quarta-feira, 14 de março de 2007

terça-feira, 13 de março de 2007

USA encorajam militarização aguda dos regimes do Nepal e do Bangladesh


União Europeia e EUA de mãos dadas para tentar salvaguardar tópicos de afrontamento alternativos contra a crescente influência de Pequim

A política da manipulação e da intriga ainda é praticada pelo belicoso GW Bush. Um exemplo flagrante: o tipo de intromissão abusiva e despudorada que exerce, de mãos dadas com países da U. Europeia, no Nepal e no Bangladesh, países satélites de dois grandes colossos, a Índia e a China, que tanta dor de cabeça causam aos estrategos de Washington. Será que a " contenção " e a vigilância mais ou menos disfarçada sobre a China, os conduz a cometerem ingerências imperdoáveis no desenrolar da vida política interna daqueles dois estados? A " cruzada " em prol das democracias "emergentes" provoca mais estragos e embaraços do que pensa o anónimo observador incauto. O jornalista indiano J. Sri Raman mostra tudo clicar aqui no Truthout.org. Ele diz, fundamentalmente, que os EUA boicotam por variados meios a realização de eleições requeridas pelos principais protagonistas políticos.

" No caso do Nepal, os negociadores enviados de Bush nem se deram ao luxo de esconder esse propósito de boicote. Em relação ao Bangladesh, Washington e os seus aliados ocidentais declaram tão só mais uma errante guerra na senda para a democracia ", frisa Raman, que acrescenta: " Em relação ao Nepal, esses enviados evitaram entrar em colisão com a diplomacia activa do antigo embaixador americano, a partir do momento em que o povo derrotou a monarquia detestada e abriu a porta a democracia ". O diplomata americano, que já cedeu o lugar, " tentou por todos os modos evitar o regresso dos maoistas ao jogo político, e quebrar o acordo histórico que os liga ao partido Aliança (SPA), que eliminou o despótico rei Gyanendrás em Abril do ano passado. Ele desempenhou um grande papel mantendo o " dia do terror" de inspiração yankee contra os maoistas e agitou a ausência de ajuda para as regiões por eles controladas ".

Apesar de todas estas diligências, o Nepal vai assistir amanhã a mais uma etapa da sua transição democrática, com a entrada dos maoistas no governo interino do PM Girija Koirala. " A subsecretária de Estado americana da Cooperação, Henrietta H. Fore, numa visita a Katmandu na passada semana, assegurou logo que o processo tinha ficado " adiado ". Proclamando a " irritação" de Washington, Fore verberou a " reiterada oposição dos maoistas em renunciarem à violência " e, também a agitação étnica, manifestando-se pela construção da unidade do Nepal sem os maoistas. Forçou o PM , velho e fraco, a cumprir tais propostas anti-maoistas. Mal ela vira costas, Koirala assegura aos revolucionários pró-chineses que iriam ocupar alguns lugares no governo...

Uma democracia sustentada e amparada pelos militares parece ser o que teme o líder dos maoistas nepaleses, Prachanda. Ele diz que quer o governo pronto até final deste mês. E na passada denunciou uma conspiração para matar os americanos residentes no país, prejudicando os maoistas e proibindo-os de se exprimirem politicamente. Será o barulho das botas... militares? O mesmo se passa no Bangladesh em que um moribundo governo provisório cedeu à descarada manipulação militar. " O povo só especula sobre a desfaçatez de quem serve às ordens dos militares ", revela Raman. A prisão do filho do chefe do maior partido da Oposição e o adiamento das eleições parecem favorecer a projecção de um tecnocrata apoiado e encorajado pelos EUA, o eminente economista Mohammad Yunus, que precisa dos militares para " endireitar " o estado e a economia...

FAR

Seleccionámos:

Bush's Democracy Project in Bangladesh and Nepal
By J. Sri Raman
t r u t h o u t Guest Contributor
Tuesday 13 March 2007

Who says that President George Bush and his men and women promote democracy only by destructive wars? They do so also through creative, unconventional diplomacy. Look at their latest achievements in Bangladesh and Nepal.
In both these countries bordering India, whose ruling establishment has enlisted in the Bush crusade to save democracy (especially "emerging" democracies), the cause has hit a major roadblock. And it is representatives of Washington who have placed a mega-sized boulder on the path to much-awaited elections in both cases.
In the case of Nepal, Bush's mouthpieces have not really bothered to conceal this. In the case of Bangladesh, Washington and its Western allies have only declared a more devious war on democracy.
In talking of Nepal, these columns have repeatedly noted striking instances of the distinguished style of US Ambassador James Francis Moriarty's diplomacy, through the entire period since the people of the Himalayan state overthrew a hated monarchy and opened the door to democracy. A higher official of the US administration has now outdone him.
Moriarty has tried many tricks barred by the book of diplomacy in a bid to prevent the return of Maoists to the political mainstream, and to break the historic accord between them and the Seven-Party Alliance (SPA) that ended King Gyanendra's despotic rule last April. Moriarty has played a role in keeping Washington's "terror tag" on the Maoists. While insisting on their electoral insignificance, he has tried to stall their inclusion in the interim government by warning of US assistance only to departments under non-Maoist ministers.
He has also made a very un-diplomat-like visit to a center of ethnic unrest and voiced support for the demands of the Madhesi minority, which the Maoists and the SPA do not oppose anyway.
Notwithstanding Moriarty, Nepal was to move ahead to the next stage of its democratic transition on March 14th, when the Maoists were to join the interim government under Prime Minister Girija Prasad Koirala. US Under Secretary of State for Management Henrietta H. Fore, on a visit to Kathmandu last week, ensured that progress in the process was put off.
On March 10th, she proclaimed Washington's displeasure with "two trends that, if unresolved, threaten Nepal's democratic progress." The first - surprise, surprise - was "the continuing failure of the Maoists to renounce violence". The second, equally predictably, was ethnic unrest. This, she said showed the need for "inclusiveness" in Nepal, though the Maoists were to be excluded.
(…)
The process gathered momentum with the arrest of Begum Zia's unpopular son Tarique Rahman and raids on Hasina's residence on March 8th. The very next day, all political activity (including indoor meetings) was banned.
The second development is the entry into politics of eminent economist Mohammad Yunus. He has turned out to be a typical candidate of the same political camp and constituency that the behind-the-scene military rulers represent and back. Even more significant is the extra-Bangladesh dimension of his electoral appeal and that of his hastily assembled party called Nagorik Shakti (Citizen Power).
Moriarty and Fore have played politics in Nepal, but their counterparts in Bangladesh would seem to have gone a step further by fielding their own candidate and a party in the forthcoming election, if and when it is held.
The US ambassador in Bangladesh, Patricia Butien, has been more circumspect than Moriarty. But a former US ambassador in Bangladesh (and Pakistan ) and currently an academic at the Woodrow Wilson Center in Washington, DC, William B. Milam, has nearly given the game away.
Milam's proximity to the power centre in Washington is seen in the fact that he was to be a US observer of the scrapped election of January 22nd. On January 9th, almost two weeks before that, he wrote in a newspaper column, "My trip to Bangladesh ... is off." He said "the US and EU have ruled out sending teams (of observers)" because, among other reasons, it "would convey an unofficial sanction to an election that will be clearly wanting in legitimacy."

Salão de Chá


Da série "Terra Incógnita". Niassa. 2001/2005

Foto de Sérgio Santimano

Intriga em Família


Selecção de textos publicados nos últimos dois anos no Da Literatura.
Temos que esperar pelo fim de Abril para o irmos buscar às livrarias.

Mambo 13

Se não me perguntarem, sei o que é o tempo, dizia Stº Agostinho, aos seus contemporâneos à beira da ruela do século 9. Sem antes limpar o piso, estou sentada no regaço cobiçado do século 21, em plena avenida to nowhere com um desejo engordado pelos dias, "where there is a wish there is a way"... mas o tempo, fica sempre inabitado pelo momento certo, o "kairós"
dos gregos clássicos. Ao transeunte que passa pela nossa vida,
oferecemos falta de tempo, precipitamos-lhe a resposta sem que tenha
antes circulado pelo seu coração, a nossa imaginação é uma grande
empresa que dispensa serviços rápidos; ao que ia dizer algo,
cola-se-lhe a nossa sugestão de pensamento, por vezes, chegada da
própria alienação mas com inofensivo nome. Ao outro que chega já
partindo, talvez o tenhamos enredado nas lianas do tempo a mais, dias,
meses, anos para que se traduza em nós a sua vontade; a esse, o tempo
deveria ter tido saldo mais curto para que se não tornasse mnésica
bruma. Arranjei uma maneira de dosear o tempo. Se quero de imediato
algo, espero o mais que puder, há sempre alguém que leva mais instantes a
deglutir os acontecimentos mas se a preguiça desce como o sol, exercito
o poder de agir e antecipo a história da vida. No entanto, sigo com
algumas dúvidas sobre este reflectido procedimento, porque depende
fantasticamente dos fusos culturais e já quase ninguém sabe de onde lhe
vem o que parece ser seu chão.

Sinais

 

Desenho de Maturino Galvão
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segunda-feira, 12 de março de 2007


Dili

Pintura de João de Azevedo

Presidenciais francesas: Esta semana será decisiva segundo experts dos USA

Politólogos americanos citados pelo NY Times, hoje, juram que esta semana será decisiva para se saber se haverá um terceiro candidato - François Bayrou - com chances de disputar o lugar de Ségolène e ir à segunda volta...

Segolène Royal bem tenta o impossível, mas as faltas e lapsos acumulam-se. Não é que foi dizer para o Michel Rocard, a personalidade política francesa de centro-esquerda mais habilitada e reconhecida no Mundo, tentando " lavar " a falta de não o ter convidado para o comité especial de honra da candidatura, que o dito comité de "sages" era só honorífico e, pelo contrário, precisava dele para a argumentação de estratégia económica...A sério. O insuspeito Nouvel Observateur comentava este caso emblemático desta forma:"Rocard ficou mesmo marri ( jargão: desolado) ". O que parece é que, os amigos tecnocratas de Rocky, apoiam discretamente Bayrou... que é de direita humanista e não tem os tiques autoritários de Nicolas Sarkosy. Só que era lindo ver a Ség. Royal como Pr., num país tão machista como a França.

Entretanto, Villepin apoiou hoje Nicolas, depois de meses de suspense e de reviravoltas espectaculares. Lembram-se do falso testemunho inventado pelo The Economist/ Financial Times? O PM francês, que pode vir a ser embaixador em Washington ou candidato à Mairie de Paris, esperou pelo início da retirada de Jacques Chirac para anunciar o seu apoio a Sarkozy, gabando-lhe o nervo e a experiência para ocupar a cadeira de PR... Em cima da mesa analítica, estão dossiers escaldantes de uma rivalidade ensurdecedora entre os dois tops do executivo francês.

Por fim, sobre a candidatura de François Bayrou, um cristão-democrata rural dos Pirenéus, o The Guardian esboçou este photomaton:" Como é que pode acontecer que os franceses elejam Bayrou que consideram mole?...Muito simplesmente porque metade destestam visceralmente Sarkozy e a outra ainda não compreendeu muito bem o que é que a Ségo deseja fazer...". O mundo gira e a França espanta-nos...

FAR

Sinais

 

Desenho de Maturino Galvão
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domingo, 11 de março de 2007

Tira uma foto


Da série "Terra Incógnita". Niassa 2001/2005

Foto de Sérgio Santimano

Garry Kasparov levanta barricadas em Moscovo contra Putin

O antigo campeão mundial de xadrez pode vir a liderar uma candidatura unitária de Centro-Esquerda contra o todo-poderoso sucessor (?) do mestre do Kremlin...

A edição mundial do NY Times dava conta ontem da grande manifestação organizada por Kasparov no centro de Moscovo, na Nevsky Prospekt avenida. Mais de cinco mil manifestantes envolveram-se em combates com a polícia em protesto contra a política de Putin, o cerceamento das liberdades e a desigualdade económica crescente que, a par da corrupção e da opacidade na tomada de assalto das direcções dos conglomerados petrolíferos, constituem graves factores de entrave à real democratização da Rússia. Personalidade de relevo a nível mundial, beneficiando das vendas de cursos de Jogar Xadrez e de Manutenção Física, Kasparov lidera dois grandes movimentos da Oposição Democrática Russa. Apoiou Gorbatchev e depois Ieltsin contra os " duros " do sistema ferido de morte do comunismo de Estado. E apoiou mesmo Putin, no início do seu mandato, em 1999. Dois anos depois provocou grande celeuma com a publicação de um artigo contra Putin, no W Street Journal., intitulado "Estava errado acerca de Putin". E, hoje, continua o artigo do correspondente do NYT, "Kasparov não baixou os braços. Condena a política externa de Putin, acusando-o de intimidar as antigas Repúblicas soviéticas que por laços culturais e históricos deviam ter-se tornado aliados próximos da Rússia, ao invés alimenta as relações com países como o Irão, a Coreia do Norte e a China, o que não tem cabimento. Acusa também Putin de ter neutralizado os média, asfixiado os opositores e os homens de negócios independentes e minado a instituição essencial da democracia: o desenrolar de eleições livres e alargadas".

FAR
Oceano
(Raku 960º)

Sissine Rocha

Sinais

 

Desenho de Maturino Galvão
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sábado, 10 de março de 2007

Tristezas

"Esperei o tempo devido até me habituar ao novo 'Público': não consegui. Tal como vejo a mudança, a linha editorial do jornal foi sacrificada às ideias de um qualquer guru gráfico que, aliás e segundo li, acredita piamente na morte próxima dos jornais. E, acreditando, tratou de abreviar a morte do "Público", transformamdo-o numa variante dos panfletos publcitários da Moviflor, no mais totalmente descaracterizado,incompreensível e pior. Para agravar a minha tristeza, também o Rádio Clube Português, a única rádio mais ou menos suportável, resolveu suicidar-se em directo, transformando-se numa estação de infatigável diarreia verbal, totalmente infrequentável. Tenho muita pena, muita pena."
Miguel Sousa Tavares, Expresso, 10/03/2007

Sinais

 

Desenho de Maturino Galvão
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Dili

Pintura de João de Azevedo

sexta-feira, 9 de março de 2007

Sinais

 

Desenho de Maturino Galvão
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A sexdução de Manuel da Silva Ramos

Manuel da Silva Ramos publicou mais um romance visceral onde fala das aventuras do Amor e da miséria libidinal da Lisboa dos anos 2000: O Sol da Meia Noite - Contos para a Juventude, na Edit. D. Quixote. Corram a ler para se libertarem de outra maneira(s)...

Manuel da Silva Ramos não cessa de publicar. E de nos espantar. Escreve com a vertigem da experiência interior mais forte e extravagante. Quem não se lembra da beleza incontornável do seu primeiro romance - " Os três seios de Novélia", publicado aos 20 anos e grande êxito nacional? Depois escolheu o exílio e publicou no correr dos anos mais sete romances, alguns dos quais de parceria com Alface. Conhecemo-nos nas andanças do Suplemento Juvenil do Diário de Lisboa, e corremos aventuras inolvidáveis em Toulouse, Paris e Frankfurt.

Este novo romance, que vem na sequência do anterior, narra a desconcertante viagem através de Lisboa de um adepto do erotismo e da liberdade mais radicais. Que acaba por ficar prisioneiro de uma norueguesa que ele encontrou com o FAR, aos balcões da Brasileira do Chiado. Seguem-se mais de uma centena de páginas alucinantes sobre as virtudes e os sacrilégios de uma estória sublime e terrível de paixão: " Fascinavam-me as turpitudes de Lisabeth...A sua perversidade...As suas mentiras em elipse... Mal eu virava costas tinha de ter imediatamente um pau enfiado no meio das pernas...". A não perder, pois, como ele escreve: " O Lobo Antunes oculta, Saramago pouco fala e eu desnudo. O quê? As rolas? As toutinegras? As milheiras? Não, o sexo em Portugal ".

FAR

ABIAS

quinta-feira, 8 de março de 2007

quarta-feira, 7 de março de 2007

Mambo 12

Que palavras, as do mais crescido…

O saber da passagem de tudo, de quanto não foi semi-agarrado mas antes cuspido, adiado, ignorado, como se voltasse a acontecer de novo ininterruptamente. Ter tido a cabaça com água e ter encolhido os ombros em pretensioso desapego, em frívola atenção e inadequado agradecimento. O ter vivido tanto tempo sem os olhos de dentro escancarados!!!

De repente sofre-se uma fuga que parece que vem de fora, tudo o que está para além de nós parece que quer entrar e ficar.
Dói-me um olho e os pensamentos enclausurados que se arrastam discretamente como aves fechadas no céu. Parece que tenho um corpo próprio com uma vontade que não é necessariamente a minha. As veias salientes nas costas das mãos, consigo-as arrancar do seu relevo ao elevar os braços para as nuvens. O que me custa mais é o não puder fazer uma revolução em relação ao fim dos dias. O emagrecido tempo angustia-me, a vida a não puder ser empurrada mais para lá, parecido o gesto a um objecto afável.
Continua a doer-me o onde guardo tudo. Já são tantas coisas que as não acho pela ordem em que as vivi, vão-me espreitando qual vizinho curioso, que se mudou sem destino para a casa da frente que nunca existiu.

Vou entendendo, é gradual e nem sequer está relacionado com a verdade, apenas com a paisagem que vai sendo, se chove ou não... Temo pela hora seguinte, talvez tudo se torne diferente de repente, basta acontecer algo com intensidade para a vida já nunca mais ir pelos mesmos ideais. Uma ideia repetitiva a invadir o cérebro é um nevoeiro para sempre. Isto já é tão antigo, os meus filhos há sessenta anos, também me provocavam a terrível sensação de que eram temporários, que em breve mais do que escolherem os seus caminhos seriam o mesmo que nada. Levantava-me de madrugada para os ouvir respirar tal como se vai ouvir o mar para se não morrer.
Pode-se viver com isto a correr nos olhos com que se vê a suposta realidade.

Hoje em dia as casas são pequenos aglomerados de sensações com acessórios dispensáveis.
Vive-se como uma galinha que olha ternamente o seu ovo e percebe nele uma omelete.

Dili

Pintura de João de Azevedo

Sinais

 

Desenho de Maturino Galvão
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Morreu Jean Baudrillard


(imagem tirada daqui)

Com a morte do sociólogo e filósofo, aos 77 anos, a França vê reduzir-se o impacto mundial dos seus pensadores num Mundo desigual e sem limites...

Baudrillard teve a sorte de aprender com Henri Lefebvre - "o que ele fazia era bastante libertino, ligeiro, escrito com o espírito", observa - e de se aproximar, no final dos anos 60, dos Situacionistas , dos quais só veio a conhecer pessoalmente Raoul Vaneigem. "Guardo do situacionismo uma recordação verdadeiramente admirável. O essencial reside no momento de aparição das coisas ", observa no único - num total avassalador de cerca de 50 volumes - livro de entrevistas que subscreveu. Nele diz coisas definitivas e aponta projectos sem contestação:" Nietzsche, Bataille, Artaud, acaba-se sempre por voltar aos mais importantes. São a base de toda a análise do mundo contemporâneo, e todavia, passou-se depois outra coisa, e é isso que é preciso procurar ".

Baudrillard, germanista de excepção, acompanhou a espantosa transformação teórica inspirada em Maio-68, ele que tinha sido cúmplice do " maoista " Félix Guattari. "É preciso encontrar o acontecimento da modernidade ou da post-modernidade (pouco importa o termo!) que, na sua singularidade, nos obrigue não a corrigir as ideologias existentes, mas a inventar outras formas de pensar, outras regras". Ele que não escondia o que desejava: " O mais excitante não deriva de se estar no acontecimento (os políticos estão lá para isso), é de se estar na iminência do acontecimento, na sua reviravolta, na sua antecipação, na sua génese ".

Desconhece-se o impacto de Baudrillard no espaço literário português. O que se sabe, no entanto, é que Eduardo Prado Coelho, o nosso mais perfomativo dos ensaístas vivos, sempre lhe recusou as ditirâmbicas homenagens que fez a Deleuze, a Derrida ou a Roland Barthes... A propósito de finesse e de sofística, não podemos resistir em transcrever esta passagem das "Cool Memories - II" sobre Zinoviev, um dos primeiros intelectuais do Leste a denunciar a ignomínia do estalino-burocratismo: "Zinoviev está-se marinbando para a intelectualidade ocidental, com a sua finesse e sofística. Ele sabe que a realidade massiva, incompreensível, do outro lado da cortina de ferro, é mais interessante do que os nossos processos dialécticos e interactivos. Ele extrai a potência da sua ironia da potência da estupidez. Se nós não a vencemos - essa estupidez - diz ele em substância - não sereis vós que a ides ultrapassar. Ele tinha terrivelmente razão. Ou ainda: vocês estão absolutamente atrasados em relação a nós, porque nós conhecemos o pior, enquanto que vocês só o conheceram mais tarde". Ou ainda este fragmento final: "Só se fala bem do que está em vias de desaparecer. A luta de classes, a dialéctica em Marx, o poder, a sexualidade analisada por Foucault. A própria análise contribui para precipitar o seu apagamento".

FAR

segunda-feira, 5 de março de 2007


Dili

Pintura de João de Azevedo

Catherine Deneuve: Kamikaze em prol da orgia dos sentidos

"Não foi a minha forma de pensar que fez a minha infelicidade,mas, sim, a realizada pelos outros". Sade

É a nossa diva preferida, mais do que Isabelle Huppert ou Dominique Sanda. Tem qualquer coisa de oriental, de bárbaro no olhar, exibe um porte de amazona e projecta os mais voluptuosos sinais dialécticos da luxúria carnal. (Via-a numa pausa na Feira da Ladra, em Lisboa, aquando da rodagem do filme na Arrábida do Manuel de Oliveira). É a grande deusa do cinema europeu, há mais de 40 anos. Parece que a idade não lhe passa pelo rosto, onde sobressai um sorriso gelado mas determinado."É uma mulher de instinto", assevera Paulo Branco neste texto sobre os 50 anos de cinema de C.Deneuve, publicado hoje no Le Monde, clicar aqui. Paris, a partir de Quarta-feira, 7 do corrente, vai mostrar na Cinemateca os cerca de 100 filmes onde rodou Deneuve.

Quem a viu magra e quase inefável nos filmes de Polanski ou Truffaut, ainda em vida de sua irmã, não pode deixar de gritar de espanto pela pose e soberba impecáveis de grande amante e embaixatriz de Yves Saint-Laurent, o marroquino andrógino que criou a casa de moda mais luxuosa do universo para os homens... do poder. Tinha dado o busto a Marianne, a estatueta que se encontra em todas as mairies de França; pela câmara de Marco Ferreri- A grande Farra-apaixonou-se por Marcello Mastroianni, in vero, e dá-lhe uma filha, parceira e confidente hoje.

Personagem mítica, mas ao mesmo tempo de uma naturalidade ímpar e frontal, Catherine Deneuve " blindou " sempre muito bem a sua vida íntima, ganhou todos os processos contra os os " chiens-de-guerre" dos fotógrafos-paparazzi e, recentemente narra o Le Monde, obrigou dois articulistas de alta voltagem do Tout-Paris mediático - Antoine de Baecque e Serge Toubiana - a realizarem sete grandes emendas num livro que tinham feito sobre François Truffaut, onde era ventilada a ruptura amorosa entre o realizador e a diva no final dos anos 60. "Nunca disse que era a Virgem Maria. É sempre muito perigoso ser considerada impecável ", revela... considerando-se uma extravagante "cigarra " com pouco dinheiro no banco.

FAR


Foto de Annie Leibovitz tirada daqui

Foliões e outros gozões

O país pode estar a encolher geograficamente – com o mar a reclamar pedaços que não fizeram parte dos planos de conquista de D. Afonso Henriques, e lhe tinham sido roubados, muito depois do tempo dos afonsinos, para agricultura de subsistência e vivenda de praia – mas cresce intelectualmente no disparate e cretinice. Nas terras do funcho, onde as flores servem para fazer álcool, e as obras públicas são papo-seco para a classe trabalhadora e marisco para a empreendedora, desenrodilha-se mais um gracioso episódio da novela do Portugal democrático.

O vice-rei da Madeira, depois do Sr. Silva ter promulgado a Lei das Finanças Regionais, acordou um soalheiro dia sem dobrões de ouro no cofre para sustentar a sua paixão por charutos e estradas. Olhou pela janela do palácio, para o galeão fundeado na enseada, e pensou juntar-se ao corsário Jack Sparrow das fitas americanas numas viagenzitas de rapinagem pelas movimentadas águas asiáticas. Se, como narra Jorge Luis Borges na “História universal da infâmia”, a viúva Tching dominou desde o mar Amarelo aos rios da fronteira do Aname, ele, que tinha testículos, subjugaria os mares da Suiça e os lagos de Arrakis (ou Dune – no livro de Frank Herbert ou filme de David Lynch). Mas os Comandos Unificados Norte-Americanos, instalados nos cinco continentes para defender os fracos e oprimidos e destetados da Democracia, dissuadem os piratas não autorizados de abordar as naus transportadoras dos tesoiros que, pela alta carga fiscal, valem a pena roubar – electrónica e tabaco. Por outro lado, os piratas da perna de pau e olho de vidro receiam ser confundidos com cruéis terroristas, pois nesse caso serão abatidos como cães e lançarão o opróbrio no nome da família até ao dia do juízo final. Um futuro mais triste que Herman Melville ao publicar o seu “Moby Dick”, do qual apenas vendeu sete exemplares e lhe garantiu lugar entre os escritores pobres e esquecidos. Na altura da sua morte até o “The New York Times” lhe trocava Herman por Henry. (Nos dias do Império Coca-Cola nem aparecendo um descendente como o frequentador de hotéis Moby, com reconhecido sucesso no hit parade, reabilitará os nomes bin Laden, al-Zawahiri, al-Zarqawi ou John Kerry).
Táxi Pluvioso
(continue a ler o Táxi Pluvioso no Pratinho de Couratos)

Burqa Blues


Com a devida vénia ao Jumento

Sinais

 

Desenho de Maturino Galvão
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domingo, 4 de março de 2007

TERRA


African Woman/1 Angola
Infinito

(Raku 960ºC)

Sissine Rocha

PH. Sollers: Elogio ao erotismo de Ségolène

O autor de "Femmes", um dos poucos romancistas de aura mundial da França hodierna, da dimensão de um Roth, Mailer ou Updike, traça um elogio a n/. dimensões de Ségolène Royal, a candidata apoiada pelos socialistas franceses na corrida presidencial. Ler tudo aqui...

Sollers, o escritor preferido de Barthes e Lacan, o intrépido programador do fenómeno mundial linguístico-literário dos anos 70, a Tel Quel, hoje L´Infini, desceu a terreiro para confessar a sua emoção sem rodeios por Ségolène. "Este ardor, este corpo, esses sermões sensibilizam-me", pontua para determinar: "Eu valorizo esses momentos de emoção, quando ela diz "ardente obrigação "ou "ter a vida dura: chevillée au corps"...O autor da "Vida Divina", o seu último romance sobre o erotismo e Nietzsche, afirma que Ségo representa a "beleza e o romance em curso", mesmo sitiada pelos gerontocratas do partido e pelos efeitos nefastos do ciúme e da ambição dos seus adeptos e correligionários. "Ela é "uma linda mulher política", frisa Sollers. "O imprevisto, é ela, a verdadeira revelação das paixões, ainda ela". E comparando o staff de Ségo com o de Sarkozy, ele que faz a "diferença em relação com os espectros dos coveiros da sua candidatura", o intempestivo autor da "Escrita, experiência dos limites" remata: " Os intelectuais seduzidos por Sarkozy são pouco escritores (ao invés tinha sugerido:" Ségo: um grande produto de exportação literária "). Eles querem a ordem em surdina, têm medo da metamorfose da intriga e deste odor de mulher que incendeia as imaginações ". "Se o intelectual, mesmo o sério, se inclina para Sarko, é provavelmente devido à ausência de mulheres categóricas na sua equipa".

FAR

Sinais

 

Desenho de Maturino Galvão
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sexta-feira, 2 de março de 2007

Mãos ao ar, europa!

Descobri um blog do ceportém com piada. É verdade. Li várias vezes os textos para confirmar se não estaria doente, mas é mesmo oficial: há um blog de lagartos com piada. Chama-se Mãos ao Ar e podem chegar lá por aqui. Mas, como qualquer blog de lagartos, o tema é inevitável: o Sport Lisboa e Benfica.
Os rapazes têm, de facto, muita piada (e digo-o sem ironias). Mas são do ceportém, coitados. E isso é algo que não se pode perdoar.
O GR1904 (o blog dele está aqui) vai ficar chateado por eu dedicar um post aos adversários, mas eu não resisto. O meu anti - ceporténguismo existe e tenho orgulho nele.
O ceportém dá-me asco. É uma coisa visceral, que vem de dentro e é impossível controlar. O ceportém é como o dantas, cheira mal da boca e inocula concubinos (lagartinhos loiros e de olhos azuis). Tenho nojo aquilo. Deliro quando perdem. Nem sequer consigo ter pena daquele ar de sofrimento, que me faz sempre lembrar o coyote quando não apanha o outro pássaro rápido.
Foi o meu pai que me incutiu este ódio todo, porque jogava basket na Académica de Moçambique e rivalizava com o ceportém local (que, pelos vistos, tinha vários genes em comum com o da metrópole, pois perdia várias finais). O meu progenitor não consegue ver um jogo de petanca com lagartos sem torcer pelo adversário (e nem interessa se o mesmo cometeu crimes contra os Direitos Humanos. É um adversário do ceportém e estamos com ele.) e passou-me isso. Desde pequenino que cresci a torcer contra os verdes e o facto de ter nascido numa terra onde os azuis são tão raros como as taças europeias do ceportém, fez-me aprimorar este espírito anti - verdes.
O ceportém foi, é e será sempre o anti - clímax. O ceportém é mesmo,a meu ver, um clube impotente. O clube que nunca conseguirá ter orgasmos. No mãos ao ar, os autores parecem mesmo aqueles gajos em meia idade que se dedicam a coleecionar comboios e coisas assim. E como tal, dedicam-se a escrever sobre o Benfica (o que não é lá muito terapêutico).
Mas não fosse já isto estranho, os rapazes têm o desplante de maldizer acerca da história europeia do Benfica. E foi aqui que a minha paciência se esgotou e resolvi responder:
A primeira vez que me lembro de me ter de concentrar para torcer contra eles lá fora foi no ceportém - Inter nas meias finais da Taça Uefa (quando digo Taça Uefa pensamos todos no mesmo, não pensamos?). Foi genial. Oceano, esse cérebro do meio campo (que teve a melhor assistência da sua carreira para Poborsky no célebre chapéu do Euro 96. Está aqui.) falhou várias vezes isolado à frente de Zenga, confiante que o 0-0 em casa é sempre um bom resultado. Não foi. A velha raposa e o trio alemão aliviaram-nos e o ceportém via a sua grande prestação europeia falhar.
Felizmente, o ceportém é pouco dado a estas coisas (a única competição europeia que ganhou já acabou - porventura pela vergonha de ter um clube daqueles na história) e foram poucos os sustos europeus que tive com o clube da cor do ranho.
Divertimentos, esses, foram incontáveis. Como esquecer a mágica prestação do Costinha em Salzburgo? Ou a expulsão do Dani e os 4-0 em Viena?
Não podemos esquecer, claro, as fantásticas prestações na competição europeia máxima. Depois de um 3-0 ao Mónaco em casa (com o relvado num estado deplorável por causa dos fungos. Perdão, foram os U2. OS fungos foram depois. Os parasitas ainda lá estão, mas nos camarotes.) que lhes deu automaticamente não um, mas cinco títulos de campeões europeus (porque dada a raridade, as vitórias em alvalade para a europa dão automaticamente títulos. Por exemplo, o golo do Caneira ao Inter - claramente sem querer - deu outros 5 títulos de campeões europeus e duas taças europeias porque o Moutinho tirou fotografias ao colo do Vieira no fim do jogo), o ceportém lançou-se numa campanha fantástica que só colossos como o Lierse foram capazes de parar.
Houve ainda a fantástica jornada de um empate caseiro contra o Real Madrid (onde ainda por cima jogava aquele fulano que os odeia e que festeja os golos contra eles como eu... Como é que ele se chama? Ai... Ah! Figo! É isso, é o Figo.) que não deu direito a título europeu, mas a acesso a duas finais. Porém, Schmeichel e seus amigos foram os primeiros a sentir a ameaça dos russos(que para os lagartos são feios e muito maus, como aparecem no MacGyver) e depois de 3-1 em Moscovo, tiveram mesmo muito azar (não há outra razão!) e levaram 0-3 no inviolável estádio de alvalade. Ah, grande ceportém.
Apesar de ser sempre um prazer recordar a forma simples como equipas como o Viking ganharam aos verdes, há um fim de tarde que nunca, nunca, nunca, é demais recordar: 18 de Maio de 2005.
Nesse dia, o ceportém ia finalmente jogar uma final europeia (depois dos 53 títulos europeus que a vitória ao Mónaco tinha significado) e logo em casa. Contra uns russos quaisquer, que cheiravam mal e que até tinham eliminado o Benfica (o mesmo Benfica que quatro dias antes lhes tinha tirado o campeonato, se bem que Douala e Peseiro - a matemática nunca foi o forte deles - ainda acreditavam). Pfff, estava no papo. Nenhum clube do mundo consegue perder duas competições em quatro dias. É impossível não ganharem, e ainda por cima em casa e estávamos a falar de uma equipa que, segundo as conversas de café no Picoas Plaza, era a melhor do mundo.
Rogério - Picanha marca primeiro e alvalade rejubila. As betas fazem um "ai, que chique!", a Juve Leo tem o bom senso de não invadir o relvado e o Dias da Cunha dança dentro da camisa de forças. Afinal, nem todas as esperanças europeias leoninas estavam depositadas numa putativa presença da Maria José Valério na Eurovisão (com o Clímaco a comentar, claro). 1-0 ao intervalo. Já ganhámos - pensaram eles.
Em minha casa, três Benfiquistas com barretes russos e camisas do Glorioso estão preocupados, mas confiantes. É o cenário perfeito para os lagartos perderem. Estar a ganhar ao intervalo de uma final da Taça Uefa em casa é uma coisa o mesmo que não ter sexo há meses, sair com a Isabel Figueira e ela implorar para ir para a cama connosco. Só um impotente recusaria.
Peseiro, provando o seu Benfiquismo puro, não reforça o meio campo nem aposta no contra ataque. Eu acredito que o insconsciente do homem jogou muito a nosso favor nesse dia. E, como por magia, o ceportém brilhou. Aquela estrelinha que sempre os fez um clube "diferente" (como eles dizem) cintilou. 1-1. 1-2. A vodka, em minha casa, começa a rodar. Mas eis senão quando, há um momento que define toda a história daquele clube: a jogar em casa uma final da Uefa, Rogério - Picanha consegue atirar ao poste uma bola que estava centímetros da baliza. Cerca de 20 segundos depois, no contra ataque, surge o 1-3 para explosão de alegria Benfiquista e russa. Contou-me um amigo que na bola do Rogério, amigos lagartos que viam o jogo no Rossio num ecrã gigante, festejaram como se tivesse entrado e festejavam o golo no chão. O meu amigo, Benfiquista, continuava de pé e disse-lhes que a bola não tinha entrado. Mas os outros não acreditaram e, no chão e em lágrimas, gritavam: Toma lampião! Toma! Vamos ganhar esta merda! Ceportéééééém! Eu pagava do meu bolso para ver a cara deles quando se levantaram.
O jogo acaba, a Taça Uefa vai para o CSKA, Liedson continua Levezinho de Títulos, mas Douala ainda acredita virar a final em Moscovo, apesar dos 3 golos sofridos em casa. Assim se escreveu uma bela página de história.
Finalizo a minha provocação ao mãos ao ar, lembrando ao Sancho Urraco, que quando escreve " sabes qual foi o primeiro clube português a participar na taça dos campeões? O Sporting, por convite. É que só os clubes prestigiados eram convidados a participar naquela competição. Estas informações são gratuitas, dou-as de borla - aproveita." (aqui.), há outra informação a acrescentar - e também lha dou gratuita:
O Ceportém foi a primeira equipa de sempre a ser eliminada da Taça dos Campeões Europeus, usando o seu único atributo (a supracitada impotência) para entrar na história das competições europeias. O site da Uefa mostra-nos que o Partizan de Belgrado foi o pioneiro de uma longa história à qual o último lugar no grupo este ano acrescenta só mais uma linha. Está aqui.
Mãos ao ar!

Departed

Scorcese de partida

A dita “academia” de Holywood ainda teve espaço para firmar mais um passo descendente no sentido da descredibilização da indústria cinematográfica, no aspecto festivaleiro dos Oscar. Não tarda, merece tanta consideração como a verdade competitiva no Wrestling, a excelência da Literatura dos prémios Nobel- um vero ninho de Saramagos- e as medalhas do 10 de Junho, em Portugal.
A atribuição da estatueta de melhor filme a “The Departed”, de Martin Scorcese, é injusta para o cineasta- já perdeu por piores motivos para que seja ressarcido com um Oscar de sabor a Life Time Achievment-, e é injusta para o argumento original. Quanto ao senhor Scorcese, como é uso dizer-se, ficámos conversados assim se esgotou o suspense e foi consumado o crime. Com a participação dos representantes das três principas seitas americanas- o judeu Spielberg, o irlandês Lucas e o italiano Coppola.
Todos os três bonzos e mais a frescura do Little Martin: Para mim? Que supresa? Não sei se devia? Bom, aceito.
Despudor. A desmesura do naipe de estrelas- Jack , Di Caprio, Wahlberg, Damon, Vera Formiga?- não é suficiente para polir a mediocridade da releitura que Scorcese faz do muito interessante “Infernal Affairs”. Realização e argumento do cineasta de Hong Kong, Alan Mak.
Confrontado com o prémio que Holywood acabava de ar ao seu filho bastardo (“The Departed”), Mak começou por exercitar a modalidade cantonense do self deprecating: “não sei como é que uma coisa tão grande saiu da minha cabeça” e concluiu com um juízo único: “nao gostei do final”.
Claro. É só a diferença que vai do epílogo desnaturado de Scorcese- regressado da sala de montagem, Mark Wahlberg elimina o ‘MAU’- ao positivismo urbano, de raiz taoista, de Alan Mak. Obviamente, o ‘MAU’ de “Infernal Affairs” sobrevive, pois não há coerência narrativa que exija o seu sacrifício.
Mak sabe que a “diferença” entre os elementos das organizações criminosas, no caso, alegadamente, a poderosa Sun Yee On, e os elementos das organizações policiais estabelecidas para os combater é onto e deontologicamente nula.
Para não perder mais tempo, que o nosso propósito é tão só de ar uma nota de desagrado, Scorcese, em nome das três seitas que o premiaram, transmutou o INFERNAL em Internal a fim de que, para tranquilidade dos papa-hóstias, pudessem entrar em cena a culpa, o remorso, e a redenção, a bem ou a mal, dos anjos caídos na tentação (os MAUS polícias). Todos dormimos mais descansados sabendo que o sistema é bom, embora passível de uma perversão ou outra, prontamente corrigida pelos organismos de supervisão das polícias, cuja honestidade é um dado.
Reputo de infame, miserável, a injustiça que foi feita ao Clint Eastwood de Letters from Iwo Jima.

JSP no Império do Capital

O Coronel Pássaro


"Coronel Pássaro", uma co-produção Teatro da Rainha, Centro Cultural de Belém e Odivelcultur - Teatro da Malaposta, estreia no pequeno auditório do Centro Cultural de Belém, dia 8 de Março.

"Um jovem médico, destacado para um asilo psiquiátrico instalado num antigo convento, algures nos Balcãs, tem a seu cargo alguns casos de psicose tão interessantes quanto inofensivos. É inverno e tanto psiquiatra como doentes estão entregues à sua sorte, isolados no meio da neve e dos lobos, sem aquecimento, sem comida e sem medicamentos. Vivem acantonados numa única divisão para se protegerem do frio.
A situação é já insustentável quando um avião da ONU, perdido o rumo no meio de uma tempestade de neve, lança ajuda humanitária sobre o convento julgando tratar-se de uma povoação na Bósnia. Os fardos lançados contêm mantimentos e uniformes militares.
A partir desse momento, um dos pacientes, ex-coronel do exército russo, há três anos fechado no mais absoluto mutismo, assume o comando da pequena comunidade transformando-a numa «unidade de combate avançada» disposta a integrar as fileiras da NATO. Os pássaros em migração são, do ponto de vista destes doentes, o meio para estabelecer o contacto com as chefias daquela organização na Europa e os dias passam-se a observar o céu esperando uma resposta.
O jovem psiquiatra assiste a esta verdadeira metamorfose incapaz de formar uma opinião sobre as vantagens ou desvantagens clínicas desta nova «realidade» vivida pelos doentes. Até porque o seu percurso pessoal dentro das normas de uma estrita normalidade se lhe afigura agora destituído de sentido. Finalmente, decide abandonar o convento integrando a nova «unidade militar», rumo a Estrasburgo, num velho jeep pintado com as cores da Nato e respectiva bandeira.
Dois ou três anos depois, a pequena comunidade deambula pelas ruas e praças da Europa vivendo das moedas que o seu comportamento excêntrico arranca aos bolsos dos transeuntes. Acredita apesar de tudo que os pássaros são a melhor forma de enviar mensagens e vive de olhos postos no céu..."

Sinais

 

Desenho de Maturino Galvão
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quinta-feira, 1 de março de 2007

Delicado

Já no final de um discurso extremamente importante
o grande homem de Estado engasgando
com uma bela frase oca
escorrega
e desamparado com a boca escancarada
sem fôlego
mostra os dentes
e a cárie dentária dos seus pacíficos raciocínios
deixa exposto o nervo da guerra:
a delicada questão do dinheiro.


Jacques Prévert, Discursos sobre a Paz

Mambo 11


Pelas veredas da cidade dos flamingos, existe uma rua que me atropela a vontade com poderosos desejos, sendo que um deles é ficar ali sem noção temporal alguma, apenas a seguir negros dedos, em inteligente viagem sobre tosca madeira. (continua...)

Irão: EUA podiam ter atacado a meias com Israel esta semana...

"Há três espécies de homens políticos: aqueles que turvam a água; aqueles que pescam em água turva; e aqueles - os mais dotados - que turvam a água para pescarem em águas turvas ".
Arthur Schnitzler,Verzeichnis und Einsamkeit,pág.34/35. Berlin Verlag

Parece-me possível e não caricato pretender discutir Carl Schmidt ou mesmo Maquiavel a propósito do envolvimento dos Neo-Cons na administração Bush-II. Só que são precisos muitos meios e temos que partir sempre de um ponto sintético de análise, onde a prudência e a limpidez contrariem os estigmas da política politiqueira que Schnitzler retratou de forma impar, conforme o excerto acima indicia. Outro erro crasso de miopia pode envenenar os objectivos prioritários de um agir comunicacional: a clareza e a frontalidade são fundamentais, caso contrário podemos estar a fazer o contrário daquilo que pretendíamos fazer. Com as agravantes políticas da praxe e o arrastamento de uma tortura cínico redundante de nauseabundo teor sadomasoquista. E, sobretudo, escrever bem é tentar interessar o leitor em ir por si próprio desvendar mais segredos da ideia(s) proposta.

No pré-lançamento de uma grande reportagem sobre o "Reajustamento" das orientações estratégicas da administração Bush-II para o Médio Oriente, Seymour Hersh, deu uma entrevista ao TruthCom onde alertava para o facto de os EUA terem convencido a Arábia Saudita a encher os bolsos de dinheiro a, pelo menos, três grupos de Jihadistas radicais sunitas para combater a insurreição xiita no Iraque. O escândalo é que esses grupos parecem ter ligações com a Al Qaeda(de obediência sunita...). Imediatamente, a revelação de Hersh correu mundo e tilintou nas redacções. Menos de 24 horas depois, é anunciado em Bagdad e confirmado em Washington, que os EUA vão sentar-se à mesa para falar com a Síria e o Irão na capital iraquiana. Para falar e não negociar, sublinhou o porta-voz da Casa Branca ao NY Times. Entretanto, Robert Parry, freelancer da Newsweek revelou que
havia hipóteses dos EUA e Israel terem bombardeado esta semana o Irão...

Hersh, como é habitual e isso marca a diferença essencial, falou com inúmeros estrategos reputados dentro e fora da alta administração americana e de muitos países do Golfo. Porque a guerra no Iraque caiu num " beco sem saída", Bush e os seus muxaxos resolveram " recuperar " a Arábia Saudita e instrumentaliza-la para combater os xiitas ... no Iraque e no Irão, se for possível em ambos os lados." Existe uma nova estratégia americana que subentende a divisão entre poder reformista e extremista, em múltiplos países da zona: Os 'bons', são os estados de obediência sunita, e os 'maus', são o Irão, a Síria e o Hezbollah", assinala, para frisar: "Os principais objectivos da reorientação estratégica não são públicos". A nova estratégia envolve Israel em conjunto com a Arábia Saudita - porque ambos vêem o Irão como uma "ameaça existencial", acrescenta.

Hersh cita em abono da tese contrária - mais um funesto erro de Bush-II e da sua equipa - diversos estrategos. Por exemplo, Martin Indyk, da Brookings Institution, assegura que a " Casa Branca vai é duplicar os riscos, não só no Iraque, como em outros pontos do Médio Oriente. Isso pode ser muito complicado. Tudo se pode alterar de alto a baixo ". Dando a voz a Patrick Clanson, do Instituto de Política Médio Oriental de Washington, este sinaliza que o PM iraquiano deve acabar com as milícias radicais xiitas, tipo Moqtada al-sadr´s, que o apoiam ".

O extenso artigo de Seymour Hersh, fala do grande papel realizado na aproximação com os EUA por parte da Arábia Saudita, onde emerge o príncipe Bandar bin Sultan, ministro da Defesa, como principal obreiro. Tendo sido 22 anos embaixador em Washington, o príncipe Bandar tem estreitas relações de amizade e cumplicidade política com a alta administração norte-americana, em particular. Por razões de política interna e de promoção política pessoal resolveu apoiar a fundo a nova fase da estratégia americana, onde Israel toma parte de forma avantajada com comandos especiais infiltrados no Irão a sinalizarem os menores sintomas de qualificação do sistema de tratamento do urânio ou da construção balística.

FAR

Deleuze: Post-Scriptum sobre as sociedades de controlo (3)

III. PROGRAMA

Não há necessidade de ficção científica para se conceber um mecanismo de controlo que dê, a cada instante, a posição de um elemento num espaço aberto, animal numa reserva, homem numa empresa (coleira electrónica). Félix Guattari imaginou uma cidade onde cada um pudesse deixar o seu apartamento, a sua rua, o seu bairro, graças a um cartão eletrônico (dividual) que abriria as barreiras; mas o cartão poderia também ser recusado em tal dia, ou entre tal e tal hora; o que conta não é a barreira, mas o computador que detecta a posição de cada um, lícita ou ilícita, e opera uma modulação universal. O estudo sócio-técnico dos mecanismos de controlo, apreendidos na sua aurora, deveria ser categorial e descrever o que já está em vias de ser implantado no lugar dos meios de confinamento disciplinares, cuja crise todos anunciam. Pode ser que meios antigos, tomados de empréstimo às antigas sociedades de soberania, retornem à cena, mas devidamente adaptados. O que conta é que estamos no início de alguma coisa. No regime das prisões: a busca de penas "substitutivas", ao menos para a pequena delinquência, e a utilização de coleiras electrónicas que obrigam o condenado a ficar em casa em certas horas. No regime das escolas: as formas de controlo contínuo, avaliação contínua, e a acção da formação permanente sobre a escola, o abandono correspondente de qualquer pesquisa na Universidade, a introdução da "empresa" em todos os níveis de escolaridade. No regime dos hospitais: a nova medicina "sem médico nem doente", que resgata doentes potenciais e sujeitos a risco, o que de modo algum demonstra um progresso em direção à individuação, como se diz, mas substitui o corpo individual ou numérico pela cifra de uma matéria "dividual" a ser controlada. No regime da empresa: as novas maneiras de tratar o dinheiro, os produtos e os homens, que já não passam pela antiga forma-fábrica. São exemplos frágeis, mas que permitiriam compreender melhor o que se entende por crise das instituições, isto é, a implantação progressiva e dispersa de um novo regime de dominação. Uma das questões mais importantes diria respeito à inaptidão dos sindicatos: ligados, por toda sua história, à luta contra disciplinas ou nos meios de confinamento, conseguirão adaptar-se ou cederão o lugar a novas formas de resistência contra as sociedades de controle? Será que já se pode apreender esboços dessas formas por vir, capazes de combater as alegrias do marketing? Muitos jovens pedem estranhamente para serem "motivados", e solicitam novos estágios e formação permanente; cabe a eles descobrir ao que estão a ser induzidos a servir, assim como os seus antecessores descobriram, não sem dor, a finalidade das disciplinas. Os anéis de uma serpente são ainda mais complicados que os buracos de uma toupeira.

in Gilles Deleuze, Conversações (fim)

Momento supremo de gozo irónico blogosférico

O Blasfémias, o blogue dos liberais e ultraliberais, transformou-se no poiso de acolhimento da mais santa e beata cristandade. Por lá, o que agora se lê são debates excêntricos sobre a Igreja, o Papa ou o Salazar, e a famosa caixa de comentários inundou-se de fiéis discípulos do catecismo. Tornou-se no melhor local da blogosfera para ler, debater, aprender, sobre Santo Agostinho e Santo Anselmo, a Opus Dei e a teologia da libertação, o Vaticano II e o João Paulo II (para quem duvidar, ver este post ), ou, em outro registo muito habitual, o inegável boom económico do Estado Novo, que só os parvos não percebem, o tal que esteve a ponto de tornar Portugal num potentado mundial, com colónias ou sem elas, não fora a lamentavel interrupção dos planos ocorrida a 25 de Abril (idem para este post ).
O responsável por todo este disparate: Pedro Arroja, esse que foi considerado pelos próprios blasfemos como "o maior lutador pela liberdade em Portugal nos últimos 20 anos" (sic). Espera-se pelo menos que aprendam a lição. É que eu consigo ver muito bem as diferenças entre esse e os outros, e são de monta; e se entre mim e os blasfemos vai todo um mundo, entre esse e qualquer pessoa com o mínimo de sensatez, pois deve ir todo um universo.

Dili

Pintura de João de Azevedo

Ontem mais uma arrojada. É sobre o Papa e contém lição.

"Não estando sujeito a nenhum controlo e não tendo de prestar contas a ninguém, dir-se-ia que o Papa reúne todas as condições para se tornar um tirano. A verdade, porém, é que os tiranos foram a excepção na história da Igreja, não a regra. Na realidade, não estando o seu poder ameaçado por ninguém, o Papa pode dar liberdade plena a todos aqueles que, sob a sua autoridade, servem a Igreja - desde que essa liberdade não seja utilizada para abalar os alicerces da Igreja, de que ele é o guardião supremo."
Não gosto de brincar com nomes. Não resisti. A devida vénia, com um mea culpa, ao Blasfémias.

Sinais

 

Desenho de Maturino Galvão
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