que punham a tónica na capacidade de transformação do impasse político da UE. "Seremos alguém no Mundo a ditar cartas, quando o conseguirmos fazer na Europa, repete o PM italiano. Amigo do Vaticano e hábil diplomata do consenso exaustivo e persistente em movimento, Prodi herdou uma economia exangue com uma dívida pública que ultrapassa os 100% do PIB. Muito pior, portanto, que a portuguesa para um país com uma longa liderança histórica e uma economia que fazia inveja a todos os seus vizinhos...

Prodi avançou lesto no processo de cessar-fogo da guerra fratricida do Líbano. Tomou medidas de grande coragem política, guiou com inexcedível brilhantismo todo o dossier e acaba de presidir ao envio de metade dos 2500 solados que integram a parte tricolor da FINUL.

" A Itália que não disfruta, ao invés da França e do Reino Unido, de passado colonial ( se exceptuarmos a Líbia), tira partido junto dos seus interlocutores do papel de mediador que pode exercer face ao Mundo Árabe . Para favorecer em breve uma solução política para o Próximo Oriente, propõe tirar partido de novos canais de discussão tanto com a Síria como com o Irão, com quem instituiu um forte partenariado comercial, destaca a especialista do Le Figaro.

FAR

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Pintura de Filipe Gonçalves

Da Capital do Império

Olá!
“Angola USA”. É um título giro para uma grande reportagem fotográfica ou um documentário de televisão. Infelizmente não tenho “massa” nem financiadores para isso. Os angolanos – que têm muita “massa” e seriam em teoria os mais interessados – herdaram dos portugueses a atitude de “quero lá saber” pelo que a perspectiva de fazer a tal reportagem ou documentário é presentemente tão grande como a possibilidade dos EUA deixarem de ser a potência mundial no próximo século.
Mas deixem-me explicar-vos de onde me surgiu a ideia.
Há alguns anos atrás, acabadinho de chegar aqui aos “states” fui ao pequeno estado de Delaware fascinado com o facto de uma cidade à beira mar ter exactamente o mesmo nome que uma cidade na Namíbia – Rehoboth. Nada de extraordinário nessa coincidência. Coisas dos holandeses que talvez devido à falta de imaginação repetiam nomes pelo seu vasto império e neste caso nem sequer fizeram aquilo que todos os colonos, incluindo eles próprios, os tugas e os bifes faziam na generalidade ou seja acrescentar a palavra “nova” ao nome de todas cidades.
Nova Lisboa, Nova Iorque, Nova Hampshire, Nova Amesterdão, são assim provas da capacidade criativa assustadora dos colonos em termos de nomenclatura. Mas isso é outra questão.
O importante aqui é que ao ir para Rehoboth deparei com um grande sinal que dizia “Angola Farm”.
Tenho a admitir que ao ver o sinal a primeira reacção que tive foi a de inveja. “Sacana do retornado comprou uma machamba aqui na América e está rico,” foi o que pensei.
Santa ignorância! Alguns meses depois tive que fazer uma notícia sobre uma execução de um criminoso qualquer que se ia realizar no Luisiana e deparei com o nome de Angola. É o nome da maior prisão desse estado e onde são executados os condenados à morte da Luisiana. (Angola e morte… estamos juntos! diriam alguns)
Telefonei à prisão para saber de onde vinha o nome e de lá disseram-me que era o nome de uma plantação. O subchefe lá da prisão (vejam lá!) sugeriu que eu telefonasse à Universidade da Luisiana e pedisse para falar para o Departamento de História. O que fiz. E que me levou a manter uma interessante conversa com um professor que me explicou que nos tempos da escravatura os donos das plantações tinham como hábito dividir os escravos em grupos. Para a brancalhada proprietária aparentemente só havia dois grupos de escravos: Os “angolas” e o resto. Portanto as plantações onde trabalhavam os “angolas” ficaram conhecidas como Angola. Daí a tal Angola no Luisiana, a Angola Farm no Delaware. Aparentemente há mais antigas plantações “Angola” espalhadas pelo sul. No estado da Virgínia houve uma plantação Angola que pertenceu inicialmente a um tal Anthony Johnson que era na verdade “António, o Negro” que foi libertado pelo seu patrão um tal Johnson. O António adoptou o nome do patrão, e comprou terra que chamou de “Angola”. Mais tarde foi para o estado de Maryland onde iniciou o cultivo numa propriedade chamada… Angola. Há também Angola no estado de Nova Iorque (missionários que trabalhavam com os escravos ou em Angola deram-lhe o nome) e Angola no estado do Indiana (Uns tipos que “emigraram” de Angola em Nova Iorque para o Indiana deram-lhe o mesmo nome. Deviam ser holandeses porque se esqueceram de acrescentar a palavra “nova”).
Antes de avançar mais tenho que fazer um parêntesis para vos contar que há alguns anos atrás um jornalista de Lisboa acordou-me muito cedo, muito excitado, para eu lhe dar mais pormenores sobre um “documentário sobre Angola” que tinha acabado de ser nomeado para um Oscar. Para sua desilusão tive que lhe dizer que o documentário era sobre Angola no Luisiana. Tive que depois que lhe explicar que não era palavra trazida por um retornado.
Mas estas Angolas no Luisiana e em Delaware despertaram-me o interesse. E aprendi muito. Vocês sabem por exemplo que as estimativas são que 40% de todos os escravos que aqui chegaram vieram de Angola? Sabem por exemplo que os primeiros africanos a chegar ao que é hoje os Estados Unidos vieram de Angola? Uma delas chamava-se Ângela. Está registada nos arquivos de Jamestown no estado da Virgínia. Teve sorte. Trabalhou como serviçal doméstica para um capitão inglês e sua excelentíssima esposa.
Sabem que os primeiros escravos a serem levados para a cidade de Nova Iorque eram todos eles sem qualquer excepção de Angola? Um dos primeiros foi “Groot Manuel”, ou Grande (em Holandês) Manuel. Outros foram Paulo Angolo, Little Manuel, Manuel de Reus, Anthony Portuguese, Garcia São Tome, Susana d’Angola, Samuel Angola, Emmanuel van Angola, Andries van Angola. Tudo bem documentado. Visto com os meus próprios olhos num museu em Nova Iorque.
E mais: Sabem por exemplo que a Carolina do Sul foi o estado que mais angolanos recebeu? E que há historiadores americanos que pensam que os angolanos foram aqueles que mais influência deixaram entre a população negra americana que contudo pensa que vieram todos do Senegal ou da Nigéria? (alguns pensam que os escravos vieram todos da África do Sul por causa do apartheid e ficam muito chateados quando se lhes diz que dali não veio nem um e que portanto não podem ser família do Nelson Mandela).
Sabem que no dia 9 de Setembro faz 267 anos que se iniciou a maior revolta de escravos dos Estados Unidos liderada por um angolano de nome Jemmy? Foi na Carolina do Sul e os escravos mataram uma série de proprietários brancos a caminho da Florida onde esperavam encontrar a liberdade. Começou por ser um pequeno grupo de 20 angolanos que depois cresceu rapidamente para mais de 100. Mataram também crianças brancas, só porque eram brancas. Acontece neste tipo de guerras. Foram apanhados e os líderes tiveram as cabeças decepadas e colocadas em estacas para servir de aviso a outros escravos. Acontece neste tipo de guerras.
Índios foram contratados pelos brancos para os apanharem e outros negros que se recusaram a juntar aos revoltosos foram mais tarde recompensados.
Enfim tudo fascinante. Creio que dá um excelente documentário ou reportagem fotográfica. Angola USA.
Se souberem de algum financiador digam-me. Agucem-lhe o apetite com outra reportagem deliciosa: “Lisbon USA”. É verdade. Há muitas Lisbons aqui nos states. Um dia falo-vos sobre isso.
Para já um abraço,
Aqui da Capital do Império.

Jota Esse Erre

terça-feira, 5 de setembro de 2006

Foto de José Carlos Mexia

Da série Vale do Grou: Inauguração da luz eléctrica. 1982 Posted by Picasa

VIDA DA GENTE

A vida cheia de riscos
sobre e sub postos,
verticais,
oblíquos e horizontais.
Curvos, em ovais.
Justos e desajustados,
hirtos e vergados.

Criança, adolescente e estudante.
Anos de desportista e jornalista,
pelo meio combatente.
Modelo e artista,
pai e amante.
Mais vendedor, professor e aviador.
Ainda proprietário e gerente
e outros feitos de que não há mente!

Foi em África,
na Ásia, na Europa e na América.
Muitos anos na Terra
em cenários de guerra
em ruas e confins
em praias e jardins
em museus e hotéis
em igrejas e bordéis.

Nas noites e nos dias se escondeu e iluminou.
Devagar e depressa se angustiou e deslumbrou.
Com gente e sozinho se vulgarizou e destacou.

Vagabundeia distraído
sem saber tirar partido
de tanto ter vivido e aprendido.

João Autor.

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

Cores

Foto de José Salvado Posted by Picasa

Estrela

Legenda

para aquela estrela

azul

e fria

que me apontaste

já de madrugada:

amar

é entristecer

sem corrompermos

nada.


Carlos de Oliveira

domingo, 3 de setembro de 2006

Pote (2)

Margarida Veiga Magalhães Posted by Picasa

Ségolène, Sarkosy: igual indefinição sob uma estratégia musculada

O artigo de Éric Le Boucher abre o novo ano político-eleitoral francês. Dois candidatos agigantam-se e causam profundas e dolorosas divisões na Direita e na Esquerda francesas: Nicolas Sarkosy e Ségolene Royal. Lionel Jospin hesita em avançar, se bem que os seus mais próximos amigos estejam, de há muito, na corrida à investidura pelo PS gaulês.Como é o caso de Dominique Strauss-Khan e de Jack Lang.

Martine Aubry, a fogosa filha de Jacques Delors, parece inclinar-se para a solução Jospin, porque considera " fraquérrima " a companheira do actual líder dos socialistas, Ségolene Royal . O busílis da questão é que Madame Royal acopulou as novas tendências do partido e, com a ajuda de Jacques Séguèla, lidera todas as sondagens, de há meio ano a esta parte . Eric Le Boucher comenta isto tudo.Frisa que o populismo e demagogia dos dois mais premiados candidatos a candidatos demonstra, ao vivo, a desagregação/ ruína do modelo francês.

" Foi preciso sem dúvida que o " modelo francês " atravesse um avançado estado de decomposição para que no país de Descartes, dos jardins talhados à francesa, da argumentação em três pontos, da Politécnica e da E.N.A.,se corte com o tipo desse género de bons alunos para nos pronunciarmos, pelo contrário, não por duas composiçõs bem estruturadas,, mas , sim, por duas personalidades que se caracterizam quer pela sua coragem,vontade, habilidade e novidade, portanto, como também pela sua indefinição e zigzaguear" , revela o economista de serviço do Le Monde.

Há entre ele, Sarkosy, e Ségolène Royal, "um primeiro terreno comum : os valores suplantam as ideias.Nem um nem o outro são intelectualmente dotados para ter um discurso consistente sobre a evolução do capitalismo, da arte, ou das relações entre a ciência e a filosofia. Nada disso. Mas ambos querem regressar ao que apelidam de " verdadeiros valores" : uma sociedade ordenada, a autoridade, o respeito, o mérito, o esforço, o trabalho e a firmeza ". Todo um programa que desperta sentimentos contraditórios e populismo q.b. Eric Le Boucher diz que Ségolène anda já a pescar nas águas da extrema-esquerda, ela que começou por se declarar " blairista " por causa da afinidade de valores e moral com o PM inglês. A ver vamos.

FAR

ChroniqueSégo, Sarko : trop flou, trop plein, pareil, par Eric Le Boucher

LE MONDE 02.09.06 Nicolas Sarkozy a déploré cette semaine le vide des propos de Ségolène Royal. Au PS, à La Rochelle, d'autres ont critiqué le trop flou de ses discours, leur "grande généralité". Ils ont tort. Ségolène Royal porte en elle quelques idées, simples, plutôt des valeurs, fortes, qui sont en vérité très proches de celles de Nicolas Sarkozy, et c'est sans doute pourquoi il commence à l'attaquer si tôt.
Leia artigo integral em //www.lemonde.fr/web/article/0,1-0@2-3232,36-808838,0.html

sábado, 2 de setembro de 2006

Pote (1) Margarida Veiga Magalhães

"Salt glaze fire", sal, algas, conchas, em cozedura primitiva. Cerca de 80 cm, de alt. Temperatura abaixo dos 9oo gr. Posted by Picasa

sexta-feira, 1 de setembro de 2006

Gore, Encarnação e os Burros

Al Gore, o documentarista, vai estar algures pelo mês de Setembro na Região Administrativa Especial de Hong Kong/China para promover o trocadilho ecológico “An Inconvenient Truth”- estreado em Sundance e felicitado em Cannes. Segundo uma nota distribuída pelos organizadores da visita de Gore, dirigida, entre outros, aos potenciais interessados dos média, é requesito fundamental prestar informação sobre o “political learning” de cada um. Isso mesmo, learning.
Sentido experimentado nos tropos dados aos “r” intercalares pelos falantes de chinês, dose mínima de senso comum, e não sendo credível que o “former next president”dos EUA esteja à vontade nas águas da ciência política, tudo isto permite concluir, não se tratando de um travesti democrático ou de arreliadora gralha, que os amigos do profeta, em seu nome, pretendem saber o”political leaning” dos candidatos a uma sessão de tédio. Com Al Bore. Quem sabe o documentarista finge estar preocupado com o ‘aquecimento global’, mas anda estudando, em ritmo alentejano, a Teoria das Quatro Representações de Jiang Zemin.
A verdade é que há sempre gente com paciência. Em resposta a uma aclaração solicitada, ao nível de secção gente ou fait divers, pelo incontornável “South China Morning Post”, os tais organizadores da sessão de verdades inconvenientes assumiram a cousa: “Al Gore, tão só, considera uma boa ideia conhecer antecipadamente a inclinação (background) política do entrevistador”.
A justificação benigna desta boutade, se o for, surrogate não andará longe dos terrenos do jet lag por antecipação. Uma condição estranha, mas vem bem descrita em “On Hashish” de Walter Benjamin.
Todavia, a explicação mais plausível, segundo as sínteses pérfidas destiladas no FCC (Foreign Correspondents Club), é de natureza transcendental. E geográfica. Uns km mais acima no Rio das Pérolas, e uns anos mais abaixo,Warren Delano, sogro do presidente democrata Franklin Delano Roosevelt, fora, no século XIX, taipan da maior trading americana de ópio. Este republicano, que foi vice-cônsul em Cantão, não deixou grande obra de filosofia política. A sua herança ficou-se por um axioma singular, aqui actualizado: “Não direi que todos os democratas são burros, mas parece pacífico que todos os burros são democratas”.
Abusaria do pretexto, e da noção de trocadilho ecológico, para deixar aqui uma inquietação. Porque razão o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Carlos Encarnação, não está acusado, pelo menos, de desobediência? A espúria e circense tentativa de obstaculizar a co-incineração merecem os ferros de delito ambiental e crime económico. Concordo, a regra da proporcionalidade remete para uma pena mais compatível com os brandos costumes. Pois seja, vai vexa condenado a acrescentar ao seu último apelido uma vírgula, seguida do substantivo BURRO.

JSP no Império do Meio
Foto de José Carlos Mexia

Da série Vale do Grou: Inauguração da luz eléctrica. 1982 Posted by Picasa

Pulp Fiction - Tarentino