sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Às armas!

As nossas armas serão a demonstração das nossas opiniões, da nossa união, de que não esmorecemos, de que sabemos distinguir o essencial do acessório, de que conseguimos ver entre o nevoeiro mediático, de que estamos lúcidos e somos livres. Essa liberdade é a grande inimiga dos poderes de facto que ditam as ordens aos políticos-marionetas, e que literalmente nos vendem a ilusão da inevitabilidade. Não será uma manifestação perfeita; aliás, espero momentos de alguma desilusão, espero irritar-me mais uma vez com os tiques da extrema-esquerda folclórica, exasperar-me com alguns que para lá irão competir na sua pequenina liga radical, e discutir o irrelevante, se o melhor é o consenso ou a maioria, que as doutrinas que seguimos nos obrigam a fazê-lo deste ou daquele modo; e também com outros que para lá irão berrar contra "o governo", "o Passos Coelho", "o Sócrates", esperando outro e outro homem providencial, políticos mais "éticos", a cura do que é incurável. Mas porque é que a manifestação haveria de ser perfeita? Porque é que, agora, para nos manifestarmos exigimos tanto, reclamamos a perfeição de que não precisamos em tantas coisas da nossa vida em que a união é tão menos importante? Porque é que um não vai porque "não há programa definido", outro porque "são só esquerdistas", outro porque "vão para lá passear em vez de partir tudo", e ainda outro porque "depois de se queixarem vão votar nos do costume"? Que pureza, que virgindade, que inocência original deve ter uma manifestação, para que satisfaça quem tanto lhe exige? Isto quando os mesmos que assim objectam concordam na sua insatisfação, na sua revolta? Isso não deveria ser suficiente? Não é uma manifestação uma expressão da revolta popular?
Não será, obviamente, perfeita, mas esta manifestação será nossa, será dos que a fizerem, e por isso também terá algo de especial, livre de direcções centralizadoras e orientações tacticistas. Mas, acima de tudo, é uma manifestação essencial, urgente, porque é agora urgente como nunca demonstrar que não aceitamos tudo isto de ânimo leve, que não somos estúpidos e não gostamos que assim nos tomem, e que sabemos ver por dentro do nevoeiro. A nossa liberdade é a nossa arma. Às armas!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Alan Stoleroff: Em defesa da democracia indignada - uma réplica a Helena Matos

A dura crítica de Helena Matos do movimento de ‘indignados’ no Público (13 Out 2011) será certamente tomada por muita gente como apenas mais uma peça de propaganda na luta aguda sobre as saídas da crise actual. É e não é.
Partilho algumas das suas preocupações quanto à ‘democracia genuína’ e a sua valorização da democracia representativa e constitucional. Ela diz basicamente que a democracia legítima deriva das urnas e não da rua. Contudo, o seu argumento parece-me demasiadamente formalista e unilateral. Em primeiro lugar, há o problema da abstenção nos actos eleitorais. Pode-se afirmar que a abstenção é um exercício consciente expressando uma opção livre de participar ou não e, por isso, não põe uma entrave à legitimação das maiorias constituídas nos actos eleitorais. Mas isso é um argumento meramente formal e inválido sociologicamente. Existem dinâmicas de exclusão que produzem uma parte da abstenção e que fazem com que uma parte substantiva dos abstencionistas na nossa sociedade não a é inteiramente por opção de livre vontade. Existem dinâmicas dedisenfranchisement que operam mesmo sem o exercício de força.Assim, em determinados momentos a participação na vida politica do pais ocupa-se de outros palcos e arenas. Isto é sobretudo o caso de situações em que as clivagens de luta social são definidas não apenas por programas partidários elaborados para efeitos eleitorais mas por movimentos de protesto contra poderes instituídos.Na conjuntura actual de crise do sistema económico e financeiro e da implementação de  programas de austeridade, os próprios poderes instituídos – os poderes reais e não apenas formalmente constituídos – não possuem mais legitimidade democrática do que os movimentos de protesto. Não é preciso ser ‘marxista’ e ‘esquerdista’, como insinua Helena Matos, para avançar um argumento sério de que o poder real, que está a definir a crise da enorme maioria da nossa população, é o poder invisível do sistema financeiro capitalista globalizado e o poder visível dos homens que controlam as suas instituições e beneficiam da nossa miséria e insegurança. Numa situação de crise como a actual, a democracia representativa e constitucional não tem respostas adequadas para largas camadas da população e até cristaliza alianças políticas de interesses que actuam com o intuito de resolver a crise em conformidade com as suas preferências. Estamos numa situação única, de crise do sistema sócio-económico que está a produzir um conflito profundo entre camadas da população.Seria desejável que a crise pudesse ser resolvida pelo funcionamento normal das instituições da democracia representativa e constitucional. O problema é que os mandatos emergidos de um acto eleitoral podem não ter legitimidade efectiva e absoluta durante todo o prazo da sua vigência e podem nem sequer ser explícitos no seu conteúdo. Isso é de facto o caso de todos os últimos governos – que foram eleitos com base em programas eleitorais que foram contraditos praticamente no dia a seguir a sua tomada de posse. A nossa democracia representativa e constitucional simplesmente não é transparente. E na situação actual qual é o mandato que o nosso Governo está a traduzir nas suas politicas concretas: o mandato dos eleitores ou o entendimento com atroika constituída por entidades alheias e não eleitas? E, enquanto o Governo procura impor as reivindicações da CIP/AIP e os interesses privados esfomeados pelas migalhas do estado social – fazendo da concertação um palco para a exibição da sua prepotência anti-laboral e anti-social, aonde poderemos encontrar a legitimidade democrática?Helena Matos reflecte com bastante razão sobre os riscos envolvidos em situações em que existem reclamações antagónicas quanto à legitimidade do poder politico em nome da democracia ‘genuína’. As suas observações com base na história do PREC são relevantes – mas não neste contexto politico. As clivagens sociais e lutas produzidas pela crise actual não são bem equivalentes às clivagens ideológicas e politicas do PREC.É evidente que as manifestações internacionais e no nosso pais foram organizadas por gente ‘radical’ – entre a qual muitos eventualmente negariam a legitimidade da democracia representativa e constitucional em detrimento da mobilização da rua. Mas então? Isso é inteiramente normal – massas de pessoas não convergem espontaneamente a uma hora e num local sem o apelo de alguém. Todavia, o que caracteriza – pelo menos potencialmente – as manifestações dos ‘indignados’ e de ‘Occupy Wall St.’ nos EUA é, que apesar do ‘radicalismo’ dos protagonista e das suas palavras de ordem, elas têm encontrado eco e recepção positiva por grandes massas de pessoas – muitas das quais levadas à politica pela primeira vez, ou seja, pessoas normalmente passivas e abstencionistas. É o efeito inevitável desta crise histórica e do transparente desequilíbrio de poder real entre os detentores do capital financeiro e os seus agentes e a enorme massa das populações.Teremos que ver quem se manifesta no Sábado. Quem serão eles e elas? Serão apenas os radicais? Duvido. Irei e não me acho assim tão radical! Mas já agora, acho que os protagonistas radicais destas movimentações estão a fazer um grande serviço à democracia – sejam quais forem os seus motivos ideológicos (e espero que não impunham as suas perspectivas sobre os outros participantes). É que a democracia representativa e constitucional tende a esvaziar-se em tempos de crise se for apenas um palco de legitimação dos interesses do capital financeiro globalizado e precisa necessariamente da inflexão da luta social. 
Alan Stoleroff

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Marginais V

Apenas sabemos que estamos aqui.
As nossas mães foram os veículos que a Natureza utilizou para nos trazer para junto de si. Para dentro de si. Do seu útero quente e generoso, para que cresçamos robustos e saudáveis.
Nascemos devido a um imperativo cósmico, uma junção aleatória de elementos químicos, cuja combinação poderia ser prevista se todas as possibilidades pudessem ser calculadas.
As nossas famílias são inevitabilidades genéticas. Repositórios de psicopatologias latentes distribuídas mais ou menos equitativamente,  em que a incidência vai aumentando de forma exponencial a cada nova geração, ad infinitum.
Apenas sabemos que estamos aqui. Algures na vastidão da eternidade. Nunca iremos saber porquê. Por isso não queremos saber.

Marginais IV

É quando fechamos os olhos que vemos tudo claramente.
Para além de todas as mentiras contadas, incontáveis vezes. Mantras falaciosos cristalizados em dogmas inquestionáveis.
A crença enquanto demonstração de si mesma, que adormece os sentidos e entorpece o espírito, levando-nos a duvidar da própria realidade.
Lá fora, as cores do arco-íris vão do cinzento ao preto, destacando-se de encontro ao céu rubro, e os únicos pássaros que ainda se fazem ouvir são os abutres.
O rio corre como outrora, apesar de morto, um apocalipse fluvial a servir de lúgubre arauto do porvir.
Aqui e ali, deixamos partes de nós, tributo à divindade mecânica que preside sinistramente ao governo oculto da cidade. Inteligência subterrânea, cuja capacidade para nos iludir tem vindo a tornar-se superior à nossa capacidade de distinguir o verdadeiro do falso.
É quando fechamos os olhos que vemos tudo claramente. Somos espectadores de uma tragédia repetida tornada farsa.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Slavoj Zizek discursa no Occupy Wall Street


Do rio que tudo arrasta se diz que é violento

“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.”
Bertold Brecht

Não me parece nada inocente que, após estas declarações de Passos Coelho, surja esta alegada fuga de informação, relativa a relatórios da polícia e do SIS alertando quanto à possibilidade de tumultos e violência tomarem as ruas. Não acredito que o receio se prendesse com a manifestação de dia 1 de Outubro, mas estou bastante convicto que o alvo das “preocupações” seja a manifestação de 15 de Outubro. Parece-me que estas notícias visam dois objectivos. Por um lado, existe um processo de criminalização deste tipo de manifestações não institucionais e inorgânicas, cujo fenómeno parecia arredado da nossa vida social - vimos um fenómeno semelhante quando, o ano passado, a reunião em Lisboa da NATO trouxe os fantasmas de Génova 2001 e a polícia militarizada encontrou toda a legitimidade para tratar todos os protestantes como criminosos organizados. Por outro lado, todos nós já conhecemos algumas táticas policiais que têm tomado lugar neste tipo de acontecimentos Europa fora, como foi bastante visível nas manifestações em Espanha, com agentes infiltrados servindo de instigadores de conflitos, legitimando a carga policial e ordem de dispersão. Não estamos em posição para ter ceticismo em relação à possibilidade deste tipo de acontecimentos no próximo sábado. Sabemos que o poder institucionalizado em todo o mundo está a começar a temer pela sua legitimidade e funcionamento. Com a própria narrativa da “luta de rua” a fugir das mãos de organismos, como sindicatos ou partidários da organização do movimento revolucionário de massas. 
Alguns dos protagonistas que tomaram de assalto a palavra desta manifestação, que deveria ser uma voz espontânea da indignação e um processo de procura por novas soluções para o “processo político”, cedo se apressaram a dizer alto e bom som que esta manifestação tinha um carácter pacífico e sabemos bem por que o fazem. A última coisa que querem é sair com a sua imagem manchada e correr o risco de perder o papel de alunos bem comportados, quando tiverem de apertar a mão aos órgãos institucionais que lhes servem de modelo. O seu objectivo é tudo menos revolucionário. Talvez, por isso, pareçam um pouco despropositadas estas preocupações e se o SIS estivesse assim tão bem informado, teria pouco a temer.

Tiago Sousa

Sinais

Desenho de Maturino Galvão

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Marginais III


Não queremos viver.
Vergados sob o peso da nossa subnutrição. Permitindo que nos subtraiam o que não pode ser subtraído de nós, sem que isso nos custe a própria vida.
Onde secretas polícias adivinham pensamentos subversivos no nosso modo de arrastar os pés pelas ruas da cidade.
Como anjos violentos em queda perpétua. Banidos de uma Atlântida há muito esquecida. Num regime de subvivência do mais fraco, vítimas de caridade obscena, a gratidão como um cancro a corroer a nossa dignidade.
Os sonhos que sonhámos tornaram-se pesadelos que se tornaram reais. A existência tomou o lugar da essência. Não nos reconhecemos em nós mesmos, como se habitássemos os corpos de estranhos que não nos querem dentro de si.
Não queremos viver. Assim.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Marginais II

Somos um tipo especial de prisioneiro. Andamos à solta. Não há nada que nos impeça de sair, seja de onde for. Há sítios, porém, onde não nos é permitido entrar.
O nosso canto é o do capitão enlouquecido de uma embarcação fantasma. À deriva no espaço. Numa ópera barroca de ácidos e reagentes. Com uma tripulação de milhares de milhões.
As pontes multiplicam-se. Com o objectivo de nos isolar ainda mais do resto do mundo.
Usados que somos pela roupa que vestimos, desempenhamos o papel que já era o nosso. Antes de nos ter sido usurpado.
Não é que tenhamos nascido no lado errado. Não nascemos ainda sequer. Somos embriões perdidos no caos genético. Fósseis de uma era futura.
Somos um tipo especial de prisioneiro. Aquele que é o seu próprio carcereiro.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Socialismo ou barbárie


Muitas pessoas com a melhor das intenções confiam em demasia na racionalidade do sistema. Crêem que da crise virão os ajustes (a palavra é exacta: é uma crença), como se existisse num sistema social algo para lá da vontade dos agentes. Contudo, no topo da pirâmide encontram-se tipos que, por crença e ideologia (os "liberais") ou por puro interesse (estes sem dúvida a maioria), defendem que a conjugação das vontades egoístas origina o "equilíbrio", e que esse egoísmo é o que de mais justo e "livre" existe. Isto, seja também uma crença ou puro cinismo, mesmo que a realidade os desminta a todo o passo. Objectam-nos com os indicadores como a esperança média de vida, a taxa de mortalidade infantil, lembram-nos a democracia que parece estender-se inexoravelmente, esta internet que nos põe todos em comunicação... Sobre isto, primeiro notar que só o facto de estarmos inevitavelmente condenados ao nosso ponto de vista nos impede de entender que outros locais há em que estes indicadores estão agora muito pior que antes; e mais importante que isso: não basta dizer que se progrediu, que a esperança média de vida aumentou; é preciso entender 1- em que direcção se progrediu e 2- quais as condições objectivas que proporcionaram essa progressão. Se tempos houve em que se alargou a riqueza e o poder político para a base, e isto não por nenhuma racionalidade intrínseca ao sistema, mas porque a base o exigiu e conquistou, tempos em que "consciência de classe" não era um conceito demodé, hoje em dia vivemos tempos de sinal contrário: a riqueza e o poder concentram-se cada vez mais numa super-casta superior. Objectivamente, o capitalismo está-se a transformar num capitalismo de casta. Isto, além de ser algo que deve ser combatido por motivos éticos e políticos, e também por motivos de interesse de classe, causa perigos enormes à própria sobrevivência do sistema, porque, pasme-se, o sistema é na verdade completamente irracional, já que assenta na ideia imbecil de que o egoísmo descontrolado origina o equilíbrio.
Uma questão adicional é a da crescente complexidade do sistema. Isto é um problema porque nos levou a um paradigma em que dificilmente se encontra maneira de introduzir racionalidade no sistema: os estados já não o controlam, nem as instituições internacionais ou os bancos centrais; e os que efectivamente detêm o poder, ou não tem o mínimo interesse em alterar seja o que for, ou estão eles mesmos enredados numa teia sistemática. Portanto, no preciso momento em que dispomos das ferramentas mais poderosas da História para modificar os equilíbrios sociais em direcção a uma maior humanização, democracia, bem-estar de todos os cidadãos, verificamos que elas de nada nos valerão se não tivermos a noção clara de que é necessário alterar profundamente o paradigma, e que para isto acontecer dependemos exclusivamente de nós; o sistema não se regenerará espontaneamente, como na ilusão "liberal", nem o topo da pirâmide fará o que for para alterar as coisas. Aquilo que é necessário, como recuperar conceitos como os de "propriedade social", "utilidade pública", "interesse comum", só acontecerá se nós, como agentes da História, forçarmos a mudança. A frase de Marx (a propósito: pode-se olhar para Marx sem preconceitos?), "socialismo ou barbárie", define a encruzilhada destes tempos.

Sinais

Desenho de Maturino Galvão

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Sinais

Desenho de Maturino Galvão

(Mais) correio interno


André,

            “Há 20% de pessoas que votam nos anarquistas que são mesmo anarquistas. Não são como os nossos.  Temos esses esquerdóides, coitados, a gente dá-lhes um copo e eles ficam contentes. Não! Os anarquistas gregos são me’mo anarquistas”, nesta rasante, até ao miolo, diferenciação entre portugueses e gregos, o gabaritado economista, João César das Neves, delineou o mapa cor-de-rosa do comportamento contestatário dos próximos anos. Algumas manifestações – esses gigantescos divãs de psicanalista, onde o povo transfere, para a atmosfera, os nós da sua alma e vai dormir, quase curado –, porque são festas populares que queimam muita energia e dinamizam o envolvente comércio da mini e das sandes, e do refrigerante para as senhoras. Greves, poucas, pois prejudicam a economia e, além disso, os funcionários públicos serão cada vez menos e poucos restarão para fazer greves. De um maneira geral, os portugueses têm a noção de que nada conseguirão com manifestações e greves. Fazem-se por tradição. E porque há partidos mantenedores essa tradição e, mesmo fora desse circuito, em sectores da sociedade mais updated – os célebres utilizadores de redes sociais – usam-nas, para convocar a… manifestação: festa, cartazes, irreverência, bejecas, garrafas de whisky, ganzas, e descarregamento (download) de energia, e carregamento (upload) de História para contar aos netos através de fotos no Flickr.
            As redes sociais serão mais úteis na informação do que na manifestação. Quando o cidadão está a ser atacado pelo Estado, que lhe reclama cada vez mais parte de leão do seu rendimento, justificando-se numa enorme dívida para pagar, a questão principal é mesmo o vil metal. E o cidadão – reduzido a contribuinte – tem que exigir informação sobre dinheiros. Querem privatizar a RTP? Tudo bem! Então qual é o bolo da taxa de tv cobrada e como é ela fatiada pelos vários canais e rádios da empresa? Quanto ganham dirigentes e funcionários? Quantos são? E por que razão subirá a taxa depois de privatizado um canal? E a exigência fundamental de toda a informação sobre os felizardos que comprarão o canal. Dívida da Madeira? Tudo bem! Então que seja explicado euro a euro o seu montante, não basta atirar números, isso é atirar poeira no buraco, “buraquinho”, segundo Alberto João, não diz nada. E as empresas envolvidas? Nome dos gestores, vencimentos, relações familiares e filiação partidária, etc.
              As redes sociais têm essa utilidade: de permitir colocar as perguntas certas aos gestores do Estado. A boa gestão das sociedades atuais já não é uma questão de políticos, mas de povo organizado, isto é, informado, como contribuinte, eleitor, consumidor e todos os outros papéis que lhe permitam representar. No entanto, as redes sociais têm um grande inconveniente. Termina o anonimato. Nas manifestações, ainda se pode encobrir a cara e, talvez, talvez, não haja reconhecimento. Na Internet, o IP é a cara do utilizador. O cidadão terá que se responsabilizar pelos seus atos. Se for para o Facebook de Cavaco clicar “curtir” à parva ou comentar sem decoro, poderá receber uma visita das secretas.

            Um abraço,
            Maturino Galvão

O que é uma super-casta?

737 donos do mundo controlam 80% das empresas mundiais.

sábado, 24 de setembro de 2011

Correio interno

André,


            “Aqui onde a terra se acaba e o mar começa”, um mar de gente, gente com dívida lá dentro, e o fórceps certo para de suas emprenhadas profundezas a arrancar: o Governo certo, na governação certa. Povo pobre tem de pagar as suas contas, não vale a pena chorar sobre crédito derramado: ó aqueles malditos empréstimos nos anos 90 para Bimbys e férias em Ibiza voltaram para nos atormentar. Não sendo ricos fez-se vida de rico, povo e Governos folgaram, as estradas alcatroaram-se, as casas eletrificaram-se, as sanitas migraram indoors. E agora os verdadeiros ricos não estão dispostos a financiar quem, numa economia anémica, não poupou e gastou, nem papam a desculpa da pressão da sociedade de consumo, nem o facto de terem enriquecido com o esbanjamento dos consumidores, ávidos por rolhas e promoções de Skip e, para complicar também não se pode saquear a casa de Bragança para pagar as contas. (D. João II, nas lonas, ordenou a decapitação do 3º duque de Bragança, D. Fernando, na praça do Giraldo, em Évora, para lhe rapinar, para a casa real, a sua imensa fortuna, por exemplo. Mas também, em 1640, os conjurados propõem o trono ao duque de Bragança, o futuro D. João IV, por ser o único no país com cabedais suficientes para suportar uma guerra contra Castela).
Se Paris valia uma missa, escrevia Norman Mailer, Lisboa, como centro de poder, vale várias novenas. O Governo de Sócrates não foi um caso político, mas um espantoso fenómeno sociológico, para teses universitárias, que se deem ao trabalho de contar quantas notícias negativas foram publicadas no seu mandato e qual o seu efeito na mente coletiva. E vem provar, pela forma como os autodenominados mais espertos e intelectuais aparvalharam, que em Portugal, opinião publicada e opinião pública são idênticas, não há opinião pública sem ser opinião publicada. Em 2008, a “crise” atraca na Europa, os Bancos europeus estão falidos, em Portugal, orgulham-se os nossos banqueiros de que são exímios gestores de ponta e que estão à frente de instituições sólidas. Os nossos Bancos não são contaminados pela “crise”, ó Nossa Senhora estava do nosso lado e ainda tínhamos o cabelo de Fábio Coentrão. Que povo bafejado! Em 2009 os fortes Bancos portugueses vão à falência, os banqueiros, de mão estendida pelos mercados, ninguém lhes empresta uma moedinha, e gozam-lhes com o corte do fato e os modelos dos carros e citavam-lhes o “Auto do escudeiro”: “Ò diabo que t'eu dou / que tão má cabeça tens / não tem mais de dois vinténs / que lhe hoje o cura emprestou”. Voltam-se para o poder político, afinal ele está lá para os servir, visto que eles também o servem, sacrificando-se na compra de dívida pública a juros estapafúrdios.
Na altura Portugal pululava de pastorinhos de Oh!bama. Muitos o viram em cima de uma azinheira, e de mãos postas ao céu, rezavam: ó meu Deus que se faz História! É a segunda vinda do Salvador! E Sócrates era um desses pastorinhos, como político europeu, sonha em americano. E perante a “crise” imitou Oh!bama: lançou dinheiro sobre a economia: aval do Estado para os Bancos, vamos fazer bricolage nas escolas e nas estradas, apoiar os desempregados, obras públicas is the solution, que se lixe o défice, não é altura de pensar em défices, a economia precisa do Estado e o Estado responde: quanto é? Só que Portugal não é a América, não tem dinheiro para lançar sobre a economia, e a conta, (mais muitas outras no fundo das gavetas), está aí para pagar e foi distribuída equitativamente pelos contribuintes.

Um abraço,

Maturino Galvão

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Mistérios das ilhas

O Presidente da República, Cavaco Silva, vetou o estatuto da Região Autónoma dos Açores, e ainda interrompeu o nosso jantar para uma "comunicação ao país" sobre tão decisivo assunto. Após alterações efectuadas na AR, voltou a vetar o documento. Quanto à descarada aldrabice das contas da Região Autónoma da Madeira, e a ver vamos qual o real paradeiro de muitos desses milhões (se lá chegarmos, calma, que estamos em Portugal), ainda nada se ouviu ao sr. Presidente da República, nem se viu qualquer gesto com o dramatismo dos acima mencionados. Porque será que o nosso Cavaco, o supra-partidário, demonstra tão díspar comportamento sobre os problemas das duas regiões autónomas deste Atlântico português?

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Time after time blow up

© Ori Gersht, Time After Time: Blow Up No. 14, 2008

Aquando de preparar aulas esbarro na fantasiosa ideia de que “posso fazer alguma coisa por estes putos”, que de facto os posso ajudar a encontrarem uma identidade, ou pelo menos um ou dois motivos para se entusiasmarem com a ideia de tomarem consciência de si próprios. 
No curso desta divagação os pensamentos dão nós e detenho-me a pensar na questão do grupo e como tanto daquilo que julgamos ser a nossa Identidade nos é imposto pelos outros, ou pelo menos pela sua percepção. É realmente como se fossemos um objecto, um bocado de matéria espelhada que tudo reflecte e muito pouco absorve. 
Entretanto ocorre-me trazer à baila as questões da Identidade política, mas os dedos tomam as rédeas do tempo e deparo-me com mais uma notícia sobre um episódio de violência contra os ciganos, desta vez na República Checa e embora pudesse(mos) ficar aqui a discutir questões de emi- e imi-gração o que fica deste e doutros artigos é o perfeito desequilíbrio de adrenalina desta gente (não comparável à que circulava nos motins de Londres, basta ver pelos corpos destas bestinhas e talvez pela roupagem). Como generaliza a elite intelectual de esquerda o problema de toda esta violência descompassada é a falta de sentido de pertença, a ideia de “worldless”, mas continuo sem conseguir ligar directamente a pobreza, a falta de oportunidades, o desemprego, o tédio, ao culto do corpo, ao ideal da força física e do sucesso, e muito menos aos “ideais” de extrema-direita, sobretudo se me lembrar de uma das teorias do Michael Hardt de como a pobreza pode estar na origem de um movimento de amor (como conceito político, no sentido de partilha e sentido de comunidade), mas talvez isso só se aplique na América do Sul...
Laura Nadar

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Uma discussão exemplar...

Para que se entenda a tortuosa "argumentação" dos estalinistas (por exemplo, como Orwell era um bufo sem perdão, os processos de Moscovo uma necessária purga da conspiração nazi-trotskista, e como foram os anarquistas que chacinaram os comunistas em Espanha, apesar de, curiosamente, o resultado final ter sido o aniquilamento dos primeiros e a sobrevivência dos últimos). Aqui:

Lições de Londres (4)

Vítimas colaterais do medo de se perder o pouco que se tem: a lucidez, a solidariedade, o humanismo, os valores, a consciência do outro, a civilização.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Lições de Londres (3)

A grande maioria das pessoas acha genuinamente que se deve respeitar os direitos humanos. Mas quanto aos "criminosos" dos subúrbios, as soluções que defendem são: mais polícia, mais repressão, uma escola mais dura, o regresso aos "bons velhos valores" - como se não houvesse contradição entre uma coisa e a outra!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Frases curtas

© Chih-Chien Wan, Newspaper Wrap, 2004
 

Retomando o percurso há uns meses deixado em lume brando dou com esta posta início a uma reflexão mais detalhada (e/ou/mas também tão esporádica quanto necessária) sobre o tema da Autenticidade que se escusará aos leitores com pouco interesse nesta questão do que é ser-se autêntico.

O enquadramento aplicar-se-á tão à actualidade quanto me for possível acompanhar a realidade, também de forma a evitar o campo minado em que a temática se esconde, tão cheio de contra-sensos e relativismos capazes de deixar qualquer um à beira do golpe baixo da relativização.

Espero manter-me à altura e não contribuir para essa luta desenfreada entre o hemisfério sentimental e o contrato social. Ao mesmo tempo espero também que vá ficando claro que esta reflexão não pretende ser uma incursão ao mundo das impossibilidades de se ser livre mas antes à ideia da responsabilização de se ser um Eu próprio. Porque esta última assusta qualquer um cá andamos; a maioria a sofrer de normalidade e uns outros tantos de contas mal feitas com a loucura.

Termino esta introdução deixando cair a única conclusão que prevejo tirar sobre o assunto (lembrar-me-ei de me esforçar por não tirar mais nenhuma), a mesma de que a literatura nos convence: na sociedade contemporânea, é impossível o binómio de um ser autêntico e um ser funcional. Para a avistar, contudo, exige-se apenas que se escolha um caminho e que por ele se seja responsável. Exige-se porque se pode, cada um que pique as pedras como lhe convir.

Laura Nadar

Lições de Londres (2)

A maioria das pessoas está genuinamente convencida que os pobres só o são porque querem - porque não querem trabalhar, gostam de viver de subsídios, do crime ou o que seja. O que dá muito jeito para se elevarem da sua própria miséria e mediocridade, comparando-se com um outro "feio, porco e mau". Paradoxalmente, toda a gente gosta de comparar os "vândalos" com outros que lá viverão, muito honestos, e que serão as "vítimas" dos primeiros.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Este ano, em Sines



Tocaram este ano no Festival Músicas do Mundo. Quem não viu, aprecie o que perdeu...

Lições de Londres (1)

Acontecimentos como os de Inglaterra são perfeitos para assistirmos a autênticos festivais de primarismo, aqui como em outros sítios. Tudo é diferente quando somos "nós" os ameaçados; os nossos bairros, as nossas lojas, os nossos cafés. Aí, vai-se a consciência social, a solidariedade, a fraternidade ou o que os foda, e o outro torna-se um vândalo, criminoso, uma ameaça, a ser presa, deportada, exterminada, o que for preciso para nos manter em segurança.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Regresso

Está na altura de regressar ao activo. Desde o momento em que interrompi a minha participação aqui, muita coisa foi acontecendo, como sempre acontece; Pedro Passos Coelho foi dando provas, se necessário fosse, que a ideologia neoliberal chegou de uma vez por todas ao governo (como eu, aliás, já tinha previsto aqui); em Londres, a raiva de alguns criou um curioso fenómeno, do qual devemos tirar, sobretudo, lições sobre as reacções que provocou, e ao qual voltarei muito em breve; não menos importante, alguns eméritos ex-membros deste blogue lançaram o Javali Sentado, um novo projecto a acompanhar, e onde podemos apreciar, por exemplo, os excelentes textos do Fernando Mora Ramos. Time to roll on!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Passageiros em Casa

Caminhos. Traços riscados na maresia do tempo. Um encontro infinito no mar.
Na soturna roda dentada da vida, vislumbras a falésia, azenha reescrita na
intrépida viagem em que embarcas. Partes desde os flancos da Ocidental
memória, até ao mais secreto lugarejo de África. Diante dos teus olhos, um
oásis pleno de silêncios. Choras secretamente e sem pudor na noite de estrelas
cintilantes. Estás perdido há longas jornadas, mas reencontras-te finalmente.
Sabes que o teu lugar sempre foi aqui, como outros, na filigrana do mundo.

Percebes o que te quero dizer, quando digo que o silêncio é o futuro? E que
o presente é um ruído enganoso, uma melopeia breve e intensa, cheia de
atavismos e grãos de areia na memória? O presente é insidioso, fácil e resplandecente.
Brilha na ociosidade do mundo. O presente é sedutor e acalenta a nossa vã esperança
do eterno. O presente brinda-nos com o fulgor energético da vivência. O aqui e agora
é uma brisa que sopra alarvemente na cabeça dos humanos, que tem a soberba de
recusar todas as outras hipóteses. Sem ele, mais ninguém. O presente é um bicho
solitário e inconsequente. No presente morre-se sempre. O presente é um não-lugar.

Anotei no meu diário de bordo, o fim-de-linha da viagem. Perscrutei no futuro as rotas
possíveis. Dilemas por resolver no percurso em que decido embarcar. Uma vida náufraga
na procura do invisível, as marcas no chão do silêncio pacificador. Diz o provérbio turco:
"Antes de me amares, tens de aprender a correr na neve sem deixar pegadas". Sem
o rasto do cansaço acumulado no limbo das paixões, sem a vaidade occipital dos
eufemismos. Com toda a graça do glaciar de Aletsch, subir e deixar-se envolver no
mundo sensível, sem olhar para trás e sem deixar visíveis marcas de arrependimento.
A viagem das nossas vidas é só de ida e o gelo derrete-se na ausência dos afectos.
Sempre foi assim e o percurso vai de etapa em etapa, até ao prémio de montanha
em que podemos finamente respirar o ar rarefeito da criação do pensamento.

Finalmente, a hora da dança em narrativas por desbravar, estórias marítimas de
andanças e casa-abrigo do nosso eu. Somos passageiros. Andamos a descobrir
qual a casa de cada um. No horizonte vasto da felicidade.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Automatic for the people

Agora, a estória é outra, a cara despudorada, a solidão imersa em carinho, as luzes, os néons, a supremacia inquieta de um beijo, a fuligem da língua, o sal nos teus olhos semicerrados. Cresce a aparência do horror, a putrefacta   fonte dos afectos balbuciando a carcomida prece da inveja e eu, no sétimo andar de um sétimo selo a enviar para a tua rotunda do amor. Traço a negro o olhar desmesurado, corro em direcção a Marte, sublinho a ausência de sentidos na respiração ofegante de um sorriso. Paro, escuto e olho a diatribe do tempo imundo. Há sarcasmo e cuspo na esfera do mundo. Calcorreio a nuvem colorida de Plutão em abrigos e dedadas sem fim. Agito-me na impostura do tempo. Sei que morro, mas quero um segundo de vitalidade. Pareço um elefante peripatético na carestia da contradança. Olhares singulares, doidos e aviões parecem dizer-me a quanta velocidade vais e resignar-me perante a estranheza das horas mortas e dos dias ensimesmados.  Lambo a língua e a gota de chuva, na relação directa das águas e dos silêncios. Agradeço-te a missiva ensolarada e cântaros de animais a pastar na atalaia do medo. O riso dos vermes afugenta a fuga e os pássaros a cantar dão-me insónias de dor na alma. Fresco, o caminho do arbusto mais leve na paisagem olorante e náufraga. Muitos acentos para pontuar na profissão de fé dos argonautas e corifeus do pensamento. As palavras tornam-se difíceis quando escritas em demasia porque a sinopse do labor deve estar remetida para as rotas do alvor. E mais reminiscências seriam necessárias compilar para sufragar no mundo as algas da exaustão. Pertenço-te na colónia infame e desatenta da vida. Bondes e eléctricos, é tudo a mesma coisa. Chama-se desejo, a isso. Trocas e tintas no armário dos afectos. Os trocos para a viagem, as tintas para a boca e as trocas de pares de sapatos para a evasão dos sentidos. Dizer-te que gosto da tua presença é pouco, é socorrer-me da ausência em que me encantas e sempre os ruídos a indagarem as tertúlias do vento. Hoje foi uma festa breve dos sentidos...

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Interrupção

Os leitores já se tem apercebido que a produção deste blogue tem baixado nos últimos tempos, e se já era irregular, neste momento é pouco mais que nula. Na verdade, não tem havido tempo para a necessária dedicação que um projecto deste género exige, pelo que entendo que o melhor será interromper a publicação por uns tempos, até uma altura que permita outro tipo de empenho, que irá, certamente, surgir. Por isso, não é adeus, mas até já.

sábado, 21 de maio de 2011

Hoje

TUDO SE ME TORNOU INSUPORTÁVEL EXCEPTO A VIDA

Um actor diz textos do Livro do Desassossego de Fernando Pessoa, em permanente diálogo com a música e a imagem. Uma experiência que submerge o espectador no peculiar mundo que o texto nos revela, e ao qual, afinal, todos pertencemos.

Ficha técnica:

Autor - Fernando Pessoa - Fragmentos de textos a partir do Livro do Desassossego
Interpretação - Júlio Mesquita
Musica Original - André Carapinha
Video - Silvia Coelho e Sofia Torre
Produção Executiva - João Fernandes
Produção - Vigilâmbulo Caolho

Agradecimentos: Cine-Clube do Barreiro, Junta de Freguesia do Barreiro, Instituto Politécnico do Barreiro, Sociedade Cultura e Recreio 1º de Agosto Paivense, Ana Torre, Cláudio Ferreira, Marta Silva, Milucha Santos e Vitor Lopes.

Classificação etária - maiores de 12 anos

HOJE, SÁBADO, 21 DE MAIO, 22 HORAS NO FÓRUM CULTURAL JOSÉ MANUEL FIGUEIREDO, BAIXA DA BANHEIRA 

Out of context

Out of context
"This language [a kind of unique language half-way between gesture and thought] cannot be defined except by its possibilities for dynamic expression in space as opposed to the expressive possibilities of spoken dialogue. And what the theater can still take over from speech are its possibilities for extension beyond words, for development in space, for dissociative and vibratory action upon the sensibility. (...) Here too intervenes (besides the auditory language of sounds) the visual language of objects, movements, attitudes, and gestures, but on condition that their meanings, their physiognomies, their combinations be carried to the point of becoming signs, making a kind of alphabet out of these signs. (...) It seeks to exalt, to benumb, to charm, to arrest the sensibility. It liberates a new lyricism of gesture which, by its precipitation or its amplitude in the air, ends by surpassing the lyricism of words. It ultimately breaks away from the intellectual subjugation of the language, by conveying the sense of a new and deeper intellectuality which hides itself beneath the gestures and signs, raised to the dignity of particular exorcisms."
Antonin ArtaudThe Theater of Cruelty (First Manifesto), in "The Theater and its Double"


 © Antonin Artaud, Portrait of Jacques Crevel, 1947
Laura Nadar

Cabeça (3)

Pintura de João de Azevedo

Sinais

Desenho de Maturino Galvão

terça-feira, 10 de maio de 2011

Chomsky sobre o assassinato de Bin Laden

"We might ask ourselves how we would be reacting if Iraqi commandos landed at George W. Bush’s compound, assassinated him, and dumped his body in the Atlantic."


A ler na íntegra no Guernica.

Video da carga policial no 1º de Maio em Setúbal

Anti-Logic of abnormality

Anti-Logic of abnormality
"In the great repressive entities there were still real relationships of force, and therefore possibilities f struggle. In the small ones every individual is bound hand and foot by systems of relationships, influences and feelings that there is no getting to grips with, and which in any case implv other forms of 'liberation'. As i see it, the policy of community psychiatry and.psychoanalysis (and the two are now closely related) corresponds to the most sophisticated technocratic lorms of population surveillance and control. Power still seekins itself, but power that will eventually find itself. And thougt the community policy is still a failure in terrns of power - apart from the field of child psychiatry - it could quite easily make a fresh start.  What could be more perfect than a repression which needs no policemen at street corners, but works permanentlY and unobtrusively via one's work,  one's neighbours, everywhere? The sameg oesl or psychoanalysis: it is gradually getting to be everywhere - at school, at home, on television."

Félix Guattari, Anti-Psychiatry and Anti-Psychoanalysis in 'Molecular Revolution' (1984), p.48

© David Lynch, New Head, 2008

Laura Nadar

Cabeça (2)

Pintura de João de Azevedo

Sinais

Desenho de Maturino Galvão

sábado, 7 de maio de 2011

Relatório de Departamento de Investigação e Tecnologia da NATO - Operações em Zonas Urbanas em 2020

1. Introduction

The NATO Research and Technology Organisation’s 1999 Technical Report Land Operations in the Year 2020 (LO2020) concluded that in the future it is likely that NATO forces will have to conduct operations in urban areas, i.e. where physical structures, non-combatants and infrastructure will be significant characteristics. Furthermore LO2020 concluded that such operations will pose significant challenges for the Alliance. Present capabilities for operating in urban areas are essentially those of World War II, which are characterised by high levels of casualties and extensive collateral damage. Currently NATO commanders have very few military options which would avoid serious damage and casualties when dealing with an
enemy in urban areas. Such effects are unacceptable, particularly at the lower levels of conflict, where NATO forces are more likely to become involved. Therefore, it is essential that NATO provides its commanders with a range of capabilities for dealing with the varying conditions of operations in urban areas.
To follow up on these findings, SHAPE established a Military Application Study to examine the need for joint and combined doctrine and concepts for operations in urban areas. Seven NATO nations agreed to provide members for the Study Group, and the Studies, Analyses and Simulation (SAS) panel agreed in May 2000 that the UK should provide the Director. The Study Group examined the requirements of the
SAS panel and prepared this Report for further consideration. The results are intended to identify directions for further research and to contribute to the NATO Defence Planning Process, the Defence Capabilities Initiative, and the Concept Development Experimentation Process.

2. Approach

The Study Group adopted a staged approach. It began with an examination of the future urban environment.It then outlined an overall conceptual framework for urban operations and operating guidelines. Thisidentified a number of desired operational level capabilities needed to conduct such operations successfully. These capabilities were themselves refined against further operational parameters then tested in a controlled Urban Seminar Wargame (USW) using two scenarios: one of a crisis response operation and the other a war fighting situation. Finally this led to the identification of mission needs/needed capabilities and a potential “roadmap” to address them.

3. The Future Urban Environment

The Study Group began by outlining a description of the likely nature of the future urban environment. It observed that urban areas will continue to increase in number and size and are likely to become focal points for unrest and conflict. The physical and human complexity of this environment presents unique challenges for a NATO commander which are not adequately addressed by those military capabilities designed for open environments.

4. The Manoeuvrist Approach to Urban Operations

The Study Group then identified an emerging overarching approach to urban operations that holds the promise of leading to significantly improved capabilities. The more traditional approaches to improving urban capabilities are focused at the tactical, single-Service level. These aim to help tactical forces better cope with the conditions of uncertainty, close proximity to the enemy and vulnerability that characterise tactical engagements. Initiatives include improved personal protection, wall breaching techniques, etc.
Emerging doctrinal approaches could enable a NATO commander to employ manoeuvre at the operational level in an urban environment in order to “Shape” (not just cope with) the conditions of the tactical fight. Initiatives include the use of joint surveillance assets to better focus the tactical engagements against the
enemy’s critical points, and remote strike assets to reduce the amount of close combat required or to control information, mobility and the support available to the enemy’s tactical forces.
“USECT” is a conceptual framework that can be used to describe the manoeuvrist approach. (This framework was first introduced by the US in a doctrinal publication dealing with joint operations in an urban environment.
It stands for Understand, Shape, Engage, Consolidate, and Transition. These components can be employed separately, sequentially or simultaneously. The traditional approach to urban operations lacks the ability to gain information and knowledge regarding enemy locations, movements and status in an urban environment. Tactical information is frequently gained only when an enemy has been engaged, emphasising the “Engage” portion of the framework. This generally results in the application of overwhelming force to defeat an enemy.
In contrast, the manoeuvrist approach seeks to “Understand” the nature of the enemy, his locations and intentions before engagement by employing ISTAR and other assets, and to use the information gained to “Shape” the urban battlespace. This emphasises the “Understand” portion of the framework, and will allow a NATO Commander to employ a manoeuvrist approach at the operational level to “Shape” the tactical combat actions to advantage and “Engage” an enemy with precision effects, thereby reducing casualties and collateral damage.
Since tactical engagements will continue for the foreseeable future, a co-ordinated programme including both tactical and operational-level improvements is needed. Initiatives at the operational level, however,hold the promise of dramatic improvement.

Recommendation
The Study Group recommends NATO adopt the USECT framework as the basis for all further development of concepts and doctrine for urban operations

5. Operational Concepts

In order to achieve an overall manoeuvrist approach, a NATO commander has to have improved capabilities to Understand, Shape, and Engage in an urban environment. In order to identify and develop these capabilities, the Study Group first reviewed the full range of urban missions and identified operational concepts that a NATO commander might employ to conduct each mission successfully. These concepts are of two types: a traditional type in which the ability to “Understand” within an urban area is very limited(siege, destruction, frontal assault), and an emerging type in which improved doctrine and capabilities are utilised to Understand, Shape, and Engage with precision effects within the battlespace (precision strike, nodal isolation and capture, segment and capture, etc.)

Recommendation
The Study Group recommends that NATO adopt the mission types and emerging operational concepts identified as the basis for further study, investigation and experiment.

6. Capability Requirements

The capabilities required by each operational concept were identified by the Study Group and presented using the USECT framework. The “Capabilities Assessment Seminar” (CAPS) held in September 2001 resulted in a consolidated list of 42 operational-level capabilities (recorded in Chapter 5.) All of these capabilities would be necessary for a NATO commander to conduct successfully operations in an urban
environment. To allow a more detailed examination of the most important capabilities, only 15 were designated as “key capabilities.” Two principal criteria used for this selection were: military significance and the extent of the capability gap, as judged by the Study Group.

Recommendations
The Study Group recommends that NATO develop capabilities for use in urban areas by focussing on the key requirements identified in this study.
It is also recommended that all the 42 capabilities identified merit further examination but that the initialfocus should be on the 15 key capabilities.
It is further recommended that NATO should relate all future urban specific materiel developments to the 42 capabilities.

7. Potential Solutions
The final part of the study was to determine actions that could develop the key capabilities. These actions were classified into the types of initiatives that might be taken and were separated into four categories:Doctrine, Organisation, Training and Materiel. Although more than half of the capabilities were driven by Materiel, a significant number had drivers in the areas of Doctrine, Organisation and Training.
To gain further insight into the nature of potential solutions, an Urban Seminar Wargame (USW) was conducted by the Study Group in November 2001. For this activity twelve “System Concepts” were identified that could provide the required capabilities. Specific representative systems were then examined in the Wargame and their military attractiveness, technical attractiveness, technical risk and research cost were assessed by the Study Group. Three different vignettes were considered in this process. Both the CAPS and USW assessments show that the essential capabilities are to collect, communicate,process, fuse, assimilate, and distribute information from many different sources, especially HUMINT, in a responsive manner. The sensors and platforms that support these capabilities emerged as the most valued by USW participants.
The ability to exploit effectively the information gained to “Shape” and “Engage” also received high priority. Key systems included unmanned vehicles and non-lethal weapons to reduce casualties, and precision delivery to limit collateral damage.

Recommendations
The Study Group recommends that NATO should focus on potential solutions for enhanced capabilities in urban areas at the operational level of command.
It is also recommended that NATO give priority to Concept Development and Experimentation in order to determine potential solutions across all aspects of Doctrine, Organisation, Training, Materiel, Leadership,Personnel and Facilities (DOTMLPF). This should include:
• Identifying those modelling and simulation requirements for operational analysis and training.
• Addressing policy implications for issues such as the employment and use of NLW, unmanned systems/robots, cyber ops, etc.
• Promoting interoperability.

8. Principal Recommendations

The Study Group recommends that:
• The operational concepts, capability requirements and potential solutions offered in this Study should be expended and further investigated using the USECT framework. This should include concept development and experimentation. This should also consider modelling and simulation tools to support the process.
• The capabilities described in this study, and solutions developed are reflected in NATO’s Defence Planning Process as Long Term Requirements.
• NATO should establish a Branch level lead within SHAPE to provide oversight and be the focal point for future urban activities.
• Points of Contact should be nominated in other appropriate HQs and offices to co-ordinate urban related efforts.
• NATO should establish an Urban Operations Working Group with a lead nation2 to serve as a focal point in support of SHAPE, to co-ordinate NATO and member nations’ urban related efforts and to build a plan based upon directions identified in this study.
Finally the Study Group recommends that RTB should endorse this study and its recommendations and forward them to the Military Committee, the Conference of National Armaments Directors (CNAD) and the Strategic Commands.



RTO/NATO 2003