segunda-feira, 23 de abril de 2007

Sarkozy força Ségolène a entender-se com Bayrou

PC e Verdes em queda abissal, com menos de dois por cento dos votos. LCR (trotskistas) a rasarem os 5 por cento. Le Pen "morreu" à boca das urnas. Bayrou vai ter o papel crucial nesta segunda volta e Ségolène deve fazer acordo de Governo (prometendo-lhe o lugar de PM), se quiser vencer...

O Le Monde publicou em cima do fecho da noite eleitoral esta análise política subscrita pelo director editorial do jornal, Gérard Courtois, clicar aqui. O essencial desse longo articulado: 1) A participação eleitoral foi um recorde que marca uma reconciliação dos franceses com a democracia representativa; 2) A extrema direita perdeu 1, 3 milhões de votos; o P. Comunista desceu a 2 por cento e os Verdes não passaram dos 1,5 por cento. 3) Criou-se, de novo, uma polarização Direita/ Esquerda, com um eleitorado global que atinge os 56 por cento do total; 4) Bayrou, o cristão-democrata, com 19 por cento dos votos é o fiel da balança e o criador da rainha ou rei da segunda volta; 5) Como vinca G.Courtois, todas as análises efectuadas sobre o tipo de votante em Bayrou, até agora realizadas, destacavam o facto de serem eleitores vindos da Esquerda desiludidos com as posições do PS e de Ségo...

FAR


“ Cette année, 38 millions de Français à peu près ont été voter, contre 29 millions seulement en 2002. Le taux de participation est presque record. On retrouve pratiquement le taux de participation de 1974 et de 1965.

(…)

Le résultat le plus évident du scrutin, c'est la repolarisation autour du débat droite-gauche. Le candidat de l'UMP, avec 30 % des voix, réalise un score supérieur de 10 points à celui de Jacques Chirac en 1988, 1995 et 2002. De l'autre côté, la candidate socialiste réalise également le meilleur score de son camp depuis 1988. Donc il y a bien une bataille de second tour entre la gauche et la droite

(…)

Nicolas Sarkozy est ce soir en position de force, mais il n'a pas gagné. Pour y parvenir, il lui faudra combattre le front anti-Sarko qui s'est dessiné dès ce soir avec le refus de Philippe de Villiers d'appeler à voter pour lui, et l'attitude aussi bien de François Bayrou que de Jean-Marie Le Pen, qui ressemble à tout sauf à un ralliement.


Inversement, Ségolène Royal aura besoin pour l'emporter de rassembler très au-delà de la gauche. L'ensemble de la gauche pèse ce soir 37 %. Pour gagner le 6 mai, il faudrait qu'elle entraîne sur son nom plus de la moitié de l'électorat de Bayrou et, il faut le dire comme tel, une partie de l'électorat d'extrême droite qui serait prête à tout pour barrer la route à Sarkozy. C'est un pari extrêmement difficile, mais qui n'est pas impossible."

Gérard Courtois

MARGINAL

Vivo nas margens,
sou marginal.
Fumo droga e bebo alcoól,
sou doutro mundo.
Diferente dos outros,
sou p'ra maltratar.
Pensar sério não dá,
bato no fundo.
Que fumam os outros?
Que bebem os outros?
Despreocupa-me o que fazem,
o que pensam os outros!

JOÃO AUTOR

domingo, 22 de abril de 2007

Um mundo é uma rua

Este instrumento é o Quenacho


Vou ver o mapa. Do Equador, as cidades de Quito e Otavalo destacam-se de súbito. Alguns de seus músicos são os causadores desta inquietude.



Shican, Luigi e Condor são os nomes artísticos, dos três elementos que constituem o grupo musical, chamado "Terra Inka". Existe há cinco anos. Condor é o seu director artístico, é o que veste as plumas deslumbrantes. Fazem tours pela Europa. Já palmilharam a Alemanha, Bélgica, Holanda, França, Espanha e até já estiveram como convidados, no Japão. Um canal televisivo português já lhes concedeu uma entrevista. São sobretudo divulgadores da sua cultura indígena. Como nómadas em arte, têm muitas vezes intensas saudades do Equador e querem regressar a casa. E isso é tão cada vez mais comum no mundo, estar longe do que se ama.

(1º parte...)




A vontade de Mudar

O director do Libération, Laurent Joffrin, publicou ontem um editorial, que cimenta a "cruzada" muito corajosa que imprimiu ao quotidiano, contra os amigos e capitalistas de Sarkozy que dominam os principais Médias franceses
Nada melhor para fazer sair a França do "marasmo, do desespero social e do cinismo", que dominaram o espaço sociopolítico gaulês do que a vitória da Ségolène Royal, postula o director do grande matutino parisiense." Royal quer mudar a Esquerda ultrapassando os seus atávicos reflexos. Ela deverá concretizar tal aposta pela vitória: eis o principal móbil da sua candidatura". E vai mais longe, num texto que deve ler todo, já." O que é no fundo ser presidenciável? Muito simples: ter carácter: A França é, sem dúvida, o único país no Mundo onde se espera do presidente ou da presidente uma espécie de omnisciência tecnocrática aliada a um carisma oratório. Quando é o espírito de decisão e a sensibilidade para o país que contam".

FAR

"La France veut changer d'air. Fatiguée des élites, elle cherche de nouveaux dirigeants, une nouvelle politique, une nouvelle république, qui la sorte enfin du marasme, de la désespérance sociale et du cynisme qui ont dominé les deux dernières décennies.
La volonté de changer a favorisé un Sarkozy qui a promis la rupture face à tous les apprentis candidats que Jacques Chirac lui a jetés dans les jambes, Raffarin, Villepin ou Alliot-Marie. La volonté de changer a propulsé Ségolène Royal au firmament lors de la primaire socialiste. La volonté de changer a fait la fortune d'un François Bayrou et de son «centrisme révolutionnaire».
Question cruciale : pourquoi cette volonté n'a-t-elle pas favorisé plus que d'autres Ségolène Royal ? Parce que le travail de rénovation idéologique réussi par Nicolas Sarkozy pendant les cinq ans de sa longue campagne, auquel s'ajoute le contrôle total de l'appareil UMP, n'a pas trouvé son équivalent au PS. Assemblage fragile d'écuries présidentielles, le PS n'a pas produit de projet digne de ce nom. Ségolène Royal s'est retrouvée seule en rase campagne. La bravitude, ça n'existe pas. La solitude, oui. Royal veut changer la gauche contre elle-même. Elle devra le faire par la victoire : c'est tout le pari de sa candidature.
Qu'importe, dira-t-on. Le changement, nous l'aurons avec Bayrou. La victoire du centriste créerait une rupture décisive dans la vie politique. Mais quelle rupture ? Une meilleure gestion du pays, peut-être, une équipe nouvelle, sans doute, un président tolérant, certainement. Les centristes y trouveront leur compte. Mais la gauche ? Certainement pas. Le rejet des élites, du système, du microcosme, en un mot toute cette rhétorique maintes fois utilisée dans l'Histoire de France ne conduit jamais à une politique de gauche. Le changement social avec Jean Arthuis, comptable aimable aux idées courtes ? Le changement avec Charles-Amédée de Courson, réac champenois bien connu ? Le changement avec ces députés UDF qui ne peuvent espérer retrouver leur siège sans l'appui de l'UMP ? Ségolène n'est pas assez à gauche, votons plus à droite : telle est la logique baroque qui préside au raisonnement des «bayrouistes» de gauche.
Reste évidemment la question qu'on n'ose pas poser. Si Ségolène Royal ne séduit pas, murmure-t-on, c'est qu'elle n'est pas «présidentiable». Autrement dit, elle flotte dans le costume. Elle y flotte d'autant plus que ce costume est percé des coups de poignard discrètement portés dans son dos par ses amis furieux de se voir supplantés. Jamais candidate ou candidat de gauche n'a été aussi peu soutenu. Qu'elle soit encore au-dessus de 20 % dans ces conditions tient du miracle. Qu'est-ce au fond qu'être présidentiable ? C'est très simple : avoir du caractère. La France est sans doute le seul pays au monde où l'on attend du président ou de la présidente une sorte d'omniscience technocratique alliée à un charisme oratoire. Alors que c'est l'esprit de décision et la sensibilité au pays qui comptent. Sur ces deux chapitres, Ségolène Royal a montré qu'elle égalait sans peine ses adversaires. Cette femme saura décider. Que demande le peuple de gauche ?"

Laurent Joffrin

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

sábado, 21 de abril de 2007

Da Capital do Império

Olá!

A Segogaffe (léne) Royal tem sorte em não ser americana. Se o fosse serviria para reforçar o estereótipo tão vulgarizado aí desse lado do charco sobre a estupidez dos americanos.
Eu deixei de contar as calinadas da Segogaffe quando ela proferiu a bacorada sobre a independência do Quebeque. Aparentemente a candidata socialista esqueceu-se de verificar que no Quebeque neste momento o movimento independentista está um pouco pelas ruas da amargura e que ela em vez de reunir-se com os homens do Parti Quebecois deveria ter-se avistado com aqueles que estavam a caminho da vitória das eleições na antiga colónia que pelos vistos são um tanto ou quanto conservadores e portanto mais realistas quanto a essa questão do “Vive le Quebec Libre”.
Mas a gaffe do Quebeque não é de admirar. Aparentemente alguém se esqueceu de informar a Segogaffe que os Talibãs já não estão no poder em Cabul e que portanto não faz sentido pedir sanções contra o governo Talibã do Afeganistão. A Segogaffe pode estar descansada que se for alguma vez a essa cidade já não terá que usar uma burca graças aos americanos e aos ingleses e não aos seus conselheiros políticos do Hezbollah com quem ela disse compartilhar dos pontos de vista quanto à “ameaça” americana.
Não sei se os franceses ficaram preocupados com a gaffe royal da Segogaffe quando afirmou que o sistema judicial francês tem algo a aprender com o sistema judicial da China. O que eu sei é que deve ter sido por isso que a Hilária (a mulher do Bill Clinton) se recusou a ter um “tête-à-tête” com a Segogaffe. Foi pena porque como não houve “tête-à-tête” a Segoggafe aproveitou para dar mais uma bacorada exortando à revolução por parte do “novo proletariado“ (aparentemente são as mulheres) contra as caixas automáticas dos supermercados! Eu estava à espera que ela começasse a cantar “de pé ó vítimas das caixas automáticas…”
Se estas calinadas todas tivessem sido ditas por um candidato à presidência americana os intelectuais da bem-falante UEtupia estariam ainda hoje a rolar-se de gozo com mais uma prova da falta de inteligência, cultura e conhecimentos dos cowboys americanos. Mas como a Segogaffe é francesa, veste bem e ainda por cima é boa tudo está perdoado. O que não é má ideia. Ao fim e ao cabo como a influência francesa no mundo está neste momento praticamente reduzida ao zero também ninguém se tem que importar muito com o que a Segogaffe pensa, principalmente tendo em conta que aparentemente a candidata do Partido Socialista nem sequer sabe quantos submarinos nucleares o seu pais tem.
Mas o que eu penso é que os franceses se devem interrogar é se o próximo(a) presidente(a) tem em si a capacidade para parar o resvalar da França para a insignificância total e dizer aos franceses que a semana de 35 horas é óptimo (quem me dera a mim!) mas que do outro lado do canal os ingleses agora fazem o mesmo em dois dias.
A França é na verdade hoje o doente da Europa. Nos últimos 25 anos a França caiu à escala mundial do oitavo lugar para o décimo nono em termos do Produto Interno Bruto per capita. Em 1991 o PIB per capita da França era 83 por cento do nível dos Estados Unidos. Hoje é 71 por cento.
Nos últimos 25 anos o desemprego na França nunca caiu para baixo dos oito por cento e entre os jovens com menos de 24 anos é hoje acima dos 20 por cento. Só 41 por cento da população adulta trabalha, um dos níveis mais baixos do mundo.
A nível social e apesar de uma minoria racial de 10% há uma total falta de integração (aparte o futebol) não havendo minorias no governo, nos postos de comando das forças armadas etc etc.
Os gastos do governo francês são 54 por cento do PIB, uma das percentagens mais altas do mundo e que reflecte aquela crença ainda existente em muitos dos “bien pensant” que o estado é a personificação e a garantia dos interesses de todos. É uma monomania que impede muitas pessoas de olharem para os factos, como por exemplo:
A divida pública aumentou cinco vezes desde 1980.
O sector público na França emprega agora quase 25% da força de trabalho do pais, o dobro da proporção de 1970 e quatro vezes a proporção de 1936.
O resultado é que o investimento privado na França é anémico e isso reflecte-se no facto de que entre 1999 e 2005 a percentagem francesa das exportações mundiais caiu de 5,4 por cento para 4,3 por cento. Mesmo dentro da zona do Euro essa percentagem caiu de 17% para 14,5%.
São números que gritam à cara das pessoas mas que tudo indica a classe política francesa não tem a coragem e a capacidade para resolver. Um professor francês numa universidade americana (Ohio) disse-me há poucas semanas atrás que como não há coragem para enfrentar os factos a França está a caminho de se transformar num “pais museu estilo Veneza”.
Deve ser por isso que um cada vez mais crescente número de franceses emigra para a Grã-Bretanha (quel horreur Mon Dieu!) que há uma geração atrás era o então doente da Europa. São tantos os franceses na Inglaterra que o Sarkozy e o Bayrou fizeram campanha pessoal junto do eleitorado francês nas terras da rainha Elizabeth. A própria Segogaffe abriu escritório em Londres para fazer campanha junto dos seus compatriotas.
Aqui nos Estados Unidos há também um aumento de imigrantes franceses. No fino bairro de Bethesda cada vez mais se ouve falar francês nos cafés, cinemas e lojas.
Os franceses deveriam perguntar como é que a Inglaterra deixou de ser o doente da Europa. Chegariam rapidamente à conclusão que a Segogaffe não é a Dama de Ferro que precisam.
Um abraço,
Aqui da capital do império

Jota Esse Erre

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Ficções, no Onda Jazz, no dia 27 de Abril


Onda Jazz. Rua Arco de Jesus, 7. Lisboa. (Junto ao Campo das Cebolas) Clicar aqui

Ségolène ultrapassa ilusão-Bayrou nas sondagens

A candidata da Esquerda oficial realizou um final de campanha notável. Sarko lidera intenções de voto da primeira volta e Bayrou ensaia o canto da"mula" para captar indecisos persistentes. Não houve tema dominante na campanha e a questão do futuro da Europa foi pouco ventilada...

O declínio económico francês e as lutas fratricidas entre os dirigentes das duas grandes formações políticas - UMP e PS - acabaram por desorientar as aspirações de voto da parte nuclear do eleitorado. A dois dias da primeira volta das Presidenciais Francesas, persistem sérias dúvidas sobre a " cristalização " das intenções dos votantes, sobretudo no espectro de centro-esquerda. Num texto de hoje publicado no Libé, os dois magos das Sondagens analisam, clicar aqui, o conteúdo fulcral desta indecisão política maior.

"Inquietação passageira ou grave doença ?´ Um número elevado de pessoas disseram-nos que ainda não tinham escolhido. No nomento em que as escolhas se deviam cristalizar, é porventura a indecisão que se cristaliza", constata Emmanuel Rivière, da Sofres. E ele acrescenta: ´Há uma indecisão no centro da oferta`. Para Jerôme Sainte-Marie, do instituto BVA, "a posição do candidato centrista é frágil: 47 por cento dos eleitores que podem escolher Bayrou declaram poder mudar de ideias, contra só 20 por cento entre os potenciais eleitores de Sarkozy, Royal ou Le Pen", frisa o texto referenciado.

E vai mais longe esta análise de opinião abalizada e muito trabalhada: "As incertezas mergulham também no posicionamento respectivo de François Bayrou e Ségolène Royal. Os dois candidatos pertencem a campos opostos, mas nenhum deles se limita a entoar os cânticos do seu reduto político. Sego não teme agitar a bandeira nacional e entoar o hino pátrio, de apelar para uma grande firmeza contra a delinquência e interrogar-se sobre os resultados das 35 horas. François Bayrou, por seu turno, multiplica-se para dizer o melhor que sonha dos dirigentes dos Sindicatos da Educação Nacional. Acabou mesmo por achar Olivier Besancenot (LCR, trotskista) " simpático ", ao mesmo tempo que apela para a apresentação de uma moratória sobre os OGM, como o repetiu ontem ".

As grandes diferenças entre os programas de Sego e de Bayrou situam-se no campo das opções económicas, clicar aqui. De acordo com Christian Saint-Etienne, expert universitário e membro do Conselho de Análise Económica junto do PM, as grandes diferenças entre os programas de Sego e Bayrou situam-se ao nível da resolução das disparidades entre a oferta e a procura, por causa da perda de competitividade da economia francesa e dos balanços da Mundialização.

"Para Bayrou, o país está confrontado com uma crise de oferta. A França é cada vez mais incapaz de fornecer produtos e serviços competitivos. O antecessor de Villepin explicava amiúde que, quando ia em viagem oficial à China, tentava oferecer os Airbus e o TGV e ao fim de 20 produtos já não tinha mais nada para vender. Enquanto que o seu homólogo alemão, à época Gerhard Schröder, ia para lá com uma lista de 200 produtos made in Germany. Sego e os socialistas avaliam que a crise se manifesta tanto na oferta como na procura", indica.




Num suplemento excepcional do Le Monde sobre as Eleições Francesas, clicar aqui, alguns dos grandes sociólogos mundiais, como Axel Honneth, o sucessor de Habermas no Instituto de Pesquisa Social de Francfort, Pierre Rosanvallon e o norte-americano Lawrence Kritzman ; justamente o grande teórico rocardiano e Prof. agora no Collège de France, Rosanvallon , chama a atenção para o " nível extremamente baixo de elaboração teórica interna nos partidos políticos e nos estados-maiores dos candidatos ", frisando, por conseguinte, que se vive o fim dos "conselheiros do príncipe" e que a sociedade mediática " suplantou a campanha de ideias".
Tudo a juntar aos dossiers daquele quarteto de pavés onde a revista Marianne, o Charlie Hebdo e o Canard Enchainé se coligam com a fortíssima operação comandada por Laurent Joffrin no Libération quotidiano.



FAR

TERRA

"African Woman"/4 Cubal-2005

A paranóia e os seus limites

Não é de espantar que os amigos se protejam. Nada melhor para desvalorizar a extrema-direita que fazê-la igual à "extrema-esquerda" (que, neste caso, é entendida como nada mais nada menos... que o PCP e o BE!). Aliás, o perigo dessa "extrema esquerda" para a democracia é ainda superior: é que estes tem votos, e os outros não (daí o perigo para a democracia, curioso, que vêm da legitamção democrática a que estes partidos se sujeitam).
Aqui há duas lógicas a convergir: por um lado, branqueia-se a extrema-direita: "também se aceita a extrema-esquerda, que até é representada no parlamento, e no fundo está integrada pela democracia, qual o problema de surgirem uns lunáticos do outro lado?"- esta é a lógica instrumental do argumento. Mas há também uma fobia subterrânea nestes senhores, que sentem tanto asco por tudo o que lhes cheire a "esquerda" que não se importam de desculpar os capangas que fazem os trabalhinhos sujos, assim como "devaneios da juventude".
Resta-lhes explicar, para que a comparação tenha o mínimo de honestidade intelectual, se os militantes do PCP e do BE andam armados; se participam em espancamentos daqueles que tem ideias, hábitos, ou simplesmente uma cor de pele diferente; se vivem numa lógica de violência e se sentem em estado de guerra; se têm treino militar; se utilizam actividades criminosas para se financiar.
E apetecia-me mudar o tom para explicar a alguns exaltados comentadores desse post a diferença entre "desobediência civil" - sim, a tal que faz parte do programa do campo de férias da juventude do BE - e violência. Que a "desobediência civil" é a resistência pacífica, e mesmo passiva, a uma autoridade que se contesta. Que foi o Gandhi que a inventou. Mas valerá a pena explicar estas coisas a certas alminhas atacadas da paranóia esquerdofóbica?
E apetecia-me mudar ainda mais o tom para perguntar a certos mentirosos cuja patologia ultrapassa em muito a paranóia onde é que eles viram essa "violência dos okupas" contra os pacatos cidadãos? Em frente de casa ocupada é que é inseguro passear? Porque razão é que, repetidamente, os habitantes dos bairros onde existem casas ocupadas se colocam do lado dos okupas contra os despejos destes?

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Desta cultura .3

"O Português, muito intimamente, é incapaz de ambicionar para a sua pátria, o bem-estar e a prosperidade que, por exemplo, o Suíço conseguiu pelo esforço pertinaz e constante. É certo que o Português se envergonha perante um suíço pelo elevado nível de vida que aquele soube conquistar, mas se fosse ele o suíço, envergonhar-se-ia da mesma maneira, por ter conseguido um bem-estar sem glória.
É um povo paradoxal e difícil de governar. Os seus defeitos podem ser as suas virtudes e as suas virtudes os seus defeitos, conforme a égide do momento."

Jorge Dias, O Essencial sobre Os Elementos Fundamentais Da Cultura Portuguesa, pág. 56, INCM

Eu também quero ir

Não se transplantam para as órbitas oculares
Particulares visões do mundo
Nem ainda ninguém inventou
Conteúdos de vida agradáveis
Aplicáveis com adesivo.
Os seus olhos côncavos perderam tijolos.
É isso a fome ter feito rua no corpo.

IN: Caixinha c rodas; Col. Homem do saco; ed. Geic; 2005

A inevitabilidade

A inevitabilidade é o sem-abrigo. A inevitabilidade é o desespero, a fome, a morte. A inevitabilidade é a guerra.
Conversava eu ontem com um homem que pedia de mão estendida na rua. Intrigou-me, pela ausência dos sinais distintivos que definem e estereotípo recente desses homens. Tinha a barba feita, relativamente bem vestido e bem alimentado.
Pede na rua porque foi despedido de um trabalho de 30 anos numa fábrica que fechou em Marvila; o subsidio de desemprego terminou, e não consegue, com os seus 49 anos, qualquer tipo de trabalho. O Rendimento Mínimo dá-lhe quase para a renda e as contas; e faz questão de as manter, porque quer manter um mínimo de dignidade na sua vida. Mas admite que um destes dias não chegue; diz-me que, se isso acontecer, não vai para a rua, porque quer manter um mínimo de dignidade na sua vida. Ou seja, prefere acabar com ela, em vez de viver sem dignidade.
Isto pode parecer uma chachada neo-realista, mas que se foda. Estes são os homens, aqui tão próximos, que são sacrificados por esta inevitabilidade, o "melhor dos mundos possíveis". O pensamento macro-económico é confortável a gente com bons ordenados, do lado certo da vida, não custa nada pensar e dizer e escrever que se tal fábrica fecha aqui há-de abrir outra na Roménia, e que se uns gajos são fodidos outros hão-de prosperar, e que é mesmo assim, a lógica inexorável da vida.
Pois eu, mesmo sem ter de ir mais longe, aos milhões de fodidos por esse mundo fora, faço questão de mandar essa gentinha da inevitabilidade toda à merda. Em nome desse homem, e dos outros todos, serão sempre os meus inimigos.
O LADRÃO

Já lá foi preso o ladrão
Que em toda a parte apar'cia;
Contam-se mais de um milhão
De roubos que ele fazia

Meus senhores, vão ouvir
A história do quadrilheiro
Manuel Domingos Louzeiro,
Que foi a pena cumprir,
Enquanto alguém de Salir,
Num primor de descrição,
Lhe chama até "Lampião"¨;
Mas, salinenses honrados,
Podeis dormir descansados,
Já lá foi preso o ladrão.

P'las coisas que o povo diz,
O tal Domingos tem sido
P'ra uns, terrível bandido,
p'ra outros, grande infeliz.
Mas eu, sem querer ser juiz,
Vi que ele se despedia
Da mulher com quem vivia
Numa amizade sincera
E não vi nele a tal fera
Que em toda a parte apar'cia.

Desse rei dos criminosos,
Direi, aos que o conheceram:
Poucos crimes apareceram
E poucos são os queixosos;
Apenas alguns medrosos
Terrível fama lhe dão;
Para a justiça só são
Os seus crimes dois ou três,
Mas coisas que ele não fez
Contam-se mais de um milhão.

Por alguns sítios passava,
Onde há só gente honradinha,
Que roubava à vontadinha
E que ninguém acusava;
Tudo Domingos pagava,
E ele às vezes nem sabia
Que à sua sombra vivia
Gente que passa por justa,
Fazendo crimes à custa
Dos roubos que ele fazia.

Sei que pareço um ladrão
Mas há muitos que eu conheço
Quem sem parecer o que são
São aquilo que eu pareço

(Poema de Antonio Aleixo; música de Adriano Correia de Oliveira)

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

quarta-feira, 18 de abril de 2007

490 euros (preço de venda ao público)

O Partido Socialista acha que dar 490 euros (preço de venda ao público) por cada vacina do HPV a cada bebé do sexo feminino não compensa (as palavras não são estas, mas vai dar tudo ao mesmo).
Afinal, só morrem 350 mulheres por ano de carcinoma de colo do útero. A doença previne-se com a vacina. Há as que não morrem, mas são histerectomizadas.
Comecei há pouco a rotação de Ginecologia - Obstetrícia e, a epidemiologia não perdoa, vi um caso de uma senhora de 46 anos que vai morrer com um carcinoma de colo do útero invasivo. 490 euros (preço de venda ao público) eram demais pela vida da senhora.

(Armando, desculpa lá o desaparecimento, mas o estudo não perdoa)

Ségolène iguala Sarkozy, que veste pele de cordeiro

A três dias do fecho da Campanha, a candidata socialista sobe e alcança Sarko na corrida para o primeiro lugar das intenções de voto. O Libération, a revista Marianne e o semanário humorístico, Charlie Hebdo, desencadeiam uma denúncia total e violenta dos vícios autoritários do candidato da direita conservadora e émulo de GW Bush...

“«Marianne» crie au fou
Marianne prétend révéler «Le vrai Sarkozy», celui que «les grands médias n'osent pas ou ne veulent pas dévoiler». L'hebdo compile, sur une dizaine de pages, les dérapages du candidat ainsi que les confidences de ceux qui l'ont approché. Spectaculaire mais pas très neuf si ce n'est cette conclusion que «même la gauche étoufferait» : «Cet homme quelque part est fou ! Et la nature même de sa folie est de celle qui servit de carburant dans le passé à bien des apprentis dictateurs.» En quarante-huit heures, les 300 000 numéros de Marianne mis en vente étaient épuisés. «C'est inouï, se réjouit Jean-François Kahn, les lecteurs nous disent : "Enfin quelqu'un le dit !"» Charlie Hebdo emboîte le pas aujourd'hui avec un «spécial Sarkozy» de 16 pages titré : «Votez peur» .”
Alain AUFFRAY



Trata-se de uma verdadeira apoteose anti-Sarko, o enfant-terrible da Direita conservadora francesa vestido com a ideologia neoliberal dos Republicanos americanos, que ele adaptou com muita perversidade e acutilância durante os cinco longos anos em que, como número dois do executivo de Villepin, não perdia pitada para o adaptar e multiplicar. Ora, tal dispositivo estratégico mascara uma ambição sem limites e necessita, como de pão para a boca, de um partido-exército obediente e devotado ao culto do chefe. Sarko denunciou ontem na TV a " cruzada " do Libération contra a sua candidatura. A revista Marianne acaba de vender em relâmpago os 300 mil exemplares da sua edição desta semana, por causa de um dossier " frontal " e chocante " sobre a ideologia e as práticas do possível sucessor de Chirac.O concorrente do Canard Enchainé, Charlie Hebdo, publicou hoje um Suplemento sobre Sarko - "Votai Medo" - reforçando o campo dos adversários do federador da direita metalizada gaulesa.

Hoje, clicar aqui, saiu mais um texto sobre as " rupturas, os conflitos e as divisões " que o candidato UMP gera no estado-maior da sua campanha, onde dois dos seus mais antigos e incondicionais apoiantes foram postos fora de combate. O rival regional de Ségolène Royal, Jean-Pierre Raffarin, decidiu envolver-se a fundo na defesa de Sarkozy, e convida para a defesa do candidato no terreno os " liberais ", Jean-Louis Borloo, líder do P.Radical, Alain Juppé e mesmo Giscard´Estaing.

Numa entrevista, clicar aqui, o historiador Michel Winock, abalança-se a analisar o que designa por " monarquia electiva " francesa. Segundo ele," A nossa democracia mergulha as suas raízes num velho país católico e monárquico. A questão da incarnação é mesmo importante, por isso. A Revolução Francesa, que transformou profundamente o país, não foi capaz por outro lado de criar um regime democrático estável. (...) A grande questão do equilíbrio dos poderes nunca foi totalmente resolvida. O que é recorrente, é a solicitação de um chefe, de um salvador. Palavras que podemos também usar no feminino. Há um precedente célebre no séc.XV, com Jeanne D´Arc". A ler tudo, portanto.

FAR

TERRA

"Somewildwish" / 5

Como gosto de café!


(clicar para ampliar)
O açúcar e seu invólucro ficam aqui.

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

Abrigo Temporário


(clicar no cartaz para o ampliar)

terça-feira, 17 de abril de 2007

POETA DA TRETA!

Vou fazer-me poeta
não tarda um instante.
Da treta!
Momentos da Vida
passados à escrita
de repente!
E de repente,
num instante,
muda-se tudo
e tudo na mesma!
Oh... oh... oh...
firme e hirto
como vara secada,
no calor da solada,
que grande cegada!
E poeta virei.

JOÃO AUTOR

Sinais


Desnho de Maturino Galvão

Ségolène Royal só liga com Bayrou na 2ª volta


São daquele tipo de revelações sensacionais. Ségo não fecha a porta a Bayrou e queixa-se dos "elefantes " do seu partido... A revista económica Capital diz que ela usa sapatos que custam 1200 Euros/ a peça...

Estamos na recta final da primeira volta das presidenciais. Há cinco anos que Sarko anda em campanha. Ségo teve que vencer os "elefantes" do seu partido, os rivais Fabius, Jospin e Strauss-Khan. Rocard afastou-se cedo das primárias e apoiou Strauss-Khan, como dissemos no tempo exacto. Neste texto, clicar aqui, pubicado hoje no Le Monde, Sego precisou a sua determinação e amargura face aos jornalistas da rádio judia , a Rádio J. E queixou-se dos seus colegas de partido, "que nunca a aceitaram como candidata". "Isso não me ajuda. Mas, preciso de forma optimista, que isso é o preço da minha liberdade e que finalmente possuo muita resistência, e constância".

Ségolène recusa qualquer acordo precoce com Bayrou, mas não o invalida para sempre. Conforme precisa, ao milímetro, a candidata da Esquerda Socialista recusa-se a caucionar "a combinação de alianças entre candidatos ou formações políticas", antes da segunda volta. " Depois da primeira volta, ninguém será proprietário dos seus eleitores e não os poderá forçar. E é com todas e todos aqueles que se reconhecerão na posição "França Presidente", que se disputará o futuro do país", frisou.
E Cohn-Bendit apoia Rocard e Kouchner alargando o acordo aos Verdes, prisioneiros "de um mundo irreal". (ver Libération)


FAR

domingo, 15 de abril de 2007

Le temps des femmes

"Les Français ne regretteront pas leur audace"
Propos recueillis par Pascale AMAUDRIC et Florence MURACCIOLE
Le Journal du Dimanche

Ségolène Royal est confiante en cette fin de campagne. "Le temps des femmes est venu pour remettre debout la maison France", affirme-t-elle. Elle répond à Rocard qui propose une alliance avec François Bayrou. Mais se refuse à dire qui pourrait faire partie du gouvernement qu'elle constituerait si elle était élue

Comment jugez-vous cette fin de campagne ?Passionnante. J'avance sereinement et fermement sur ma route pour convaincre les électeurs car je suis avec eux, habitée d'un sentiment de gravité face à l'importance du choix, et portée par un immense espoir pour mon pays. Je fais tout pour qu'à la face du monde, la France fasse le choix de l'avenir meilleur, pour la France présidente et pour la femme qui l'incarne.

Que pensez-vous de l'appel de Michel Rocard ?
Il a le mérite de la constance. Depuis des années il veut faire venir le centre par des alliances de personnes vers les socialistes. Je crois, moi, à la force des idées qui entraînent et font se lever les espoirs populaires que je vois dans toute la France. J'espère que je suis au bout de mes surprises, car point trop n'en faut! Aujourd'hui, mon choix c'est d'aller à l'essentiel: faire entendre à l'ensemble des électeurs les valeurs pour que la France se relève, afin qu'ils aient un vrai choix pour permettre à notre pays de reprendre la main. En particulier choisir le changement sans brutalité et vouloir une France où les valeurs humaines doivent l'emporter sur les valeurs boursières.

Quels sujets aimeriez-vous imposer dans cette dernière ligne droite ?Il me semble qu'aujourd'hui les Français ont bien saisi les personnalités des candidats et peuvent se faire une idée précise de la manière dont ils exerceraient le pouvoir... Quant au clivage entre mon projet et celui de la droite, il est clair. D'un côté, une société dans laquelle les Français seraient dressés les uns contre les autres, où régnerait le "chacun pour soi", une société du déterminisme, de la violence et de l'autoritarisme. De l'autre, une France apaisée, qui se rassemble autour de valeurs communes -travail, solidarité, esprit d'initiative-, une France du plein-emploi qui reprend confiance en sa jeunesse et qui garantit aux personnes âgées les sécurités auxquelles elles ont droit, qui croit à nouveau en sa capacité à produire de la richesse et à la redistribuer de manière équitable, une France, enfin, dont les dirigeants sont à l'écoute du peuple et non au service de groupes de pression.

Continue a ler no Le Journal du Dimanche

FAR

Cantares

JOHNY PIÇUDO
(Rima ordinária)

Johny Piçudo
tem de tudo:
ânus p'ra cagar
e pénis p'ra mijar,
mãos p'r'apalpar
e língua p'ra provar.
Tem cobiça
na ponta da piça.
Até ejaculações
p'los colhões!
Johny Piçudo
é um tesudo:
fode na cona
e fode na mão,
é uma fona
com tanta tesão.
Procura nos meios
um princípio carmim,
mordisca nos seios
e vem-se sem fim!
Agora...
Mija na mão
e deita fora.

JOÃO AUTOR

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

sábado, 14 de abril de 2007

V-Presidenciais Francesas: Rocard propõe acordo político entre Ségolène e Bayrou

O pai da "Segunda Esquerda" alerta para a indispensabilidade da aliança entre o PS, o PRG, os Verdes e a UDF de Bayrou. Desde já, atenção. Sarkosy tenta jogar a política das águas turvas, do diz que não disse...

A 9 dias da primeira volta das Presidenciais, o ritmo político atingiu o clímax. Sarkozy, depois do lapso sobre o determinismo genético e Ségolène Royal depois do rumor lançado pela polícia secreta interior (RG) de que não passava da primeira volta, indo Le Pen à segunda como em 2002, foram surpreendidos por um texto de opinião de Michel Rocard, um dos pais da Esquerda Liberal mundial, hoje publicado no Le Monde, clicar aqui, que preconiza uma aliança entre Sego e Bayrou, antes da primeira volta. " É a grande chance da França ", frisa, para adiantar:" Unidos aos Verdes, a esquerda social-democrata (Sego/PS,PRG) e o Centro Democrático Social (Bayrou), constituem uma maioria no país. E dentro de duas semanas pode-se tornar a maioria efectiva ".

O antigo PM francês, com Delors a personalidade política mais fascinante dos últimos 25 anos do centro-esquerda francês, alerta para o pesadelo que Sarkozy pode incrementar em França: "A França irá sofrer durante cinco anos. E todos os franceses não irão sofrer da mesma maneira: os mais ricos ainda viverão melhor: As classes médias e os pequenos assalariados irão viver ainda pior. Os excluídos ficarão ainda mais isolados". E fundamenta ainda deste modo a sua tomada de posição:"Socialista e europeu desde sempre, afirmo que face à urgência dos dias de hoje nada de essencial separa mais em França os sociais-democratas e os democratas-sociais, isto é, os socialistas e os centristas. Sobre o emprego, sobre o alojamento, sobre a dívida pública, sobre a educação, sobre a Europa, as nossas prioridades são em grande medida a deles. Isolados, nem eles nem nós, não teremos chance nenhuma para bater a coligação de Nicolas Sarkozy e de Jean-Marie Le Pen".

"Não é preciso esperar pela segunda volta para criar a dinâmica da aliança" adverte: "Dentro de poucos dias, os franceses decidirão quem, François Bayrou ou Ségolène Royal, será o melhor para vencer Sarkozy. E isso será feito de uma forma superior se souberem que, em todo o caso, uma aliança sincera e construtiva defenderá à segunda volta, e depois nas Legislativas, um Projecto Comum de Esperança para a França", aponta ainda.

O candidato do centro-direita Nicolas Sarkozy, relapso a cometer lapsos de grande significação política, deu ontem uma grande entrevista ao Libération, clicar aqui, onde insinuava esta desculpa-confissão impressionante: " O Maio 68 que denuncio, é o relativismo: tudo se equivale: Se se suprimem as regras, não existe diferença entre o bem e o mal, tudo se equivale ". Isto vem da direita americana recauchutada que elevou GWBush, como analisa o normalien Eric Fassin, clicar aqui, a partir de 1994, precisamente com o best-seller "O desvio posto em causa", a apologia da revolução conservadora escrito por Newt Gingrich .

FAR

TERRA

"African Kids"/3 2005 - Lubango

Sem querer moralizar...

Hoje saí. E quando emprego esta expressão refiro-me ao facto de andar nos transportes públicos, ouvir do que as pessoas falam, observar. Em termos de teatro chamo a isto 'fazer laboratório'.
A meio da tarde entro numa estação da Fertagus algures entre Coina e Roma-Areeiro. A máquina dos bilhetes não funciona; a bilheteira, que serve para tudo, menos para vender bilhetes de forma a que eu possa entrar no comboio que está a menos de oito minutos de chegar à estação, essa bilheteira apresenta uma fila considerável. Atento ao relógio (preciso de estar em Lisboa às 17 horas), reparo num casal munido da respectiva filha. Aguardam a sua vez na fila. São poucos os que pretendem um bilhete, todos eles vêm munidos de papéis e fotografias e imensas questões para pôr aos senhores que se sentam do outro lado do balcão. E os senhores do balcão lá vão fazendo escorrer o tempo, de - va - ga -ri - nho.
Enquanto no relógio o tempo se consome, assisto a explicações e a explicações acerca das explicações. Concluo, inquieto, que o simplex não chegou à Fertagus. E, desesperado, começado a pensar que o simplex é uma miragem.
Para cúmulo, constato que o casal, que até aí se mantivera unido, no momento em que lhe é concedido o acesso à bilheteira, se desmembra: ela, mais a filha vão para o balcão da direita e ele, só e munido do papel e das fotos, dirige-se para o balcão da esquerda.
É triste ver "claramente visto" (como diria o nosso Camões...) o fim tão inesperado de uma união de facto. Na hora de aceder à bilheteira assumem que se casaram com separação da dita.
A filha do casal, essa, julgando-se livre de quaisquer tutelas, não descansou enquanto não alapou o cu no balcão da bilheteira. À puridade se diga que o pai (no balcão da esquerda...) de imediato se desligou daquilo que lhe explicava o bilheteiro e veio admoestar o rebento (o que só lhe poderá vir a render créditos quando, em Tribunal, se discutir a regulação do poder paternal...). A mãe da criança (uma tamanhona vestida de fato de treino) esboçou um gesto, mas nada mais que isso, e prosseguiu a sua alegre conversa com o senhor da bilheteira (a da direita) indiferente a todos os outros; a todos aqueles que, como eu, não tiraram a tarde para ir, em família, a uma bilheteira conversar com os senhores que vendem os bilhetes.

Por acaso, só por mero acaso, consegui entrar no comboio e, assim, honrar os meus compromissos. Só esse facto me permite escrever assim. Quanto às conversas a que esperava assistir não me interessaram, nem são dignas de registo.
Já ninguém fala de Sócrates...

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Vou ali ver fotos de um amigo cá da casa


(clicar no cartaz para ampliar)
IWALEWA-HAUS. Bayreuth
Armando,

Tenho andado atrasado com os desenhos. O texto para o blog deu-me muito trabalho a escrever, mas não podia deixar passar aquela ideia de snifar o pai. Já viste quanto terreno útil se libertaria se implementassem essa medida? Até as homenagens ex-votos eram mais fáceis. Bastava meter flores no umbigo, ou noutro orifício mais fundo, consoante o amor pelo ente querido.
Também me tem ocupado uns mails que ando a escrever para o DIAP. Vi uma notícia de que começaram a investigar a esquadra da Amadora por usar droga para incriminar facínoras. Como prova viva da excelência dessa técnica policial não me contive. Não podia deixar de lhes explicar que isso é uma prática muito antiga e, que, é usada nas outras esquadras. O que é preciso fazer é uma avaliação dos resultados, para criar um quadro de honra das esquadras, como fazem para as escolas e outras instituições públicas.
Agora tenho que escrever para a ADSE. Afinal o cartão não é “simplexmente” mudado quando um tipo é reformado. Tenho que meter um impresso não sei onde, (não é onde estou a pensar), e preciso não sei de quê do sítio onde trabalhei. Isto tudo deve ser simplex de certeza!
Grande merda o meu gato acaba de morrer. Depois continuo o mail.

Maturino Galvão

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

DA MORAL...

O que me preocupa mais é aquilo que passa para o cidadão comum, para os jovens...
Estar num cargo público (político) e servir-se do mesmo para obter benefícios pessoais é vil.
A isso já alguém chamou estar sentado à manjedoura do poder.
Quem serve a coisa pública há-de exigir-se uma rectidão a toda a prova, uma transparência irrepreensível.
Lembram-se, por acaso, de um dos presidentes desta república (a 1ª) que ia de sua casa até à sede da presidência num transporte público?...
Serão outros tempos, é certo, mas também vos direi que a verticalidade é intemporal.
A imagem que alguns dos políticos da nossa praça vão dando é a de que tudo é permitido, até mesmo o partido da oposição (PSD) se cala num claro sinal de não querer lavar em público a roupa suja que alberga no seu seio. Sabiamente remetem-se ao silêncio próprio daqueles que também padecem de idênticas mazelas.
A manjedoura do poder, porém, não é inesgotável porque a sustenta um país que está nas lonas.
Não há serviço público que não esteja à beira da ruptura: na Saúde, no Ensino, na Justiça, nas Finanças Públicas... Tudo se encontra votado ao oportunismo e ao arranjismo.
O presente Governo não sabe para onde vai, nem sabe para onde há-de ir.
A questão não está em saber se há ou não Licenciatura. É um problema mais amplo: o da moral.
É-me indiferente saber se o 1º ministro do meu país é licenciado ou não; importa-me, porém, saber que ele é impoluto, que não usa o seu poder (ou que nunca usou do seu poder) para dele ou através dele colher benefícios pessoais.
Não acho normal, nem natural utilizar papel timbrado de qualquer órgão público para tratar de assuntos pessoais.
O cidadão José Sócrates é isso mesmo: um cidadão que, devido à sua actividade política, ascendeu a cargos públicos.
O exercício dessa actividade não lhe confere o direito a fazer valer o cargo que ocupa como meio de obter benefícios pessoais.
Alguém que entra para um Governo com pretensões (e não só) de moralizar alguns sectores da vida pública expõe-se, agora, a uma questão "mesquinha".
Só mesmo quem se dispõe a que lhe atirem a primeira pedra...
Só mesmo quem sabe que esta gente que governa anda tonta e adormecida e não protesta, não contesta, nem se indigna.

quinta-feira, 12 de abril de 2007


Dili

Pintura de João de Azevedo

Da poesia militante em Moçambique

Quando chega o verão,
Não há um ser humano
Que não fique com tesão.

É uma terra danada,
Um paraíso perdido.
Onde todo mundo fode,
Onde todo mundo é fodido.

Fodem moscas e mosquitos,
Fodem aranha e escorpião,
Fodem pulgas e carrapatos,
Fodem empregadas com patrão.

Os brancos fodem os negros.
Com grande consentimento,
Os noivos fodem as noivas
Muito antes do casamento.

Todos fodem neste mundo
Os responsaveis da barragem
Fodem ao povo
Até chinezes fodem as nossas florestas.

Militares fodem Generais,
Generais fodem o Ministro da Defesa.
E o presidente da República
Vive fodendo a nação.

Todos fodem neste mundo
Num capricho derradeiro.
E os danados da polícia
Fodem os manifestantes.

Parece que a natureza
Vem a todos nos dizer,
Que vivemos neste mundo
Somente para foder.

Autor Desconhecido
(Também pudera, se fosse conhecido, tava fodido !!!) Neste Moçambique imenso

Uma explicação simples para a febre irracional que tomou e toma conta de tantas mentes supostamente esclarecidas

No pós-25 quis-se nacionalizar tudo. No pós-pós-25 quer-se privatizar tudo.

Sinais



Desenho de Maturino Galvão

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Segoléne

A França, com todas as suas idiossincracias, algumas detestáveis, é um grande país. Não é por acaso que é pátria de grandes pensadores e terreno de mudanças políticas há muitos séculos: é a tendência meio chauvinista dos franceses para se pensarem grandes que os leva a pensar em grande.
As mudanças sociais e políticas urgentes neste principio de século precisam de terrenos assim. Têm de ser postas à prova, para que se possa provar que outra forma de entender as relações sociais, que ultrapasse o abjecto egoismo activo dos "liberais", é possivel, viável, saudável.
Numa noticiazeca do DN De hoje sobre Ségolene Royale estava algo do que pode ser um esboço de um programa político de Esquerda no século XXI: aumento do ordenado mínimo; gestão do mercado público; reservar as ajudas públicas às empresas que não façam despedimentos quando têm lucro; revisão dos estatutos do Banco Central Europeu, para que o crescimento e o emprego façam parte dos seus objectivos.
Mesmo com a globalização dos mercados, tenho a certeza que um programa político de Esquerda aplicado em qualquer país forte da Europa tem todas as condições para ser possivel, viável e saudável. Que depois se vejam os resultados. Aí veremos se o Friedman sempre tem razão.


(Regresso após férias. Espero que as vossas tenham sido tão boas como as minhas)

Quem me leva os meus fantasmas




terça-feira, 10 de abril de 2007

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

Mambo 18

Tarte de Limão

Basta tão só o sentirmo-nos estranhos, para que uma possível atomicidade se faça em nós ninho, com um diâmetro lunar.

Indefinidamente uma bandeira ao vento é a manga do gesto submisso do camareiro. Einstein teria sobressaltos a narrá-lo matematicamente.

Enche-me com água sempre sem ser fortuito, com um esgar de monotonia amedrontada em eco, mal me chego à linha esvaziada do copo.

Se este recipiente nos arredores do cristalino fosse realmente a taça do Santo Graal, quanta luminosidade teria generosamente sido exacta, por todas as ruas futuras.

Casino da Figueira…

Se vivessemos desde os primórdios, não estranharia tal grotesco grau de atenção, amordaçada e tensa na sua aprendizagem. Mais água sobre fundo branco.

Mas não. O que para além dos limites de tudo (incluído o pensamento) pisca, é um néon. Nessa voragem, pecamos.

Todos os outros, prazerosamente sentados, conversam e têm invejáveis mundanas motivações. São convictos. Cada vez sei menos. A certeza é um idílio sem relvado geométrico... é isso, sempre o tactearmos no não concreto, cegos de quê?

Perna de porco assada à padeiro.

Prisioneiros de tudo como o gato às riscas, a dois continentes de si próprio ? talvez ansiemos por um encontro com algum foragido, talvez Platão aqui enganado...

Seríamos sócios para todo o sempre, se ainda na sua omoplata garantisse a tatuagem da dualidade.

Sopa rica do mar.

E não ter deixado à espera, no bengaleiro, o livro com que coxeio menos como tenho o aforismo de inverno a morar no corpo, a ser interiorizado como um casaco que seja...

Ementa.

O amarelo, o creme com letras a rebentar de improváveis significados, o laranja. Tudo é desperdício outonal.

Onde estão as patas da cadeira comigo ? O camareiro torna-se-me íntimo na sua manga.


Nacala .5


Da série "Era uma vez um porto, uma cidade e suas gentes".Nacala. 1995

Foto de Sérgio Santimano

Sarkozy persiste e reitera perspectivas inadmissíveis sobre pedofilia e delinquência

Sarkozy persiste e reitera perspectivas inadmissíveis sobre pedofilia e delinquência. Há dois dias que a coisa se avoluma: quem sabe se a direita pode perder...


“Nicolas Sarkozy persiste et signe. Après la vive polémique provoquée par ses propos à Philosophie Magazine et dans lesquels il disait qu'il inclinait "à penser qu'on naît pédophile", le candidat de l'UMP a une nouvelle fois relancé la controverse mardi sur France 2.

«Qui peut me dire que c'est normal d'avoir envie de violer un petit enfant de trois ans? Est-ce que c'est un comportement normal ? A partir de ce moment là, quelle est la part de l'inné et la part de l'acquis? », s'est-il interrogé.

Une nouvelle fois, Nicolas Sarkozy a renchéri sur le suicide des jeunes, décidant également de parler du cancer qui touche parfois des fumeurs passifs et non les gros fumeurs.

A propos des jeunes qui se suicident, il estime que «génétiquement, ils avaient une fragilité, une douleur préalable»å puis il rajoute «Je ne veux pas qu'on complexe les parents : tout jeune qui se suicide ce n'est pas exclusivement la faute des parents, il y a un terrain».

Déjà en fin de semaine dernière, ces propos avaient soulevé de nombreuses critiques. «Si moi je m'étais permise de dire des énormités pareilles, je pense que cela aurait émergé dans le débat public», a jugé la candidate socialiste, tandis que le président de l'UDF qualifiait d'«inquiétants» et de «glaçants"»les propos de de son rival.

En revenant sur ce sujet, Nicolas Sarkozy affirme une nouvelle fois sa vision d'une origine génétique des troubles comportementaux chez l'homme. Il a invité ce matin ses adversaires à «ne pas fermer la porte à tout débat».

«C'est des propos extrêmement graves, ça veut dire qu'on revient sur tout ce qui a été l'évolution des sciences dans notre société», a déclaré Marie-George Buffet en réponse à la nouvelle intervention de Nicolas Sarkozy, tandis que le candidat MPF Philippe de Villiers a lui affirmé le principe de la «liberté» de l'homme en excluant tout «prédéterminisme»”
No Libération

FAR

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

Em Foco

#. - França: Indecisos (30 a 40%),geram emoção a 13 dias da primeira volta das Presidenciais - Por perversidade da Alta Autoridade da Comunicação audiovisual francesa, o tempo de antena dos candidatos tem vindo a ser reduzido desde 1995. Como os pequenos partidos se implantaram na sequência do impasse político e estratégico que mina o " centrão " gaulês, PS e UMP, o espectro audiométrico dos suportes - rádio, tv.- teve que impor uma severa contenção e redução, tirando as rádios privadas - Europe 1 e RTL ou NRJ - grande partido (financeiro) dos clipes politizados em breves unidades de tempo...Como não apareceram ainda grandes temas dominantes e cristalizadores na campanha presidencial, a margem de indecisos é enorme, raiando entre os 30 e os 40 por cento. Ontem, Sarkozy cometeu uma gafe muito negra, no passeio primaveril da Côte d ´Azur, sobre a pedofilia e o suicídio " inatos", de grande denotação racista e determinista. O que despoletou uma imensa e desabrida polémica com o meio científico e religioso, que condenam o sentido eugenista e selectivo das suas teses. O arcebispo de Paris condenou , veementemente, nas ondas radiofónicas , a " filosofia " do candidato da direita, que tinha dito "Inclinar-me-ia a pensar que se nasce pedófilo..ou delinquente. As circunstâncias não fazem tudo, a parte inata é imensa". Ségolène e Bayrou refutaram tais posições expressas por Sarkozy, de forma muito contundente. Vamos ver se, contra o virtual vencedor do escrutínio, apareceu tema para decidir os eleitores a não embarcarem nas suas profecias ...quase totalitárias.

#. - Japão: Reeleito o presidente da maior cidade do Mundo - Será que existe fora dos EUA, uma viragem (ou confirmação) política de uma nova ideologia populista, nacionalista e ultra-controladora? No patamar cimeiro dos países que lideram a evolução do Mundo, a Suíça, quase a maioria dos países escandinavos, o Japão e os governos de coligação de centro - tipo Itália ou Alemanha - prefiguram essa tendência inquietante de " fecho " e confiança no " cada um por si, que Deus é grande "...A reeleição do presidente do município de Tóquio, a maior cidade do mundo, pela terceira vez consecutiva, parece dar mais corpo a essa funesta e implacável tendência.
Shintaro Ishihara, de 74 anos, antigo romancista de best-sellers de gare, bateu os seus 13 rivais, por maioria absoluta. O interessante da questão é que, Ishihara, surgiu, desde que foi eleito em 1999, como um populista de direita muito vincado, ao arrepio de toda a classe política nipónica. Negou sempre o apoio dos partidos - o omnipresente Partido Liberal - e não se abstém (de acordo com o correspondente do Le Figaro) em invectivar ciclicamente " a criminalidade estrangeira, a falsa delícia da língua e da civilização francesas e o espectro da arte contemporânea, em geral ". Gere, há sete anos, Tóquio com mão de ferro: restaurou as finanças, deu plenos poderes à polícia e desencadeou um plano de tudo-só-betão gigantesco pela construção em simultâneo de mais 92 arranha-céus. Os ecologistas e seus apaniguados não conseguem vergar Ishihara, que quer " fazer obra" para preparar a candidatura da " sua " cidade aos Jogos Olímpicos de 2016. O PIB de Tóquio suplanta o da Austrália e o seu edil gere-a, a maioria das vezes, por circuito-fechado, a partir de uma rede de tv-cabo montada em sua casa.

#. - Egipto: Sucessão dinástica de Moubarak desperta islamistas - Washington e o grosso dos líderes (tolerados) das forças políticas islâmicas do Egipto, condenaram as alterações constitucionais propostas pelo partido do presidente Moubarak. Apesar de imporem o fim da osmose político-religiosa, de reforçarem as taras autocráticas do regime e de prepararem, in fine, a sucessão " dinástica " para o filho do raís omnipotente, a onda de contestação ao regime militar cresce, sem apelo nem agravo, e os partidos " tolerados " de inspiração islâmica, conseguem já controlar a maioria da sociedade civil, como é o caso dos Irmãos Muçulmanos, com milícias e um sistema de Segurança Social modelar nos bairros mais populosos. O impasse político e económico é muito grande. Sabe-se que os EUA controlam de perto a situação e encorajam Moubarak a democratizar a vida política egipcia. O general e os seus aliados receiam que surja uma vaga islamita colossal, tanto o descontentamento é grande, daí hesitarem e tentarem adiar as reformas necessárias que permitam acabar com a corrupção galopante, que só perderá força caso haja uma vitalidade democrática mínima efectiva garantida pelo jogo multipartidário.

FAR

Dili

Pintura de João de Azevedo

sábado, 7 de abril de 2007

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Grande resposta


Depois disto (clicar aqui), declaramo-nos apoiantes incondicionais dos Gato Fedorento.

Nacala .4


Da série "Era uma vez um porto, uma cidade e suas gentes". Nacala. 1995

Foto de Sérgio Santimano

EM FOCO

#. Índia importou armamento e tecnologia dos EUA em contrabando - Como é que isto pode acontecer? O Departamento de Justiça dos USA levantaram formalmente um inquérito-investigação contra algumas agências do governo indiano que ladearam ( passaram pelo contrabando...) o código legal de exportações americano e adquiriram assim no mercado negro tecnologias e armas de destruição maciça sem qualquer espécie de controlo.

Estão em causa, noticia o NY Times, compras de mísseis muito sofisticados e tecnologias avançadas para a construção de armamento para a guerra bacteriológica, tudo no período que mediou entre 2003 e o ano passado. Os dois países assinaram um avançado tratado de cooperação científica e militar, há poucos meses, mas a Índia ainda tem que realizar uma série de convénios com organizações internacionais sobre controlo nuclear e armamento para que o tratado de cooperação seja válido a cem por cento.

#. Os "padrinhos" de Vladivostok dominam no Extremo-Oriente russo - Trata-se de uma reportagem maravilhosa assinada pela grande jornalista do Libération, clicar aqui, Lorraine Millot. Foi ontem publicada e o matutino parisiense tem em sotck coisas espectaculares para os nossos concorrentes nos copiarem, oli-olà... Putin está mesmo a dar cabo das hipóteses democráticas russas. Um pouco por todo o antigo Império. " Alcunhávamo-los de "bandidos " nos anos 90. Hoje, são eles os nossos dirigentes ", aponta, a abrir, um frequentador de um bar-e-encontros na capital do Extremo-Oriente russo, a cerca de 9 mil quilómetros de Moscovo.

Aqui ainda não chegaram os ventos " normalizadores e agressivos " das reformas de Estado de Putin. É o que parece. Os agentes do FSB (ex-KGB) e os procuradores já tomaram conta das alavancas do poder, mas a violência ainda está para lavar e durar. O rol de traficâncias e de formas expeditas de enriquecer não conhecem limites. Só a morte ou os crimes mafiosos de extorsão ou segredo, como na Sicília ou em Los Angeles... O que se sabe, aponta a jornalista, é que a Alemanha e o Japão navegam bem nestas águas turvas. Açambarcando o rico e variado pescado, vendendo máquinas e peças para os empresários-fora-da-lei...Contornando, de forma clara e directa, toda a lógica comunitária da Velha Europa. Tudo se revê nesta forma de salteadores de arcas doiradas... Não perca, pois, esta narrativa alucinante que desmascara os " colegas " do Pr. russo.

#. Mugabe e esbirros fazem compras de avião no Harrods de Londres - O ditador enfraquecido do Zimbabué e os seus esbirros sanguinários vão, de vez em quando, fazer compras a Londres, ao grande armazém Harrods, assinalava ontem num artigo de opinião inserto no NY Times, um líder sul-africano de uma ONG, Tawanda Mutash. A pouco e pouco, quase que envergonhadamente, os líderes-irmãos abandonam Mugabe, às suas derivas e crimes sem conta. Parece que houve muita e forte discussão na reunião presidencial efectuada na Tanzânia, há cerca de uma semana. O pior, a coisa é muito complicada, é que solicitaram à comunidade internacional para " levantar o regime de sanções " impostas contra o regime de Harare, narra. " Durante mais de uma década, Mugabe enraizou o seu regime com a supressão dos movimentos pró-democracia no interior do país, ao mesmo tempo que preconizava a democratização plena para os movimentos semelhantes formados nos países vizinhos ", frisa Mutash, que lança esta hipótese sibilina: " Parece cada vez mais impossível que Mugabe consiga ter mão no que se passa no Zimbabué. A presente destruição desafia mesmo a lógica perversa da auto-conservação". Está tudo dito.

FAR

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

X - Caso Litvinenko: Fundação - tipo ONG para pressionar investigações morosas

O tycoon Boris Berezovsky avançou com o dinheiro e a viúva e os amigos de Alex.Litvinenko fundaram uma associação "Pro-Justiça", de forma a não deixarem impunes os crimes crapulosos de origem política ou mafiosa. Com altos sound-bytes, exigem celeridade do inquérito em fase de instrução pela Scotland Yard. "Será impensável se existir imunidade em relação a um crime tão abominável como este", frisou o advogado da mulher da vítima.

Se bem se recordam, ainda ontem o NY Times trazia um extenso artigo do seu correspondente em Londres, sobre a abertura do processo de inquérito sobre a morte por envenenamento do antigo agente do KGB, amigo e confidente de Putin, que deixou meio mundo perplexo e interrogado sobre a potência devastadora do isótopo - micro bomba nuclear, o celebérrimo Polónio 210, que o vitimou. Nem nos mais avançados livros de espionagem jamais foi ventilado o uso e processamento de tal arma letal, de potência incalculável. Conforme esclarecemos ainda mais de 4 mil pessoas foram afectadas, de perto ou de longe, tendo 17 de um conjunto de risco de mais de 700, poderem vir a ter problemas no futuro...

O procurador-geral russo que se deslocou a Londres, ouviu, tão só, Boris Berezovsky e um exilado checheno, Akmed Zakayev. Ambos lidaram de perto com Litvinenko no exílio: primeiro na Turquia e depois na capital britânica. A chicana das autoridades judiciárias russas provocou o multimilionário, com quem Litvinenko tinha relações de extrema confiança política, pessoal e laboral. Berezovsky tirou partido das " larguezas " prodigalizadas por Ieltsin aos seus colaboradores e homens de mão, controlados pela filha e genro. Agarrou num grande pecúlio e fugiu para Londres. Aí investiu na construção/ imobiliário de luxo: a sua fortuna multiplicou-se e tornou-se inimigo do estilo do seu antigo cúmplice, a quem chama novo czar - Putin, ele que o tinha indicado para sucessor do agrónomo alcoolizado que escancarou as portas aos émulos de Milton Friedman.

Em menos de 24 horas, Berezovsky lançou os alicerces de uma terrível arma de guerra contra a democracia " vigiada", a nascer na Rússia: uma ONG, dotada de todos os meios e com uma cobertura jornalística fora do vulgar. Os reclamantes exigem celeridade das autoridades inglesas. Temem que a dificuldade de acesso a todos os itens do processo criminal se torne invencível. Por incúria ou coloração política mais acentuada. Os advogados apoiantes da novel ONG questionam-se sobre o futuro da causa principal, pois, receiam que de ambos os lados do processo de investigação, não exista " vontade e capacidade para inculpar os principais suspeitos ".


FAR

terça-feira, 3 de abril de 2007


Dili

Pintura de João de Azevedo

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

IX - Caso Litvinenko: agentes russos examinam relações em Londres

O multimilionário exilado Boris Berezovsky e Akhmed Zakayev, um dissidente checheno, foram ouvidos separadamente durante horas na sede da S. Yard na capital britânica . Mais de 4 mil pessoas foram afectadas pela poeira do polónio 210.Mas só 17,incluindo a viúva de Litvinenko, e o staff do bar do hotel Millenium foram atingidos pelos efeitos ameaçadores do isótopo nuclear, mas sem perigo de maior...

Trata-se de um dos maiores folhetins policiais do início do séc. XXI. Já referimos o parecer de especialistas atómicos mundiais sobre a "genialidade" do golpe que vitimou o antigo espião do KGB, amigo e confidente de Putin, envenenado por uma solução de polónio 210 ministrada no bar do hotel Millenium. A trama dos exilados políticos da era Putin adensa-se, sobretudo, na capital britânica. E os golpes e contragolpes, estilo James Bond, sucedem-se. Estão em jogo cumplicidades e partilhas de bens, de soma astronómica e espectacular.

Pela primeira vez na história da polícia britânica, agentes russos tiveram a oportunidade de interrogar dois amigos de Alexander Litvinenko, dois meses depois de agentes britânicos terem procedido a investigações na capital russa. Espectacular foi a audição do multimilionário Boris Berezovsky, que tem sofrido pedidos de captura e extradição por parte das autoridades moscovitas. Segundo contou ao repórter do NY Times, passou cerca de 4 horas a ser interrogado severamente pelos agentes russos. Exigiu, liminarmente, que o agente fosse examinado para ver se possuía venenos ou armas, recusou deslocar-se à embaixada russa e que tudo, capital pormenor, fosse gravado convenientemente.

Pormenor picante da audição, segundo Berezovsky assinalou ao repórter: "Embora o inquérito devesse versar sobre o caso Litvinenko, o agente inquiriu-me tão-somente sobre as minhas relações financeiras, as da minha família, as que eu talvez tivesse com Litvinenko, e quem teria beneficiado com os depósitos financeiros do morto. Eu disse-lhe: Você é um polícia das Finanças e não me parece minimamente interessado em saber, o que penso acerca de Litvinenko".

FAR

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Terra

"Somewildwish" /3 2007

Nacala .3


Da série "Era uma vez um porto, uma cidade e suas gentes". Nacala. 1995

Foto de Sérgio Santimano

EM FOCO

#Financial Times : Economia espanhola tem pés de barro...
Nessa coluna semanal indispensável- o Economists Forum, do Financial Times, com Martin Wolf e os Nóbeis Stiglitz e Summers, da Columbia University, vinha esta semana um artigo que nos fazia bradar aos céus. Andamos todos a gabar a perfomance da Espanha, e zás. O sucesso da economia de "nuestros hermanos" deriva, tão só, da pujança do mercado da Construção Civil. Todos os ítens complementares da economia- que tira vantagens de estar na Euroland- estão no vermelho. Colossal dívida externa, a segunda maior da OCDE, a seguir à dos USA, déficite orçamental tremendo a que se liga uma baixa taxa de produtividade( a cair, a cair) , a nível interno (U.Europeia) e mundial. A única coisa que parece terem feito de bom, os nossos caros vizinhos, foi terem investido muito na construção tirando partido dos juros de empréstimos baixos e da capacidade de endividamento da classe média baixa O pior é que há mudança ciclica na economia da Euroland, com a subida gradual das taxas de juro e o agravamento do desconforto do desemprego estrutural. E, por isso, a política de reajustamento vai impôr uma mudança de alvo do investimento, o que pode gerar celeuma e um agravamento dos indicadores económicos-sociais que pagarão caro pela política do pato-bravismo sem rodeios...


#Zimbabué: Mugabe está para lavar e durar?
Um membro do partido de Mugabe, o ZANU-PF, disse ao NY Times, em Harare, que o ditador, de livre vontade, permacerá à frente dos destinos do país, apesar da espiral de desastre económico avassaladora, da repressão e das movimentações da Oposição. E disse para o jornalista isto "Não meta o meu nome senão matam-me. Isto demonstra a força terrível que ele tem".
" Há um cenário explosivo à la Potemkine no Zimbabué, agora. Mugabe, o único lider que dirigiu o país depois do abandono do poder branco, ameaça em crescendo os seus adversários e exalta a possibilidade de obter um novo mandato em 2008.Mas este forcing é desmentido diariamente pelas cenas da capital: os 13 canhões de água da polícia que cercaram o desafio de futebol entre o Zimbabué e Marrocos; as recomendações efectuadas pela rádio para que "se deixe a política ser resolvida pelos políticos; a tragédia que se vive nos bairros da lata, onde a polícia destrói esconderijos e prende quem trafica gasolina com medo que isso seja para fabricar explosivos", assinala Michael Wines na sua reportagem. E ele desvenda o segredo do sistema autocrático e despótico de Mugabe: " Há um sistema de regalias/mordomias ilegais que conserva os membros do governo e aliados pessoalmente sujeitos a Mugabe, a que se junta um vastissimo arsenal de ameaças e represálias que mantém os potenciais dissidentes fora do tetaro de operações".


# Os patrões-malandros envenenam a campanha das presidenciais francesas
Mais um importante jornalista que abandonou o Le Monde e se passou para o Figaro: Laurent Mauduit, antigo redactor-em-chefe adjunto de Economia do vespertino fundado por Beuve-Méry. O problema da introdução dos referenciais do capitalismo dos accionistas na gestão das empresas, causa novos atropelos à transparência e ao jogo económico leal. E tem nítidas repercussões na actual campanha das presidenciais francesas. Mauduit levou o tema para discussão no jornal de centro-direita, e que apoia abertamente Nicolas Sarkosy.
" Quando apoiou a candidatura de Edouard Balladur, em 1995( contra Jacques Chirac), Nicolas Sarkosy denunciava a falta de sinceridade do actual PR, cujos discursos sobre a " fractura social " eram inspirados pelos intelectuais seguinistas( Philippe Séguin). Ora, 12 anos depois, ei-lo que cede por vezes às mesmas facilidades, fazendo apelo- somente quando tem necessidade - aos mesmos intelectuais. Na sua boca, a fórmula " patrões- malandros " é um erro "... de calendário. A direita tem destas coisas e os estragos causados pelo capitalismo dos " pacotes-de-acções ", dados como prebenda aos administradores principais das grandes firmas, acentuam a separação ainda mais acentuda entre a base e o topo da empresa. Sarkosy parece que defende, de vez em quando , a generalização dessas prebendas que, como assegura, Mauduit, transformaram " os patrões nos interlocutores naturais e quase exclusivos dos accionistas", eliminando a relação quadripartida entre os clientes, os empregados, os accionistas e o futuro da empresa( investimento).


#Patrick Artus: Investimento prioritário no Ensino e PME
O célebre economista e prof. na Uni Sorbonne, publicou mais um livro sobre as prospectivas do Desenvolvimento francês. Deixa nele vários alertas decisivos, que se podem adaptar à muito dificil conjuntura económica portuguesa. O que diz de decisivo: o Estado e os empresários devem investir, prioritariamente, na melhoria qualitativa do Ensino e das PME. Para recuperar a competitividade e fazer face aos golpes da Mundialização. " O que oferecemos para o comércio mundial engloba poucos bens industriais competitivos. E nos serviços, vendemos essencialmente produtos Turísticos ", frisa, para apontar: " A concorrência dos países emergentes não pára. Num ano, tão só, a China viu crescerem as suas exportações mais de 50 por cento. A França tem tendêcia a abandonar as suas produções, enquanto que o que era necessário era especializar-se e fabricar bens que os países emergentes não sabem fazer. Foi o que compreenderam muito bem países xomo a Suécia, a Alemanha ou o Japão ".Tudo lições dadas em "Le Journal du Dimanche".

FAR

Sinais


Desenho de Maturino Galvão