
Ilustração para Água na poesia. Edição da Câmara Municipal de Sintra
Depois dá umas voltas e volta à avenida Rothschild
Quando ele saiu a chuva tinha cessado. A avenida era uma moça despida
e espancada por um bando de malfeitores que a abandonaram ali,
de costas, rasgada e encharcada. Agora ouve o murmúrio das árvores
prometendo-lhe uma espécie de Segundo silêncio, o silêncio que vem
depois da vergonha e da degradação, um silêncio ténue,
uma espécie de nascimento: não erguerei mais os olhos para os montes
vou deixar-me ficar deitada num charco
de águas estagnadas e turvas. Eis o vento. Eis o rumor
das asas dos pássaros, a alinhavarem o ar húmido, descosendo,
para tornar a coser e voltar a descoser. Está tudo cinzento
e suave. Cada coisa no seu lugar. Em paz. Exalando um cheiro
bom a chuva e a terra. Tudo passou.
Amoz Oz, O mesmo mar, edições ASA
Ivone Ralha
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