A mão chega ao pescoço sem trilhos nem pistas
Envolve-o de dedos
Mas quando os pensamentos (auto)tossem-se e imaginam uma ama
Por ignorarem qual o rosto
As mãos não os afagam.
É isso, o abismo.
in: Caixinha com rodas; Ed.Geic
A mão chega ao pescoço sem trilhos nem pistas
Envolve-o de dedos
Mas quando os pensamentos (auto)tossem-se e imaginam uma ama
Por ignorarem qual o rosto
As mãos não os afagam.
É isso, o abismo.
in: Caixinha com rodas; Ed.Geic
Há quem seja treinado para guardar por um determinado tempo,
os conhecimentos na cabeça dos demais,
de modo a que nenhuns outros se lhes possam mesclar, vindos do exterior.
Tudo tem de ser originário do saco próprio,
como se este fosse destacado por um período,
da sua condenação a estar engolido por um invólucro maior.
... formulário: CERTIFICADO DE INCAPACIDADE TEMPORÁRIA PARA O TRABALHO POR ESTADO DE DOENÇA DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO/ AGENTE ADMINISTRATIVO
(o objectivo desta partilha “não é queixar-me à portuguesinha” mas “ajudar” a reflectir sobre este assunto- Percebemos o que se está a passar ?
A todos pode chegar o momento súbito, em que é necessário o escorregadio animal… Terão sorte? O que significa ir atrás dele? Ceder à continuação do cerco aos direitos essenciais?)
1º situação:
H.S. F-X. - Serviço de Urgências (serviço público estatal)
- Aqui não é passado nenhum atestado médico, apenas uma declaração de entrada e saída do paciente, muito menos preenchem o dito formulário, que revelaram desconhecer completamente e, óbvio, não o possuem; com tal resposta categórica, dirigi-me “em sofrimento” a um outro hospital.
2º situação:
H. da L. (privado, mas com acordo com a ADSE) –
Consulta complementar de atendimento permanente.
- Aqui o médico pode passar um atestado médico se o entender, mas não preenche o dito formulário nem o estabelecimento o possui;
(Depois de consultada, levo o atestado médico com tudo a que tem direito, alinhado segundo as alíneas do artigo 31, meio de prova,
Decreto-Lei n.º 100/1999, de 31 de Março (na redacção dada pelo Decreto-Lei n.º 181/2007, de 9 de Maio))
Não é aceite este atestado médico, por não ser o formulário.
3º situação:
Centro de saúde da Aj.
- Aqui têm o formulário, passam-no mas é preciso ter uma consulta marcada (talvez com 15 dias ou um mês de antecedência) ou inscrever-me na consulta de atendimento permanente, chamada de consulta de inter-substituição, considerada urgente, que é para aqueles que não têm médico de família e não podem esperar, (as pessoas que não têm médico de família, são imensas… os médicos destes postos não chegam para todos os utentes) Azar, só atendem 20 pessoas por dia na consulta urgente e eu só a 21º. Terei que voltar outro dia.
Mas depois, como afinal não coincide exactamente com a minha morada, chega-se à conclusão que o meu centro de saúde é outro.
4ª situação:
Centro de saúde de Al.
- Aqui têm o formulário, passam-no, (Aleluia) mas apenas nas consultas marcadas é que passam declarações, atestados, etc. (segundo indicações no balcão e nas paredes) Insisto que está na lei que os formulários podem ser passados nas consultas de inter-substituição e de atendimento complementar, mas dizem-me que não o fazem. Sugerem-me que vá falar com um médico das consultas, talvez esteja bem disposto e me atenda, no final. Parece que me vai atender, daqui a umas horas. Aqui não há triagem, por isso, mesmo que tenha dores e não tenha posição de pé ou sentada, isso não é importante, até porque é um favor. Vou marcar a concedida consulta. Serei atendida, com a condição de que aquilo não se repetirá. Fecha os olhos sem resignação, apenas porque isto do formulário é coisa recente. Garante que os hospitais públicos os têm de passar, e também os serviços de atendimento permanente (SAP) e complementar nos centros de saúde. As clínicas privadas com acordo com a ADSE, também.
Pede-me que arranje rapidamente um médico de família, que assim é que não pode ser. No balcão dizem-me isso ser impossível, por longos meses estão esgotados os recursos, os médicos estão cheios de pacientes, não podem mais as suas listas. Se me acontecer alguma coisa, que vá aparecendo e com sorte serei atendida.
(Saliento aqui, a toda esta saga esteve sujeita uma pessoa, que por indicação médica deveria estar em repouso).
Conclusão: Por ter o cartão da ADSE, tenho pecado, ou seja, não tenho frequentado nos últimos anos os centros de saúde e por estar no ensino e entretanto andar regularmente a mudar de escola/cidade/distrito, perdi a noção de médico de família. Que é isso? Parece-me um conceito ancestral, quando cada vez mais os portugueses já não sabem onde vivem e muitos perderam a unidade familiar pelas suas próprias condições de trabalho ou nem têm agregado familiar. De qualquer modo, é-me inacessível…
Na verdade, estamos a sofrer uma espécie de terrorismo social, (como diz um muito conceituado, amigo meu), porque nos afunilam em becos de todo asfixiantes, como se nada.
É muito sério!! Tremendamente sério.
A instauração do medo começou há muito…
Mas será saudável vivermos com medo?
Será obrigatório, termos à nossa mesa esse encolher de dignidade?
A perplexidade acompanha-me!!
Qué maravillosa ocupación cortarle la pata a una araña, ponerla en un sobre, escribir Señor Ministro de Relaciones Exteriores, agregar la dirección, bajar a saltos la escalera, despachar la carta en el correo de la esquina. Qué maravillosa ocupación ir andando por el bulevar Arago contando los árboles, y cada cinco castaños detenerse un momento sobre un solo pie y esperar que alguien mire, y entonces soltar un grito seco y breve, girar como una peonza, con los brazos bien abiertos, idéntico al ave cakuy que se duele en los árboles del norte argentino. Qué maravillosa ocupación entrar en un café y pedir azúcar, otra vez azúcar, tres o cuatro veces azúcar, e ir formando un montón en el centro de la mesa, mientras crece la ira en los mostradores y debajo de los delantales blancos, y exactamente en medio del montón de azúcar escupir suavemente, y seguir el descenso del pequeño glaciar de saliva, oír el ruido de piedras rotas que lo acompaña y que nace en las gargantas contraídas de cinco parroquianos y del patrón, hombre honesto a sus horas. Qué maravillosa ocupación tomar el ómnibus, bajarse delante del Ministerio, abrirse paso a golpes de sobres con sellos, dejar atrás al último secretario y entrar, firme y serio, en el gran despacho de espejos, exactamente en el momento en que un ujier vestido de azul entrega al Ministro una carta, y verlo abrir el sobre con una plegadera de origen histórico, meter dos dedos delicados y retirar la pata de araña, quedarse mirándola, y entonces imitar el zumbido de una mosca y ver cómo el Ministro palidece, quiere tirar la pata pero no puede, está atrapado por la pata, y darle la espalda y salir, silbando, anunciando en los pasillos la renuncia del Ministro, y saber que al día siguiente entrarán las tropas enemigas y todo se irá al diablo y será un jueves de un mes impar de un año bisiesto
Julio Cortazar.
