terça-feira, 19 de junho de 2007

Em obliquidade ao anterior post do Fernando...

A mão chega ao pescoço sem trilhos nem pistas

Envolve-o de dedos

Mas quando os pensamentos (auto)tossem-se e imaginam uma ama

Por ignorarem qual o rosto

As mãos não os afagam.

É isso, o abismo.

in: Caixinha com rodas; Ed.Geic

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

Verdes... verdíssimos.

A treta é esta: queres postar em directo, ao vivo e a cores e, depois, dá nisto.

Isto era mais naquela base do 'Sentimento dum Ocidental'.
Ou talvez não.
Era um post de às tantas da madrugada.
Já viveste uma parte da tua vida social.

Lá fora e à tua volta apenas os ruídos da noite.

Estás finalmente contigo.

Uma promessa de fruto.
Apenas essa promessa.

Os projectos, os 'que-fazer', daqui em diante...

Eventualmente apetece-te a música
imaginar um rosto, uma figura desejada...

Eventualmente...

Mesmo com a inovação da rede,
continuo a achar a noite como o lugar da grande solidão...

Lugar soturno e calado onde acolho todos os medos. Lugar onde não me ouço.
O ladrar vago dos cães presos à distância. Um chiar de pneus.

Ruas vazias sem passos, ainda que incertos.

Noite, noite. Noite mesmo noite, feita de ruas desertas com árvores tristes.

A respiração sossegada da casa dá-me algum alento.

Assim me deito e fecho os olhos e me tapo com a solidão.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

A propósito...

Há quem seja treinado para guardar por um determinado tempo,
os conhecimentos na cabeça dos demais,
de modo a que nenhuns outros se lhes possam mesclar, vindos do exterior.

Tudo tem de ser originário do saco próprio,
como se este fosse destacado por um período,
da sua condenação a estar engolido por um invólucro maior.

É isso, a inutilidade.

in: Caixinha c rodas; ed. GEIC;

Este nunca esquece e não perdoa


Virgínia. USA. 2007

Foto de Jota Esse Erre

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

Breaking news, Breaking News

Sarkozy perde dinâmica política e Ségolène deu ordem de despejo a Hollande por infidelidade

O "bonaparte" de Neuilly-sur-Seine não conseguiu a maioria esmagadora com que delirava e Ségo conseguiu eleger os seus homens-de-mão

Mais do que a vitória medíocre da coligação que apoia o PR francês, que averbou 340 deputados contra 237 da Oposição, a grande notícia da noite é o primeiro passo público da ruptura familiar entre Ségo e François Hollande, depois de semanas de acerbas e contraditórias manobras e acidentes conjugais entre a dupla que, realmente, dirige os socialistas franceses. O Libé (clicar aqui) noticiou, via France Press, a notícia da separação, de facto, já para lá das 10 horas da noite. Para lá da questão de infidelidade, o matutino de Esquerda plural, dá conta do crescente apetite de Ségo e dos seus apoiantes para tentarem tomar o poder no interior do partido, talvez a única forma de afastar Laurent Fabius e D.Strauss-Khan da corrida.

FAR

domingo, 17 de junho de 2007

Francisco Naia


Mais notícias do cantor aqui e aqui.

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

"Nem o melhor, nem o pior, parecem ser sempre certos"

O dispositivo político-ideológico agenciado pela Mundialização conhece novos dados operados pela recente campanha das Presidenciais francesas e que podem ser confirmados na segunda volta das Legislativas

O debate apaixonante em torno do fenómeno político obrigou, é o termo, os conselheiros políticos de Obama Barac e de Hillary Clinton a estudarem o dilema em Paris, no coração da épica e terrível disputa entre Ségolène e Sarkozy, que acabou por dar a vitória ao neoliberal atípico do centro-direita. Ninguém desconfia, no entanto, de que a Mundialização, os seus efeitos antagónicos e irredutíveis, estiveram no centro da escolha do eleitorado e moveu, é o termo, os lances de argumentação e manipulação dos respectivos estados-maiores partidários. Ora, como disse Maquiavel, nem o " melhor, nem o pior parecem ser sempre certos ", e no estado actual do Mundo urge ousar lutar e tentar perceber.

Como disse Gael Slima, director-delegado da BVA-Sondagens, num texto, clicar aqui, está longe de ser verdade o diagnóstico formulado pelos comentadores políticos e os partidários da candidata da Esquerda, de que existe " uma forte tendência de direita " no eleitorado francês. Isso parece errado, pois, segundo Slima, a esquerda era largamente maioritária na intenção de voto do eleitorado nos largos meses da pré-campanha. " Os eleitores interessaram-se por temas que davam estruturalmente vantagem à esquerda como " o emprego, a luta contra a pobreza, o poder de compra e a Educação (temas nos quais a esquerda suplantava ainda a direita dentre 10 a 23 pontos de diferença no arranque da campanha oficial) ", frisa., para rematar: " O facto que este potencial inicial não tenha sido transformado em voto revela, simplesmente, o diferencial de persuasão respectivo de cada candidato. Trata-se menos de um problema pessoal do que de projecto: a direita propôs aos franceses um projecto de sociedade coerente, legível e bem marcado ideologicamente, a esquerda não o fez ".

E aqui cruzamo-nos com o diagnóstico publicado no Le Monde pelos politólogos Gérard Grunberg e Zaiki Laidi, sobre o " pessimismo social " da Esquerda, em que o centro dessa atitude, advogam, " se fixa num sentimento de impotência - ou de resistência impotente - face ao mercado e à Mundialização ". Se Sarkozy logrou convencer o eleitorado a ultrapassar esta " depressão ", Sego e o PS não o conseguiram realizar. Porquê? A superideologização de longa duração dos socialistas parece ser fruto de um bloqueamento: "Temendo as divisões de um debate em profundidade, decidiram-se por fechar o caldeirão ideológico depois de timidamente o terem aberto, e inventando fórmulas vazias ou insuficientemente explicadas como o " reformismo de esquerda " ou o " sim à economia de mercado, não à sociedade de mercado ".

E vão mais longe, focando o cerne do diferendo sobre o futuro da social-democracia: " A social-democracia, é o compromisso social entre o trabalho e o capital numa base nacional. Ora, hoje, devido especialmente à Mundialização, a relação de forças entre o capital e o trabalho não está mais constrangida pelo contexto nacional. Devido à chegada ao mercado mundial de um bilião de novos participantes, centra-se no nível planetário o repensar e o restabelecimento de um compromisso - se tal for possível ". Mas, advertem, " os princípios de diálogo, de concertação, de antecipação, de descentralização e de co-responsabilização permanecem sempre pertinentes, como desde os tempos áureos".


FAR

Ilha de Moçambique (3)


Ilha de Moçambique. 2003

Foto de Sérgio Santimano

Ainda há Cesários...

sexta-feira, 15 de junho de 2007

O post da Gabriela

Li com mais atenção o post da Gabriela e fiquei mesmo à rasca.
Estamos num sítio muito lixado. A gentinha que nos rodeia tomou conta da coisa e impera e governa-nos.
Montaram-se no cavalo do Poder e mandam com a maior das desfaçatezes.
As bananas despontam na República.
As FERSAP's fazem a diferença e contentam a Governação.
Os camelos trabalham, pagam e calam. Ai deles se adoecerem!
Estou mesmo à rasca.
Preciso urgentemente defecar este país.

No dia seguinte...

Fazer de conta que não houve nada e ter juízo.

Viver no reino das sombras e de todos os medos.
Como dantes...

Duvidar - o que é sempre salutar... - antes de falar.

Ai o medo é um ministro sinistro
um preservativo posto a tempo
com medo, muito a medo...

Medir cada palavra, perceber como é bom usar do siso.
Tudo é avaliado, tudo calculado
até oe centímetros de um sorriso.

Ai este medo que temos
que até mesmo tememos
a sombra que fazemos.

Há os que vencem. E tu és vencedor.

Sem medo.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

quarta-feira, 13 de junho de 2007

2º parte ... A saga do formulário

... formulário: CERTIFICADO DE INCAPACIDADE TEMPORÁRIA PARA O TRABALHO POR ESTADO DE DOENÇA DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO/ AGENTE ADMINISTRATIVO

(o objectivo desta partilha “não é queixar-me à portuguesinha” mas “ajudar” a reflectir sobre este assunto- Percebemos o que se está a passar ?

A todos pode chegar o momento súbito, em que é necessário o escorregadio animal… Terão sorte? O que significa ir atrás dele? Ceder à continuação do cerco aos direitos essenciais?)

1º situação:

H.S. F-X. - Serviço de Urgências (serviço público estatal)

- Aqui não é passado nenhum atestado médico, apenas uma declaração de entrada e saída do paciente, muito menos preenchem o dito formulário, que revelaram desconhecer completamente e, óbvio, não o possuem; com tal resposta categórica, dirigi-me “em sofrimento” a um outro hospital.


2º situação:

H. da L. (privado, mas com acordo com a ADSE) –

Consulta complementar de atendimento permanente.

- Aqui o médico pode passar um atestado médico se o entender, mas não preenche o dito formulário nem o estabelecimento o possui;

(Depois de consultada, levo o atestado médico com tudo a que tem direito, alinhado segundo as alíneas do artigo 31, meio de prova,
Decreto-Lei n.º 100/1999, de 31 de Março (na redacção dada pelo Decreto-Lei n.º 181/2007, de 9 de Maio))

Não é aceite este atestado médico, por não ser o formulário.


3º situação:

Centro de saúde da Aj.

- Aqui têm o formulário, passam-no mas é preciso ter uma consulta marcada (talvez com 15 dias ou um mês de antecedência) ou inscrever-me na consulta de atendimento permanente, chamada de consulta de inter-substituição, considerada urgente, que é para aqueles que não têm médico de família e não podem esperar, (as pessoas que não têm médico de família, são imensas… os médicos destes postos não chegam para todos os utentes) Azar, só atendem 20 pessoas por dia na consulta urgente e eu só a 21º. Terei que voltar outro dia.

Mas depois, como afinal não coincide exactamente com a minha morada, chega-se à conclusão que o meu centro de saúde é outro.


4ª situação:

Centro de saúde de Al.

- Aqui têm o formulário, passam-no, (Aleluia) mas apenas nas consultas marcadas é que passam declarações, atestados, etc. (segundo indicações no balcão e nas paredes) Insisto que está na lei que os formulários podem ser passados nas consultas de inter-substituição e de atendimento complementar, mas dizem-me que não o fazem. Sugerem-me que vá falar com um médico das consultas, talvez esteja bem disposto e me atenda, no final. Parece que me vai atender, daqui a umas horas. Aqui não há triagem, por isso, mesmo que tenha dores e não tenha posição de pé ou sentada, isso não é importante, até porque é um favor. Vou marcar a concedida consulta. Serei atendida, com a condição de que aquilo não se repetirá. Fecha os olhos sem resignação, apenas porque isto do formulário é coisa recente. Garante que os hospitais públicos os têm de passar, e também os serviços de atendimento permanente (SAP) e complementar nos centros de saúde. As clínicas privadas com acordo com a ADSE, também.

Pede-me que arranje rapidamente um médico de família, que assim é que não pode ser. No balcão dizem-me isso ser impossível, por longos meses estão esgotados os recursos, os médicos estão cheios de pacientes, não podem mais as suas listas. Se me acontecer alguma coisa, que vá aparecendo e com sorte serei atendida.

(Saliento aqui, a toda esta saga esteve sujeita uma pessoa, que por indicação médica deveria estar em repouso).

Conclusão: Por ter o cartão da ADSE, tenho pecado, ou seja, não tenho frequentado nos últimos anos os centros de saúde e por estar no ensino e entretanto andar regularmente a mudar de escola/cidade/distrito, perdi a noção de médico de família. Que é isso? Parece-me um conceito ancestral, quando cada vez mais os portugueses já não sabem onde vivem e muitos perderam a unidade familiar pelas suas próprias condições de trabalho ou nem têm agregado familiar. De qualquer modo, é-me inacessível…

Na verdade, estamos a sofrer uma espécie de terrorismo social, (como diz um muito conceituado, amigo meu), porque nos afunilam em becos de todo asfixiantes, como se nada.

É muito sério!! Tremendamente sério.

A instauração do medo começou há muito…

Mas será saudável vivermos com medo?

Será obrigatório, termos à nossa mesa esse encolher de dignidade?

A perplexidade acompanha-me!!

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

Telegramas

A crise da Europa é muito profunda - Zaki Laidi, a estrela da sociologia política francesa, escreveu um longo texto no Libé, no qual avisa que a "crise da Europa é profunda mesmo muito profunda". E relembra, sem emitir juízos de valor aquele axioma do sucessor de Tony Blair, o mister Brown: " A Europa, é um conjunto muito grande para resolver os pequenos problemas e muito pequeno para tentar resolver os grandes ". Sobre a actualidade política aflitiva para a Esquerda gaulesa, sujeita aos dissabores de uma infernal luta fratricida entre Ségolène e os dois " elefantes " do seu partido, Strauss-Khan e Fabius, Laidi aponta sem dó nem piedade: " A aliança com o Centro ontem desprezada será praticada amanhã, custe o que custar ".

Superpower hipocrisy - Eu procuro o sentido das coisas, dê lá por onde der. Ando a ler um livro do Alain Badiou sobre o Deleuze, " O clamor do Ser", que me dá água pela barba. Edição da Hachette, reedição em Poche pelo preço de uma caixa de cigarrilhas jamaicanas. Ora, um leitor do NY.Times escreveu a dizer que a líder oposicionista de Myanmar, Aung Kyi, não consegue ser libertada da prisão domiciliária infernal porque não existem " reservas de energia suficientes " no subsolo que justifiquem uma intervenção dos EUA para democratizar. "Por que é que a superpotência se mostra tão empenhada em restaurar a democracia pelo mundo fora e recusa salvá-la de uma implacável e antidemocrática situação?", sustenta.

As "luvas" mirabolantes do príncipe saudita - Não deve ser por acaso que uma das figuras políticas de maior peso do inextricável xadrez dos herdeiros sauditas, o príncipe Bandar Bin Fayçal, um provável sucessor do rei Abbdullah, antigo embaixador nos USA durante 22 anos, se vê envolto em jogadas de contra-informação por causa de uma série proverbial de " luvas " encaixadas nas suas contas na Suíça. As autoridades inglesas fazem o cerco total à revelação de pormenores e, segundo o Wall Street Journal, pensam é em incriminar a atitude das empresas de armamento. Melhor moral e ética do que esta só na democracia " vigiada " de Putin...

FAR

Ilha de Moçambique (2)


Ilha de Moçambique. 2003

Foto de Sérgio Santimano

terça-feira, 12 de junho de 2007

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

Hells Angels (9)


Miúda dos Angels. Virgínia, USA. 2007

Foto de Jota Esse Erre

1º parte... "o formulário da ministra e amigos"

Estou-me a passar com o formulário para o atestado médico!! E com quem o exige, com quem não o passa, com quem não o pode passar, com quem não tem vagas na consulta onde o poderia passar, com quem não o aceita, com a saúde privada que tem acordos com a adse mas não pode, com quem nunca ouviu falar disso embora sendo médico, com quem inventou esta nova maneira de pôr um professor que teve o azar de ficar doente a correr de lá para cá, tal qual um saudável rosado atleta. Porra, com tanta desconfiança por parte do ministério, por que razão não mandam de vez o médico que entenderem ao domicílio com a merda do formulário na mão mais a autorização para o passar?

Tirem-me daqui!!!
estão todos loucos!!!!
e eu preciso de repouso...
e tenho um atestado médico que serve para nada!!! porque não é o belo do formulário...

Status quo

As desigualdades começam quando falha o Ensino.
As gentes chegam à Escola carentes de Educação. Vêm em bruto. Os agentes do Ensino vêem-se e desejam-se para retirá-los deste limbo. Lutam contra milhentos inimigos, todos reconhecidamente muito mais poderosos.
O Estado desinvestiu claramente no ensino básico.
Mantém a fachada: paga a uns quantos educadores de infância e aos professores, decreta programas oficiais e inspecciona.
A coluna vertebral do sistema educativo do nosso país está entregue a um conjunto de boas vontades: autarquias, associações de pais e ao trabalho de cada professor. Os meninos e as meninas chegam à escola e fazem o que bem lhes apetece, ai do professor que os tente pôr na ordem. E por esta expressão quero dizer: ensinar a estar. Apenas isto. Este país anda a malbaratar os seus recursos: paga a pessoas que tentam ensinar a estar uns vinte e tantos maduros na casa dos 15 ou mais anos e que frequentam o 10º ano de escolaridade. Estes nossos concidadãos que têm agora 13, 14 e mais anos andam pelas salas de aula das escolas do ensino público a exaurir recursos que este país não tem.
Nada aprendem, nada pretendem aprender.
Vão à Escola porque são obrigados pelos pais. Ali é quase de graça, uma 'baby-sitter' cobra à hora e na hora.
Os próprios pais têm da Escola a visão que ainda retêm dos tempos em que por lá passaram: aquilo é uma chatice, depois é uma questão de 'cunhas'. Falo da nossa escola pública em meio suburbano...
E temos uma vantagem: a Escola tornou-se um serviço com direito a reclamação. Como se fosse um urinol público onde se pode reclamar pela falta de água, pela escassez de papel higiénico ou pelo que quer que seja.
Claro que nesta latrina há funcionários mais descuidados. Mas estes já são frutos do sistema. Deixaram-nos entrar.
Mas eles funcionam. Aquilo que não funciona é a visão central. Aqueles que se foram revezando no mando. Aqueles que sabiam, que encomendavam estudos (pagos à custa do erário público...) e que liam e se estiveram nas tintas. Nada mudaram. É bem melhor que estejamos assim.
Embora lá falar de taxas de abandono, embora lá discutir a sério o problema do ensino da Matemática, embora lá perceber que é pela transformação do social que podemos promover uma verdadeira transformação de mentalidades e, dessa forma, dar crédito a um sistema de ensino verdadeiramente apostado na transformação.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Do Reino da Dinamarca

Olá,

Já deixei o local da conferência dos Oito Governadores que como vocês se devem ter apercebido foi um sucesso. Toda a malta comeu e bebeu bem, toda a malta foi à praia e os globalizados antiglobalização andaram à porrada com a polícia pelo que não houve nada de anormal. Houve também um comunicado final a dizer que sim e tal e coisa e o aquecimento global e uma promessa de mais 60 mil milhões de dólares para África. Nada de anormal portanto.
A malta das organizações missionárias que estão sempre presentes a estas conferências e que hoje em dia são conhecidas por ONGs disse como era de esperar que a massa não chega e ficaram particularmente chateadas porque os oito governadores não disseram quando é que vão gastar essa massa. Ficaram todos de certo modo embaraçados quando numa conferência de imprensa alguém lhes perguntou o que é que tinham a dizer sobre o facto dos Estados Unidos e a Grã-Bretanha serem os países que mais cumpriram as promessas feitas há dois anos atrás e o que é acham do facto do burro do George Bush ser aquele que mais massa dá a África. Eu pensava que iam responder “porque é burro” mas, ena pai parecia que tinham engolido um sapo. Mais chateados ficaram quando o jornalista, com um ar e pronúncia do continente asiático, perguntou o que é que achavam do facto dos 60 mil milhões agora prometidos 30 mil milhões virem dos Estados Unidos. Eu pensei mais uma vez que iam responder “porque ao contrário dos italianos que nos últimos dois anos não deram um tostão do que prometeram o George Bush é burro” mas não. Disseram que é tudo uma “cortina de fumo para esconder o facto de que não estão a cumprir anteriores promessas” e coisa e tal. Um dos activistas missionários disse que “o povo rugiu e os g 8 ganiram”. A malta dos jornais gramou à brava e eu tenho que admitir que dá um bom título.
No último dia foi outra vez a conferência de imprensa do Sarko e desta vez fiquei porque o dito cujo pregou uma finta ao pessoal de informação. Chegou mais cedo vejam lá! É bom sinal. O Chirac fazia ponto em chegar atrasado o que me irritava sempre e eu mais irritado ficava quando ele começava a dizer bacoradas sobre a importância da França no mundo que como vocês sabem está muito rapidamente a caminhar para o zero. Ou como dizia um alemão no local da conferência dos 8 Governadores: zilch que eu creio que significa nada ou pelo menos soa a isso.
Nesse último dia fui dar uma volta pela vedação construída em redor do local da conferência e fiquei impressionado. Tenho que voz dizer que os alemães continuam a ser os melhores em construir vedações para impedir pessoas de passear se de um lado para o outro. Desta vez como a maior parte dos polícias eram da antiga Alemanha do proletariado foi só recordar como a coisa era feita e aplicá-la em pequena escala. Ao contrário do que aconteceu há dois anos na Escócia nenhum globalizado antiglobalização conseguiu furar a rede patrulhada ao seu longo por carros e policias a cavalo e helicópteros sempre no ar. O Honeckker teria ficado orgulhoso. Eu cá achei que nos pontos de entrada da vedação deveriam ter posto sinais como “check point Charlie. You are now leaving the free world. You are now entering 8 Governors in Wonderland” e depois deixar entrar todos os globalizados antiglobalização e fechar a cancela.
Nesse último dia houve um incidente que ia acabando em sangue. Uns fotógrafos bifes queriam dar porrada (ou como eles diziam “fuck up”) a cinco globalizados antiglobalização que resolveram outra vez dar um ar da sua graça bloqueando a linha de caminhos-de-ferro que ligava o local da conferência ao centro de imprensa/copos e salsichas Aconteceu que o comboio estava cheio de jornalistas todos muito apressados porque era o fim do dia e tinham ainda que ir escrever o que tinham dito os oito Governadores antes de ir para os copos.
Quando o comboio parou e fomos informados que tínhamos que esperar pela chegada da polícia uns fotógrafos bifes perguntaram: mas quanto são eles? “Five”, respondeu a germânica dos caminhos-de-ferro. Os bifes olharam uns para os outros e disseram :”Let’s fuck tem up”. A mulher dos caminhos de ferro só dizia “nein nein” e “ I call die polizei”. Ao que uns eslavos entoaram em coro: “Yes lets fuck them up”.. Mesmo uns franceses presentes com fato e gravata começaram a gritar que os globalizados antiglobalização são “des cons” e a sugerir aos ingleses fotógrafos com um ar de rufias para irem lá à frente “fuck them up”. Como vêem problemas comuns podem produzir alianças inesperadas, Só que a germânica apercebendo-se que os bifes queriam triar o emprego aos polizei fez recuar rapidamente o comboio para o local da conferência até os polizei irem “fuck them up”’
Os bifes lá se acalmaram mas acho que tinham razão. Um comboio com 300 jornalistas poderia muito bem ter “fucked up” os cinco globalizados antiglobalização sem ser preciso chamar a polícia. Mas enfim… como diz o grande filósofo inglês Mick Jagger “you can’t always get what you want”. Resultado: Fomos todos atrasados para os copos onde ao fim da noite apareceram também muitos polizei para tirar fotos e beber uns copos com o maralhal. Bacano! Eu pedi a uns três ou quatro para me darem uma T-shirt preta que eles usam com a palavra Polizei nas costas mas só levei com os pés. Uma polizei ficou ofendida perguntando-me: Você quer que eu tire a minha t shirt aqui? Fiquei sem camisola e lá pensei outra vez no filósofo Mick Jagger.
Estou agora em Copenhaga que agora tem mais mulheres com fraldas amarradas à cabeça para esconder o cabelo e mais talhos al hal mas onde tal como há 30 anos se pode passar dias e dias sem ver um policia. O que é porreiro. Significa que aos fins-de-semana os dinamarqueses continuam a apanhar bebedeiras de caixão à cova e que ninguém os chateia, Mas volto a este assunto mais tarde.

Um abraço,
Do reino da Dinamarca

Jota Esse Erre

Ilha de Moçambique (1)


Ilha de Moçambique. 2003

Foto de Sérgio Santimano

"Cada vez há mais pobres e maiores desigualdades"

Isto já vem a desoras.
Até porque amanhã eu tenho de me levantar cedinho, muito cedinho, para a minha jornada de produção e há-de haver muito cidadão que se deixa ficar entre lençóis 'mais um nadinha' aí até às dez da matina.
Mas é que me incomoda ir para a cama sem ripostar.
Fez-se, a partir de 25/4/74 um Estado Social.
Bem, quer dizer, mais ou menos, assim assim, pois...
Dá ideia que sim. Bem vistas as coisas até se nota um certo bem-estar. Carros aos montes a atravancar as estradas, malta nos restaurantes e cafés, o Algarve cheio, montes de construção civil, os imigras a fazer os trabalhos que a malta não grama nada fazer. E os putos? Os putos, pá, já nem dá pra distinguir se são da França, da Inglaterra ou da Alemanha.
Muito fixe, pá.
E os pobres?
Os pobres, pá, os pobres são mais que muitos. A malta não os vê, pá, porque agora não andam por aí a exibir-se.

Falemos sério e a sério: falemos sobre as desigualdades.
Um neto do senhor Mário Soares parte com vantagem, há-de chegar longe porque tem "a mão por baixo". E vem ele dizer que não acredita em Deus, ele que nem lhe agradece o facto de ter um descendente que vive num mundo já próximo do Paraíso.
É que não é bem a mesma coisa. O Domingo na Amora a passear pelas ruas sujas e o mesmo Domingo no ambiente cosmopolita e eclético de Nafarros.
Não pretendo que todos tenham Nafarros, gostava apenas que muitos pudessem ter algo mais que o horizonte triste e limitado da Amora.

A desigualdade que cada vez mais se revela na nossa Escola. Uma Escola que se centrou numa questão de dinheiro, de classe social.
Este senhor teve responsabilidades ao mais alto nível neste país, não mexeu uma palha para que o estado de coisas se alterasse.

Escrevo o seu nome numa ostra.

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

Primeira volta das Legislativas Francesas: Sarkozy apanhou "bofetada" com alta abstenção

UMP (sarkozista) tem 45 por cento dos votos; Esquerda(PS+PC+PRG+Verdes 37,5 % e M. Democrático 7,3 %. Abstenção ronda 40 %

O sarkozysmo é uma espécie de doença senil do autoritarismo modernaço e vivaço. Joga
com o efeito da ilusão de estar sempre a mexer. E tem mãos mesmo muito compridas: o Nouvel Obs desta semana trazia um artigo aterrador sobre o controlo dos Média - dos grandes TF1, estatais e a generalidade da Grande Imprensa diária - operado pelo novo PR francês. Putin e Bush passam por aprendizes. E na Europa nenhum poder executivo concentrou tão esmagadoramente essa " influência " cínica e fatal sobre a Liberdade de Informação. Apesar do balanço das presidenciais a Direita (UMP) tem que encarar uma desalentadora elevada taxa de abstenção. O PCF (o que é histórico) pode perder todos os seus deputados e os Verdes e o MD de Bayrou ficarem reduzidos a pouco menos de 5. O PS prepara já as grandes remodelações: Ségolène falou depois de Hollande, numa primeira apreciação dos resultados e projecções da Primeira Volta.


FAR

Hells Angels (8)


Sob a bandeira. Virgínia. USA. 2007

Foto de Jota Esse Erre

domingo, 10 de junho de 2007

Das cidades e suas lutas

Car@ almadense:

Todos sabemos que a instalação de uma rede de eléctricos rápidos ou metros ligeiros de superfície é a melhor solução - a todos níveis - para a solução dos transportes nas áreas metropolitanas. Esta rede poderia custar, a preços actuais, só na área metropolitana de Lisboa, cerca de 1 bilião e 300 milhões de euros.
Há mais de 10 anos iniciou-se, e bem, o processo do metropolitano ligeiro da margem sul do Tejo (MST), processo esse que, a partir de 1996, passou a sofrer de várias enfermidades. Alguns documentos que irão sendo apresentados falam por si. Está-se na iminência de se implementar um projecto concebido por mimetismo de outras cidades cuja morfologia nada tem a ver com a de Almada.
Estamos ainda a tempo de recuar, não fazendo um enorme disparate que comprometerá fortemente a vida, hoje, aos almadenses, bem como às gerações vindouras. Chama-se a isto cuidar o presente, mas, ainda e mais importante, cuidar o futuro. O Movimento de Cidadãos "MST, não cortes Almada ao meio", exercendo os seus direitos e deveres de uma cidadania activa, apenas exige que se cumpra o Direito Comunitário.
Pelo Movimento de Cidadãos "MST, não cortes Almada ao meio" (clicar para aceder ao website)

Almerinda Teixeira

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

Soares Todo-o-Terreno

“O neoliberalismo deu às pessoas a ideia que o mundo é uma selva e a selva é para os mais fortes, que se alimentam dos mais fracos. É o que se chama o ‘darwinismo social’. A força, aliás, não se mede pelo músculo, mas pela carteira. Cada vez há mais pobres e maiores desigualdades(...)”
(Como define a relação que existe actualmente com o dinheiro?)

“Desde que há novas normas de segurança, deixei de ir. Já tive vários convites, mas não estou disposto a estar ali horas a ser fiscalizado, a preencher papéis e a responder às perguntas, nem sempre inteligentes, que os agentes fazem na fronteira”
(Tem ido aos Estados Unidos?)

“(...) Sócrates acumulou demasiadas más vontades. Na classe média, no povo, no seu eleitorado tradicional. È tempo, julgo, de corrigir o rumo, pensando mais à esquerda. É daí, de resto, que vai soprar o vento, vindo donde menos se esperaria: da América do Norte."
(Quais os ministros que não funcionam?)

“(...)Gosto dos meus compatriotas, mulheres e homens, gosto de sentir o calor do entusiasmo popular e entendi-me particularmente bem com os jovens. Com os da minha faixa etária é que foi8 o diabo: não compreenderam a minha insistência. Achavam que devia estar, como eles, a ver televisão, com uma manta sobre os joelhos." (Quando fez a sua última campanha presidencial, sentiu o gosto de voltar a ter o contacto da rua?)

“(...)no meu sistema racional o problema de Deus não se encaixa. Acreditar que há um Deus que está algures, no universo, para recompensar e julgar as pessoas que andam cá por baixo é algo que para mim não faz sentido. Como não faz sentido a imortalidade da alma. Com o que conheço da ciência não faz sentido. Não creio na existência de um Deus, muito menos antropomorfo.(...)”
(Tem alguma nostalgia da não crença, de não acreditar em Deus?)

“(...)Digo sempre a verdade. Melhor: aquilo que penso ser a verdade. Como não tenho nada a ganhar e nada a perder, sinto-me muito solto e livre. E gosto de partilhar a ampla experiência que adquiri ao longo da vida. È uma forma de dar aos outros aquilo que recebi dos outros, que foi imenso.(...)”
(Politicamente, quer fazer outras coisas?)

Excertos da entrevista de Cândida Pinto e Clara Ferreira Alves. Única. Expresso de 9/06/2007

Hells Angels (7)


Hard Man. Virgínia. USA, 2007

Foto de Jota Esse Erre

sábado, 9 de junho de 2007

Mambo 20

Contrários à direcção das linhas das tábuas de madeira, estão sobre elas os ossos das pernas com a sua "cheieza" demorada, em vida. Desde o chão é admirável o piso tão macio do tecto, tão imensamente desnudo de objectos, na sua brancura faustosa esquecida de sombras. Faz-nos sentir menos empobrecidos. Não se entende como tem a mesma extensão do onde estão pregadas, as tábuas bem assoalhadas e as pernas sobre elas. O restante do corpo também lá está, nessa rasia de mundo abaixo do nível dos assentos do sofá. As portas agigantam-se em altura, sem nada apontar. Não é facilmente que se é vizinho não apenas do pó mais anónimo que se possa conceber mas também de areias com cor de longes e insectos armados com os seus modos tão mais pequenos. Parece que colapsam se não tiritarem de ocupações. Compreende-se, que estes seres não tenham joelhos. Não sabem da posição sentada nos seus cansaços.
Quanto às humanas pernas... É preciso algum tipo de relâmpago a devorar gulosamente estabilidades já estreitas por si ou então uma ardente alegria que teima em ficar antiga numa afiada tristeza, para se estar assim, caído no chão como uma qualquer folha, que se tenha unido ao vento.

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

Sublinhados do Expresso de 9/06/2007

“ (...) os governos, entre nós, não têm por hábito corromper juízes, nem ameaçá-los de morte ou às suas famílias, não os podem mandar prender, nem desterrar, nem destituir, nem sequer censurar pelas suas decisões.
(...)
(...) temos assistido recentemente a uma prática de contragovernação, em especial por parte dos tribunais administrativos e através dessa varinha mágica que são as providências cautelares.
(...)
(...) Já faltou mais para vermos os tribunais administrativos a oporem-se, por providência cautelar, ao Orçamento do Estado, ao envio de soldados para a Bósnia ou aos exames nacionais do Secundário.
Bem fala o novo presidente da Fenprof quando promete boicotar mais uma reforma proposta pela ministra da Educação entupindo os tribunais administrativos com providências cautelares – uma por cada professor que não seja promovido por mérito. Parece-me uma causa bem capaz de obter vencimento nos tribunais administrativos.”
Miguel Sousa Tavares

“ (...)
É verdade que a confiança do país na Justiça se encontra próximo do grau zero e que há indícios de uma certa propensão justicialista em certas decisões dos tribunais. (...)”
Fernando Madrinha

Hells Angels (6)


Born to be wild. Virgínia. USA. 2007

Foto de Jota Esse Erre

Gérard Miller: a verdade é surpresa!

O célebre psicanalista pode ensinar-nos a ver melhor o mundo e as suas personagens, bestas e heróis...

"Somos conduzidos a dizer, muitas vezes, que os que afirmam a verdade distinguem-se na política. Isso está correcto. Mas, infelizmente para a sua carreira, eles são tentados a querer dizer a verdade sobre... a verdade. Pensam formular nisso critérios cometendo o mesmo erro que os lógico-positivistas. Porque a verdade, ela, não está justamente presa a nenhuma lei: não se confunde com o saber; como no lapso ou no acto falhado, é surpresa."

"Michel Rocard é incontestavelmente um homem brilhante, mas tem um handicap em relação ao Sol: tem razão. E, como tudo indica, que não tem menos razão ontem do que hoje, está condenado a repetir-se. É a boca que se come a si própria; a precisão dos enunciados importa menos que a posição de enunciação."

"Foi isso que explica a enigmática rigidez que arrastou na solidão e na derrota Mendès France. E como não olhar com afeição para aquele que proclamou um dia na TV, como que revelando um caso de predestinação luminoso: eu sou o seu filho 'intelectual'. Há um pensamento rocardiano: 'Sei, portanto sou', que se prolonga ainda num implícito 'Sou como sou'."

In Gérard Miller, Le divan des politiques, Edit. Seuil/ Navarin. France

FAR

Terra

African Kids /6 - Angola, 2005

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

Da conferência dos Oito Governadores

Olá,

Vocês desculpem-me lá mas ontem à noite estava totalmente cansado e não tive pachorra para escrever. O Sarko deu uma seca ao pessoal à velha e à francesa e o Presidente Barolo deu outra conferência de imprensa em que repetiu as mesmas coisas do dia anterior. Só que desta vez tudo era um sucesso em vez de ser um desejo porque aparentemente houve um acordo sobre o aquecimento global. A malta acordou que afinal não acordou em nada e isso aparentemente e segundo o Barolo foi um sucesso.
Para ser honesto o Sarko não nos fez esperar tanto tempo como o Jacques Chirac fez há dois anos na Escócia quando chegou uma hora e meio atrasado à conferência de imprensa. O Sarko só nos fez esperar 45 minutos. Por essa altura eu já estava farto e fui dar uma volta e descobri que os tempos mudaram.
Falei com um dos comandantes “de terreno” da polícia de choque. Um tipo aí de uns 50 anos, cabelo rapado à careca, barba de dois dias, magro como o caniço, só nervo nem um grama de gordura e …. um brinco na orelha esquerda. Ena pai, se não fosse a farda eu pensaria que o gajo era um freak dos velhos tempos só que sem cabelo.
Mas a melhor cena foi quando ali perto de Heiligendam antes de mais uma cena de porrada entre os globalizados antiglobalização e a polícia, um dos manifestantes sacou de um trompete e tocou impecavelmente e com muito soul e feeling a…. Internacional. O tipo tocava bem embora eu tenha pensado na altura que foi um pouco de mau gosto tocar a internacional num local que pertenceu à antiga Alemanha de Leste. Alias ninguém aplaudiu mas lá que foi bem tocado isso foi. Passados uns minutos e não sei por que razão a polícia decidiu dar chuvarada ao pessoal com dois carros com duas mangueiras uma das quais estava sempre a pingar grandes quantidades de água mesmo quando não estava a ser usada. Começou tudo aos empurrões e a polícia apanhou também uma chuvarada. Houve um gajo que atirou com uma garrafa de cerveja meio cheia que inexplicavelmente não se partiu quando um polícia a aparou com o seu escudo. Tenho que aprender a técnica. Depois a coisa começou a aquecer e eu fui-me embora.
Tenho a dizer-vos que já estou um pouco farto de tudo isto. Ontem aliás fui à praia para passar tempo, praia que é aqui mesmo em frente do centro de imprensa. Quando voltei duas horas depois estava toda a malta na galhofa em frente a um écran gigante a ver o George e o Vlad (é assim que os amigos tratam o Putin) a dizerem que se amam. Não sei lá por que razão a malta em frente ao écran achou uma piada enorme quando o Bush disse que a “Rússia é um grande país e os Estados Unidos também são um grande país e o mundo fica nervoso quando começamos a argumentar”. Risada geral! Deve ter sido pela profundidade filosófica da declaração, mas o Vlad gostou e deu a mão ao George para a foto. Tão romântico! E malta toda na galhofa com um jornalista espanhol a dizer que pareciam “maricons”
Vocês devem ter notado que eu disse que a malta estava em frente a um écran. Isto em grande parte funciona assim. A malta no centro de imprensa vê as notícias no écran da televisão (como vocês) e depois escreve as notícias sobre as coisas que vocês já viram em directo. É porreiro! Se isto durasse mais três dias ninguém mais iria a Heiligendam porque o maralhal da informação prefere ficar aqui no centro de imprensa onde a comida e a bebida é melhor. Os alemães ontem numa tentativa de animar o pessoal abriram um campo de voleibol na praia. Infelizmente só uns gajos barrigudos é que foram jogar e depois um deles começou aos berros quando a bola bateu directamente na câmara de televisão estacionada a uns metros de distância. Esse barrigudo foi-se embora com um ar preocupadíssimo sentando-se depois num banco a limpar a câmara e a gritar insultos (creio eu!) numa língua que eu não percebia.
Ah! Já me esquecia que ontem fui a uma conferência de imprensa de activistas de causas africanas. Fiquei a saber que o aquecimento global é que causa cheias em Moçambique. Segundo um dos gajos que falou na conferência de imprensa (um nigeriano com uma impecável pronúncia britânica) os países da brancalhada deveriam pagar aos países africanos pelo aquecimento global. “E isso para além do dinheiro já prometido,” disse ele. Ninguém se riu o que eu achei estranho. A brancalhada continuou toda a escrever nos cadernos de notas, todos muito sérios. Eu estava à espera que o nigeriano dissesse: "estava só a gozar", mas não. Aparentemente estava a falar a sério. Quando eu lhe disse que cheias em Moçambique acontecem desde o tempo do antes da Outra Senhora, ele disse-me que agora ocorrem com mais frequência e afectam mais pessoas. Ninguém se riu, vejam lá!
A sala desta conferência não tinha ar condicionado ou janelas e a malta começou toda a sentir o efeito de estufa. Fui-me embora quando um outro activista disse que a brancalhada deveria pagar a África porque uma percentagem enorme dos seus médicos e enfermeiros vão trabalhar para esses países. Ninguém se riu e ninguém perguntou porque é que os médicos e enfermeiros não querem ficar em África. Eu já estava a transpirar e fui beber uma cervejinha alemã com uma salsicha. Depois fiquei com azia. Não sei se foi da salsicha ou das conferências de imprensa.
Hoje isto termina. O Thabo Mbeki está ali neste momento falar com o Tony Blá Blá e com a Angie. Tenho que me ir embora porque pode ser que alguns deles tenha alguma coisa a dizer. O que duvido.

Até breve
Do local da conferência dos oito governadores

Jota Esse Erre

Hells Angels (5)


Sinal de paz. Virgínia. USA. 2007

Foto de Jota Esse Erre

Maravillosas ocupaciones


Qué maravillosa ocupación cortarle la pata a una araña, ponerla en un sobre, escribir Señor Ministro de Relaciones Exteriores, agregar la dirección, bajar a saltos la escalera, despachar la carta en el correo de la esquina. Qué maravillosa ocupación ir andando por el bulevar Arago contando los árboles, y cada cinco castaños detenerse un momento sobre un solo pie y esperar que alguien mire, y entonces soltar un grito seco y breve, girar como una peonza, con los brazos bien abiertos, idéntico al ave cakuy que se duele en los árboles del norte argentino. Qué maravillosa ocupación entrar en un café y pedir azúcar, otra vez azúcar, tres o cuatro veces azúcar, e ir formando un montón en el centro de la mesa, mientras crece la ira en los mostradores y debajo de los delantales blancos, y exactamente en medio del montón de azúcar escupir suavemente, y seguir el descenso del pequeño glaciar de saliva, oír el ruido de piedras rotas que lo acompaña y que nace en las gargantas contraídas de cinco parroquianos y del patrón, hombre honesto a sus horas. Qué maravillosa ocupación tomar el ómnibus, bajarse delante del Ministerio, abrirse paso a golpes de sobres con sellos, dejar atrás al último secretario y entrar, firme y serio, en el gran despacho de espejos, exactamente en el momento en que un ujier vestido de azul entrega al Ministro una carta, y verlo abrir el sobre con una plegadera de origen histórico, meter dos dedos delicados y retirar la pata de araña, quedarse mirándola, y entonces imitar el zumbido de una mosca y ver cómo el Ministro palidece, quiere tirar la pata pero no puede, está atrapado por la pata, y darle la espalda y salir, silbando, anunciando en los pasillos la renuncia del Ministro, y saber que al día siguiente entrarán las tropas enemigas y todo se irá al diablo y será un jueves de un mes impar de un año bisiesto

Julio Cortazar.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

Do encontro dos Oito Governadores

Olá!

Hoje tenho a dizer-vos que estou bem lixado com os globalizados antiglobalização. Cortaram a linha de caminhos-de-ferro que liga Kuhulungsborn a Heiligendam e eu gastei cinco horas para percorrer 16 quilómetros para falar com o grande timoneiro Durão a que alguém insistiu em chamar de “Presidente Barolo”.
Mas já lá vamos.
O que aconteceu é que para ir ao local onde os 8 Governadores se reúnem (e “penduras” como o “president Barolo”) os 5.000 mil jornalistas que aqui se encontram para rescrever “press releases” e comer e beber do bom e à borla precisam apanhar o comboio a vapor antigo, relíquia da ditadura do proletariado mas que é bem giro e que portanto merecia uma viagem.
Foi por isso que decidi ir à conferência de imprensa do “Presidente Barolo”. Lixei-me. Os globalizados antiglobalização interromperam a linha de caminhos-de-ferro o que lançou a burocracia da segurança da Bundesrepublik em paranóia total. Primeira reacção foi a do costume: ninguém mais vai ao local onde estão os 8 Governadores. O Barolo deve ter protestado porque depois lá concordaram em permitir que a malta fosse a Heiligensdam. Mas primeiro tivemos que preencher uma lista com os nossos nomes, que depois foi lida por uma gajo da segurança com bigodes grandes e que só falava alemão e que parecia um actor de um filme cómico a ter que ler os nomes da malta. Fartei-me de rir! Principalmente quando ele tentou ler o meu primeiro nome escrito com a minha letra!!! O porquê de termos que preencher uma lista de nomes que depois foi lida por um gajo de bigodes em uniforme escapa-me. Um brasileiro da Folha de São Paulo disse que isso é prova da decadência da Bundesrepublik: "Isto é organização de índio selvagem”, disse ele. “Em Moçambique está bem, mas aqui?” Fiquei calado. Deve ser vocabulário de progressistas!
Lá fomos depois de passados a pente fino pela segurança que incluía uma gaja com um cabelo loiro e uns pulmões de lhes tirar chapéu e depois fomos transportados por vedetas da marinha da Bundesrepublick até Heiligensdam. Porreiro. Um passeio de barco pelo mar báltico protegidos por gajos em barcos de borracha todos vestido de preto estilo carnaval dos Ninjas e que de vez em quando davam umas aceleradelas para impressionar os marinheiros das nossas vedetas que iam a passo de tartaruga (do mar).
Bem lá chegámos a Heiligensdam. Só que ninguém estava à nossa espera e uns gajos da segurança vestidos de fatos muito largos com chumaços debaixo do casaco estavam verdadeiramente em pânico porque não nos esperavam. Fiquei com a impressão que teríamos sido todos passados a fogo de metralhadoras se não estivéssemos sob a protecção da marinha da Bundesrepublick e dos “ninjas”. Os “ninjas” estavam lixados a gritar aos gajos dos casacos com chumaços.
Enfim! Tivemos que esperar na doca enquanto os gajos de fato e chumaços trocavam informações através de microfones escondidos nas mangas dos casacos. Nunca percebi porque é que os gajos da segurança escondem os microfones nas mangas do casaco. Um puto camera man disse-me há tempos atrás que é porque “it looks cool”. Deve ser.
Depois lá fomos a pé através de uma vila onde ao contrário do que acontece em Kuhulunsborg ainda não há recuperação da ditadura do proletariado. Velhas mansões sem pintura, com um aspecto da abandonado ao lado de algumas mansões já recuperadas para o que vai ser um local de turismo dos super ricos. Porreiro!. Fiquei a pensar que os gajos da ditadura do proletariado não deviam gostar de casas grandes. Todas a cair de podre. Atravessámos uma pequena floresta e fiquei alarmado quando um gajo da segurança nos disse : “não saiam do carreiro”. Só espero que não se esqueçam de levantar as minas quando acabar a conferência dos 8 Governadores. Mais tarde perguntei ao gajo da segurança se tinham posto minas na floresta e ele riu-se.
Lá chegamos ao local da conferência de imprensa do Durão e foi aí que um jornalista, creio que da Bulgária, começou a falar do Presidente Barolo. Ena Pai! Um camara man alemão ia caindo, da plataforma onde estava a filmar o acontecimento, de riso.
Depois da conferência ninguém estava interessado no que o Durão tinha dito. Toda a malta queria era falar do Presidente Barolo (que como vocês sabem é um vinho distinto italiano) pelo que eu acrescentei a minha parte à bazofia: “Red Barolo”. O camara man alemão foi o único que compreendeu. Horas depois já em Kuhulungsborg ia eu a sair do mictório quando dei de caras com ele. “Red Barolo”, disse o camera man para depois rebentar a rir.
Na conferência de imprensa eu fiquei lixado porque o Durão passou 95% do tempo a falar do aquecimento do global. Eu fiquei lixado porque já que na sexta feira os 8 Governadores vão reunir-se com os súbditos africanos eu pensava que os problemas da malária, da doença e da pobreza eram mais importantes. Aquecimento global é problema da brancalhada, porra. Por isso eu queria perguntar ao “presidente Barolo”: “Você acha que é possível combater a pobreza sem emitir gases que causam o efeito de estufa?”
Eu acho que é uma pergunta legítima já que os países que causam menos poluição no mundo são em África e são todos os mais pobres do mundo. Pode ser que África seja o futuro, sei lá!
Bem pus a mão no ar mas o “handler” que dirigia a conferência de imprensa não me dava a palavra e o Barolo acabou por só falar do aquecimento global o que me pôs a ferver.
Depois lá voltámos nas vedetas da Bundesrepulibk acompanhados pelos Ninjas. Cinco horas gastei eu nesta palhaçada em que o melhor da festa foi a referência ao Presidente Barolo. Quando cheguei a Kuhulunsburg fui logo beber uma “Rostock” que uma morena alemã de olhos verdes me tinha recomendado na noite anterior. Bem boa!(ambas).
Hoje quinta-feira tenho que ir encontrar-me com o Sarko. Ao princípio da noite. Espero que os globalizados antiglobalização já tenham deixado de tirar mau sino com o comboio. Não estou para outra viagem com Ninjas e marinheiros da Bundesrepublik. Senão se calhar vou é beber uma Rostock com a morena alemã de olhos verdes que graças aos milagres da globalização não fala uma única palavra de inglês, francês, dinamarquês ou mesmo português.

Um abraço
Aqui de Khulungsborg perto do local da conferência dos 8 Governadores

Jota Esse Erre

Hells Angels (4)


Duro Angel. Virgínia. USA. 2007

Foto de Jota Esse Erre

quarta-feira, 6 de junho de 2007

O álibi da Mundialização

Só a timidez inacreditável do nosso PR, Cavaco Silva, explica o facto de ter balbuciado algumas frases sobre o processo da Mundialização, caixa de surpresas e venenos que agita o Mundo...E que só por regulação democrática evitará o caos.

O stop and go da economia mundial e os encantos ilusórios de uma desvairada Mundialização, abertura de fronteiras e reclassificação tecnológica pela deslocalização de parte substancial do aparelho produtivo de baixa qualidade para a China e a Índia, criam embaraços a toda a gente, sobretudo em países como Portugal que abandonaram um projecto nacional de qualificação industrial. Ora, hoje a inovação afasta os países fracos e dependentes e acentua as desigualdades sociais e interterritoriais - mesmo em países enquadrados num conjunto supranacional de impacto como o é a União Europeia. Na Feira Nacional da Agricultura, Cavaco Silva frisou, no encadeamento de declarações caladas de imediato por auto-reflexo, que a Mundialização vai continuar a criar oportunidades... com vencidos e vencedores. Ele bem queria dizer isto, mas o bom senso e a responsabilidade da função ocasionaram o não dito. Quem é que ficou sossegado: ninguém, claro está; sobretudo os que se batem com os problemas da economia real: li no Público que um telefone ainda demora 6 a 7 semanas a ser instalado para unidades comerciais e industriais.

Justamente, a 24 de Maio último, o Wall Street Journal, a bíblia do capitalismo da Quarta Vaga, publicou em duas páginas um artigo/ reportagem enorme, intitulado "Resultados inesperados: a Mundialização aumentou e fez disparar as desigualdades de rendimentos "Caiu o Carmo e a Trindade e os cronistas do NY Times saíram a terreiro para se congratularem por este acesso de realismo demonstrado pelo firme defensor dos capitalistas, o WSJ. O que se passa? Será mais uma operação diabólica da famigerada dupla Bush/ Cheney e acólitos? Trata-se de atirar poeira para os olhos dos incautos e "estimular " o aceleramento da economia mundial? Adam Smith e David Ricardo foram ressuscitados para afastar a "maldade" dos bajuladores da economia de mercado sem fronteiras?

O que se passa e sabe é bem mais prosaico, claro. E os economistas do WSJ apontam: "Os pobres trabalhadores do Terceiro Mundo não são favorecidos pela mundialização. Porquê? O trabalho para que são aliciados, sem seguros e com preços irrisórios, é, num período mais ou menos breve, deslocalizado, de novo, para outros países ainda menos desenvolvidos ". E vai mais longe a análise do WSJ: "O argumento da globalização que move os seus entusiastas não colhe: a deslocalização iria forçar a mão-de-obra despojada a tentar nova formação. Isso não passa de um álibi. Custa a reconhecer que a Mundialização desencadeia um processo em que os trabalhadores com formação, os directores e os gestores de topo (isto já acontece) acabam por certificar-se que, também eles, podem ser trocados por outros ". O NY Times refere um colóquio realizado em Veneza, no passado fim-de-semana, com o intuito de incentivar a restauração dos contrapoderes e da justiça social, por forma, frisa William Pfaff, que sejam colocadas " paragens num processo que constitui a mais desestabilizadora força do Mundo desde a Segunda Guerra Mundial".


FAR

Hells Angels (3)


Velho Angel. Virgínia. USA. 2007


Foto de Jota Esse Erre

Deste Governo ou o Silêncio dos inocentes...

Estou desde há mais de uma hora a tentar passar de uma segunda página de uma candidatura.
A dita fica bloqueada. Espero, espero e desespero.
Mais logo, tenho de me levantar para ir trabalhar. Não posso ficar a noite em claro. No outro dia tenho que conduzir, deixar um filho a horas na escola e estar a horas e desperto no meu local de trabalho.
Exijo-me estar desperto, atento e eficiente. Não posso permitir-me qualquer tipo de negligência.
Este Governo que me merece, enquanto cidadão livre num país livre, uma rotunda desaprovação.
Este Governo que, enquanto meu superior hierárquico, me obriga a um silêncio incómodo.
Como cidadão, exijo que me seja reconhecido o direito à indignação: protesto, indignadamente, em relação à forma como está a ser conduzido todo este ínvio processo.
Ínvio porque conseguiu fazer com que pessoas com vinte e cinco ou mais anos de carreira profissional consintam em reduzir o seu percurso profissional aos últimos sete anos da sua actividade.
Para vos dar um exemplo: seria como pedir a Eusébio que desse conta do seu desempenho enquanto profissional de futebol nos últimos sete anos de carreira: Beira-Mar, um clube qualquer nos Estados Unidos da América e... mais nada.
Este processo é indigno. Este processo vai contra tudo o que é de justiça, vai contra as leis de um país democrático.
Ninguém se indigna.
Obedientes ovelhas se resignam.
Contando pontos, preenchendo formulários, aguardando pacientemente no redil da net...
Um país que tais educadores tem é o sítio onde tudo é possível.

Estou indignado com este estado de coisas. Uma carreira é uma carreira. Por e para isso me pedem 'currícula' sempre que concorro a um emprego. Não me pedem nunca os sete melhores últimos anos. Pedem-me tudo, daquilo que foi o meu percurso. E eu envio, porque acredito que tudo se deve basear numa análise desse mesmo percurso.

Concorram.
Inscrevam-se.
Não contestem, não protestem.

E estas gentes, que -por definição - deveriam ser o sector mais atento, mais desalinhado desta sociedade - acatam. Obedecem. Carneiros obedientes oferecendo o colo ao cutelo do carrasco.
O silêncio dos inocentes...

Faz-se madrugada e decido dormir.
Hei-de sonhar com uma madrugada redentora...

terça-feira, 5 de junho de 2007

Da Conferência dos 8 Governadores

Olá!

Já cheguei a Kuhulunsgborg, ao lado de Heiligendam onde os 8 Governadores, conhecidos por G 8 se vão reunir.
Khuhulungsborg está à beira do mar Báltico mas está a chover e o condutor de um autocarro alemão que transporta à borla os jornalistas dentro desta pequena cidade disse-me que vai chover todo o tempo. “Para molhar os atira pedras”, disse-me ele num inglês a fazer lembrar o Schwarzenegger.
No aeroporto de Munique o alemão que me atendeu para alugar um carro também não se mostrou muito simpático com os “atira pedras”. Disse-me que agora os manifestantes vão de um país para outro “só para atirar pedras”.
“Na Inglaterra os alemães, os italianos, os franceses atiram pedras. Na Alemanha os italianos, os ingleses e os franceses. Só gostam de atirar pedras e viajam de um lado para outro por causa disso”, disse-me para tentar justificar a pancadaria em Rostock.
Eu tive que imediatamente lhe dar uma lição sobre os benefícios da globalização, entre as quais se conta a de se ter manifestantes antiglobalização totalmente globalizados.
Os manifestantes estão hoje bem organizados. Telefone celular, comboios chartered, sites na internet. E depois ainda se queixam contra a globalização. A sua organização é de admirar. Não tem nada que ver com os tempos em que a malta saía à rua para gritar palavras de ordem contra os americanos e andar à porrada com a polícia. Agora a malta sai à rua para andar à porrada com a polícia, gritar palavras de ordem contra os americanos mas prepara tudo bem preparadinho. Logo à minha chegada ao centro de imprensa foi-me posto na mão um livrinho de 18 páginas em inglês outras tantas em alemão e mais duas com mapas com o programa da manifestações! Posso-vos já dizer que quarta-feira é o dia do “bloquear o G8”. Para tal vão tentar bloquear estradas de acesso a Heiligendam e Kuhulunsborg e levar a cabo manifestações. Vai dar porrada de certeza.
A caminho aqui de Kuhulungsborg vi muitos manifestantes a pé com um ar de perdidos no meio das zonas rurais. Um das coisas boas das cimeiras dos Oito Governadores é que são em sítios isolados pelo que são de uma beleza pouco vista. Estradas pequenas, vilas com gajos em camisola interior no jardim onde ninguém fala inglês. Porreiro.
Kuhbulugsborg é porreiro. Cheio de restaurantes, pensões e pequenos hotéis. O centro de imprensa está à beira mar. Cerveja à borla, comida à borla, telefone à borla para qualquer parte do mundo.
Como sempre está cheio também de organizações missionárias (as chamadas Organizações não governamentais). Estou aqui há quatro horas e já fui abordado por quatro delas a convencerem-me a fazer entrevista. Para os afugentar digo que só faço entrevistas em português. Houve uma pessoa de uma organização chamada CAFOD (verdade!) que disse que arranjava alguém que fala espanhol. Fingi-me ofendido. (CAFOD significa Catholic Agency for Overseas Develoment e não é verdade que tenha uma subsidiária chamada LAFOD)
Tenho que me ir embora porque tenho que ir fazer a cobertura de um bar onde estão a servir champanhe à malta de imprensa. À borla. Deve ser para celebrar o facto de que dos dois mil jornalistas muito poucos vão ver os Oito governadores.
Eu para quarta-feira já arranjei uma tour à “histórica Wismar”. Não sei o que é mas prometeram um almoço à borla. Lá vou cantando e rindo.

Abraços
Da cimeira dos Oito Governadores

Jota Esse Erre

Hells Angels (2)


Virgínia. USA. 2007

Foto de Jota Esse Erre

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Um 'little Joe' numa outra capital...

Amigos meus, hoje estive no Parque Mayer.
É aqui mesmo, em Lisboa, numa perpendicular à Avenida da Liberdade.
Quando entrei revi o 'Variedades', esclerosado. Logo em frente estava um parque de estacionamento a céu aberto entre ruínas. O esqueleto vetusto do 'Capitólio' e logo ao lado um 'Maria Vitória' teimoso, a resistir à decadência.
Aqui mesmo, em Lisboa.
Senti uma imensa pena - eu que nunca frequentei aquele espaço e que dele tenho apenas uma memória afectiva por ser do Teatro.
Assim mesmo, do Teatro. Um Joe que ama uma arte que vai sucumbindo entre ruínas.
O nosso Parque Mayer fazia falta à Cidade.
O importante é que as pessoas vão ao teatro. O importante é que se cultive o hábito de sair para ir ver teatro, amigos meus.
Por isso, me comovi perante as ruínas daquela sala de espectáculos de Lisboa.
No meio das minhas secretas lágrimas perguntava-me apenas isto:
Quanta arrogância, quanta ignorância e quanto desleixo passaram pelo Gabinete da Presidência, na Praça do Munícipio?...
Esta Lisboa, que também sinto como minha, transforma-se, aos poucos, num lugar ermo onde me sinto quase nada seguro. Reconhço que nem mesmo ali os fantasmas se sentem seguros.
Faz muita falta um sítio nesta Lisboa - que reclamo como minha enquanto lugar de civilização - onde possa rir, chorar, aplaudir, comungar desse acto civilizacional que é 'ir ao teatro' - com tudo o que ele implica.
António Silva, Vasco Santana, Laura Alves, João Villaret, Beatriz Costa, Eugénio Salvador, Humberto Madeira, Ivone Silva... quantos fantasmas se acotovelam naquele parque de estacionamento no coração de uma cidade que os despreza?...
Nas treze horas em que cruzo aquelas ruínas e as sinto condenadas vem-me uma grande vontade de chorar.
Contenho-me, porém, a entrada do Metro é quase ali. Não me apetece descer a pé o que resta da Liberdade.
É nesta subterrânea condição de viajante do Metro que me apetece passar até ao lado desta cidade que me há-de conduzir à outra margem. Darei, assim, as costas aos fantasmas e ao desgosto.
Para citar um poeta:
'Lisboa, tão perto e tão longe'

Hells Angels (1)


Easy Riders.Virgínia. USA. 2007

Foto de Jota Esse Erre

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

Da Capital do Império

Olá!
Sei que esta carta vos vai apanhar um pouco de surpresa mas estou de volta mais rapidamente do que o costume para vos dar uma excelente notícia: vou à reunião na Alemanha dos 8 Governadores, a que eu chamo também reunião dos 8 Gajos e que todo o mundo conhece por G 8.
Vou tentar mandar-vos de lá crónicas diárias sobre este importante acontecimento anual em que milhares de jornalistas comem e bebem à borla durante dias, milhares de beneficiários da globalização congregam-se para protestar contra a globalização e os 8 Governadores recebem tributo de dirigentes dos PPD (Países Perpetuamente em Desenvolvimento), prometendo depois mais ajuda que nunca é suficiente para o cada vez maior número de ordens missionárias, hoje conhecidas pelo nome de Organizações Não Governamentais. É bacano! Este ano disseram-me que vai lá estar também um representante do novo PEF (País Eternamente do Futuro) que agora, como vocês sabem, é a China. O anterior PEF se vocês bem se recordam era o Brasil que foi substituído pela China porque a malta das favelas chateou-se de esperar pelo futuro e está gradualmente a transformar toda a nação em EPEF (Este País É Foda).
Os que eu gosto mais nas reuniões dos 8 Governadores são os missionários e os manifestantes globalizados antiglobalização. Um tipo detecta-os logo no avião a caminho do local onde os 8 Gajos se reúnem. Os globalizados antiglobalização viajam de avião que é agora barato e comum graças à globalização, estão geralmente armados com celulares, computadores, casaco estilo militar preferivelmente verde-escuro e muitos deles, principalmente as gajas, gostam de usar à volta do pescoço aquelas toalhas de mesa encarnadas e brancas que os palestinianos usam à cabeça. É um toque “trés gauchiste” da moda bem parisiense do cachecol ao pescoço. Tenho a dizer-vos que no que diz respeito aos cachecóis os franceses globalizados antiglobalização têm o mesmo “panache” que o resto dos parisienses. Ninguém no mundo consegue pôr um cachecol à volto do pescoço como os parisienses. Tem um “je ne sais quoi” que me faz inveja porque quando eu tento pôr um cachecol parece-se sempre a corda de um gajo prestes a ser enforcado.
Tenho no entanto a assegurar-vos que eu não vou usar toalha de mesa palestiniana à volta do pescoço. Não porque não goste das toalhas de mesas dos palestinianos. Mas, não sei lá porquê cada vez que passo num aeroporto alemão sou sempre escolhido para vistoria especial. Uma vez em Frankfurt já depois de ter sido levado para um quarto especial onde só não me meteram o dedo no tal local porque – penso eu – os policias não acordaram em quem o deveria fazer, fui depois parado quando ia a pé de um terminal para outro por dois Polizei. Uma com uma metralhadora e outro com uma pistola e um lobo da Alsácia. Quiseram ver os meus “papir” e depois vistoriaram-me a mala de mão enquanto um deles falava para o microfone preso ao ombro. Eu não percebi patavina do que diziam e estava cada vez mais apreensivo à espera de ser levado ao Oberstrumfurher (ou lá como é que se diz sargento em alemão) por causa dos meus “papir” quando um dos Polizei detectou os meus travelers cheques e disse: “Ah! Kapitaliste”. Foi o degelo e ainda hoje agradeço à American Express. A Polizei que falava ao microfone repetiu qualquer coisa como “Americanshe travelers cheques” com um ar aliviado. Isto apesar do lobo de Alsácia não ter ficado convencido pois continuou sempre a olhar-me nos olhos e a puxar pela trela como que a dizer “agarrem-me ou eu rebento com este gajo”. Um amigo meu sugeriu que corte a barba afirmando que “porra com essa barba pareces um imã árabe”. Eu dei lhe uma lição sobre como nem todos os muçulmanos e/ou árabes são terroristas embora tenha que concordar que quase todos os terroristas são muçulmanos e/ou árabes.
Mas isso são outras histórias. O que eu gosto nestas conferências dos 8 Gajos é ir às conferências de imprensa das organizações missionárias e fazer perguntas estúpidas. Os Oito Gajos geralmente nunca aparecem ou se o fazem é só no fim pelo que até ao fim da conferência a malta diverte-se a rescrever “press releases”, a passear e a ir a conferências de imprensa das organizações missionárias que têm sempre montes de criticas a fazer aos chefes da brancalhada. De vez em quando eu gosto de ir ver a porrada entre os globalizados antiglobalização e a policia. Há uns anos atrás encontrei um policia com humor que estava a fumigar com “pepper spray” uns gajos com toalhas de mesa palestinianas a tapar a cara. “Pepper Spray” como vocês sabem é uma excelente invenção da humanidade pois pode ser espalhada a curta distancia estilo insecticida, directamente na cara de um globalizado antiglobalização. É uma espécie de gás lacrimogéneo mas que é feito com gás de pimenta. Quando eu perguntei o nome ao polícia que usava o spray ele respondeu-me: “Sargeant Pepper” e depois apontando para o resto dos policias acrescentou: “and that is the Lonely Hearts Club Band”. Valeu a viagem! Isto porque ao mesmo tempo um globalizado antiglobalização resolveu tirar as calças, baixar-se, virar o rabo para os polícias e gritar “Spray here, you pig”. Um policia num carro com uma mangueira deu-lhe uma chuveirada no dito cujo perante o gáudio da malta da imprensa. Depois a coisa descambou em porrada e eu fui-me embora
Mas, voltando às conferencias de imprensa. Na Escócia há dois anos atrás uma senegalesa de uma dessas organizações ia-me linchando e um dos outros missionários acusou-me de fazer “perguntas do George Bush”. Isto depois de eu ter perguntado porque é que os 8 Gajos deveriam dar mais ajuda a África se desde 1964 já foram dados 500 mil milhões de dólares. Ena pai! A missionária começou a dar-me lições sobre os males da brancalhada para o mundo e depois ia atirando-me com o microfone quando ela mencionou 50 mil milhões de dólares de ajuda e eu interrompi para dizer 500 mil milhões. “Don’t interrupt me” disse ela furiosa por eu fazer questão em sublinhar um erro de um zero. A coisa ia descambando totalmente quando eu lhe disse que não estava a interromper mas somente a corrigir. Ao fim e ao cabo 100 mil milhões aqui e cem mil milhões ali, estamos a falar de dinheiro a sério! Ena Pai! Não gostou a senegalesa. Fui acusado não só de fazer “as perguntas do George Bush” mas também de ser arrogante. Não me chamaram de racista mas ficou a pairar no ar. Mais tarde uma outra missionária mais calma informou-me em privado que as “mulheres senegalesas são um terror” e “não gostam de receber ordens de homens” e que “quem manda no Senegal são as mulheres”. Não sabia mas fiquei a saber. Não sei se terei coragem para perguntar isso ao “Inevitável Wade”, o presidente do Senegal que não perde uma oportunidade para estar em todas as grandes conferências e daí o seu primeiro nome: Inevitável. Vai lá prestar tributo aos 8 Gajos. Penso que vai lá também pedir massa. O que é que vocês acham?
Não creio que terei paciência para aturar o Wade mas espero que os missionários da Action Aid dêem uma conferência de imprensa este ano. Estive a ler o relatório deles em que afirmam que os 8 Gajos “devem” a África uma porrada de massa (!!) porque não cumpriram promessas de ajuda feitas na Escócia há dois anos atrás. Eu quero perguntar-lhe se os 8 Gajos podem – talvez na próxima reunião – pedir o perdão dessa dívida a África ou então pelo menos reescaloná-la com juros porreiros.
No lado calmo da questão estou desejoso de saber o que é que os alemães vão dar à malta da imprensa. Eh pá na Escócia o governo do Tony Bla Bla tratou-nos como reis e rainhas. (É por isso que eu cada vez mais sou mais monárquico). Comida à borla, bebida à borla e no final da conferência uma garrafa de whisky single malt do mais caro a cada jornalista. Deu confusão total porque houve malta que foi para a bicha duas e três vezes. A capacidade criativa das massas nunca deixou de me impressionar!! Quando chegou a minha vez já tinham iniciado um plano de acção para impedir a fraude carimbando a credencial de imprensa. Porra!
Livrou-me o facto de ter conhecido uma jornalista tunisina que por razões de Maomé não bebe. Meti-a na fila com a promessa de lhe pagar uma laranjada no fim. Alguém da Lusitânia acusou-me de fazer um “negócio da China” e isso fez me sentir todo orgulhoso porque como já vos disse a China é agora o novo pais do futuro o que mostra que eu estou na jogada.
Logo que lá chegar digo-vos qualquer coisa sobre o que é a Ângela nos tem para oferecer.

Abraços
Da Capital do Império

Jota Esse Erre

domingo, 3 de junho de 2007

Niassa (13)


Da série "Terra Incógnita". Niassa. Moçambique 2001

Foto de Sérgio Santimano

Liberdade para Aung San Suu Kyi !

Bill Clinton, Bush-pai, Carter, Walesa , Havel, Corazon Aquino e Thatcher de um conjunto de 58 personalidades mundiais rogam ao chefe da Junta Militar de Myanmar a libertação da líder da Oposição Democrática vencedora das eleições gerais de 1990 e Prémio Nobel da Paz

A ONG Freedom Now sediada em Washington lançou um alerta mundial contra o prolongamento da detenção arbitrária em residência da líder das forças da coligação democrática, a Liga Nacional para a Democracia, Aung San Suu Kyi, que perfaz já mais de 11 anos consecutivos, desde que a Junta Militar tomou conta do poder em 1990. Aung, com 61 anos de idade, está impossibilitada de receber visitas, correio e atender o telefone. Num artigo publicado na edição Week-End do NY Times, dois advogados da ONG protestam contra a arbitrária e funesta atitude da Junta, revelando que num primeiro tempo "os militares tentaram vender a ideia de que a líder oposicionista estava detida na sua residência como medida de protecção a seu favor...".
Myanmar, região asiática paradisíaca, está transformado pelos militares corruptos e facínoras num paraíso de produção e tráfego de ópio e heroína, sendo conhecido como o segundo maior exportador mundial a seguir à Colômbia. A corrupção e séquito de atentados humanos em série, aterradores, acompanham essa perspectiva de edificação de um narco-estado à margem de todas as leis. A Junta envolveu-se em obras faraónicas e resolveu mudar a capital para o interior da selva. Resultado: 3 mil aldeias destruídas, 800 mil pessoas deslocadas à força, 1 milhão de exilados nos Estados vizinhos e 800 mil cidadãos condenados a trabalhos forçados. 70 mil crianças estão integradas no Exército. O Inferno existe à face da terra e não só no Zimbabué ou na Coreia do Norte.

FAR



(foto de wikimedia.org/wikipedia)

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

sábado, 2 de junho de 2007

Cantiga de acalentar uma amiga

(para uma Amiga que agora precisa de todos os Amigos...)


Abre os teus olhos, amiga minha.
Cala a tua boca e repousa um pouco.

Este mundo dá-te a oportunidade de fazeres tudo mal.
Desperdiça-a.

Envolve-te de brios para ti, para os teus.
Resiste à mundanal tentação de que reparem em ti.
O que fazes é teu e contigo.

Esquece.
Aprende que cada um está a sós com o seu umbigo.

Ouve cada palavra avisada-preocupada de cada amigo.

Somos tantos a olhar por / para ti!

Pára agora por uns instantes e aconchega-te ao peito dos amigos.
Abre e fecha os teus olhos generosos e fraternos.
Repousa, sossega.
Procura o instante em que foste genuína.
Há-de ser aí o teu refúgio, o teu acalento. Aninha-te e sossega.
Somos muitos a olhar-te com respeito.

Sexy Lady


Estátua à frente da Biblioteca do Congresso. Washington. 2007

Foto de Jota Esse Erre

Sinais


Desenho de Maturino Galvão