O argumento de que "Israel se está a defender de um ataque", repetido ad nauseaum pela direita alinhada e outros, é por deveras curioso. A mim parece-me que resulta de um selectivo ataque de amnésia; porque não recapitular a origem desta crise? Segundo me parece, tudo começou com o rapto de um soldado israelita, Gilom Shalit (ainda se lembram?). Pensando melhor, tudo começou desta forma: após a retirada de Gaza, tida como um grande passo para a paz, o Hamas ganhou as eleições na Palestina, legais e honestas aos olhos de todos. Após esse acontecimento, é de notar que não se viram quaisquer ataques bombistas suicidas em Israel (sem dúvida que a retirada de Gaza teve grande influência, mas também, e arrisco sobretudo as novas condições da liderança palestiniana, tiveram influência decisiva). Contudo, apesar de na prática estes ataques terem desaparecido, Israel continuou a considerar o Hamas, ou seja, os lideres palestinianos eleitos, como alvos legítimos. Daí que o governo da Palestina, ou seja, na visão redutora dos acólitos que conhecemos, o "Hamas", tenha continuado a ser, durante meses, alvo dos famos "assassinatos selectivos", que, como todos sabemos, passaram a incluir membros eleitos, e assim dotados da famosa e tão estudada legimitimidade democrática aos olhos dos palestinianos Além disso, Israel e a "comunidade internacional" (muitas, muitas aspas) congelaram as transferências de dinheiro para o novo governo palestiniano, não respeitando de nenhum modo e tentando condicionar a posteriori a livre decisão dos votantes. No decurso deste processo, os diversos grupos palestinianos chegam inclusivé ao ponto de declarar que apenas são legitimas acções de resistencia dentro dos Territórios Ocupados, e só contra o exército israelita. Num seguimento quase lógico desta situação, o soldado Shalit é raptado por um grupúsculo palestiniano radical não alinhado com o governo. Imediatamente é lançada uma ofensiva em larga escala, incluindo bombardeamentos contra cidades, portos, e qualquer o tipo de infra-estruturas em toda a Faixa de Gaza, apenas meses antes "libertada" de uma ocupação de trinta anos. Disto resultam centenas de mortos e a destruição da economia em Gaza. Em resultado destes acontecimentos, o Hezbollah, um grupo evidentemente anti-israelita e comprometido com a causa da Palestina, rapta dois soldados. Israel invade o Líbano, bombardeia punitivamente as cidades, mesmo as que nada tem a ver com o xiismo do Hezbollah (cristãs maronitas, sunitas, etc.). Morrem vários milhares de libaneses e palestinianos. O Hezbollah retalia com "rockets" sobre as cidades israelitas, morrem centenas. O exército de Israel envolve-se em combates "corpo-a-corpo" com o Hezbollah, com dezenas de baixas de parte a parte. A "comunidade internacional" (muitas, muitas aspas), com os Estados Unidos, os aliados de sempre de Israel, à cabeça, pretende aproveitar a oportunidade para enviar uma "força de paz" para o sul do Líbano, ou seja, uma força que garanta finalmente o desaparecimento do Hezbollah e a segurança de Israel enquanto aplica as políticas que bem entende nos Territórios Ocupados. Note-se apenas o seguinte: o Hezbollah, ao contrário do que se possa pensar, é e sempre foi um exército "extensão" dos movimentos palestinianos (essencialmente um aliado do Hamas) cujo móbil se esgotará no dia em que esse problema for finalmente solucionado. Porque não se soluciona? Isso eu já expliquei noutros posts, por exemplo neste.
3 comentários:
Uma analise clara e consistente que define muito bem o problema que existe no médio oriente. Está na hora de por fim à carnificina que o mundo tem permitido há tempo demais.
um abraço
Crentes de todas as religiões - matai-vos.
Artigo interessante que apareceu no jornal Israilita Haaretz
General: Troops lacking food may steal from Lebanese stores
By Haaretz Service
"If our fighters deep in Lebanese territory are left without food our water, I believe they can break into local Lebanese stores to solve that problem," Brigadier General Avi Mizrahi, the head of the Israel Defense Forces logistics branch, said Monday.
Mizrahi's comments followed complaints by IDF soldiers regarding the lack of food on the front lines.
"If what they need to do is take water from the stores, they can take," Mizrahi told Army Radio.
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