terça-feira, 17 de junho de 2008

Dos Cafés..

Café Mozart com esplanada para Albertina. Viena, 2008
Foto:g.ludovice

"(...) O típico café vienense que é famoso em todo o mundo, sempre me produziu um sentimento de aversão, porque tudo nele é contra mim. Por outro lado, durante décadas senti-me no Braunerhof, que foi sempre inteiramente contra mim, (como o Hawelka) como se estivesse em minha casa, como no café Museum, como noutros cafés vienenses que frequentei nos meus anos de Viena.(...) Sempre detestei os cafés vienenses, porque neles fui sempre confrontado com os meus iguais, esta é que é a verdade, e eu não quero ser permanentemente confrontado comigo e muito menos no café, aonde vou para fugir de mim, mas precisamente aí acabo por ser confrontado comigo e com os meus iguais. Eu não me suporto a mim mesmo, quanto mais toda uma horda de meus iguais que cismam e escrevem. Eu fujo à literatura onde quer que seja, e por isso tenho de me proibir de frequentar o café de Viena ou pelo menos ter sempre presente, quando estou em Viena, que não devo entrar de maneira nenhuma e seja em que circunstância for num chamado café de literatos vienense. Mas sofro da doença da ida ao café, sou continuamente obrigado a entrar num café de literatos, embora tudo em mim contra isso se insurja. Quanto maior e mais profunda era a minha aversão aos cafés de literatos vienenses, mais vezes e mais entusiasticamente eu neles entrava. Esta é que é a verdade. Quem sabe como teria sido a minha evolução, se não tivesse conhecido o Paul Wittgenstein precisamente no auge dessa crise que, sem ele, me teria lançado provavelmente de cabeça para baixo no mundo dos literatos vienense e do seu pântano intelectual (...)"
In: O sobrinho de Wittgenstein - uma amizade, Thomas Bernhard, Assírio e Alvim, 2000

1 comentário:

didium disse...

Já vi que a foto é a tua.Quando foi a ida?
É uma cidade muito bonita, não é?
:)