sábado, 24 de setembro de 2011

Correio interno

André,


            “Aqui onde a terra se acaba e o mar começa”, um mar de gente, gente com dívida lá dentro, e o fórceps certo para de suas emprenhadas profundezas a arrancar: o Governo certo, na governação certa. Povo pobre tem de pagar as suas contas, não vale a pena chorar sobre crédito derramado: ó aqueles malditos empréstimos nos anos 90 para Bimbys e férias em Ibiza voltaram para nos atormentar. Não sendo ricos fez-se vida de rico, povo e Governos folgaram, as estradas alcatroaram-se, as casas eletrificaram-se, as sanitas migraram indoors. E agora os verdadeiros ricos não estão dispostos a financiar quem, numa economia anémica, não poupou e gastou, nem papam a desculpa da pressão da sociedade de consumo, nem o facto de terem enriquecido com o esbanjamento dos consumidores, ávidos por rolhas e promoções de Skip e, para complicar também não se pode saquear a casa de Bragança para pagar as contas. (D. João II, nas lonas, ordenou a decapitação do 3º duque de Bragança, D. Fernando, na praça do Giraldo, em Évora, para lhe rapinar, para a casa real, a sua imensa fortuna, por exemplo. Mas também, em 1640, os conjurados propõem o trono ao duque de Bragança, o futuro D. João IV, por ser o único no país com cabedais suficientes para suportar uma guerra contra Castela).
Se Paris valia uma missa, escrevia Norman Mailer, Lisboa, como centro de poder, vale várias novenas. O Governo de Sócrates não foi um caso político, mas um espantoso fenómeno sociológico, para teses universitárias, que se deem ao trabalho de contar quantas notícias negativas foram publicadas no seu mandato e qual o seu efeito na mente coletiva. E vem provar, pela forma como os autodenominados mais espertos e intelectuais aparvalharam, que em Portugal, opinião publicada e opinião pública são idênticas, não há opinião pública sem ser opinião publicada. Em 2008, a “crise” atraca na Europa, os Bancos europeus estão falidos, em Portugal, orgulham-se os nossos banqueiros de que são exímios gestores de ponta e que estão à frente de instituições sólidas. Os nossos Bancos não são contaminados pela “crise”, ó Nossa Senhora estava do nosso lado e ainda tínhamos o cabelo de Fábio Coentrão. Que povo bafejado! Em 2009 os fortes Bancos portugueses vão à falência, os banqueiros, de mão estendida pelos mercados, ninguém lhes empresta uma moedinha, e gozam-lhes com o corte do fato e os modelos dos carros e citavam-lhes o “Auto do escudeiro”: “Ò diabo que t'eu dou / que tão má cabeça tens / não tem mais de dois vinténs / que lhe hoje o cura emprestou”. Voltam-se para o poder político, afinal ele está lá para os servir, visto que eles também o servem, sacrificando-se na compra de dívida pública a juros estapafúrdios.
Na altura Portugal pululava de pastorinhos de Oh!bama. Muitos o viram em cima de uma azinheira, e de mãos postas ao céu, rezavam: ó meu Deus que se faz História! É a segunda vinda do Salvador! E Sócrates era um desses pastorinhos, como político europeu, sonha em americano. E perante a “crise” imitou Oh!bama: lançou dinheiro sobre a economia: aval do Estado para os Bancos, vamos fazer bricolage nas escolas e nas estradas, apoiar os desempregados, obras públicas is the solution, que se lixe o défice, não é altura de pensar em défices, a economia precisa do Estado e o Estado responde: quanto é? Só que Portugal não é a América, não tem dinheiro para lançar sobre a economia, e a conta, (mais muitas outras no fundo das gavetas), está aí para pagar e foi distribuída equitativamente pelos contribuintes.

Um abraço,

Maturino Galvão

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Mistérios das ilhas

O Presidente da República, Cavaco Silva, vetou o estatuto da Região Autónoma dos Açores, e ainda interrompeu o nosso jantar para uma "comunicação ao país" sobre tão decisivo assunto. Após alterações efectuadas na AR, voltou a vetar o documento. Quanto à descarada aldrabice das contas da Região Autónoma da Madeira, e a ver vamos qual o real paradeiro de muitos desses milhões (se lá chegarmos, calma, que estamos em Portugal), ainda nada se ouviu ao sr. Presidente da República, nem se viu qualquer gesto com o dramatismo dos acima mencionados. Porque será que o nosso Cavaco, o supra-partidário, demonstra tão díspar comportamento sobre os problemas das duas regiões autónomas deste Atlântico português?

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Time after time blow up

© Ori Gersht, Time After Time: Blow Up No. 14, 2008

Aquando de preparar aulas esbarro na fantasiosa ideia de que “posso fazer alguma coisa por estes putos”, que de facto os posso ajudar a encontrarem uma identidade, ou pelo menos um ou dois motivos para se entusiasmarem com a ideia de tomarem consciência de si próprios. 
No curso desta divagação os pensamentos dão nós e detenho-me a pensar na questão do grupo e como tanto daquilo que julgamos ser a nossa Identidade nos é imposto pelos outros, ou pelo menos pela sua percepção. É realmente como se fossemos um objecto, um bocado de matéria espelhada que tudo reflecte e muito pouco absorve. 
Entretanto ocorre-me trazer à baila as questões da Identidade política, mas os dedos tomam as rédeas do tempo e deparo-me com mais uma notícia sobre um episódio de violência contra os ciganos, desta vez na República Checa e embora pudesse(mos) ficar aqui a discutir questões de emi- e imi-gração o que fica deste e doutros artigos é o perfeito desequilíbrio de adrenalina desta gente (não comparável à que circulava nos motins de Londres, basta ver pelos corpos destas bestinhas e talvez pela roupagem). Como generaliza a elite intelectual de esquerda o problema de toda esta violência descompassada é a falta de sentido de pertença, a ideia de “worldless”, mas continuo sem conseguir ligar directamente a pobreza, a falta de oportunidades, o desemprego, o tédio, ao culto do corpo, ao ideal da força física e do sucesso, e muito menos aos “ideais” de extrema-direita, sobretudo se me lembrar de uma das teorias do Michael Hardt de como a pobreza pode estar na origem de um movimento de amor (como conceito político, no sentido de partilha e sentido de comunidade), mas talvez isso só se aplique na América do Sul...
Laura Nadar

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Uma discussão exemplar...

Para que se entenda a tortuosa "argumentação" dos estalinistas (por exemplo, como Orwell era um bufo sem perdão, os processos de Moscovo uma necessária purga da conspiração nazi-trotskista, e como foram os anarquistas que chacinaram os comunistas em Espanha, apesar de, curiosamente, o resultado final ter sido o aniquilamento dos primeiros e a sobrevivência dos últimos). Aqui:

Lições de Londres (4)

Vítimas colaterais do medo de se perder o pouco que se tem: a lucidez, a solidariedade, o humanismo, os valores, a consciência do outro, a civilização.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Lições de Londres (3)

A grande maioria das pessoas acha genuinamente que se deve respeitar os direitos humanos. Mas quanto aos "criminosos" dos subúrbios, as soluções que defendem são: mais polícia, mais repressão, uma escola mais dura, o regresso aos "bons velhos valores" - como se não houvesse contradição entre uma coisa e a outra!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Frases curtas

© Chih-Chien Wan, Newspaper Wrap, 2004
 

Retomando o percurso há uns meses deixado em lume brando dou com esta posta início a uma reflexão mais detalhada (e/ou/mas também tão esporádica quanto necessária) sobre o tema da Autenticidade que se escusará aos leitores com pouco interesse nesta questão do que é ser-se autêntico.

O enquadramento aplicar-se-á tão à actualidade quanto me for possível acompanhar a realidade, também de forma a evitar o campo minado em que a temática se esconde, tão cheio de contra-sensos e relativismos capazes de deixar qualquer um à beira do golpe baixo da relativização.

Espero manter-me à altura e não contribuir para essa luta desenfreada entre o hemisfério sentimental e o contrato social. Ao mesmo tempo espero também que vá ficando claro que esta reflexão não pretende ser uma incursão ao mundo das impossibilidades de se ser livre mas antes à ideia da responsabilização de se ser um Eu próprio. Porque esta última assusta qualquer um cá andamos; a maioria a sofrer de normalidade e uns outros tantos de contas mal feitas com a loucura.

Termino esta introdução deixando cair a única conclusão que prevejo tirar sobre o assunto (lembrar-me-ei de me esforçar por não tirar mais nenhuma), a mesma de que a literatura nos convence: na sociedade contemporânea, é impossível o binómio de um ser autêntico e um ser funcional. Para a avistar, contudo, exige-se apenas que se escolha um caminho e que por ele se seja responsável. Exige-se porque se pode, cada um que pique as pedras como lhe convir.

Laura Nadar

Lições de Londres (2)

A maioria das pessoas está genuinamente convencida que os pobres só o são porque querem - porque não querem trabalhar, gostam de viver de subsídios, do crime ou o que seja. O que dá muito jeito para se elevarem da sua própria miséria e mediocridade, comparando-se com um outro "feio, porco e mau". Paradoxalmente, toda a gente gosta de comparar os "vândalos" com outros que lá viverão, muito honestos, e que serão as "vítimas" dos primeiros.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Este ano, em Sines



Tocaram este ano no Festival Músicas do Mundo. Quem não viu, aprecie o que perdeu...

Lições de Londres (1)

Acontecimentos como os de Inglaterra são perfeitos para assistirmos a autênticos festivais de primarismo, aqui como em outros sítios. Tudo é diferente quando somos "nós" os ameaçados; os nossos bairros, as nossas lojas, os nossos cafés. Aí, vai-se a consciência social, a solidariedade, a fraternidade ou o que os foda, e o outro torna-se um vândalo, criminoso, uma ameaça, a ser presa, deportada, exterminada, o que for preciso para nos manter em segurança.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Regresso

Está na altura de regressar ao activo. Desde o momento em que interrompi a minha participação aqui, muita coisa foi acontecendo, como sempre acontece; Pedro Passos Coelho foi dando provas, se necessário fosse, que a ideologia neoliberal chegou de uma vez por todas ao governo (como eu, aliás, já tinha previsto aqui); em Londres, a raiva de alguns criou um curioso fenómeno, do qual devemos tirar, sobretudo, lições sobre as reacções que provocou, e ao qual voltarei muito em breve; não menos importante, alguns eméritos ex-membros deste blogue lançaram o Javali Sentado, um novo projecto a acompanhar, e onde podemos apreciar, por exemplo, os excelentes textos do Fernando Mora Ramos. Time to roll on!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Passageiros em Casa

Caminhos. Traços riscados na maresia do tempo. Um encontro infinito no mar.
Na soturna roda dentada da vida, vislumbras a falésia, azenha reescrita na
intrépida viagem em que embarcas. Partes desde os flancos da Ocidental
memória, até ao mais secreto lugarejo de África. Diante dos teus olhos, um
oásis pleno de silêncios. Choras secretamente e sem pudor na noite de estrelas
cintilantes. Estás perdido há longas jornadas, mas reencontras-te finalmente.
Sabes que o teu lugar sempre foi aqui, como outros, na filigrana do mundo.

Percebes o que te quero dizer, quando digo que o silêncio é o futuro? E que
o presente é um ruído enganoso, uma melopeia breve e intensa, cheia de
atavismos e grãos de areia na memória? O presente é insidioso, fácil e resplandecente.
Brilha na ociosidade do mundo. O presente é sedutor e acalenta a nossa vã esperança
do eterno. O presente brinda-nos com o fulgor energético da vivência. O aqui e agora
é uma brisa que sopra alarvemente na cabeça dos humanos, que tem a soberba de
recusar todas as outras hipóteses. Sem ele, mais ninguém. O presente é um bicho
solitário e inconsequente. No presente morre-se sempre. O presente é um não-lugar.

Anotei no meu diário de bordo, o fim-de-linha da viagem. Perscrutei no futuro as rotas
possíveis. Dilemas por resolver no percurso em que decido embarcar. Uma vida náufraga
na procura do invisível, as marcas no chão do silêncio pacificador. Diz o provérbio turco:
"Antes de me amares, tens de aprender a correr na neve sem deixar pegadas". Sem
o rasto do cansaço acumulado no limbo das paixões, sem a vaidade occipital dos
eufemismos. Com toda a graça do glaciar de Aletsch, subir e deixar-se envolver no
mundo sensível, sem olhar para trás e sem deixar visíveis marcas de arrependimento.
A viagem das nossas vidas é só de ida e o gelo derrete-se na ausência dos afectos.
Sempre foi assim e o percurso vai de etapa em etapa, até ao prémio de montanha
em que podemos finamente respirar o ar rarefeito da criação do pensamento.

Finalmente, a hora da dança em narrativas por desbravar, estórias marítimas de
andanças e casa-abrigo do nosso eu. Somos passageiros. Andamos a descobrir
qual a casa de cada um. No horizonte vasto da felicidade.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Automatic for the people

Agora, a estória é outra, a cara despudorada, a solidão imersa em carinho, as luzes, os néons, a supremacia inquieta de um beijo, a fuligem da língua, o sal nos teus olhos semicerrados. Cresce a aparência do horror, a putrefacta   fonte dos afectos balbuciando a carcomida prece da inveja e eu, no sétimo andar de um sétimo selo a enviar para a tua rotunda do amor. Traço a negro o olhar desmesurado, corro em direcção a Marte, sublinho a ausência de sentidos na respiração ofegante de um sorriso. Paro, escuto e olho a diatribe do tempo imundo. Há sarcasmo e cuspo na esfera do mundo. Calcorreio a nuvem colorida de Plutão em abrigos e dedadas sem fim. Agito-me na impostura do tempo. Sei que morro, mas quero um segundo de vitalidade. Pareço um elefante peripatético na carestia da contradança. Olhares singulares, doidos e aviões parecem dizer-me a quanta velocidade vais e resignar-me perante a estranheza das horas mortas e dos dias ensimesmados.  Lambo a língua e a gota de chuva, na relação directa das águas e dos silêncios. Agradeço-te a missiva ensolarada e cântaros de animais a pastar na atalaia do medo. O riso dos vermes afugenta a fuga e os pássaros a cantar dão-me insónias de dor na alma. Fresco, o caminho do arbusto mais leve na paisagem olorante e náufraga. Muitos acentos para pontuar na profissão de fé dos argonautas e corifeus do pensamento. As palavras tornam-se difíceis quando escritas em demasia porque a sinopse do labor deve estar remetida para as rotas do alvor. E mais reminiscências seriam necessárias compilar para sufragar no mundo as algas da exaustão. Pertenço-te na colónia infame e desatenta da vida. Bondes e eléctricos, é tudo a mesma coisa. Chama-se desejo, a isso. Trocas e tintas no armário dos afectos. Os trocos para a viagem, as tintas para a boca e as trocas de pares de sapatos para a evasão dos sentidos. Dizer-te que gosto da tua presença é pouco, é socorrer-me da ausência em que me encantas e sempre os ruídos a indagarem as tertúlias do vento. Hoje foi uma festa breve dos sentidos...

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Interrupção

Os leitores já se tem apercebido que a produção deste blogue tem baixado nos últimos tempos, e se já era irregular, neste momento é pouco mais que nula. Na verdade, não tem havido tempo para a necessária dedicação que um projecto deste género exige, pelo que entendo que o melhor será interromper a publicação por uns tempos, até uma altura que permita outro tipo de empenho, que irá, certamente, surgir. Por isso, não é adeus, mas até já.

sábado, 21 de maio de 2011

Hoje

TUDO SE ME TORNOU INSUPORTÁVEL EXCEPTO A VIDA

Um actor diz textos do Livro do Desassossego de Fernando Pessoa, em permanente diálogo com a música e a imagem. Uma experiência que submerge o espectador no peculiar mundo que o texto nos revela, e ao qual, afinal, todos pertencemos.

Ficha técnica:

Autor - Fernando Pessoa - Fragmentos de textos a partir do Livro do Desassossego
Interpretação - Júlio Mesquita
Musica Original - André Carapinha
Video - Silvia Coelho e Sofia Torre
Produção Executiva - João Fernandes
Produção - Vigilâmbulo Caolho

Agradecimentos: Cine-Clube do Barreiro, Junta de Freguesia do Barreiro, Instituto Politécnico do Barreiro, Sociedade Cultura e Recreio 1º de Agosto Paivense, Ana Torre, Cláudio Ferreira, Marta Silva, Milucha Santos e Vitor Lopes.

Classificação etária - maiores de 12 anos

HOJE, SÁBADO, 21 DE MAIO, 22 HORAS NO FÓRUM CULTURAL JOSÉ MANUEL FIGUEIREDO, BAIXA DA BANHEIRA 

Out of context

Out of context
"This language [a kind of unique language half-way between gesture and thought] cannot be defined except by its possibilities for dynamic expression in space as opposed to the expressive possibilities of spoken dialogue. And what the theater can still take over from speech are its possibilities for extension beyond words, for development in space, for dissociative and vibratory action upon the sensibility. (...) Here too intervenes (besides the auditory language of sounds) the visual language of objects, movements, attitudes, and gestures, but on condition that their meanings, their physiognomies, their combinations be carried to the point of becoming signs, making a kind of alphabet out of these signs. (...) It seeks to exalt, to benumb, to charm, to arrest the sensibility. It liberates a new lyricism of gesture which, by its precipitation or its amplitude in the air, ends by surpassing the lyricism of words. It ultimately breaks away from the intellectual subjugation of the language, by conveying the sense of a new and deeper intellectuality which hides itself beneath the gestures and signs, raised to the dignity of particular exorcisms."
Antonin ArtaudThe Theater of Cruelty (First Manifesto), in "The Theater and its Double"


 © Antonin Artaud, Portrait of Jacques Crevel, 1947
Laura Nadar

Cabeça (3)

Pintura de João de Azevedo

Sinais

Desenho de Maturino Galvão

terça-feira, 10 de maio de 2011

Chomsky sobre o assassinato de Bin Laden

"We might ask ourselves how we would be reacting if Iraqi commandos landed at George W. Bush’s compound, assassinated him, and dumped his body in the Atlantic."


A ler na íntegra no Guernica.

Video da carga policial no 1º de Maio em Setúbal

Anti-Logic of abnormality

Anti-Logic of abnormality
"In the great repressive entities there were still real relationships of force, and therefore possibilities f struggle. In the small ones every individual is bound hand and foot by systems of relationships, influences and feelings that there is no getting to grips with, and which in any case implv other forms of 'liberation'. As i see it, the policy of community psychiatry and.psychoanalysis (and the two are now closely related) corresponds to the most sophisticated technocratic lorms of population surveillance and control. Power still seekins itself, but power that will eventually find itself. And thougt the community policy is still a failure in terrns of power - apart from the field of child psychiatry - it could quite easily make a fresh start.  What could be more perfect than a repression which needs no policemen at street corners, but works permanentlY and unobtrusively via one's work,  one's neighbours, everywhere? The sameg oesl or psychoanalysis: it is gradually getting to be everywhere - at school, at home, on television."

Félix Guattari, Anti-Psychiatry and Anti-Psychoanalysis in 'Molecular Revolution' (1984), p.48

© David Lynch, New Head, 2008

Laura Nadar

Cabeça (2)

Pintura de João de Azevedo

Sinais

Desenho de Maturino Galvão

sábado, 7 de maio de 2011

Relatório de Departamento de Investigação e Tecnologia da NATO - Operações em Zonas Urbanas em 2020

1. Introduction

The NATO Research and Technology Organisation’s 1999 Technical Report Land Operations in the Year 2020 (LO2020) concluded that in the future it is likely that NATO forces will have to conduct operations in urban areas, i.e. where physical structures, non-combatants and infrastructure will be significant characteristics. Furthermore LO2020 concluded that such operations will pose significant challenges for the Alliance. Present capabilities for operating in urban areas are essentially those of World War II, which are characterised by high levels of casualties and extensive collateral damage. Currently NATO commanders have very few military options which would avoid serious damage and casualties when dealing with an
enemy in urban areas. Such effects are unacceptable, particularly at the lower levels of conflict, where NATO forces are more likely to become involved. Therefore, it is essential that NATO provides its commanders with a range of capabilities for dealing with the varying conditions of operations in urban areas.
To follow up on these findings, SHAPE established a Military Application Study to examine the need for joint and combined doctrine and concepts for operations in urban areas. Seven NATO nations agreed to provide members for the Study Group, and the Studies, Analyses and Simulation (SAS) panel agreed in May 2000 that the UK should provide the Director. The Study Group examined the requirements of the
SAS panel and prepared this Report for further consideration. The results are intended to identify directions for further research and to contribute to the NATO Defence Planning Process, the Defence Capabilities Initiative, and the Concept Development Experimentation Process.

2. Approach

The Study Group adopted a staged approach. It began with an examination of the future urban environment.It then outlined an overall conceptual framework for urban operations and operating guidelines. Thisidentified a number of desired operational level capabilities needed to conduct such operations successfully. These capabilities were themselves refined against further operational parameters then tested in a controlled Urban Seminar Wargame (USW) using two scenarios: one of a crisis response operation and the other a war fighting situation. Finally this led to the identification of mission needs/needed capabilities and a potential “roadmap” to address them.

3. The Future Urban Environment

The Study Group began by outlining a description of the likely nature of the future urban environment. It observed that urban areas will continue to increase in number and size and are likely to become focal points for unrest and conflict. The physical and human complexity of this environment presents unique challenges for a NATO commander which are not adequately addressed by those military capabilities designed for open environments.

4. The Manoeuvrist Approach to Urban Operations

The Study Group then identified an emerging overarching approach to urban operations that holds the promise of leading to significantly improved capabilities. The more traditional approaches to improving urban capabilities are focused at the tactical, single-Service level. These aim to help tactical forces better cope with the conditions of uncertainty, close proximity to the enemy and vulnerability that characterise tactical engagements. Initiatives include improved personal protection, wall breaching techniques, etc.
Emerging doctrinal approaches could enable a NATO commander to employ manoeuvre at the operational level in an urban environment in order to “Shape” (not just cope with) the conditions of the tactical fight. Initiatives include the use of joint surveillance assets to better focus the tactical engagements against the
enemy’s critical points, and remote strike assets to reduce the amount of close combat required or to control information, mobility and the support available to the enemy’s tactical forces.
“USECT” is a conceptual framework that can be used to describe the manoeuvrist approach. (This framework was first introduced by the US in a doctrinal publication dealing with joint operations in an urban environment.
It stands for Understand, Shape, Engage, Consolidate, and Transition. These components can be employed separately, sequentially or simultaneously. The traditional approach to urban operations lacks the ability to gain information and knowledge regarding enemy locations, movements and status in an urban environment. Tactical information is frequently gained only when an enemy has been engaged, emphasising the “Engage” portion of the framework. This generally results in the application of overwhelming force to defeat an enemy.
In contrast, the manoeuvrist approach seeks to “Understand” the nature of the enemy, his locations and intentions before engagement by employing ISTAR and other assets, and to use the information gained to “Shape” the urban battlespace. This emphasises the “Understand” portion of the framework, and will allow a NATO Commander to employ a manoeuvrist approach at the operational level to “Shape” the tactical combat actions to advantage and “Engage” an enemy with precision effects, thereby reducing casualties and collateral damage.
Since tactical engagements will continue for the foreseeable future, a co-ordinated programme including both tactical and operational-level improvements is needed. Initiatives at the operational level, however,hold the promise of dramatic improvement.

Recommendation
The Study Group recommends NATO adopt the USECT framework as the basis for all further development of concepts and doctrine for urban operations

5. Operational Concepts

In order to achieve an overall manoeuvrist approach, a NATO commander has to have improved capabilities to Understand, Shape, and Engage in an urban environment. In order to identify and develop these capabilities, the Study Group first reviewed the full range of urban missions and identified operational concepts that a NATO commander might employ to conduct each mission successfully. These concepts are of two types: a traditional type in which the ability to “Understand” within an urban area is very limited(siege, destruction, frontal assault), and an emerging type in which improved doctrine and capabilities are utilised to Understand, Shape, and Engage with precision effects within the battlespace (precision strike, nodal isolation and capture, segment and capture, etc.)

Recommendation
The Study Group recommends that NATO adopt the mission types and emerging operational concepts identified as the basis for further study, investigation and experiment.

6. Capability Requirements

The capabilities required by each operational concept were identified by the Study Group and presented using the USECT framework. The “Capabilities Assessment Seminar” (CAPS) held in September 2001 resulted in a consolidated list of 42 operational-level capabilities (recorded in Chapter 5.) All of these capabilities would be necessary for a NATO commander to conduct successfully operations in an urban
environment. To allow a more detailed examination of the most important capabilities, only 15 were designated as “key capabilities.” Two principal criteria used for this selection were: military significance and the extent of the capability gap, as judged by the Study Group.

Recommendations
The Study Group recommends that NATO develop capabilities for use in urban areas by focussing on the key requirements identified in this study.
It is also recommended that all the 42 capabilities identified merit further examination but that the initialfocus should be on the 15 key capabilities.
It is further recommended that NATO should relate all future urban specific materiel developments to the 42 capabilities.

7. Potential Solutions
The final part of the study was to determine actions that could develop the key capabilities. These actions were classified into the types of initiatives that might be taken and were separated into four categories:Doctrine, Organisation, Training and Materiel. Although more than half of the capabilities were driven by Materiel, a significant number had drivers in the areas of Doctrine, Organisation and Training.
To gain further insight into the nature of potential solutions, an Urban Seminar Wargame (USW) was conducted by the Study Group in November 2001. For this activity twelve “System Concepts” were identified that could provide the required capabilities. Specific representative systems were then examined in the Wargame and their military attractiveness, technical attractiveness, technical risk and research cost were assessed by the Study Group. Three different vignettes were considered in this process. Both the CAPS and USW assessments show that the essential capabilities are to collect, communicate,process, fuse, assimilate, and distribute information from many different sources, especially HUMINT, in a responsive manner. The sensors and platforms that support these capabilities emerged as the most valued by USW participants.
The ability to exploit effectively the information gained to “Shape” and “Engage” also received high priority. Key systems included unmanned vehicles and non-lethal weapons to reduce casualties, and precision delivery to limit collateral damage.

Recommendations
The Study Group recommends that NATO should focus on potential solutions for enhanced capabilities in urban areas at the operational level of command.
It is also recommended that NATO give priority to Concept Development and Experimentation in order to determine potential solutions across all aspects of Doctrine, Organisation, Training, Materiel, Leadership,Personnel and Facilities (DOTMLPF). This should include:
• Identifying those modelling and simulation requirements for operational analysis and training.
• Addressing policy implications for issues such as the employment and use of NLW, unmanned systems/robots, cyber ops, etc.
• Promoting interoperability.

8. Principal Recommendations

The Study Group recommends that:
• The operational concepts, capability requirements and potential solutions offered in this Study should be expended and further investigated using the USECT framework. This should include concept development and experimentation. This should also consider modelling and simulation tools to support the process.
• The capabilities described in this study, and solutions developed are reflected in NATO’s Defence Planning Process as Long Term Requirements.
• NATO should establish a Branch level lead within SHAPE to provide oversight and be the focal point for future urban activities.
• Points of Contact should be nominated in other appropriate HQs and offices to co-ordinate urban related efforts.
• NATO should establish an Urban Operations Working Group with a lead nation2 to serve as a focal point in support of SHAPE, to co-ordinate NATO and member nations’ urban related efforts and to build a plan based upon directions identified in this study.
Finally the Study Group recommends that RTB should endorse this study and its recommendations and forward them to the Military Committee, the Conference of National Armaments Directors (CNAD) and the Strategic Commands.



RTO/NATO 2003

quinta-feira, 21 de abril de 2011

As quatro burlas

Em Portugal, um dos países do "mundo ocidental" em que os ricos menos contribuem para as despesas do Estado, um banco com nula vocação para depósitos ou empréstimos, e toda para avultados investimentos de alto risco efectuados por detentores de grandes fortunas à procura da multiplicação fácil do seu capital, chamado BPN, entrou em pré-falência devido ao crash de um sistema financeiro global assente num "esquema de Ponzi" (primeira burla). Alertado pelas sumidades do sistema bancário nacional, que nem por isso estavam menos envolvidas no esquema de Ponzi, para o risco de "contágio do sistema bancário", o governo investiu milhões e milhões de euros do erário público para salvar o referido banco, e assim também os tais investidores, que no final do processo não tiveram risco nenhum no investimento, já que os seus prejuízos foram assegurados pelo Estado, isto é, pelo conjunto dos cidadãos, "todos em geral e ninguém em particular" (segunda burla). Isto provoca a entrada do país em recessão técnica; aproveitando-se deste facto, agências de notação financeira directamente ligadas a grandes grupos de investimento vão aumentando o risco da dívida do país, o que origina que os empréstimos dos tais grandes grupos de investimento, a que estão directamente ligadas, sejam efectuados a juros cada vez mais altos, ou seja, com cada vez maior lucro (terceira burla). No final deste processo, incapaz de cumprir com os seus compromissos, Portugal "pede ajuda" ao FMI, "ajuda" essa que consiste em novos empréstimos, efectuados contra a garantia do "emagrecimento" das despesas do Estado, ou seja, de que o dinheiro dos contribuintes portugueses, em lugar de servir para as despesas do Estado português (como saúde, educação, transportes, infra-estruturas, investimento, etc.), sirva para pagar os empréstimos aos grandes investidores, e agora, ao FMI (quarta, e decisiva, burla). No passo, as mesmas sumidades do sistema bancário que foram salvas pelo Estado português, assim provocando a recessão e o empobrecimento dos cidadãos portugueses, declaram que os seus bancos "não ajudarão mais o Estado", esquecendo-se de mencionar que essa "ajuda" consistiu apenas em empréstimos a um juro relativamente mais baixo que o dos mercados internacionais, mas substancialmente mais alto que o do BCE, a quem esses bancos pedem emprestado. Isto apesar de a operação de resgate do BPN e do restante sistema bancário não ter sido efectuada através de nenhum empréstimo, mas apenas da injecção pura e simples de dinheiro, e da "nacionalização dos prejuízos". Perante isto, recusar pagar a dívida pública não é nenhum "calote"; pelo contrário, trata-se não só de uma medida essencial para a recuperação económica, e acima de tudo para a manutenção da soberania nacional, como também algo da mais elementar justiça.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Ai Weiwei, parte 2

"On April 3, internationally acclaimed Chinese artist Ai Weiwei was detained at the Beijing airport while en route to Hong Kong, and his papers and computers were seized from his studio compound. Now the Guggenheim Foundation is leading the call for his release."
[...]
"Change.org (o site onde  se pode assinar a petição para libertar Ai Weiwei) is currently experiencing intermittent downtime due to a denial of service attack from China on our web site. It appears the attack is in response to a Change.org petition signed by nearly 100,000 people worldwide, who are standing against the detention of Chinese artist and activist Ai WeiWei."

Para assinar a petição para a libertação de Ai Wei Wei aqui.
Laura Nadar

Sinais

Desenho de Maturino Galvão

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sessão Temporariamente Suspensa - Movimento de apoio à Cinemateca Portuguesa

A Doutrina do Choque - Naomi Klein


A Doutrina do Choque from Muito Aterrorizado on Vimeo.

terça-feira, 12 de abril de 2011

No futebol, como na política, como na vida

Quem só tem uma côr vê o mundo a preto e branco. Mas quem quer ter todas as cores vê tudo a cinzento.

Sinais

Desenho de Maturino Galvão

Correio interno

André,
O galeão de Manila, desta vez desviado de Sevilha ou Cádis, para as costas portuguesas, traz prata, e riquezas mais que o chinês do Futre. É terça-feira a data de chegada. Na Portela – o Cais das Colunas do século XXI, onde as grandes figuras de Isabel II de Inglaterra ou Gungunhana aportaram – terça-feira, com idêntico fausto, no atual aeroporto substituto de Alcochete, desembarca o FMI. E desta vez vem como diretor de campanha dos Partidos. Os programas, para a combativa campanha eleitoral, que se deduz, serão escritos num hotel de luxo e em inglês. Que se traduzirão para português em sólidas promessas eleitorais: “vamos baixar as pensões e os salários”, noutro Partido prometem mais, com responsabilidade: “assim não ganhamos a confiança dos mercados! pois, nós, cortaremos o 13º e o 14º meses”, mas a responsabilidade fala mais alto ainda: “ah! ele é isso? pois nós, para além disso tudo, cortaremos um mês, passarão a receber apenas 11 meses por ano”.
E, ao terceiro desembarque em Lisboa, não só crescimento económico trará o FMI na bagagem, também consolidará as promessas eleitorais. Serão sólidas promessas porque, pela primeira vez na História, serão cumpridas. Dentro de 4 anos, no fim da legislatura, os portugueses não chorarão enganados, nem lamentarão pelos “150 mil postos de trabalho”.
Portugal, quando a crise finalmente chegar, no longínquo 2013 ou 14, não enveredará pela posição islandesa de “não pago! chamem a Polícia”, porque os nossos visionários líderes sabem que não é a Polícia que se chama nestes casos mas a Democracia. Enquanto os islandeses votarão referendo atrás de referendo até ao resultado certo, os portugueses esbofarão pela mesma miséria das monjas do Lorvão, mas com final feliz. Sobre as quais escreveu Alexandre Herculano: “entretanto, se eu falasse com eles, dar-lhes-ia um conselho, talvez o ouvissem, era de enviarem aqui sessenta soldados. Formavam as monjas do Lorvão, em linha, no adro da igreja, e mandavam-lhe três descargas cerradas. Desaparecia, a troco de poucos arráteis de pólvora, um grande escândalo e resolvia-se, afirmativamente, um grande problema ao qual eu nunca achei soluções senão negativas, que é o da utilidade da Força Armada neste país”.
Quando a crise chegar, virão sessenta peritos, que por poucos arráteis de um programa informático, remendarão a economia. Durmamos descansados que o dinheiro está salvo.
Abraços
Maturino Galvão

Na Política como na Vida...

Qual a menos NOBRE profissão do mundo???
Ser prostituta política!

terça-feira, 5 de abril de 2011

No futebol como na vida, parte 1

Em nenhuma outra actividade como no futebol se revela a nossa incapacidade em nos colocarmos na pele do outro, essa deficiência que faz da razão uma miragem, um sonho molhado de filósofos.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Visions in red

Visions in red
    “Thus the paranoid imagination operates on precisely that assumption which its enemies-if they existed existed-would wish it to operate on: the assumption that simulations belong to the other side, that doubles have no reason to appear or to exist except to prevent us from seeing the original. The self-protective suspicions of paranoia are, therefore, already a defeat. […] In paranoia, the primary function of the enemy is to provide a definition of the real that makes paranoia necessary. We must therefore begin to suspect the paranoid structure itself as a device by which consciousness maintains the polarity of self and nonself, thus preserving the concept of identity. In paranoia, two Real Texts confront one another: subjective being and a world of monolithic otherness. This opposition can be broken down only if we renounce the comforting (if also dangerous) faith in locatable identities. Only then, perhaps, can the simulated doubles of paranoid vision destroy the very oppositions that they appear to support.
    L. Bersani, in ‘Pynchon, Paranoia, and Literature’ in  Representations, No. 25 (Winter, 1989), pp. 99-118

    Laura Nadar

    domingo, 3 de abril de 2011

    Correio Interno


    André,
                Caiu o Governo, teoricamente, pois virá mais do mesmo, pelos mesmos, para os mesmos. Será uma campanha eleitoral de arromba, com os partidos a competirem entre si, para o título de quem promete mais “sacrifícios”. Essa grande marcha do consenso. Votem em nós, que baixamos as pensões e subimos o IVA, não! em nós, que para além disso, prometemos baixar os ordenados outra vez. Venham votar em nós que vamos pôr a geração 500 € no seu correto lugar: o de 400 €. Votem em nós que lhes tiramos os subsídios sociais todos. Em nós, que vamos despedir-vos com uma mão à frente outra atrás, sem direito a subsídio ou indemnização. E vão fazer tudo isto sem outdoors.
      
    Abraços
    Maturino Galvão

    segunda-feira, 28 de março de 2011

    Our wild nature

    "- And what excellent tools for observation we have in our senses! Take the nose, for instance - no philosopher has ever mentioned the nose with admiration and gratitude, even though it is the most delicate instrument we have at our disposal: noses can detect tiny differences in motion that even spectroscopes do not notice. We have science these days precisely to the extent that we have decided to accept the testimony of the senses, - to the extent that we have learned to sharpen them, arm them, and think them through to the end. Everything else is deformity and pre-science: I mean metaphysics, theology, psychology, epistemology. Or formal science, a system of signs: like logic and that application of logic, mathematics. They do not have anything to do with reality, not even as a problem; they are equally distant from the question of whether a sign-convention like logic has any value at all. -"
    F. Nietzsche, in ‘Twilight of the Idols or How to Philosophize with a Hammer’



    © Ione Rucquoi, My Cock & I, 2006
    Laura Nadar

    Eis o Sporting

    Porrada entre sócios, máfia russa, umas eleições em que ou há uma chapelada eleitoral ou uma tentativa de golpada, arruaceiros à solta, insultos e pedradas ao vencedor, este a fugir dos adeptos e a fazer o discurso de  vitória à porta fechada... Eis o Sporting.

    Sinais

    Desenho de Maturino Galvão

    segunda-feira, 21 de março de 2011

    Dia da Poesia

                       Três Tempos

    Hoje queria escrever-te coisas tão bonitas como o tempo
    mas não consigo
    não sou capaz

    Sou falho de inteligência e de amor. Faltam-me os verbos
    na demanda do mundo sensível e atroz ao mesmo tempo

    Hoje queria dizer-te o quanto te amo, mas duvido que
    seja assim tão simples de escrever num papel rasurado
    pelos dias inquietos a palavra aérea da fantasia.

    Ontem queria explicar-te ao pormenor a ciência dos
    corpos e dos mares profundos. Na mais abissal das
    entranhas do sentimento. Mas a lua escolheu-te
    para navegares nas crateras da felicidade.

    Amanhã será tarde de mais, porque morri de vergonha
    pelas palavras ditas. Escancarei a boca para o teu coração
    e fiquei parado no sinal vermelho do teu afecto

    Amanhã é sempre longe e eu tão perto de vestir o hábito
    do monstro que me ensina a quanto menos se disser, melhor
    E assim, cravo espinhos nas minhas encrespadas mãos
    pecadoras pelo ofício de te querer. E socorro-me em
    última instância de um trago amargo que me consome
    as lágrimas no paraíso dos amantes etéreos

    Por agora, o beneplácito leviano do astro-rei, que
    me faz desejar um sorriso numa noite estranha
    Já me despi de toda a sujidade dos homens

    É tempo de recomeçar na orla do idílico momento:
    Futuro feito de presente carregado de passado

    domingo, 20 de março de 2011

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    "Formados por André Carapinha, Bruno Contreira, Ernesto Silva e Fábio Mateus, um ilustre quarteto de músicos barreirenses (Frango, Funkaína, Los Santeros, Nicotine's Orchestra, Fast Eddie & The Riverside Monkeys ou POW!), os Chickenálise têm vindo a impressionar com um registo em que predomina um rock carregado de dramatismo, a lembrar os Swans ou os melhores tempos dos Bad Seeds, não deixando de revelar influências do psicadelismo ou da chanson française. Deste improvável caldeirão surge uma das mais interessantes propostas musicais desse centro criativo que é o Barreiro, pronto a revelar-se a Portugal e ao Mundo" 
    Luiz Inácio Monteiro, Março de 2011
    Myspace

    Sinais

    Desenho de Maturino Galvão

    quarta-feira, 16 de março de 2011

    A revolução que os media não mostram

    "Por incrível que possa parecer, uma verdadeira revolução democrática e anticapitalista ocorre na Islândia neste preciso momento e ninguém fala dela, nenhum meio de comunicação dá a informação, quase não se vislumbrará um vestígio no Google: numa palavra, completo escamoteamento. Contudo, a natureza dos acontecimentos em curso na Islândia é espantosa: um povo que corre com a direita do poder sitiando pacificamente o palácio presidencial, uma "esquerda" liberal de substituição igualmente dispensada de "responsabilidades" porque se propunha pôr em prática a mesma política que a direita, um referendo imposto pelo Povo para determinar se se devia reembolsar ou não os bancos capitalistas que, pela sua irresponsabilidade, mergulharam o país na crise, uma vitória de 93% que impôs o não reembolso dos bancos, uma nacionalização dos bancos e, cereja em cima do bolo deste processo a vários títulos "revolucionário": a eleição de uma assembleia constituinte a 27 de Novembro de 2010, incumbida de redigir as novas leis fundamentais que traduzirão doravante a cólera popular contra o capitalismo e as aspirações do povo por outra sociedade.

    Quando retumba na Europa inteira a cólera dos povos sufocados pelo garrote capitalista, a actualidade desvenda-nos outro possível, uma história em andamento susceptível de quebrar muitas certezas e sobretudo de dar às lutas que inflamam a Europa uma perspectiva: a reconquista democrática e popular do poder, ao serviço da população."



    "Desde Sábado, 27 de Novembro, a Islândia dispõe de uma Assembleia constituinte composta por 25 simples cidadãos eleitos pelos seus pares. É seu objectivo reescrever inteiramente a constituição de 1944, tirando nomeadamente as lições da crise financeira que, em 2008, atingiu em cheio o país. Desde esta crise, de que está longe de se recompor, a Islândia conheceu um certo número de mudanças espectaculares, a começar pela nacionalização dos três principais bancos, seguida pela demissão do governo de direita sob a pressão popular.

    As eleições legislativas de 2009 levaram ao poder uma coligação de esquerda formada pela Aliança (agrupamento de partidos constituído por social-democratas, feministas e ex-comunistas) e pelo Movimento dos Verdes de esquerda. Foi uma estreia para a Islândia, bem como a nomeação de uma mulher, Johanna Sigurdardottir, para o lugar de Primeiro-Ministro."

    sexta-feira, 11 de março de 2011

    Sobre a Líbia

    O Miguel Serras Pereira é um blogger que geralmente aprecio, mas por vezes, como neste caso, cai em posições de uma ingenuidade gritante. Ele que não se preocupe, que a seu tempo verá a intervenção militar estrangeira que deseja na Líbia. Exactamente no momento em que se torne evidente que a revolução líbia não tem hipóteses de vencer Kadhaffi sem ajudas exteriores. É por esse motivo que os países ocidentais exageram na retórica e recuam nas acções concretas para o apoio à revolução, daquelas que seriam um verdadeiro auxílio sem invasão, como o bloqueio aéreo ou naval, ou mesmo a destruição da força aérea de Kadhaffi. Está na cara de quem quiser ver qual a sua estratégia: deixar a revolução em banho-maria, de modo a que não tenha qualquer hipótese de sucesso sem ter de apelar a uma intervenção das grandes potências; e assim, matar todos os coelhos de uma cajadada só: estando do lado justo, e por apelo dos próprios, acabar com as veleidades de autonomia do processo revolucionário líbio, e entrar em força no país, em troca dos contratos e das concessões certas. E ainda com todos os ingénuos por cá a aplaudir de pé.

    quarta-feira, 9 de março de 2011

    O 12 de Março, feito por todos


    Este excelente tema do Chullage tem sido reaproveitado, como outros, para bandeira do movimento que se vai manifestar a 12 de Março. Outros tem produzido videos, temas musicais, organizado flashmobs, simplesmente divulgando e discutindo, no seus facebooks, blogues, em casa, preparando acções, tudo de forma espontânea e descentralizada, a partir de um simples manifesto inicial. À atenção das gentes dos partidos de esquerda: não é por acaso que tanta gente tem feito tanta coisa para esta manifestação. Sente-se aqui algo de novo, e há um perfume de genuína revolta popular no ar. Aqueles que tentarem cavalgar isto, serão desmascarados como os saudosistas das vanguardas que são. Os que genuinamente se manifestam não lhes perdoarão. O tempo agora é de ir para a rua, e exprimir a revolta que sentimos contra todos aqueles que são responsáveis por, mais uma vez, adiar a nossa vida. Muito caro pagarão todos os que aparecerem, neste momento, como intrusos aproveitando uma boleia alheia. Espero sinceramente que os partidos de esquerda percebam isto.

    terça-feira, 8 de março de 2011

    A manifestação de 12 de Março e o PCP (2)

    Esta decisão do PCP em participar na manifestação também me fez matutar sobre a atitude que esse partido teve quando da recente manifestação anti-NATO. Nessa altura foi ver os comunistas a distinguir entre a "sua" manifestação e a "dos outros": "nada temos contra fazerem manifestações, mas façam-nas noutro sitio, não parasitem a nossa manifestação". Era muito engraçado ver este raciocínio agora aplicado à manifestação de 12 de Março.

    A manifestação de 12 de Março e o PCP

    O PCP anunciou que "estará presente" na manifestação de 12 de Março. Há amigos que nos fazem pior do que os inimigos, e apoios que certamente se dispensariam. Não se trata do "direito" de o PCP se fazer representar, de se solidarizar ou até apoiar; a questão é outra. Partindo do princípio que o PCP está de facto ao lado da manifestação, e pretende que esta seja um êxito (vamos acreditar nisso), então esta declaração é um tiro no pé (e vamos acreditar que não é uma facada nas costas). A pior coisa que pode acontecer a esta manifestação é ver-se submergida num mar de bandeiras vermelhas. Primeiro, porque isso desmobilizará uma parte dos seus aderentes, menos politizados, mas igualmente com razões para a revolta (e isso já começou a acontecer com este anúncio). Segundo, porque isso desvalorizará o impacto da manifestação, que reside na sua originalidade, tanto pela forma como foi convocada, à revelia dos partidos, como pelo conteúdo do seu manifesto, que é suficientemente abrangente de uma forma que só um grupo apartidário é capaz de produzir. Lá veríamos os comentadores de serviço a reduzir esta manifestação a "mais uma" de inspiração PC, com os resultados que tem tido todas as anteriores (e Miguel Sousa Tavares já sentenciou: se for muita gente à manifestação, é porque o PC está por trás). Esta gente esfregará as mãos se conseguir colar este movimento ao PCP, e assim esvaziar aquilo que tem de fundamentalmente diferente e original. Irão os comunistas fazer-lhes a vontade? É que isso acabaria por dar razão aos que consideram que o que o PCP pretende é não deixar os movimentos escapar-lhe do controlo, mais que o sucesso desses mesmos movimentos. Comunistas, e já agora outros que sofrerão do mesmo mal, mostrem-me que estou enganado. Compareçam em massa à manifestação, mas despidos dos símbolos partidários, compareçam como cidadãos que apoiam uma causa e não como membros de organizações que a parasitem. Ajudem ao sucesso deste movimento.

    Sinais

    Desenho de Maturino Galvão

    domingo, 6 de março de 2011

    Homens da Luta vencem e dão Festival.

    Pois é camaradas da luta, o povo votou e quis! Homens da luta vencem o Festival da Canção e vão representar-nos em Dusseldorf, Alemanha! E dia 12 de Março vão estar na Avenida da Liberdade a dar um concerto à borla e a lutarem connosco! "A luta é Alegria" é o título da canção. Lembrei-me logo do Almada Negreiros que disse: "A alegria é a coisa mais séria da vida". Eis aqui o vídeo da actuação.