terça-feira, 22 de agosto de 2006

Da Capital do Império

Olá,

Até que enfim dirão alguns de vós. Mas explico a demora: Estive ausente porque fui à guerra. Não à guerra do Médio Oriente onde o representante na terra do partido de Deus, com um pneu de lambreta na cabeça para o distinguir dos outros meros mortais, decidiu ser o primeiro árabe a dar porrada no povo de Deus. Deus vai ter que decidir em breve se apoia o partido do gajo com o pneu de lambreta na cabeça ou se apoia o povo com capachinhos a cobrir a nuca. A moral da história é que quando se ouvir gajos a falar de Deus com algo na cabeça (pneus de lambreta, toalhas de mesa, capachinhos etc.) é preciso tomar muito cuidado.
Para já contudo essa situação no Médio Oriente continua a ser como a instituição do casamento: Não tem solução. Acrescente-se a isso o facto de haver pouca geografia e muita história e ainda o facto dos franceses e europeus terem perdido a oportunidade de mostrar que são a potência que dizem ser e o resultado é que daqui a mais uns tempos vai voltar a haver porrada da grossa. (O outro resultado é que fica provado que afinal essa coisa da Europa ser uma potência são apenas “bocas” do Chirac).
Mas a guerra a que eu fui não foi essa. Fui à guerra contra a SIDA em Toronto no Canadá. Ena pai! Mais de 20.000 soldados (cientistas, pessoal médico, membros das organizações não governamentais e mais) e cerca de três mil jornalistas. Tal como em todas as guerras tudo a correr de um lado para o outro sem saber bem o que fazer, com alguns períodos de grande excitação como quando apareceu o Bill Clinton para demonstrar que ainda não foi fabricado um microfone de que ele não goste.
Ou como quando se deu a conferência de imprensa de um grupo de cientistas que falavam sobre os avanços nas experiências em uso de microbicidas para se impedir a propagação do vírus da SIDA. Uma cientista disse que os avanços são bons e que os testes indicam que os homens gostam dos microbicidas porque aumentam o prazer. Deve ser gelatinoso portanto! Houve um gajo com um brinco na orelha, cabeça rapada, assim com um ar um pouco escanzelado, com T shirt colada ao corpo e com uns gestos delicados que perguntou se havia também avanços nos estudos de “microbicidas para uso rectal”. Houve uma “vibe” de incómodo na sala, com muitos dos jornalistas a mexerem o tal rectal na cadeira e para desgosto do inquiridor a cientista sul-africana disse-lhe que até agora os resultados dos testes para uso rectal do microbicida “não têm sido muito encorajadores”. Eu quis logo perguntar como, onde e quem é que fazia os testes em uso de microbicidas rectais mas tenho que admitir que tive vergonha e fiquei caladinho.
Também tive um pouco de medo de ser vaiado porque numa outra conferência de imprensa ninguém gostou do facto de eu ter perguntado porque é que se gastam milhares de milhões de dólares na luta contra a SIDA quando dez vezes mais pessoas apanham malária e mais crianças morrem de malária. Eu perguntei se isso se devia ao facto da malária não ser uma “doença do norte” (ou seja que não afecta a brancalhada europeia ou americana) ou de ser menos “sexy” que a SIDA. Ninguém gostou disso e muito menos da analogia e fui fuzilado com olhares de indignação. (Já não me lembro qual foi a não- resposta que obtive, apesar de me lembrar que alguém repetiu muitas vezes qualquer coisa sobre a “excepcionalidade” da SIDA)
Confirmei por outro lado que os tempos mudaram. Numa reunião sobre direitos de homossexuais um gajo fartou-se de falar de “straights” e eu pensei que ele estava a falar de gajos que não fumam “passa”. Há uns anos atrás – alguns de vocês recordam-se disso com certeza - um “straight” era um gajo que não fumava “passa”. Agora um straight é um gajo que não apanha no…. ou melhor… que só gosta de gajas. Presumo que um gajo que só gosta de gajas muito boas seja um straitão. Mas isso só mostra que estamos a avançar e que a língua reflecte esses avanços, não? (Nos meus tempos um gajo que fumava “passa” era um “freak” ou “fricalhão” mas fui informado por uma gaja grande e muito agressiva que esse não é o nome que se dá aos gajos que só gostam de gajos e gajas que só gostam de gajas.)
Mas o que eu gostei mais foi da “aldeia global”, um local enorme no centro de conferências onde as Organizações Não Governamentais acamparam para mostrar uns aos outros como fazem parte da guerra contra a SIDA e tentar justificar porque é que têm direito a uma fatia dos milhares de milhões de dólares da guerra.
Só visto porque contado vocês vão ter dificuldades em acreditar. A “massa” que se gasta em publicações de luxo (incluindo DVDs) a explicar o que cada uma dessas organizações faz e que depois os jornalistas atiram para o lixo em quantidades industriais é qualquer coisa de impressionante! Estas organizações neo-missionárias operam em toda a parte do mundo em prol dos doentes da SIDA, contra as injustiças cometidas contra os doentes da SIDA, pelos órfãos da SIDA, contra a discriminação dos órfãos da SIDA, pelos infectados com HIV, contra a discriminação dos infectados da SIDA, pelos direitos de não sem quem com não sei quê e claro está (isto é muito muito muito importante por questão de credibilidade) … contra os Estados Unidos e o George Bush.
Havia um gajo de uma organização de LGBTs que todos os dias se vestia de mulher e distribuía panfletos. (vocês estão a perguntar: O que raio é LBGT? São as iniciais de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais. Não tenho espaço para voz explicar a diferença entre os Bs e os Ts e francamente não sei qual a importância disso na luta contra a SIDA)
Eis algumas de outras organizações que estão envolvidas na guerra mundial contra a SIDA : “ Prevenção de HIV/SIDA entre trabalhadores imigrantes na Tailândia”, “Direitos Sexuais e direitos nos países muçulmanos” ( O gajo do Líbano com o pneu de lambreta na cabeça não deve gostar desta), “Rede Global de Pessoas que vivem com HIV/SIDA”, “Comunidade das mulheres que vivem com HIV/SIDA”, “Aliança da Sida e Prevenção do Sul da Ásia” “Iniciativa das mulheres livres do Mali”, “Sem limites para as mulheres” (Não sei que raio é que isto significa mas apoio) “Alimentar os órfãos da Sida pela Humanidade” e, a minha favorita “Coligação dos Surdos do Quebec”.
Quando eu informei um membro desta coligação (que não era surdo) que vinha da capital do império ficou excitadíssimo e disse-me que ia haver uma “discussão” sobre o problema da SIDA entre os surdos de Washington. Nunca tinha pensado em tal coisa mas presumo que seja um problema enorme que requer financiamento do fundo global de luta contra a SIDA.
O ano passado houve oito mil milhões de dólares gastos no combate à SIDA através do mundo. Este ano vão ser gastos 10 mil milhões e no próximo 12 mil milhões ou seja mil milhões de dólares por mês. Portanto os surdos do Quebec devem ter direito a algo mesmo que seja só para pagar as despesas de participar na conferência, não?
Para todos os combatentes da luta contra a SIDA os 20 milhões de dólares gastos em Toronto na conferência foi dinheiro bem gasto embora eu ache que os G 8 tratam melhor os jornalistas dando-lhe comida e bebida à borla o que não aconteceu na cimeira da luta contra a SIDA. (Eu descobri que na “tenda” para pessoas infectadas com HIV davam comida à borla mas ao fim do terceiro dia já havia filas enormes para se comer à custa dos infectados perante a irritação de criados indianos que não sei lá porquê usavam todos luvas de plástico)
Eu espero que dentro de dois anos no México a comissão de direcção da Associação Internacional da SIDA decida dar uma fatiazinha do orçamento para esse fim, caso contrário vou formar a “Coligação de Jornalistas das Conferências da Sida pela Alimentação à Borla – COJOCOSIAB). Espero também que o co-descobridor do HIV Robert Gallo decida ir à conferência do México. Recusou-se a ir a Toronto afirmando que a conferência era “um circo”. Deve ser parvo.
A luta continua
O vosso amigo
Da capital do império

Jota Esse Erre

domingo, 20 de agosto de 2006

sábado, 19 de agosto de 2006

Retratos de Gente

José Magalhães

O Zé andou no Liceu António Enes. Está na Austrália há já muitos anos.

Airbus

Airbus: o choque de milhões sem fundo não dá mesmo para brincar. Isto está a ficar mesmo preto na Europa. A Airbus, uma das poucas jóias da coroa comunitária, expoente máximo da colaboração entre os governos e as firmas-farol da França e da Alemanha, Matra/ Lagardere e Mercedes Benz, com muitos bancos à mistura dos dois lados da fronteira, dá sinais de grande desorientação e averba grandes perdas financeiras. A acção baixou 30 por cento nos primeiros sete meses deste ano. O poder multilateral dos consórcios envolvidos - indústria militar e unidades de pesquisa bilionárias apanhadas em falso - pode avolumar a crise latente e crescente do espaço económico europeu. E tudo se desenrola nos gabinetes fechados de Paris e Berlim, com interferências governamentais em cascata. De acordo com o magnífico Canard Enchainé, desta semana, a Airbus vai ter que entregar com percas significativas devido aos atrasos, os primeiros A-380, para as companhias do Pacífico... Singapura Airlines e a australiana Qantas. O projecto custou 12 biliões de euros. A que se juntam acréscimos da ordem dos 30 por cento. Ninguém sabe quando a Airbus começará a recuperar do investimento... Por outro lado, a substituição dos aviões militares de transporte e reabastecimento de grande parte dos exércitos da Europa, despoletou uma nova guerra entre a Airbus e a Boeing. O belíssimo semanário francês diz que os americanos apresentam mais qualidade e facilitam mesmo o pagamento. Sobre a grande ofensiva da Boeing nos jactos de longa distância, mas mais pequenos que os futuros gigantes do ar, a Airbus viu-se obrigada a rever (mais uma vez...) os planos de construção do A-350 XWB de modo a tentar destronar a liderança do Boeing 787.

FAR em Lisboa

sexta-feira, 18 de agosto de 2006

quinta-feira, 17 de agosto de 2006

Vale do Grou: Inauguração da luz eléctrica.

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Liceu António Enes

BAILE DE FINALISTAS (ano lectivo 1971/72)

Na fila de baixo, da direita para a esquerda, reconheço o Luís Carlos Vasconcelos Galvão e, com os cabelos pelos ombros, o Luís Filipe da Costa Pinto.

Nesta foto surgem os enfaixados. Só me recordo do nome do Luís Carlos.

Aproveito para divulgar o site do
Liceu António Enes

Volta a Portugal em bicicleta

O João Fróis deixou hoje a capital, onde retemperou forças, rumo a Sul. Brevemente teremos aqui o seu caderno de viagens.





















Roteiro das primeiras etapas

Rumble Fish - Coppola


Retratos de Gente

Fernando Almeida Ribeiro
 
O muito desempoeirado, monsieur FAR, o nosso correspondente na Alemanha. Sempre ao serviço da revolução mundial Posted by Picasa

terça-feira, 15 de agosto de 2006

Retratos de Gente

Filipe Gonçalves

Leitura de Verão

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SINAIS 
Desenho de Maturino Galvão Posted by Picasa

Combate de Gigantes

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HEY JOE


Retratos de gente

João Fróis
 
Veio de Matosinhos e de bicicleta Posted by Picasa

Crónicas do Jocélio

Paramécia. Era esta a alcunha de um dos melhores professores que tive no Liceu. Pequenino, unicelular, radiante. Professor antes de tudo; professor de português com tudo aquilo que era. Tive-o no fim dos anos sessenta. A Escola reproduzia, nos seus mais ínfimos pormenores, o tempo cinzento e duro que se vivia. E ele, no meio da barbárie, cativava o seu público, a falar de literatura portuguesa. Reconhecíamos-lhe, falo de mim e dos meus colegas, uma autoridade que aquela Escola não tinha. Chorava a declamar, por exemplo, a lírica camoniana, num tempo em que só era permitido, entre rapazes, o chorar de raiva. Abriu-nos mundo! Num tempo em que havia aulas de Lavores e de Culinária, para raparigas. As aulas não eram mistas, nós tínhamos outros lavores. Em que os regentes escolares, com o 4º ano, foram graduados. Nós reconhecíamos o valor das paramécias. Não das amibas. Também é verdade que os profs de português que tive não leram Paulo Coelho, Rita Ferro e Margarida Rebelo Pinto, como os de hoje. Não eram da altura. O Paramécia, por pudor e respeito não refiro o seu nome, não era desse tempo, nem sequer deste. Era respeitado. Respeitava os alunos. Ensinava com a autoridade que tinha. A dele.

Jocélio Vasco Salvado Elias

segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Summertime


From whom the bell tolls - 1

Nós que não somos naturais, porque

somos quem nega a natureza, não

morremos nunca de animais a morte.

Essa morte primeva, com que acabam

os que jamais souberam que viviam,

não nos pertence desde a hora em que

de humanidade nos fizemos homens

e ao sofrimento abrimos esta carne

embebendo-a do amor que não devera

ser mais que o cio do prazer sem nome

e sem memória alguma. Nunca mais

havemos de morrer em paz e espanto

de se acabar o mundo e não nós nele.

O que nos mata é solidão povoada.


Jorge de Sena

domingo, 13 de agosto de 2006

Pergunta de Verão

"Aceitaria não vir a ser quem poderia ter sido, se só a esse preço pudesse saborear plenamente a certeza de amar?"

André Breton
SINAIS
 
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sábado, 12 de agosto de 2006

As bocas que se juntam

As bocas que se juntam

exalação da carne

sobre a carne

e o latir, longe, dos cães,

rumor de cigarra,

arquejante chegada

do sangue, chuva e feno


e o rolo do mar

nos corpos quando se amam .


António Osório

sexta-feira, 11 de agosto de 2006

Pergunta de Verão

"Acredita na vitória do amor admirável sobre a vida sórdida ou da vida sórdida sobre o amor admirável?"

André Breton
SINAIS
 
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quinta-feira, 10 de agosto de 2006

A nossa teoria da Proporcionalidade

Nós no 2+2=5 declaramo-nos incondiconalmente a favor da liberdade do soldado Gilom Shalit e do Líbano.

Amnésias

O argumento de que "Israel se está a defender de um ataque", repetido ad nauseaum pela direita alinhada e outros, é por deveras curioso. A mim parece-me que resulta de um selectivo ataque de amnésia; porque não recapitular a origem desta crise? Segundo me parece, tudo começou com o rapto de um soldado israelita, Gilom Shalit (ainda se lembram?). Pensando melhor, tudo começou desta forma: após a retirada de Gaza, tida como um grande passo para a paz, o Hamas ganhou as eleições na Palestina, legais e honestas aos olhos de todos. Após esse acontecimento, é de notar que não se viram quaisquer ataques bombistas suicidas em Israel (sem dúvida que a retirada de Gaza teve grande influência, mas também, e arrisco sobretudo as novas condições da liderança palestiniana, tiveram influência decisiva). Contudo, apesar de na prática estes ataques terem desaparecido, Israel continuou a considerar o Hamas, ou seja, os lideres palestinianos eleitos, como alvos legítimos. Daí que o governo da Palestina, ou seja, na visão redutora dos acólitos que conhecemos, o "Hamas", tenha continuado a ser, durante meses, alvo dos famos "assassinatos selectivos", que, como todos sabemos, passaram a incluir membros eleitos, e assim dotados da famosa e tão estudada legimitimidade democrática aos olhos dos palestinianos Além disso, Israel e a "comunidade internacional" (muitas, muitas aspas) congelaram as transferências de dinheiro para o novo governo palestiniano, não respeitando de nenhum modo e tentando condicionar a posteriori a livre decisão dos votantes. No decurso deste processo, os diversos grupos palestinianos chegam inclusivé ao ponto de declarar que apenas são legitimas acções de resistencia dentro dos Territórios Ocupados, e só contra o exército israelita. Num seguimento quase lógico desta situação, o soldado Shalit é raptado por um grupúsculo palestiniano radical não alinhado com o governo. Imediatamente é lançada uma ofensiva em larga escala, incluindo bombardeamentos contra cidades, portos, e qualquer o tipo de infra-estruturas em toda a Faixa de Gaza, apenas meses antes "libertada" de uma ocupação de trinta anos. Disto resultam centenas de mortos e a destruição da economia em Gaza. Em resultado destes acontecimentos, o Hezbollah, um grupo evidentemente anti-israelita e comprometido com a causa da Palestina, rapta dois soldados. Israel invade o Líbano, bombardeia punitivamente as cidades, mesmo as que nada tem a ver com o xiismo do Hezbollah (cristãs maronitas, sunitas, etc.). Morrem vários milhares de libaneses e palestinianos. O Hezbollah retalia com "rockets" sobre as cidades israelitas, morrem centenas. O exército de Israel envolve-se em combates "corpo-a-corpo" com o Hezbollah, com dezenas de baixas de parte a parte. A "comunidade internacional" (muitas, muitas aspas), com os Estados Unidos, os aliados de sempre de Israel, à cabeça, pretende aproveitar a oportunidade para enviar uma "força de paz" para o sul do Líbano, ou seja, uma força que garanta finalmente o desaparecimento do Hezbollah e a segurança de Israel enquanto aplica as políticas que bem entende nos Territórios Ocupados. Note-se apenas o seguinte: o Hezbollah, ao contrário do que se possa pensar, é e sempre foi um exército "extensão" dos movimentos palestinianos (essencialmente um aliado do Hamas) cujo móbil se esgotará no dia em que esse problema for finalmente solucionado. Porque não se soluciona? Isso eu já expliquei noutros posts, por exemplo neste.
SINAIS
 
Desenho de Maturino Galvão Posted by Picasa

Independência

Recuso-me a aceitar o que me derem.
Recuso-me às verdades acabadas ;
recuso-me, também, às que tiverem
pousadas no sem-fim as sete espadas.

Recuso-me às espadas que não ferem
e às que ferem por não serem dadas.
Recuso-me aos eus-próprios que vierem
e às almas que já foram conquistadas.

Recuso-me a estar lúcido ou comprado
e a estar sózinho ou a estar acompanhado.
Recuso-me a morrer. Recuso a vida.

Recuso-me à inocência e ao pecado
como a ser livre ou ser predestinado.
Recuso tudo, ó Terra dividida!

Jorge de Sena

terça-feira, 8 de agosto de 2006

Los Santeros encerram digressão mundial

Mad Dog Clarence

Los Santeros

Os geniais Los Santeros irão encerrar a sua tour mundial ("The Dead Mexican Tour"), iniciada há aproxidamente cinco anos e com passagem por locais tão díspares como Anchorage, no Alasca, Cuando-Cubango, em Angola, ou Lhasa, no Tibete, com um mega-evento a ter lugar no próximo Sábado dia 12 de Agosto no Barreiro, mais concretamente nas Festas da terriola. O concerto-que-é-mais-que-um-concerto-antes-uma-manifestação-cultural-e-recreativa-de-primeira-ordem terá ínicio pelas 23 horas após uma Procissão Santera desde o Espaço Chapelaria até ao local, contará com um Comício Político-Santero com José Galinha Pássaro a orador, e como grande convidado, o único artista do mundo com categoria para integrar um concerto dos Santeros: o mítico bluesman do Cais do Sodré Mad Dog Clarence. Com entrada livre, espera-se a afluência dos leitores para mais este momento único na história músical que os Santeros proporcionarão aos fãs.

Andei aos solavancos pelas ruas de Lisboa à procura de um amigo, um daqueles amigos que me batesse nas costas, me chamasse "meu velho" e me falasse dos filhos, do emprego, dissesse brejeirices às mulheres que passam. Nem um. Então pensei em vir visitar-te, porque queria ouvir contar uma história que me trouxesse de volta o sentimento de pertencer às recordações de alguém.
Começaria assim a história. Esta noite, como o sono chegasse dificilmente, tentaste encontrar, entre os nomes evocados pela memória, um que fosse particularmente grato, de modo a coseguires adormecer com um sorriso nos lábios. A memória falhou-te, e tu adormeceste pobre, como pobre fora a tua vida. Como pretendes legar o conhecimento da tua experiência, exortando que se busque no amor um refúgio que nunca nos é negado, decides-te a descrever num conto, na primeira pessoa, o teu caso pessoal e esta desencorajante sensação de quem para sempre ficou só. Nesta história há um tipo miserável, andrajoso, esfaimado, e com que severidade ele expõe os seus pontos de vista; eu não posso deixar de rir, porque ao fim e ao cabo, até é ridículo ouvir um criançola, sem experiência em nenhum campo, a dizer as coisas, a torná-las feias e tristes e pesadas e inúteis.
Mas a verdade é que gosto de te ouvir falar da minha solidão, que não é de ouro nem de pedras preciosas, porque não pode ser tão horrível, nem tão mesquinhamente ostentosa; e do silêncio das coisas que se contentam em existir e aos poucos apodrecem.
Ouvir-te falar do vagabundo é como se eu me visse fora de mim, a tornar-me gradualmente a imagem que me apraz contemplar. Foste tu que me apresentou a esta imagem, uma forma diplomática de me indicares o teu cansaço. Até que um dia decidamos em perfeito acordo que as nossas aventuras passadas nada são perante a figura do amor...
O ponto de partida é, evidentemente, o essencial. De certo modo, o que eu verdadeiramente possuo é o ponto de partida. Mas que importa tudo isto, se o destino é comum e a hora de chegada nada modificará?
Não alongo mais a história, decerto já se adivinha que não é possível dar-lhe um fim.

Carlo Ruas

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

Israel bate a bola baixo

Israel bate a bola baixo. As katiuskas do Hezbollah continuam indemnes. Só os mísseis fixos Fajr foram destruídos, que se encontravam em 59 silos. Os morteiros de 220 mm foram neutralizados. As katiuskas - morteiros de 122 ou 107 mm - parecem intactas. Os guerrilheiros ainda possuem mais de 9 mil, conforme as contas do jornalista. Israel, no entanto, eliminou as tropas de elite do Hezbollah, algumas dezenas de soldados de alta capacidade de acção. O que ganhou?

FAR

Leia o artigo do Libération:
Tsahal dresse un bilan mitigé de sa guerre contre le Hezbollah
aqui
SINAIS
 
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domingo, 6 de agosto de 2006

Glosa à chegada de Godot

Do que desespero é muito pouco

fugaz e breve e, sem que se repita,

de não se repetir, retorna sempre.

Em nada cremos : o desejo e o amor,

o sol poente numa tarde clara,

o lúcido e confuso matinal degelo,

o que sentimos belo ou é ternura,

apenas são pretextos - sobrevivos,

ansiamos transmitir o mesmo engano.

Pois nenhum mundo nos fará melhores,

nem nenhum Deus nos salvará do mal.

Nunca nenhum salvou . Apenas nos fartámos

de horror que não sabiamos. E queremos

novos mundos e deuses sem enganos,

em que, depois de já sabermos que

somos falsos e vis, cruéis e vácuos,

possamos dar-nos ao supremo engano

de calmas e fraternas sobrevidas.

É desespero tudo, mas repete-se

tão sem se repetir, tão sempre de outros,

tão noutros e com outros que esperamos

o mais que inda virá. Às vezes, nada.

O Sim . O Não. Um simples hesitar

Às vezes muito pouco. O pouco. O muito.

O desespero é fácil tal como esperar.

Jorge de Sena

quinta-feira, 3 de agosto de 2006

Onde está?

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Sessão audio de crítica e auto-crítica

this is an audio post - click to play

Anedota macabra do ano

"Expulsámos a população dessas zonas (sul do Líbano), destruímos as infra-estruturas, acabámos com os empregos, de modo que essas pessoas estão zangadas e frustradas com o Hezbollah"

Ehud Olmert, Primeiro-ministro de Israel

Extracto de entrevista de GM Oleg Korneev al periodico digital Diario Siglo XXI


1) En la rueda de prensa final del Open Benasque comentaste que estas "convencido de que ciertos poderes fomentan actividades embrutecedoras, como la neurosis por el fútbol o el cotilleo más bajo, para que la gente no piense, en lugar de promover otras que desarrollan la inteligencia, como el ajedrez. Cada minuto se gastan 20 millones de dólares en armas y mueren 40 niños. En esa clase de mundo, la gente debe aprender a pensar. Y el ajedrez sirve precisamente para eso". Te gustaria ampliar un poco tus pensamientos a este respecto?

RESPUESTA: Si, me gustaría hacerlo. A algunas conclusiones yo llegué por mi solo, y las otras tras leer libros de famosos filosofos y psicologos modernos, como Luis Rojas Marcos, un español, famoso psiquiatra que reside en el estado Nueva York, y Wayne Dyer, el famoso psicologo americano.

Yo sabía que los comunistas de Union Sovietica promovian ajedrez para mejorar el nivel intelectual de la poblacion, y como resultado a pesar de 3 guerras devastadoras (1ª Guerra Mundial 1914-1918, Guerra Civil 1918-1921, 2ª Guerra Mundial 1941-1945) los sovieticos llegaron a ser primeros a enviar al espacio un nave con un ser humano al bordo (Gagarin), crearon una sociedad muy culta i internacionalista, y en un par de décadas de años convertieron el pais agricultor en un potentissimo poder industrial. Pero realmente analizar relacion entre ajedrez y politica, ajedrez y el capital yo empecé en España.

Despues de unos años de participar en los torneos aquí me dí cuenta que en algunas provincias y regiones hay muchissimo mas torneos que en otros. Por ejemplo, me sorprendía mucho casí ausencia total de torneos importantes en Castilla y Leon. Ahora me soprendería mucho lo contrario, porque ahora yo sé que es una zona de voto de Partido Popular de que no vale la pena esperar apoyo al ajedrez allí. Con tiempo yo descubrí que unos 9 torneos internacionales de 10 se juegan en zonas controlados por socialistas o sus aliados de izquierda. Unos escasos torneos en zonas contraladas por PP se organizan por esfuerzos de los entusiastas del ajedrez, y cuentan con muy poco apoyo governal.

La pregunta es porqué? Porqué que mas de izquierda son governadores, que mas cerca del pueblo están, mas apoyo dan al ajedrez? La respuesta es sencilla. La poderosa fuerza educativa de ajedrez comprenden casí todos, y exactamente por eso los partidos de derecha, que representan y defienden interesos de los magnates, obstaculizan al maximo la promocion del Ajedrez. Los magnates modernos igual que los magnates de todos los tiempos prefieren ver al pueblo atonteado, callado y facilmente manejable. No es un secreto que una gran parte de beneficios de los magnates les llega por negocios sucios, antihumanos, sangrientes. La ceguera intelectual de la poblacion es garantia para los magnates que podrán seguir con sus especulaciones, guerras, etc., consiguiendo enormes beneficios economicos para ellos, y pobreza, lagrimas y desesperacion para una gran parte de la gente trabajadora.

Hace poco el mitico luchador por derechos humanos, ex-presidente de Africa Sur, un hombre valiente y inteligente, Nelson Mandela en un mitin en Londres dijo bien claro: "La pobreza es una cosa artificial, creada por ciertas fuerzas."

Estoy totalmente de acuerdo con él. El mundo es muy accesible ahora. Unas horas en avion y de los paises ricos se puede llegar a los paises mas pobres. Cuanto tiempo existiría esta situacion si los humanos habrian consumido, que por encima de todo son humanos, y los ricos que no saben a donde gastar sus milliones decidirían ayudar a los pobres? Cuanto tiempo sería nesesario para crear en un pais mas pobre una industria moderna y una vida confortable para la poblacion? Años, meses? Mi respuesta es - semanas. Pero los magnates perderian así una parte de sus enormes beneficios, porque ya no podrían aprovechar enormes desigualidades economicos existientes actualmente en el Mundo.

No les soprende, estimados lectores, que a pesar de que se sabe que una enorme cantitad de problemas entre las personas y los pueblos se proviene de poco entendimiento, que a pesar de eso aun no existe una idioma (una tal "segunda",la primera- natal) que aprenderian en todo el Mundo, y el intento de realizar ese proyecto, difundiendo en el Mundo la obra de los lingvistas idioma "esperanto", fue machacado y hundido, usando demagogia habitual, lo de "utopia", "defectos de naturaleza humana", etc., por ciertas fuerzas que benefician de la separacion de la gente?

No les soprende que revistas y programas de television dedican una enorme parte de su tiempo a cosas insignificantes, como detalles de fichajes del futbol, la vida privada de "novios" y "novias" de moda, etc., al mismo tiempo que en España hay una enorme cantitad de gente sin pareja estable, y numero de niños que nacen, es muchissimo mas bajo del minimo nesesario para mantener la poblacion?

No les soprende que programas buenas,como "Saber vivir", salen en las horas matinales cuando una poquissima parte de espectadores pueden verlas?

No les soprende que solamente hace muy poco tiempo los gobiernos Eropeos bajo presion de razones de los sientificos y sentido comun, restrigieron la promocion del tabaco, un veneno que mata a la gente a promedio 8 años antes de cobrar sus pensiones que acumulaban durante toda su vida, pero permite quedarse con ese dinero a ciertos poderes y ciertos personas?

No les soprende enorme propaganda hacía odio y desden a otros pueblos, que empieza a menudo en los libros de historia de escuela? Que fuerzas intentan separar la gente? Pues los mismos que intentan tontearlas, hacer manejables, enfrentar con otros humanos, y sacar beneficios economicos de eso. Para esas fuerzas el Ajedrez es enemigo numero 1, porque aparte de desarollar la mente, hace madurar caracter, borra diferencias entre las personas y les une. Todo lo contrario de la politica de los magnates.

La explicacion, que ajedrez tiene problemas de patrocinio por su poca capacidad de show, me parece ridicula y nociva. Ademas estoy seguro que esa explicacion está creada por las fuerzas de separacion, que odian al ajedrez, y es una pena que algunas personas quienes probalemente aman ajedrez a veces repiten eso sin reflexionar. La bondad de las cosas no se mide por su capacidad de show. Segun estadisticas 90% de la informacion solicitada en internet es porno.

Cuando una cadena privada de Estados Unidos ha decidido demostrar la ejecucion a traves de silla electrica en directo (la primera y de momento la ultima vez en la historia de television norteamericana) enorme cantitad de la gente pagaron cuota anual de esa cadena para ver ese "show". Futbol necesita ser "vendido", porque es dificil explicar que atraccion y provecho para un individuo tiene el observar el manejo de balon entre 22 dos hombres en un cuadrado verde. Programas de corazon necesitan ser vendidas, porque cuesta explicar que atraccion tiene para un individuo la vida privada de otras personas. Y television lo hace de modo ejemplar, contratando los mejores representantes y provocando a la gente una especia del interes enfermizo, para vender esa basura, en lugar de crear,por ejemplo, una programa de educacion sexual y emocional para los jovenes y no solamente jovenes que quieren formar una pareja.

Sí, Ajedrez no es un show. Es mucho mas que eso. Ajedrez no necesita ser "vendido". Jesuscristo no vendia sus ideas de union de la gente y de la fuerza del espiritu humano. Él los difundia entre la gente, y sus ideas andaban y aumentaban el numero de sus partidarios por si solas, por grandes y justas que son. Es el caso de Ajedrez.

El Ajedrez es algo tan positivo para la sosiedad que puede perfectamente andar por si solo, y con un poquito de ayuda governal, podría aumentar la inteligencia de la poblacion notablemente y mejorar calidad de vida de la gente. El sitio para ajedrez no es television, sino escuelas y casas. Ajedrez no es para los ojos, tenemos suficiente para eso, ajedrez es para la mente, para evolucion espiritual de un individuo y la sociedad entera.

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quarta-feira, 2 de agosto de 2006

Existe uma Gisberta em cada um de nós

Neste romance de cordel em que se tem transformado a justiça portuguesa, nada me enojou mais que esta patética e indefensável sentença quanto ao "caso Gisberta". Primeiro, o MP acusa os jovens de "Homicidio Tentado", em vez de "Homicio Involuntário", a forma jurídica óbvia para o crime em questão. Depois, ainda não sastisfeito, deixa cair esta última formulação, passando a "Ofensas à Integridade Física Qualificadas na Forma Consumada". O equivalente a uma chapada. O juiz, para compôr o ramalhete, diz na sentença que este crime hediondo foi "uma brincadeira de mau gosto"; depois, e apesar de os jovens o confessarem várias vezes em tribunal, insiste que os jovens "não agiram por causa da orientação sexual da vítima". No fim, os jovens são condenados a penas irrisórias face à gravidade do crime em questão, com enormes censuras às instituições que os acolheram, afinal as grandes culpadas de tudo isto, e não as "crianças" inocentes. Muito foi dito já sobre este assunto, embora, infelizmente mas não surpreendentemente, quase sempre em blogues, especialmente os conotados com o movimento LGBT. O absurdo e a parcialidade repugnantes desta sentença estão à vista de todos; mas o silêncio que sobre ela se instalou é que é verdadeiramente grave e revelador da sociedade subdensenvolvida e tardo-católica em que (ainda) vivemos. Imagine-se o escandâlo que seria se em vez de Gisberta tivessemos no papel da vítima um indefeso velhinho, torturado barbaramente durante dois dias até uma morte atroz. Imagine-se quantas carpideiras da moral não escreveriam artigos, exigindo a dura aplicação da lei para servir de exemplo, imagine-se João César das Neves a clamar contra o fim dos princípios morais da sociedade, imagine-se Mário Pinto a defender a reorganização do sistema de acolhimento de jovens em risco, imagine-se Vasco Graça Moura a escrever um belo e sentido texto em homenagem à vitima e em repulsa pela putrefacta situação da alma portuguesa. Imagine-se. Até lá, ficamos a saber que há mortes de primeira, de segunda e se calhar de terceira, porque há vidas de primeira, de segunda e se calhar de terceira. Faço minhas as palavras de Ana Sá Lopes, há uns dias no DN: só deixará de ser assim quando percebermos que, também dentro de nós, existe uma Gisberta.

Uma frase que sobejou

Quando copiei pela última vez a Invenção do Dia Claro,

sobejou uma frase que não me recordo a que alturas pertence .A frase é esta:

Há sistemas para todas as coisas que nos ajudam a saber amar, só não

há sistemas para saber amar !



Nota: Seguem-se as démarches para a Invenção. Foi-nos completamente impossível incluir na presente edição as démarches . No entanto, reproduzimos como especimen a mais antiga de todas para que o leitor se convença do seu interesse quotidiano e imediato. Nesta, como em todas as outras démarches para a Invenção é flagrante a maneira como se representa a fortuna que nos rodeia todos os dias .

José Almada Negreiros

Cerveja alsaciana altera modus faciendi para se adaptar aos novos gostos...

O correspondente do Libération em Estrasburgo fala das alterações na estrutura do mercado produtor e analisa as novas tendências consumidoras


O impacto da Corona e das cervejas mistas inglesas e dinamarquesas está a provocar um terramoto na cadeia alsaciana de produtores de cerveja tradicional. As três grandes marcas alsacianas, Kronenbourg, ainda líder nacional, a Meteor e a Fischer sofrem tratos de polé pela ditadura do gosto e a concorrência das cervejas mistas com bebidas alcoolizadas de alto teor. As micro produções do circuito artesanal belga e alemão batem pelo preço o produto similar francês.

" Além dos franceses gostarem pouco de cerveja, as velhas blondes estão em perda de velocidade pela concorrência do gosto pelas cervejas doces com mistura ", frisa o jornalista. Que revela o lançamento de uma " 1664 branca" da Kronenbourg e nos fala do êxito alcançado pela produtora Fischer, gesto pioneiro realizado em 1995, concebido pelo lançamento da Desperados, cerveja aromatizada com tequilla. O sucesso foi tão grande que hoje representa 80 por cento do volume de vendas da empresa já ligada todavia ao grupo holandês Heineken.Caso contrário já tinha fechado as portas, analisa o cronista.

Desde há alguns anos, o design também começou por influir na captação de novos clientes e consumidores. Trata-se de uma operação de sedução e de valorização das marcas. Na gíria, chama-se a tais operações " packaging impactant ", impacto através da embalagem... As cervejeiras tradicionais recorrem a estilistas para alterar o formato, cor e material das garrafas, em vidro ou em alumínio. O artigo é suave e os comentários apoteóticos e contraditórios comparando o elevado preço e vetustez das cervejas francesas com as suas rivais germânicas e belgas.


FAR

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terça-feira, 1 de agosto de 2006

Post-scriptum

Não sou daqueles cujos ossos se guardam,

nem sou sequer dos que os vindouros lamentam

não hajam sido guardados a tempo de ser ossos.


Igualmente não sou dos que serão estandartes

em lutas de sangue ou de palavras,

por uns odiado quanto me amem outros.


Não sou sequer dos que são voz de encanto,

ciciando na penumbra ao jovem solitário,

a beleza vaga que em seus sonhos houver.


Nem serei ao menos consolação dos tristes,

dos humilhados, dos que fervem raivas

de uma vida inteira a pouco e pouco traída.


Não, não serei nada do que fica ou serve,

e morrerei, quando morrer, comigo.


Só muito a medo, a horas mortas, me lerá,

de todos e de si disfarçando,

curioso, aquel´ que aceita suspeitar

quanto mesmo a poesia ainda é disfarce da vida.

Jorge de Sena

Contos do Verão . 4

Os Verões são sempre quentes. Ainda que haja bombeiros a postos. Em regimes não democráticos, ainda que esperassem por amanhãs que cantassem, a coisa estava negra. E, as questões coloniais baralhavam tudo. Histórias do meu pai. De gente que beneficiou das prerrogativas de um tempo velho. De uma classe que, com o advento da revolução, se ia suicidar enquanto classe. Que chegou tarde ao encontro com a História. Que se prestou a tudo. Que macaqueou a História num tempo em que já não havia lugar para a inocência. As opressões estavam todas à vista. Não havia lugar para ingenuidades. E foram carrascos, directores de cadeia, jornalistas ao serviço da verdade única e revolucionária, médicos atestando óbitos, em condições estranhas, na prisão, escritores, poetas. Reproduzindo o passo dos pais, embora servindo senhores diferentes. Passados os anos da brasa reconverteram-se. Não é que sobreviveram? Não se suicidaram e tiveram uma crise de amnésia. Médicos, jornalistas, juízes, economistas, professores, veterinários, etc. É vê-los por aí. Mas inveja, invejazinha, tenho do PM, que não viveu isto, a passar férias com a Fernanda, segundo notícia do DN de 29/07/2006, ou seria no último Expresso? O Cherne, lá onde está, vivendo coisas parecidas, por cá, também não se safou mal. Mas a democracia é isto e gosto dela. Não só é o menos mau dos regimes, mas sobretudo aquele que não reivindica uma verdade científica (Churchill, Morin). A Moral é o que é. Infelizmente grande parte dos amigos do meu pai não compreendeu a história que viveu. Eu percebi e fujo disso.

JosinaMacAdam