Paramécia. Era esta a alcunha de um dos melhores professores que tive no Liceu. Pequenino, unicelular, radiante. Professor antes de tudo; professor de português com tudo aquilo que era. Tive-o no fim dos anos sessenta. A Escola reproduzia, nos seus mais ínfimos pormenores, o tempo cinzento e duro que se vivia. E ele, no meio da barbárie, cativava o seu público, a falar de literatura portuguesa. Reconhecíamos-lhe, falo de mim e dos meus colegas, uma autoridade que aquela Escola não tinha. Chorava a declamar, por exemplo, a lírica camoniana, num tempo em que só era permitido, entre rapazes, o chorar de raiva. Abriu-nos mundo! Num tempo em que havia aulas de Lavores e de Culinária, para raparigas. As aulas não eram mistas, nós tínhamos outros lavores. Em que os regentes escolares, com o 4º ano, foram graduados. Nós reconhecíamos o valor das paramécias. Não das amibas. Também é verdade que os profs de português que tive não leram Paulo Coelho, Rita Ferro e Margarida Rebelo Pinto, como os de hoje. Não eram da altura. O Paramécia, por pudor e respeito não refiro o seu nome, não era desse tempo, nem sequer deste. Era respeitado. Respeitava os alunos. Ensinava com a autoridade que tinha. A dele.
Jocélio Vasco Salvado Elias
1 comentário:
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