segunda-feira, 10 de outubro de 2005

Joni Mitchell


Both Sides Now

Bows and flows of angel hair and ice cream castles in the air
and feather canyons everywhere, I've looked at cloud that way.
But now they only block the sun, they rain and snow on everyone.
So many things I would have done but clouds got in my way.

I've looked at clouds from both sides now,
from up and down, and still somehow
it's cloud illusions I recall.
I really don't know clouds at all.

Moons and Junes and ferris wheels, the dizzy dancing way you feel
as every fairy tale comes real; I've looked at love that way.
But now it's just another show. You leave 'em laughing when you go
and if you care, don't let them know, don't give yourself away.

I've looked at love from both sides now,
from give and take, and still somehow
it's love's illusion I recall.
I really don't know love at all.

Tears and fears and feeling proud to say “I love you” right out loud,
dreams and schemes and circus crowds, I've looked at life that way.
But now old friends are acting strange, they shake their heads, they say I've changed.
Something's lost but something's gained in living every day.

I've looked at life from both sides now,
from win and lose, and still somehow
it's life illusions I recall.
I really don't know life at all.

Autárquicas (3)

Única boa notícia da noite, a vitória da CDU no Barreiro. Ou antes, a derrota do PS: derrota da arrogância, do autismo e da pouca vergonha. E vitória de um candidato, Carlos Humberto, que é um homem de grande prestígio e fama de vertical e incorruptivel. A ver vamos, embora ache que no Barreiro não há equipa camarária que consiga por aquilo a andar. Trata-se de um problema endémico de mediocridade das elites.

Autárquicas (2)

Apoiante de Fátima Felgueiras em directo para a SIC: «Há outros que fazem pior que ela»

Autárquicas (1)

Por mais que culpe a divisão da Esquerda, por mais que insista nos males da Democracia, por mais que sacuda a água do capote, Manuel Maria Carrilho não pode fugir à evidência: a derrota do PS, e por arrasto da Esquerda, em Lisboa, é sua, antes de mais, e de uma concepção de fazer política: os eleitores castigaram duramente o arrivismo, a manipulação e o jogo de bastidores que ficaram como marca da sua candidatura. Carrilho não conseguiu, por mais marketing e Bárbara na campanha, fazer esquecer que o seu nome foi auto-imposto no PS através de um jogo sujo de alianças internas, que o seu programa era vazio e que o seu perfil era tudo menos o indicado. Quis fazer destas eleições trampolim pessoal e deu-se mal- e por arrasto levou-nos a todos a mais uma derrota amarga e mais quatro anos de política de betão e show-off populista, agora com o sr. engenheiro. Que sirva para o PS perceber de uma vez por todas duas coisas fundamentais: que o mito de Lisboa ser uma "cidade de Esquerda" acabou com estas eleições, e que se quer realmente ganhar na capital tem de apresentar um candidato de prestígio, com programa e perfil ganhador. Será que tem algum?

domingo, 9 de outubro de 2005

Terra de gente bonita



Amarante é terra de escritores, de pintores, de poetas.

Tenho orgulho na gente de Amarante.

Os cartões dos pontos

Aqueles que têm carro e precisam de ir às bombas de gasolina já se deram ao trabalho de contar o tempo que ali se perde?
Chega um cidadão à bomba, vem de trabalhar, está cansado e com fome, quer pôr algo como dez euros de gasolina, escolhe a bomba 5 porque não tem ninguém e tira a mangueira. No mostrador ainda está registado o valor do comprador anterior. O cidadão olha para o posto na esperança de que alguém o veja. Até que isso aconteça demoram uns dois a três minutos. Finalmente o mostrador fica a zeros e o cidadão pode abastecer. Sacudidas as últimas gotas do combustível para dentro do depósito, o cidadão dispõe-se a pagar. Há uma fila de 4 pessoas à sua frente. Nada de grave, pensa o cidadão para consigo, podia ser pior. Só está uma caixa a funcionar. O cidadão observa com atenção a pinta da funcionária, sorri satisfeito: a mulher tem ar de despachada, transpira eficiência por todos os poros. Já pôs aquela senhora a andar, restam três. O cidadão calcula mental e satisfeitamente que antes das sete estará em casa.
Nem pensar nisso!
Esqueceu-se o cidadão que entre os três circunstantes que o antecedem existe um grunho. É verdade. Eles estão por toda a parte e em qualquer momento surgem. Este estava no meio, armado em Virtude. O cidadão não tinha reparado nele, estava tranquilo, ou melhor, com vontade de chegar a casa o mais depressa possível. Baixara as defesas, essa é que é essa!
E, naquele momento, ali o tinha: sacando o cartão dos pontos. O homenzinho tinha abastecido 55,49 € de gasóleo e estava a pagar com notas de cinco euros todas amarrotadas e mais uma carrada de moedas que retirara dos bolsos e depositara em cima do balcão. A empregada, educada e diligentemente, ia contando. Atrás do cidadão que consultava o relógio de cinco em cinco segundos já se encontravam mais cinco outros cidadãos. A coisa estava composta, como se costuma dizer no teatro. O problema era que ali o pano nem sequer dava sinais de abrir...
A funcionária parecia um polvo, contava moedas, carregava em botões que tinham o condão de pôr fim a uns irritantes ruídos que provinham de quem estava junto às bombas, de mangueira na mão, à espera de abastecer. No fim, faltavam 3 euros e 23 cêntimos. O grunho sacou da carteira e exibiu o cartão de crédito.
Pensam que se dignou a voltar-se para trás e, pelo menos, esboçar um sorriso em jeito de pedido de desculpas? Nada. Coçou as partes baixas, ajeitou as calças e balançou um pouco os ombros. São sinais.
Depois, veio a cena dos pontos. Com aquele pagamento o grunho obtivera uma enormidade de pontos, a coisa era séria, dava para não sei quê e nem sei que mais. O grunho estava indeciso. A funcionária olhava apreensivamente a fila que se estendia nas costas largas do grunho. Coçando a grenha gelificada o grunho não sabia o que fazer, era uma decisão arriscada.
Cambada de cidadãos que não protesta, não espanca, nem defenestra um bicho assim!, pensarão os que lêem.
Pois, tudo isso é muito bonito de pensar, assim, a olhar para as letras impressas no monitor. Mas, estar lá, numa estação de serviço, ainda por cima?... Calma, já não somos muitos...
O grunho pediu o catálogo, desviou-se um nadinha para o lado esquerdo do balcão e alguns bons minutos mais tarde o cidadão arrancou da bomba, não sem antes ter aguardado mais uns minutos para observar a cara de felicidade que o grunho exibia a caminho do carro soçobrando um ‘pack’ com dois balões para ‘brandy’.

Fernando Rebelo

Foto de Ivone Ralha

Foto de Álvaro Mendonça


estamos num certo impasse
apesar da consciência
aquilo que
nos ultrapassa
deixa sempre uma parte
no que fica
como se a vida
também fosse
uma parte do que passa
vagos momentos
os sonhos os lapsos
passos efémeros
com coisas escritas nas paredes
de papeis dispersos
tão longe
que nem se sabe
temos a noção do instinto
que cobre a morte
como se fosse
aquilo que mais tememos
mas o que de facto
devemos temer
é o desespero atónito
da morte inútil ou atroz…
quando ao anoitecer
abrires as portas
haverá uma brisa de silêncio
que sobe a escadaria
percorre as salas
e os quartos que habitamos
para sair pelas janelas
que deixámos abertas ao dia…

am 03.10.03

Álvaro Mendonça

Um génio saiu da lâmpada há 65 anos

Born 09.10.1940, Liverpool, UK
*
" The thing the sixties did was to show us the possibilities and the responsibility that we all had. It wasn't the answer. It just gave us a glimpse of the possibility"
John Lennon

Soprónia Insuflávia de Alexandre O'Neill

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Foto de Ivone Ralha


Aparição

Não foi a Senhora de Fátima que me apareceu, como aos pastorinhos. Mas a Literatura. Escritor, ajoelhei, logo.
“Que diabo andam os teus amigos para aí a fazer? Artigos, cartas, reuniões, colóquios?” “Mas eu tenho alguma coisa a ver com isso? O meu domínio é o da obscuridade. Sempre que um de vós se levanta, com as luzes da sala todas acesas, para falar de mim, eu faço por conversar com a empregada, lá atrás, porque depois, tenho que ajudá-la a varrer aquilo”

Sebastião Alba, ‘Albas’. Quasi

sábado, 8 de outubro de 2005

Palancas Negras garantem qualificação histórica para o Mundial 2006

A selecção de Angola qualificou-se hoje para o Mundial 2006 na Alemanha, ao vencer o Ruanda em Kigali por 1-0, golo de Akwá aos 82 min. Os Palancas Negras conseguiram assim um feito inédito, já que é a primeira vez que Angola, ou qualquer país africano de expressão portuguesa, atinge a fase final de um Mundial. Luanda explodiu em festa e também em Lisboa centenas de pessoas festejaram nas ruas a (sofrida) qualificação, que chegou a parecer não ser possível, já que, apesar do domínio da selecção angolana, os ruandeses defenderam sempre bem, nunca deixando de ameaçar o golo em perigosos contra-ataques.
Ficam aqui os nomes dos 14 heróis angolanos que disputaram a partida: João Ricardo, Jacinto, João Pereira, Jamba, Yamba Asha, Gilberto, André Mukenga, Figueiredo, Mendonça, Flávio, Akwá, Maurito, Mantorras e Kalanga.

Música: propostas bravias, ou talvez não

Já é considerada a Billie Holiday dos novos interpretes de Jazz. Mas Madeleine Peyroux diz que é apenas uma cantora de blues e não está interessada em rótulos. Nasceu na Georgia, EUA, mas é no Quartier Latin de Paris onde deu os passos decisivos nas sonoridades que agora estão a encantar os mais atentos. "Careless Love", o seu último disco, é imprescindível para todos os que gostam da sensualidade cool das novas abordagens do jazz. Ouçam, por exemplo, a sua interpretação de "Dance Me to the End of Love", de Leonard Cohen, e depois fechem a boca, que parece mal.

Julian Cope é um génio e um louco. Formou e liderou The Teardrop Explodes, um grupo de grande projecção nos finais dos anos 70, principios dos 80. Depois flipou completamente devido aos ácidos. Veio à tona alguns anos mais tarde e começou a editar trabalhos de grande qualidade. "Peggy Suicide" é um disco antigo, de 1991, mas é um ponto alto da sua discografia. O trabalho baseia-se numa visão de Cope imaginando a Terra Mãe a atirar-se de uma falésia até morrer esfacelada nas pedras pontiagudas. Parece estranho mas este album conceptual é admirável. Para os amantes do rock não-alinhado é um disco a (re)ouvir com urgência.

sexta-feira, 7 de outubro de 2005

As praxes como elementos reveladores da pobreza geral do sistema educativo em Portugal

Quase no final de Setembro, as Universidades e outros estabelecimentos de ensino superior encheram-se de vida nova.
O cair da folha na Natureza contrastava com a renovação da nossa ‘Alma Mater’.
Tinham chegado os calouros.
Aquilo que supostamente deveria ter sido a primeira semana de aulas estava transformado numa série de manifestações do mais refinado grunhismo: a praxe, ou melhor, as praxes. Sim, porque a coisa não se poderia ficar apenas por uma partida de mau gosto. Um grunho que se preze exibe uma vasta panóplia de actividades, cada uma mais estúpida e cretina que a anterior – directamente retiradas de séries de TV com adolescentes made in USA ou de filmes made in USA que pretendem retratar a vida nas universidades dos USA. Claro, que o grunho não tem capacidade para criar o que quer que seja, limita-se a reproduzir e, pior ainda, a reproduzir-se. Adiante.
O mais grave é que o calouro gosta, acha graça, colabora e vai a todas. Afinal de contas, não é todos os dias que uma pessoa entra para a Universidade. O calouro tem já uma visão própria da instituição que irá frequentar nos próximos 5 a 6 anos da sua vida: andar por ali, semana académica, entrar para a tuna, umas frequências e uns trabalhos, sentir a vida académica, manifestações, queima das fitas, benção das capas, copos, e pronto está a coisa feita. Quais exigências, quais elevação do espírito?!
Está na Universidade. Mais nada! Tem direito a pavonear-se pelas ruas envergando o traje académico.
(Ainda hoje vi duas moçoilas no Continente do Seixal com o dito traje. O pior é que ninguém as insultou e lhes cuspiu em cima. Coitadas, pareciam tão orgulhosas...)
São os grunhos a corroer aquilo que deveria estar a salvo: a Universidade.
Chegaram lá porque os deixámos lá chegar. Querem bons empregos com melhores ordenados. Querem tratar das vidinhas e nós, quando os vimos pintalgados com verniz das unhas e rímel, sorrimos de forma alvar em vez de os atirarmos ao rio.
O calouro – forma embrionária de grunho – acha-se especial no seu casulo de inscrições feitas na cara, de humilhações várias a que se submeteu. Está a um passo de atingir a qualidade de divindade da grunhice.
Traz consigo um longo historial iniciático: as festas de Natal no infantário, nas quais fazia o papel de ajudante do Pai Natal, as festas de final de ano na Primária, nas quais fazia uma coreografia tosca ensaiada por uma professora que gostava da Aeróbica e que tinha visto o “Fame”, na Preparatória, onde fez merda da grossa mas foi a uma festa dos ‘finalistas’ no 6º ano e depois atravessou o deserto até ao 9º ano e, quando chegou ao 12º, foi a Lloret del Mar, na viagem de finalistas e foi, trajado(a) a rigor, ao Baile de finalistas. Está apto. Estudou q.b., passou pela escola, se os pais têm posses vai chegar à Universidade. Na privada, não! Eu escrevi: ’se os pais têm posses’.
Os grunhos com dinheiro têm a coisa organizada de outra forma...
Todos lemos sobre as praxes. Está tudo dito e escrito. Só não vê quem não se quiser dar ao trabalho de ver.

À margem
: perto da secretária onde acabo de digitar este texto está um manual escolar destinado ao 10º ano de escolaridade. O título é: “Ser em português”.
Há coisas do caraças!

À margem2
: um amigo enviou-me por mail um texto do Mia Couto – autor pelo qual não nutro nenhuma admiração especial – intitulado “Os sete sapatos sujos”, trata-se de uma oração de sapiência que ele foi convidado a proferir no ISCTEM, creio que em Moçambique. Gostei de ler.

Fernando Rebelo

Foto de família


O nosso 2+2=5 vai tomando forma(s). Hoje chegou o Fernando Rebelo. Ainda tem aqueles problemas dos cotas a postar, de modo que o seu primeiro tríptico dedicado à grunhice tuga será posto pela minha mão. Neste momento já somos, como mostra a foto acima, um grupo jovial e dedicado a estas coisas efémeras da blogagem. Para quem não nos conheça pessoalmente, aqui vai a legenda: Armando Rocheteau: 2º à direita da foto, está evidentemente a fazer olhinhos à moça. António Oliveira: atrás do Rocheteau, mantém o ar compenetrado e sério. José Pinto Sá: em baixo, com um chapéu que revela as suas afinidades com a moda londrina. André Carapinha: o de óculos, em cima, ar de intelectual preocupado. Fernando Rebelo: ao lado do André, com boina de anarquista. Luis Palácios: o de manga cava bonzão, fugiu com uma economista de Oxford (primeira a contar da Esquerda), desaparecido desde então; João Carapinha: evidentemente não está na foto porque chegou atrasado. Francesca Pinna: aquela que está a olhar para o Rocheteau; Ivone Ralha: rapariga deitada revelando a sua pose de artista. José Carlos Mexia: por eliminação, o que tirou a foto, uma vez que não há mais gajos na foto, só gajas. As gajas da foto: nosso grupo dedicado de Musas Inspiradoras, sem as quais não haveria paciência para estas parvoices. Aos nossos leitores, capazes de aturar estas idiossincracias, um bem-haja e muito obrigado.

Isto não é normal! (Reflexões acerca de viver aqui...)

O problema principal que se me deparou quando resolvi escrever estes textos não foi o de generalizar. Não, o que para mim se afigurava grave era o facto de me pôr a escrever sobre coisas que estão generalizadas, fazem parte do quotidiano, não passam de rotina e, pior, começam a aceitar-se como normais.
É normal escarrar para o chão em plena via pública. É normal atender o telemóvel no cinema. É normal levar o cão à rua e não levar nada para apanhar os seus dejectos. É normal buzinar às três da manhã. É normal circular a 60 km por hora na faixa mais à esquerda de qualquer auto-estrada. É normal não pedir licença, não dizer ‘por favor’ ou ‘se faz favor’, ou ‘com licença’ ou ‘obrigado’.
Em Portugal foi-se instituindo aos poucos, de há uns anos a esta parte, a prática de uma mentalidade bronca e mal-educada. Chamemos-lhe pimba, grunha, o que quisermos. Ela está entre nós e parece ter vindo para ficar.
Por me parecer que se trata de uma questão de profilaxia, gostaria de poder fornecer alguns contributos para uma caracterização deste fenómeno e, deste modo, ajudar na sua urgente erradicação.
Creio que alguns atrasos estruturais poderão explicar a proliferação da mentalidade grunha; quem não se lembra do ‘pato-bravo’ – alguém que vinha do nada e que enriquecia subitamente, obtendo um progresso material que nunca correspondia ao progresso da sua própria mentalidade.
Para poder reflectir e expor fidedignamente a mentalidade do grunho seria necessário ter uma capacidade de estar ‘de fora’, um observador. Só me ocorre aquela senhora que foi para África observar os gorilas e travou toda aquela luta em prol dos mesmos. Em relação a mim, a senhora tinha uma vantagem: no final das suas observações, a senhora regressava ao acampamento, tomava um banho enquanto ouvia Mozart, jantava de faca e garfo e dormia numa cama, não sem antes ter lido umas páginas de um qualquer livro. Estava entre os gorilas por opção e apenas uma parte do seu dia.
A minha desvantagem é a de ser obrigado a conviver com o material que observo e sobre o qual reflicto durante 24 horas seguidas. Com um grave inconveniente: sempre que tento ouvir Mozart no meu carro tenho um grunho com o hi-fi do seu carro a inundar-me de sons de martelos e dá-me vontade de ir à procura dos restos mortais do Wolfgang Amadeus para lhe dizer que essa coisa do ‘alegretto’ não funciona.
Sou, portanto, obrigado a conviver com eles. A distanciação é nada ou quase nada. Suporto-os diariamente, em toda a parte e por toda a parte.
Daqui resultará, inevitavelmente, um tom irónico, sarcástico – as mais das vezes amargo e desiludido.
Os grunhos pimbas, bimbos, o que quiserem, estão aí. Não podemos ignorá-los nem atirá-los ao Atlântico. O melhor será, pois, pô-los a nu, falar sobre eles.
Sem achar que estamos acima deles. A arrogância intelectual é uma forma de grunhice...

Aos grunhos, pimbas, bimbos e afins!
Pelo bom gosto e pelo bom senso!

Fernando Rebelo

quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Rimbaud (2)

desenho de Patti Smith

LE MAL

Tandis que les crachats rouges de la mitraille
Sifflent tout le jour par l'infini du ciel bleu ;
Qu'écarlates ou verts, près du Roi qui les raille,
Croulent les bataillons en masse dans le feu ;

Tandis qu'une folie épouvantable, broie
Et fait de cent milliers d'hommes un tas fumant ;
- Pauvres morts dans l'été, dans l'herbe, dans ta joie,
Nature, ô toi qui fis ces hommes saintement !... -

- Il est un Dieu qui rit aux nappes damassées
Des autels, à l'encens, aux grands calices d'or,
Qui dans le bercement des hosanna s'endort,

Et se réveille quand des mères, ramassées
Dans l'angoisse et pleurant sous leur vieux bonnet noir,
Lui donnent un gros sou lié dans leur mouchoir !

Imperdível

Margarida Rebelo Pinto costuma queixar-se de que a crítica literária portuguesa não lhe presta atenção. Pois bem, João Pedro George, no Esplanar, fez-lhe a vontade, e sem dó nem piedade arrasa-a de uma ponta à outra da sua obra.

O Imperialismo resgatado

Na América o uso académico do conceito "Imperialismo" vulgariza-se nas élites intelectuais da nova Direita. Leia a análise de John Bellamy Foster, editor da Monthly Review, da qual destaco este excerto:

« De acordo com a Estratégia de Segurança Nacional da administração Bush, não há limites ou fronteiras reconhecidas ao uso do poder militar a fim de promover os interesses dos Estados Unidos. Face a esta tentativa de expandir aquilo a que só se pode chamar de Império Americano, intelectuais e figuras políticas estão não só a regressar à ideia de “imperialismo”, como à visão da mesma proposta pelos seus antigos promotores do século XIX, ou seja, como constituindo uma grande missão civilizadora. Comparações dos Estados Unidos com a Roma Imperial e com o Império Britânico são agora comuns na imprensa de referência. Tudo o que é preciso para torná-la plenamente aproveitável é libertar o conceito das suas velhas associações marxistas de hierarquia económica e de exploração – para não mencionar o racismo. »

Texto completo em Resistir.Info, para o ler clique aqui.

"Ripenso il tuo sorriso"















Foto de Francesca Pinna


Ripenso il tuo sorriso, ed è per me un'acqua limpida
scorta per avventura tra le petraie d'un greto,
esiguo specchio in cui guardi un'ellera i suoi corimbi;
e su tutto l'abbraccio d'un bianco cielo quieto.

Codesto è il mio ricordo; non saprei dire, o lontano,
se dal tuo volto s'esprime libera un'anima ingenua,
o vero tu sei dei raminghi che il male del mondo estenua
e recano il loro soffrire con sé come un talismano.

Ma questo posso dirti, che la tua pensata effigie
sommerge i crucci estrosi in un'ondatta di calma,
e che il tuo aspetto s'insinua nella mia memoria grigia
schietto come la cima d'una giovinetta palma...

Eugenio Montale