segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

 
Foto de José Carlos Mexia

Da série Sevilha Posted by Picasa
---------------O que pode pôr em xeque o sistema?

Por Jean Baudrillard


"O que pode aniquilar o sistema mundial? Não, por certo, o movimento da anti-mundialização, que não tem por objectivo senão travar a desregulação. O impacto político pode ser considerável, mas o simbólico é nulo. Esse tipo de violência é ainda uma espécie de peripécia interna que o sistema pode ultrapassar, permanecendo dono-do-jogo".

"O que pode fazer aniquilar o sistema, não são as alternativas positivas ; são, isso sim, as singularidades. Ora, estas não se constituem nem como positivas, nem como negativas. Não são uma alternativa, pertencem a uma outra ordem. Não obedecem nunca a um julgamento de valor nem a um princípio de realidade política: Podem ser o melhor ou o seu contrário. Não as podemos federar numa acção histórica de conjunto. Põem em xeque todo o pensamento único e dominante, mas não se assumem como um contra-pensamento único- inventam o seu jogo e as próprias regras do jogo“.

"As singularidades não são forçosamente violentas, e existem as que são mesmo subtis, como as que se prendem com as línguas, a arte, o corpo ou a cultura. Mas existem as que se assumem como violentas- e o terrorismo pertence a esse grupo. Essas vingam todas as culturas singulares que pagaram pelo seu desaparecimento como o preço de instauração da potência mundial única“.

(...)" Todavia, as coisas ainda não estão decididas e a mundialização ainda não ganhou. Face a esta potência homogeneisante e dissolvente, vemos surgirem por todo o lado forças
heterógeneas- não só diferentes como antagonistas. Para lá das resistências cada vez mais vivas à mundialização, de ordem social e política, é preciso reconhecer mais do que uma recusa arcaica: uma espécie de revisionismo implacável em relação com as conquistas da modernidade e do ´progresso`, a rejeição não só da tecnoestrutura mundial mas também da estrutura mental de equivalência de todas as culturas ".

* In Power Inferno, par Jean Baudrillard

FAR

Nota bene: O blogue precisa de pensar e avançar na apresentação de novas propostas de combate aos falsos encantos do pensamento único.Urge incendiar os momentos brilhantes de audácia, coragem e perfídia que também motivam a nossa prática teórica e artística. Fica o convite para continuarem e fazerem melhor, claro.

A ler

"Pinochet e o Milagre com Pés de Barro" do Luis Rainha, no Aspirina B. Factos e números que desmontam totalmente o suposto "milagre económico chileno" do ditador e dos "Chicago Boys" de Friedman.

Manuel

A partir de hoje o 2+2=5 ganhou um novo membro, o Manuel Neves, que já colaborava com os seus textos e que passa a membro efectivo. Será a voz mais jovem do blogue, o que é grande responsabilidade. Bem vindo!

O Geração Rasca promoveu uma eleição entre os bloggers para os melhores blogues de 2006. O nosso 2+2=5 foi votado em 9º lugar na categoria "Melhor Blogue Colectivo", e se clicarem no link vão ver que em excelente companhia, que muito nos honra. Daqui agradecemos desde já a todos os bloggers que votaram em nós, na certeza que esta distinção nos dará mais força para continuar.

domingo, 10 de dezembro de 2006


Dia 13 de Dezembro a O.T.A (Oficina de Teatro de Almada) volta a apresentar o Recital de Poesia Satírica intitulado Como é Diferente o Riso em Portugal. É um espectáculo – recital construído com textos de vários poetas portugueses. Com interpretação de Pedro Bernardino e Fernando Rebelo, este recital foi estreado na última edição da Quinzena da Juventude, em Almada, no Ponto de Encontro e seguiu depois para o Teatro Extremo entre Abril e Maio do presente ano, mais recentemente esteve no Cinearte (Barraca) e no Ondajazz.

O local de actuação é no Santiago Alquimista às 21:30h. Tel : +351 218873064

Quem já teve oportunidade de ver riu bastante e quem sabe pode sempre voltar e trazer amigos...

Venham passar um serão diferente e divertido!

Passem a palavra,s.f.f.

Abraços

O.T.A
 
Foto de FFC

Chinatown, Yangon, Myanmar. Novembro de 2006 Posted by Picasa

Dossier Guerra no Iraque: Kenneth Pollack lança avisos no N.Y. Times

O politólogo especialista do Médio Oriente na Brookings Institution aconselha que os EUA apliquem com planificação prévia o plano do ISG para iniciar conversações com o Irão, que a administração Bush-II tinha congelado...

Relatório do Grupo de Estudos do Iraque (ISG) nas livrarias e imediata polémica construtiva nos USA. Como não posso ler tudo, e já me habituei ao NYT, que considero fantástico e com uma superlativa performance política e técnica, 48 horas depois da saída do relatório Baker/Hamilton & copains, eis-nos no início de uma polémica avassaladora de que já demos notícia com as reacções de R. Dreyfuss( The Nation) e R.Kaplan( Atlantic M.). O politólogo Kenneth Pollack, grande especialista do Médio Oriente e Golfo Pérsico, autor de diversos livros sobre essa problemática, aponta no artigo publicado que " Não podemos simplesmente esperar que o Irão salve o Iraque para nós. Nós americanos precisamos de um novo, prático e exequível plano realizado por nós. Só então saberemos de que forma é que o Irão melhor nos poderá ajudar, e o que desejaremos pagar para essa ajuda. Falar com o Irão sem ter o tal plano, seria infrutífero ou mesmo absurdo ".

Pollack recorda que a administração GW Bush ostracizou e cortou os anteriores contactos com o Irão, depois de 11/9 de 2001. " Já devíamos ter comprometido o Irão no Iraque há anos a esta parte. Antes e durante a guerra no Afeganistão, os iranianos foram muito prestáveis para com os USA: Eles apoiaram a nossa raiva contra Al Qaeda e os talibãs; e tomaram a iniciativa de nos fornecerem assistência nas informações secretas, logística, diplomacia e também sobre as políticas internas do país em causa", frisa.

" Com a mudança de objectivos dos EUA focados para Saddam Hussein, os iranianos sugeriram que teriam querido cooperar também acerca disso. Infelizmente, a administração Bush declinou a oferta, preferindo agregar Teerão com Baghdad e Pyongyang no " eixo do diabo " ", acrescenta para sustentar: " Nada disto quer sugerir que o Irão estava disposto a ajudar-nos a não ser por razões de iniludível interesse próprio, ou que isso pudesse significar que se tinha desvanecido a antipatia que nutre por nós. Simplesmente isso significava um real pragmatismo e estar em afinidade com as opções que mutuamente nos implicavam, o que já tinha sido bastante bom ".

Relatando que o Irão financia, apoia e forma a maioria das milícias xiitas iraquianas a operar no terreno, Pollack diz que isso podia ser muito útil para tentar a paz civil entre as facções desavindas numa guerra perigosa. E pontua: "Temos de ter muito cuidado, contudo para não sobrevalorizar a influência do Irão. Os problemas no Iraque não foram criados pelos iranianos, nem o Irão os pode resolver na totalidade ". O politólogo pondera que se houver chantagem dos iranianos para inflectir o comportamento das milícias e dos grupos armados que ajuda, no sentido de os tentar desarmar e obrigar a sentar para negociações, talvez ocorra o caso deles não se importarem com o fim da ajuda múltipla iraniana.

FAR

1. Don´t count on Iran, por Kenneth M. Pollack, NY Times 9/10. December 2006

Sinais

 
Desenho de Maturino Galvão Posted by Picasa

sábado, 9 de dezembro de 2006

Da simplicidade na Poesia


Sometimes I Feel So Lonely

You can't be redeemed, boy
You can't be redeemed
Life is just a dream, boy
You can't be redeemed
Nothing's as it seems
You can't be redeemed

Everything's permitted
Nothing' really true
Live by side of life, boy
Doin' what you do
Nothing's as it seems
You can't be redeeemed

Sometimes I feel so lonely...

Primal Scream, do álbum "Riot City Act", 2006

Kafavis (1)

PARA QUE VENHAM

Uma vela, mais não. A sua luz ténue
é mais adequada, mais brando te assombras
quando vierem do Amor, quando vierem as Sombras.

Uma vela, mais não. Para não ter hoje à noite
o quarto grande iluminação. Dentro do enleio inteiro
e da sugestão, e com a pouca luz-
assim no enleio hei-de ter visões
para que venham do Amor, para que venham das Sombras
 
Foto de José Carlos Mexia

Da série Sevilha Posted by Picasa

Atenção!

Para o próximo Referendo Nacional, as inscrições ou alterações só são admitidas até ao dia 12 de Dezembro, inclusivé.
Os cidadãos eleitores que não procedam à sua inscrição no recenseamento eleitoral no prazo indicado ficarão impedidos de participar no Referendo Nacional.
Do mesmo modo, os cidadãos que residam em freguesia diferente daquela em que se encontram inscritos no recenseamento eleitoral, ficarão impedidos de proceder à transferência da respectiva inscrição para a freguesia em que actualmente residam.


Via Tugir
 
Pintura de João Fróis Posted by Picasa

The Iraq Study Group: O que dizem in vero os média norte-americanos

Fomos ler. Há o belíssimo texto da Maureen Dowd no NYT. Um assombroso de Robert Dreyfuss in The Nation ; e o do ex-neo-con R. Kaplan na The Atlantic Monthly

Dreyfuss diz que o relatório do Grupo de Estudos do Iraque (ISG) põe a correr a ideia da retirada das tropas lideradas pelos EUA no Iraque, o que é positivo; por outro lado, critica a posição do grupo que acredita a tese de que os aliados ocidentais podem continuar a sustentar o governo iraquiano quasi-inexistente e fortalecer as suas viciosas e sectárias forças em armas, o que é " um pequeno terrível defeito " do documento, assevera. O analista político acrescenta: " As principais características do documento mostram o total descalabro da política de Bush que conduziu o Iraque e o Médio Oriente à beira da catástrofe. Como é evidente, os EUA devem fazer um volte-face total", iniciar a retirada das forças de combate e todo o resto do contingente até 2008. Além disso, "os EUA devem esforçar-se por criar uma iniciativa diplomática que reúna os vizinhos do Iraque - incluindo a Síria e o Irão -, a Liga Árabe, a ONU, a Conferência dos países Islâmicos e toda a série de entidades mundiais para prevenir que o caos se instale.".

E Dreyfuss vai mais longe e descobre o nó górdio que o relatório aponta para ser resolvido." Os EUA devem renunciar a qualquer tipo de ideias para tentar estabelecer bases permanentes no Iraque, rejeitarem a ideia de que procuram controlar o petróleo e, acima de tudo, devem procurar estabelecer o quadro de uma urgente unidade nacional. Para a realização de tal, o ISG propõe que os EUA falem directamente com Muqtada al-Sadr, com os líderes das milícias e com os chefes dos grupos de guerrilha. Chegou a hora de falar com eles. E para coroar todo esse esforço, o ISG advoga a reabertura do processo de paz israelo-palestiniano", sublinha. " O relatório não soletra uma só palavra sobre a ´vitória` no Iraque. Acima de tudo e com o máximo de cautelas, Baker afirmou que a ideia de permanecer no Iraque não é mais viável ", aponta.

Dreyfuss fala das reacções positivas de Bush face ao " insulto " que constitui o relatório sobre a sua política. E adverte: " A situação é tão grave que até o presidente o reconhece. Os EUA, disse o senador democrata Hamilton numa entrevista à CNN, não tem meses mas só semanas, talvez dias para agir para acautelar uma possível guerra civil incontrolável e um conflito regional adicional ". E foi mais fundo ainda:" Embora todos os elementos do ISG o quisessem dizer - como o fez o ministro da Defesa Robert Gates - que os EUA não estavam a vencer no Iraque, foram relutantes em fazer face à verdadeira verdade: os EUA estão a perder ; na verdade, a guerra está perdida ".

Robert Kaplan, um recém escapado membro dos neo-cons de Rumsfeld, tenta recuperar a margem de manobra da administração Bush face aos efeitos duplos provocados pela publicação do relatório. " On the one hand, it has been a catalyst to force the Bush administration to initiate its own policy reviews, and step up its own diplomatic initiatives. That is an unmitigated good. On the other hand, by essentially making an end run around the Administration, the group risks seriously undermining it". Está tudo dito. Só que os democratas maioritários nas duas câmaras parecem determinados a implementar as orientações do relatório Baker/Hamilton. Um bom braço-de-ferro em perspectiva.

FAR

1) Robert Dreyfuss, The Iraq Study Group: A fatal Flaw. The Nation.

2) Robert Kaplan, The Iraq Study Group. The Atlantic Monthly

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Algumas considerações rápidas sobre os anti-escolha e outras acerca do "Sim"

Acerca dos que vão votar "não" no próximo referendo, queria deixar algumas considerações:
Os do "não" usam liberalizar e outros vocábulos como táctica. Coisa baixa e cínica. Qualquer um percebe que o mercado do aborto clandestino sim, está liberalizado. Fala-se de despenalização, que é bem diferente.
Falam depois, com uma leviandade que me assusta, de vida. Irrita-me. Porque não tenho quaisquer dúvidas que um feto é vida humana. Mas tenho sérias dúvidas que seja uma pessoa (que é bem diferente). Mais, quem usa o argumento da vida deve, por uma questão de coerência, pedir a alteração da actual lei, que permite o aborto nos casos de malformação e violação. Ora, nesses casos, a menos que vida tenha um contexto moral, também se está a falar de abortar vidas. E, portanto, esses coerentes querem que as mulheres tenham filhos da pessoa que mais odeiam (só para dar um exemplo).
Temos ainda os que acham que a actual lei está bem como está, e que, de tão bonzinhos, até acham que as mulheres não devem ser julgadas. Em primeiro lugar, a manutenção da actual lei não permite combater o problema do aborto clandestino, e esse é o grande problema da nossa lei. Em segundo, querer uma lei assim mas sem julgamentos é querer um Estado que tem leis que não cumpre. Adianto ainda que quem quiser apenas culpa diminuta, não combate a condenação moral e a humilhação das investigações.
O grandíssimo problema que afecta as pessoas anti - escolha que até são mesmo bem-intencionadas é acharem que o aborto passa a método contraceptivo. O primeiro erro desta afirmação é que o método contraceptivo é algo que impede a implantação (definição que inclui a pílula do dia seguinte). O segundo é que, como é óbvio, nenhuma mulher gosta de abortar. A prova disso é que cerca de 90% das mulheres portuguesas que aborta em clínicas espanholas só o faz uma vez (segundo as estatísticas das mesmas clínicas).
Por último, o irritante argumento os nossos impostos vão pagar isso?. Nem merece resposta, mas aqui vai: estou-me nas tintas para os custos do aborto para o défice. Mas só para que fique bem claro, o aborto até às 9 semanas é médico e não envolve internamento (apesar de precisar de acompanhamento).

Algumas notas sobre o Sim:
- A Organização Mundial de Saúde (que não consta que seja um movimento pelo Sim nem pelo Não) tem directivas no sentido de não existirem leis restritivas. Diz ainda que, como é óbvio, no início o número de abortos subirá - dado que antes não se sabia quantos havia! (alguém acha que uma mulher vai chegar às Urgências do Hospital e dizer "Acabei de cometer um crime, abortei clandestinamente."?) - mas que de seguida desce bastante.
- O aborto é um problema de saúde pública. Infecções, esterilidade, morte. E em toda a Europa (excepto Portugal, Irlanda e Malta), a única maneira de o combater é a despenalização. Nem toda a gente sabe tudo sobre métodos contraceptivos e, mesmo para quem tem informação, estes falham.
- Não há qualquer relação entre trauma psiquiátrico e o aborto. Há diversos estudos científicos, com amostras significativas, que o demonstram.
- O sim engloba o não, dado que quem não quiser abortar, não aborta. O não exclui o sim.

(Desculpem a pressa, mas prometo escrever mais pormenorizadamente sobre o assunto. En passant: vá ao Médicos Pela Escolha )

Manuel Neves
 
Foto de José Carlos Mexia

Da série Sevilha Posted by Picasa

Ao que eles chegam

No Blogue do Não ocorre uma curiosa discussão semântica sobre a despenalização da IVG. O André Azevedo Alves, um liberal-a-toda-a-linha, avisa os incautos que o que se prepara é a liberalização pura e dura do aborto (isto é para assustar, claro, que aqui-d'el-rei, é só ver mulheres abortadeiras compulsivas à porta de clínicas sombrias geridas por assassinos de bata branca). Mas o António Costa Amaral, outro liberal do mesmo género (e o inventor do" socialismo sexual"), pensou um bocadinho e corrigiu: não, isto não é liberalizar, como é que podia ser, um liberal contra a liberalização de qualquer coisa? Por isso, elucida os seus pares: trata-se de legalizar, o que é completamente diferente, claro. É que se prepara a intromissão da horrenda mão do Estado através de regulamentações, e- imagine-se só- impostos sobre o acto médico. Em coerência, se a tivesse, o António Costa Amaral só poderia chegar a estas duas conclusões: que se se tratasse de "liberalizar", ou seja, deixar funcionar o mercado sem restrições, teria que estar de acordo (o quê? Esta parte está-me a deixar confuso, noto aqui uma contradição, bzzz, bzzz, malfunctioning...); e que, após a vitória do sim no referendo, esperamos vê-lo a defender o fim das taxas moderadoras também para a IVG.

O papão*

Graças ao António Costa Amaral descobrimos uma nova expressão: o socialismo sexual! (ver nos comentários a este post).
O que será isto? Será o sexo colectivista (orgias, deboche)? Será o igualitarismo sexual (feios, bonitos, magros, gordos, brancos, pretos, tudo ao molho e fé em Deus)? Será o sexo fraterno (incesto)? Será o Estado a intrometer-se no meio do casal, à maneira da velha Igreja, tipo "só posição do missionário, e sodomia dá direito a inferno"?
Há palavras que metem tanto medo que fazem alguns cair no ridículo...

* O título deste post deve ser interpretado de forma dúbia.

Sinais

 
Desenho de Maturino Galvão Posted by Picasa

Hugo Chàvez quer ser poder pelo menos até 2021...

O presidente venezuelano conseguiu vencer pela terceira vez consecutiva. Vai
purgar o que resta do aparelho de Estado e formar partido político unipessoal...



O mundo gira e a América Latina (e do Sul) torna-se vermelha. Com todos os arcaísmos de uma solução populista feita com swing e dicas de Cuba. Lula da Silva pode dizer adeus ao seu sonho de liderar a alternativa socialista: encontra Hugo Chàvez na linha da frente e pleno de flexibilidade táctica e entusiasmo eleitoral. O Le Monde e o NYT fornecem-nos as melhores análises, em ordem a perceber a mudança e as chances: o presidente venezuelano quer ficar no poder até 2021. Se puder, claro. Porque tudo depende da balança do preço do barril de petróleo, no caso da Venezuela; e das exportações mineiras e de soja no que concerne ao futuro imediato do projecto político do Brasil.

A reeleição de Lula e o tri de Chàvez deitaram por terra os sonhos armadilhados por Bush para constituir um M.E.R.C.O.S.U.R. à sua medida, uma cópia mais desigual e atrabiliária do mercado comum que liga os EUA ao México e ao Canadá, a N.A.F.T.A. Os dois populistas afastaram a perspectiva de uma solução neoliberal de efeitos rocambolescos. É que o poder diabólico das leis do mercado puro subvertem tudo, se tal for necessário, hoje, a uma escala de accionista atomizado e desarmado...

Chàvez venceu em eleições livres contra a oposição social-democrata que se aliou à extrema-esquerda. Controlava o governo provincial em absoluto e venceu agora em 23 estados e na capital. " Chàvez deve tentar segurar ao máximo a sua supremacia, precavendo-se contra concorrentes potenciais do seu próprio espaço político"." A prioridade agora é o que ele apelida de ´revolução na revolução `, afirma Steve Ellner, docente da Universidade do Oriente no leste da Venezuela. " Isso quer dizer um processo de purga dos que cometeram excessos de corrupção ou de burocracia. Em Janeiro vamos ver as cabeças rolar ", acrescenta.

" Chàvez não é um ditador mas também não é Thomas Jefferson ", adiantou o conselheiro principal do candidato da oposição, Manuel Rosales. Este conseguiu 40 por cento dos votos nacionais, apesar de liderar um só pequeno estado, Zulia. A Imprensa livre da capital apoiou a campanha do vencido, diz o enviado especial do NY Times, Simon Romero. O boom petrolífero venezuelano permitiu a adopção de programas sociais extremos, nas áreas da Saúde, Educação e nível de vida.

Com a maior taxa de crescimento económico da América do Sul, a Venezuela cresce a um ritmo de 10 por cento e a nova classe empreendedora, os bolivaros-burgueses, compram tudo o que há de mais caro, esgotando os expositores da mundialmente famosa joalharia," Cartier ", e adquirindo BMW e Audi´s a um ritmo alucinante., salientam os enviados especiais do Le Monde. Para lá da venda dos utilitários da Ford e da GM/Opel atingirem as 300 mil unidades. Por outro lado, os depósitos bancários cresceram 84 por cento nos últimos doze meses. Um dos mais célebres economistas da oposição, Miguel Penfold-Becerra, do Instituto de Altos Estudos Económicos, jura que " o petróleo restituiu um período de harmonia, tendo contribuído para uma certa paz social e estabilidade ".

FAR

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

 
Desenho de João Fróis Posted by Picasa

O xiismo à moda de Khomeiny

Um artigo muito desigual do Monde Diplomatique deste mês traça, em termos sintéticos, uma definição do xiismo dominante sob labéu do Irão, onde as eleições do dia 18 para o Conselho dos Sábios revelam três candidatos para o cargo máximo da República Islâmica

O NY Times tem mais qualidade, profundidade e rigor nas análises políticas do que o Le Monde Diplomatique, a cartilha do Attac e da nebulosa altermundialista. Trata-se mesmo de uma constatação que salta pela força da evidência. Andei na Biblioteca a consultar mundos e fundos sobre o Islão com a preciosa ajuda da Enciclopedia Universalis. As eleições para o Colégio dos Sábios iraniano realizar-se-ão a 18 do corrente e, como lembra um recentíssimo artigo de Seymour Hersch na N. Yorker, os neo-cons em saldo tentam aliciar GW Bush a bombardear o Irão. A hipótese não é muito credível, mas nunca se sabe o que é que o presidente norte-americano pode ser capaz de fazer. Tudo isso me determinou a prosseguir a procura da caracterização exequível do xiismo dominante e invasor. E caí sobre uma definição avançada pelo último número do M.Diplomatique, no interior de uma artigo fracote e rasteiro.

O xiismo ortodoxo preconizado pelo ayatollah Ruhollah Khomeiny foi definido pelo cérebro da Revolução iraniana de 1979 num axioma intitulado teoria do velayat-e faqih, ou governo dos visionários ou doutos. Como já tinhamos assinalado, o xiismo dita que a sucessão de Maomé pertence por direito a Ali, o genro do Profeta, e aos seus sucessores. O último dos herdeiros, o imã Mohammed, desapareceu em 874 e tornou-se num iman escondido, que há-de surgir para restaurar o reino da Justiça: Esperando pelo seu regresso, quem é que deve dirigir os crentes? Para Khomeiny, esse papel deve pertencer aos mollahs ( " teólogos") e ao faqih ( " douto") vigário do imã escondido e delegado da soberania divina.

A próxima eleição do Guia Supremo deve apresentar três candidatos: o actual ayatollah Khamenei (que muitos dizem seriamente doente), o candidato do PR Ahmadinejad, Ali Yazdi e um candidato-surpresa fruto de uma cisão no topo dos Guardas da Revolução. Com uma economia mono produtiva, no essencial, as tendências inflacionistas rodam os 20 por cento e as restrições votadas pela ONU podem manifestar-se pelo aparecimento de grandes dificuldades económicas para a obtenção de créditos urgentes para fazer face às despesas de um sistema social dominante e asfixiante.

FAR

Pinochet (1)

Os abespinhados defensores do mercado-livre-acima-de-qualquer-outra-coisa estão sempre prontos a encontrar qualidades insuspeitas nas piores ditaduras de Direita; Pinochet, por exemplo, terá "salvo o Chile da bancarrota", nas palavras do jcd. É interessante esta relativização; por mais que o neguem, nota-se a obsessão em encontrar aspectos positivos nestes regimes horrendos. É verdade que nos responderão que, existindo, estes devem ser apontados. Seja. Mas é igualmente verdade que nunca os vemos fazer o mesmo quanto às igualmente horrendas ditaduras de Esquerda. Por exemplo, dizer que "o sistema de saúde de Cuba funciona excepcionalmente bem"; ou que "nos paises do antigo bloco socialista quase toda a gente tinha formação superior". Suspeitamos que isto acontece por não ligarem pevas a pormenores como o sistema de saúde ou a educação, ao contrário do sagrado direito de enriquecer. Passado isto, convinha lembrar a estes "liberais" que tipo de regimes estão eles a branquear: Trujillo, na República Dominicana, ordenava que os opositores fossem atirados de helicóptero vivos para a lava de um vulcão incandescente; Pinochet preferia atirá-los de avião para o mar, a suficientes quilómetros da costa, tal como Videla na Argentina.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Sinais

 
Desenho de Maturino Galvão Posted by Picasa

Guiné-Conacry: ditador jura que chineses são insubstituíveis!

Lansana Conte, antigo sargento do exército colonial francês, que comandou um golpe de Estado vitorioso em 1984, vai ter 5 biliões de dólares de investimento estrangeiro nas maiores minas de bauxite (alumínio) do Mundo...

Vamos seguindo o fio à meada, se estiverem de acordo. Já vimos o lugar cimeiro conquistado pelos chineses em Angola, que deita por terra todas as aleivosias caricatas dos nossos burocratas empedernidos em tapar o sol com a peneira. Como estamos atentos e, ao contrário do que diz J. Pacheco Pereira, somos dos que consultam a Net e lêem os jornais em papel, deparámos com uma entrevista ao Le Monde ( 1 do corrente) do ditador Lansana Conté, que governa com mão de veludo a Guiné Conacry. O certo é que o sucessor infeliz de Sekou Touré evitou banhos de sangue como o fizeram Taylor e sequazes na Libéria e na Serra Leoa; e deu mesmo guarida a centenas de milhares de foragidos daqueles territórios mártires contíguos.

O enviado do Le Monde, Serge Michel, teve que deslocar-se à terra natal do chefe de Estado guineense, a duas horas da capital, para o entrevistar. E encontra o número 1 guineense a dormitar depois de um trabalho de campo árduo num arrozal. Que estilo! A Guiné Conacry é considerado um dos países mais corruptos do Mundo da actualidade e o presidente-ditador está doente. Já só recebe os ministros a despacho por obrigação e debaixo de uma mangueira: as exacções de Touré deram origem ao diálogo perfilhado por Conté, antigo sargento do exército francês com tarimba na Argélia colonial. Ele já é dos ditadores soft mais antigos de África pela aplicação desse método melífluo e viscoso.

Se muitos observadores se inquietam com o futuro político da Guiné-Conacry. O presidente à vie sonha em ser agricultor! Para lá das enormes riquezas mineiras - bauxite ( refinado dá o alumínio) possui grandes jazidas de ferro e diamantes. E ao largo da costa, ao que tudo indica, surgiu petróleo. Por tal motivo, os chineses instalaram-se já nas paragens como o fizeram com a Nigéria e Angola. A corrida às matérias-primas transformou-se mesmo num jogo de grandes potências! Lansana Conté jura que os chineses são insubstituíveis! Ele lá sabe porquê...Os ministros-soldados guiam carros ou 4x4 que custam 120 vezes o seu salário oficial (500 Euros) e a grande maioria do povo sobrevive com menos de 1 dólar por dia; enquanto os chineses se dedicam nas horas livres a lavrar os arrozais...

FAR
 
Foto de José Carlos Mexia

Da série Sevilha Posted by Picasa

Mãos ao ar


Mãos ao ar é um blogue de malta do meu Sporting.

A não perder.

Islão: cisma e heresias criam rivalidade suni/xiita

O Próximo e o Médio Oriente mostram uma poli-identidade cultural e política divergente,inassimilável entre-si e muita vezes antagónica...

A assimétrica, múltipla e diferenciada civilização árabe, que viveu sob o jugo otomano mais de cinco séculos, incarna ainda hoje o cisma provocado, depois da morte de Maomé e mais tarde do assassinato do seu genro e primo Ali, pela exposição de duas formas de práticas morais e sociais autónomas, a sunita e a xiita, sendo esta última a prevalecente no Irão, Iraque e grandes zonas da Síria e do Líbano, e caracterizada por uma espécie de imanato escatológico que só se reconhece na ressurreição do profeta, fantasma que a revolução de 1979 de Khomeiny acicatou de forma perversa a nível mundial. Na intersecção das lutas políticas e religiosas entre as duas sensibilidades muçulmanas tipo, surgiu a figura do jihad, a apelativa guerra santa que Jean-Pierre Filiu, historiador e diplomata, dissecou em textos de grande valor estratégico. Clique aqui .

Há dois tipos de jihad - o pequeno e o grande - caracterização induzida da palavra de Maomé. " O primeiro é espiritual e místico, sendo um combate contra as pulsões negativas que coabitam em nós. O segundo é militar. Este tem um valor menor do ponto de vista da religião "., avança Filiu. Só que, observa, depois da época das cruzadas, o xiismo passou a ser combatido pelos integristas islâmicos que focalizaram toda a força das armas também contra os mongóis que tinham arrasado o Irão, o Iraque e o califado de Bagdad, na segunda metade do séc. XIII. " O jihad( combate) representa a expressão de uma comunidade unida face a uma ameaça ressentida colectivamente como essencial. Mas esta ameaça, que Al-Qaeda designa como essencial para o conjunto dos muçulmanos, sendo longínqua na maioria dos casos, o inimigo visado acaba por ser o outro... muçulmano ", frisa.

" Al Qaeda significa base em árabe. Ela contradiz fundamentalmente o seu próprio programa de intenções: não tem base, nem sociológica, nem étnica e nem territorial. Não se pode falar propriamente de projecto: é uma mensagem mínima repetida até à hipnose ", comenta para ainda postular: " É evidente que Al-Qaeda distinguiu-se mais como base de dados que como base territorial, logística e concreta ". E, na longa e terrível destruição inter-comunitária que sacode o Iraque, escalada mortífera agravada depois do Verão, o historiador descortina uma marca do jihad radical que Moqtada al-Sadr, de inspiração contraditória no xiismo mais sectário, insiste em espalhar ao som de atentados e represálias sem fim.

FAR

Desenho de João Fróis Posted by Picasa

domingo, 3 de dezembro de 2006

Marx contado aos pequeninos


Fotos de FFC

Shwedagon Pagoda, Yangon, Myanmar. Novembro de 2006 Posted by Picasa

Sinais

 
Desenho de Maturino Galvão Posted by Picasa

TLEBS?... Não, obrigado.

Recém-chegado, folheio o último número do JL. Ali se escreve sobre a TLEBS (Terminologia Linguística para os ensinos Básico e Secundário). Soube, também, que há por aí um abaixo-assinado contra a dita TLEBS. Acho bem e desde já podem contar com a minha assinatura.
Após quase 16 anos a leccionar a disciplina de Oficina de Expressão Dramática vi-me, no presente ano lectivo, compelido - mercê de sucessivas reformas - a leccionar a disciplina de Português. Para além de nem me ter sido dada a oportunidade de efectuar qualquer tipo de reciclagem e actualização, vi-me perante manuais que usavam termos que me eram completamente alheios.
Recuei vinte e muitos anos no tempo e cheguei ao meu primeiro ano como professor. Nessa altura a disciplina de Português vivia sob o jugo da gramática generativa: árvores e sintagmas e uma confusão danada... Os alunos vinham do 2º ciclo com diferentes aprendizagens em termos gramaticais, ninguém se entendia.
E agora, duas décadas depois, vem esta aberração.
Tanto quanto me foi dado saber poucos professores de Português dominam efectivamente estes conceitos já que, na prática, não tiveram formação suficiente para leccionar de forma segura estes conteúdos.
Anda este Ministério a brincar com o nosso Ensino.

sábado, 2 de dezembro de 2006

 
Foto de José Carlos Mexia

Da série Sevilha Posted by Picasa

Ética

A época é complicada para escrever porque a sobrecarga de trabalho (a maioria, bastante duvidoso para a minha formação enquanto futuro médico) é imensa.
Ainda assim, é sempre possível encontrar espaço para – no meio de todo aquele surrealismo – nos divertirmos. Mais do que isso, não perdemos uma oportunidade para discutirmos. E claro, se possível, política. Se os professores falam de “custos” ou coisa assim (na nossa gíria “as janelas de politização”) o grupo ataca sem perdão. “Desculpe senhor professor, queria colocar-lhe umas questões...”. E a brincadeira começa.
Na cadeira de Ética Médica (onde o Regente é o Prof. Dr. Miguel Oliveira Silva, senhor de uma inteligência fantástica e bom dinamizador das aulas), nem foi preciso tanto. Grupos de três alunos apresentam o trabalho que quiserem. Nem foi preciso conversarmos muito e já sabíamos o que íamos fazer.
O que decidimos perguntar foi muito simplesmente isto: “é lícito, num plano ético, um médico contribuir para um modelo socio – económico que provoque um acesso diferencial aos cuidados de saúde, nomeadamente que doentes com recursos económicos distintos acedam a cuidados de saúde qualitativamente diferentes?”. Sem falácias nem mentiras. A pergunta é simples e directa. Fizemos inclusive um pequeno referendo entre alguns alunos e alguns médicos (já vos digo os resultados no fim).
Como não queríamos ser hipócritas, mostrámos logo as cartas: nós achamos que não. E provámo-lo logicamente. Primeiro mostrámos que a Carta dos Direitos Humanos, o Código Deontólógico, a Constituição Portuguesa e – oh, sublime ironia – o juramento de Hipócrates dão directivas no sentido da saúde ser para todos.
Depois, mostrámos como países como Cuba, Portugal, França e Noruega, com PIBs tremendamente distintos e situações diversas, tinham índices de saúde globais tão bons como os EUA, único país do top10 do Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU com sistema de saúde maioritariamente privado. Portanto aquilo que os senhores em fato de gala dizem ao país de tanga de “a saúde privada dar melhor saúde” não se verifica.
E mais: o Relatório de Disparidades da Saúde do próprio governo americano é um must see para todos os liberais e sociais democratas que adoram a privatização da saúde:
Em 11 das 13 medidas principais de qualidade de serviços usadas no relatório, os indivíduos pobres têm, de forma estatisticamente significativa (>10%), pior qualidade de cuidados de saúde do que os indivíduos ricos.
Para todas as 8 medidas principais de acesso aos cuidados de saúde usadas no relatório, os indivíduos pobres têm, de forma estatisticamente significativa (>10%) pior acesso a cuidados de saúde do que os indivíduos ricos.
Visto isto: que um país com um PIB extraordinário consegue ter piores índices de saúde do que um não – democrático, há muito que pensar acerca dos sistemas de saúde maioritariamente privados.
E a questão fulcral do nosso trabalho é se médicos que juram que a sua primeira preocupação é o doente, ao favorecerem modelos socio – económicos que conduzem a estatísticas como as dos Estados Unidos, são bons médicos. Afinal,a Ética Médica só começa no momento em que os doentes entram pela porta da sala de consulta ou quando votamos num partido que faz com que pessoas não tenham qualquer acesso à saúde, estamos a violá-la?
53 em 56 alunos disseram não à nossa pergunta. 12 médicos em 64 disseram que sim. A pergunta para quem disse que sim é muito simples:
Qual é a Ética da Ética Médica?

Manuel Neves
 
Pintura de João Fróis Posted by Picasa

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Iraque: guerra civil deslizante desencadeia opções inadiáveis

O " Le Monde " e o " NY Times " envolvem-se em conjunto na guerra etimológica mais extravagante e sinistra do início do séc. XXI

Toda a gente sabe que a política é a continuação da guerra por outros meios. Especialmente, quando se desenrolam lutas e sublevações onde a religião e as idiossincrasias se metem de permeio. Ninguém escapa a um tal flagelo. A não ser por uma ocupação manu militari camuflada ou negociada como no Líbano nos anos 80. E que veio a influenciar o impasse no conflito israelo-palestiniano depois das soluções do plano de Oslo não se terem concretizado.

O que está a acontecer no Iraque ultrapassa em muito a tragédia libanesa. E foram os EUA que espevitaram o amplexo siderante de um multi-afrontamento fratricida e étnico religioso de incalculáveis repercussões no interior dos países e teocracias do Ouro Negro, o ersatz das democracias ocidentais. Patrice Claude, o grande repórter do Le Monde, e Tom Friedman, o iconoclasta enviado especial permanente do NY. Times, publicaram no mesmo dia crónicas e relatos sobre o pesadelo iraquiano: como se caracteriza e para onde vai...

Patrice Claude, num chat veiculado pelo Le Monde, dispara logo de início e caracteriza a guerra do Iraque, nesta fase aterradora, de " guerra civil que todos os dias se agrava". Nesta dramática e dilacerante querela etimológica, Friedman postula que " o Iraque está tão desfeito que nem parece ser capaz de suportar mesmo uma guerra civil". " Há tanta gente a matar pelas mais variadas razões -religião, crime e politicas -que todas as atitudes para enquadrar o problema se tornam irrisórias ", adianta.

Patrice Claude, que cobre para o Le Monde a tragédia iraquiana, confessa ainda acreditar que o irremediável - cisão em três partes do país - pode vir a não ser verdade." É preciso saber que no Iraque, um bom quarto dos árabes, sunitas e xiitas, estão misturados e formam casais mistos. E também é preciso saber que a maioria das grandes tribos árabes do Iraque tem uma parte xiita e outra sunita. A experiência libanesa ou a de outros países onde se travaram guerras civis mostra que nada é jamais definitivo. E penso que dentro de alguns anos, pode-se esperar para que os xiitas e os sunitas iraquianos se reconciliem ", argumenta.

Friedman escreve sem tremer: " O Iraque está agora dividido em tantas e minúsculas partes entre os caciques de guerra, terroristas estrangeiros, gangs, milícias, partidos, a polícia e o exército, que ninguém parece capaz de libertar ninguém. O Iraque entrou numa fase para lá da guerra civil - caminha da destruição para a desagregação: Não representa mais a sósia árabe da Jugoslávia. É a selva de Hobbes ".

Se Patrice Claude considera que " quem manda, hoje, no Iraque são os partidos religiosos - xiitas e sunitas -" corta cerce os rumores de que se está a preparar a instauração de um Grande Emirato sunita no Iraque, beneficiando dos apoios de estados inquietos com a guerra civil, tais como e em primeiro lugar, a Arábia Saudita, o Egipto e a Jordânia, assim como algumas petromonarquias do Golfo. Já, por seu turno, Friedman joga na apresentação das suas teses: " A América precisa de fazer reais opções no Iraque, que são: ficar dez meses ou 10 anos. Ou evacuamos o contingente de uma forma faseada em dez meses, e tentamos estabilizar a situação de qualquer maneira, ou aceitamos refazer tudo de alto a baixo, não aceitando que o Iraque se desfaça, e teremos que ficar por dez anos. Isso requereria invadir o Iraque, com pelo menos mais 150 mil homens em armas, o desmantelamento das milícias sunitas e xiitas, o controlo das fronteiras e lançar a reconstrução das instituições e da cultura política ".

FAR

Leia aqui a opinião de Patrice Claude, Le Monde.
E vá por aqui aos artigos de Thomas L. Friedman, The New York Times


Fotos de FFC

Shwedagon Pagoda, Yangon, Myanmar. Novembro de 2006 Posted by Picasa

Sinais

 
Desenho de Maturino Galvão Posted by Picasa

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