terça-feira, 22 de agosto de 2006

Da Capital do Império

Olá,

Até que enfim dirão alguns de vós. Mas explico a demora: Estive ausente porque fui à guerra. Não à guerra do Médio Oriente onde o representante na terra do partido de Deus, com um pneu de lambreta na cabeça para o distinguir dos outros meros mortais, decidiu ser o primeiro árabe a dar porrada no povo de Deus. Deus vai ter que decidir em breve se apoia o partido do gajo com o pneu de lambreta na cabeça ou se apoia o povo com capachinhos a cobrir a nuca. A moral da história é que quando se ouvir gajos a falar de Deus com algo na cabeça (pneus de lambreta, toalhas de mesa, capachinhos etc.) é preciso tomar muito cuidado.
Para já contudo essa situação no Médio Oriente continua a ser como a instituição do casamento: Não tem solução. Acrescente-se a isso o facto de haver pouca geografia e muita história e ainda o facto dos franceses e europeus terem perdido a oportunidade de mostrar que são a potência que dizem ser e o resultado é que daqui a mais uns tempos vai voltar a haver porrada da grossa. (O outro resultado é que fica provado que afinal essa coisa da Europa ser uma potência são apenas “bocas” do Chirac).
Mas a guerra a que eu fui não foi essa. Fui à guerra contra a SIDA em Toronto no Canadá. Ena pai! Mais de 20.000 soldados (cientistas, pessoal médico, membros das organizações não governamentais e mais) e cerca de três mil jornalistas. Tal como em todas as guerras tudo a correr de um lado para o outro sem saber bem o que fazer, com alguns períodos de grande excitação como quando apareceu o Bill Clinton para demonstrar que ainda não foi fabricado um microfone de que ele não goste.
Ou como quando se deu a conferência de imprensa de um grupo de cientistas que falavam sobre os avanços nas experiências em uso de microbicidas para se impedir a propagação do vírus da SIDA. Uma cientista disse que os avanços são bons e que os testes indicam que os homens gostam dos microbicidas porque aumentam o prazer. Deve ser gelatinoso portanto! Houve um gajo com um brinco na orelha, cabeça rapada, assim com um ar um pouco escanzelado, com T shirt colada ao corpo e com uns gestos delicados que perguntou se havia também avanços nos estudos de “microbicidas para uso rectal”. Houve uma “vibe” de incómodo na sala, com muitos dos jornalistas a mexerem o tal rectal na cadeira e para desgosto do inquiridor a cientista sul-africana disse-lhe que até agora os resultados dos testes para uso rectal do microbicida “não têm sido muito encorajadores”. Eu quis logo perguntar como, onde e quem é que fazia os testes em uso de microbicidas rectais mas tenho que admitir que tive vergonha e fiquei caladinho.
Também tive um pouco de medo de ser vaiado porque numa outra conferência de imprensa ninguém gostou do facto de eu ter perguntado porque é que se gastam milhares de milhões de dólares na luta contra a SIDA quando dez vezes mais pessoas apanham malária e mais crianças morrem de malária. Eu perguntei se isso se devia ao facto da malária não ser uma “doença do norte” (ou seja que não afecta a brancalhada europeia ou americana) ou de ser menos “sexy” que a SIDA. Ninguém gostou disso e muito menos da analogia e fui fuzilado com olhares de indignação. (Já não me lembro qual foi a não- resposta que obtive, apesar de me lembrar que alguém repetiu muitas vezes qualquer coisa sobre a “excepcionalidade” da SIDA)
Confirmei por outro lado que os tempos mudaram. Numa reunião sobre direitos de homossexuais um gajo fartou-se de falar de “straights” e eu pensei que ele estava a falar de gajos que não fumam “passa”. Há uns anos atrás – alguns de vocês recordam-se disso com certeza - um “straight” era um gajo que não fumava “passa”. Agora um straight é um gajo que não apanha no…. ou melhor… que só gosta de gajas. Presumo que um gajo que só gosta de gajas muito boas seja um straitão. Mas isso só mostra que estamos a avançar e que a língua reflecte esses avanços, não? (Nos meus tempos um gajo que fumava “passa” era um “freak” ou “fricalhão” mas fui informado por uma gaja grande e muito agressiva que esse não é o nome que se dá aos gajos que só gostam de gajos e gajas que só gostam de gajas.)
Mas o que eu gostei mais foi da “aldeia global”, um local enorme no centro de conferências onde as Organizações Não Governamentais acamparam para mostrar uns aos outros como fazem parte da guerra contra a SIDA e tentar justificar porque é que têm direito a uma fatia dos milhares de milhões de dólares da guerra.
Só visto porque contado vocês vão ter dificuldades em acreditar. A “massa” que se gasta em publicações de luxo (incluindo DVDs) a explicar o que cada uma dessas organizações faz e que depois os jornalistas atiram para o lixo em quantidades industriais é qualquer coisa de impressionante! Estas organizações neo-missionárias operam em toda a parte do mundo em prol dos doentes da SIDA, contra as injustiças cometidas contra os doentes da SIDA, pelos órfãos da SIDA, contra a discriminação dos órfãos da SIDA, pelos infectados com HIV, contra a discriminação dos infectados da SIDA, pelos direitos de não sem quem com não sei quê e claro está (isto é muito muito muito importante por questão de credibilidade) … contra os Estados Unidos e o George Bush.
Havia um gajo de uma organização de LGBTs que todos os dias se vestia de mulher e distribuía panfletos. (vocês estão a perguntar: O que raio é LBGT? São as iniciais de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais. Não tenho espaço para voz explicar a diferença entre os Bs e os Ts e francamente não sei qual a importância disso na luta contra a SIDA)
Eis algumas de outras organizações que estão envolvidas na guerra mundial contra a SIDA : “ Prevenção de HIV/SIDA entre trabalhadores imigrantes na Tailândia”, “Direitos Sexuais e direitos nos países muçulmanos” ( O gajo do Líbano com o pneu de lambreta na cabeça não deve gostar desta), “Rede Global de Pessoas que vivem com HIV/SIDA”, “Comunidade das mulheres que vivem com HIV/SIDA”, “Aliança da Sida e Prevenção do Sul da Ásia” “Iniciativa das mulheres livres do Mali”, “Sem limites para as mulheres” (Não sei que raio é que isto significa mas apoio) “Alimentar os órfãos da Sida pela Humanidade” e, a minha favorita “Coligação dos Surdos do Quebec”.
Quando eu informei um membro desta coligação (que não era surdo) que vinha da capital do império ficou excitadíssimo e disse-me que ia haver uma “discussão” sobre o problema da SIDA entre os surdos de Washington. Nunca tinha pensado em tal coisa mas presumo que seja um problema enorme que requer financiamento do fundo global de luta contra a SIDA.
O ano passado houve oito mil milhões de dólares gastos no combate à SIDA através do mundo. Este ano vão ser gastos 10 mil milhões e no próximo 12 mil milhões ou seja mil milhões de dólares por mês. Portanto os surdos do Quebec devem ter direito a algo mesmo que seja só para pagar as despesas de participar na conferência, não?
Para todos os combatentes da luta contra a SIDA os 20 milhões de dólares gastos em Toronto na conferência foi dinheiro bem gasto embora eu ache que os G 8 tratam melhor os jornalistas dando-lhe comida e bebida à borla o que não aconteceu na cimeira da luta contra a SIDA. (Eu descobri que na “tenda” para pessoas infectadas com HIV davam comida à borla mas ao fim do terceiro dia já havia filas enormes para se comer à custa dos infectados perante a irritação de criados indianos que não sei lá porquê usavam todos luvas de plástico)
Eu espero que dentro de dois anos no México a comissão de direcção da Associação Internacional da SIDA decida dar uma fatiazinha do orçamento para esse fim, caso contrário vou formar a “Coligação de Jornalistas das Conferências da Sida pela Alimentação à Borla – COJOCOSIAB). Espero também que o co-descobridor do HIV Robert Gallo decida ir à conferência do México. Recusou-se a ir a Toronto afirmando que a conferência era “um circo”. Deve ser parvo.
A luta continua
O vosso amigo
Da capital do império

Jota Esse Erre

3 comentários:

Anónimo disse...

Nunca ouvi falar com grande destaque da existência de sida entre os xiitas, sunitas, curdos, palestiniamos, jordanos, saudis,etc.
Será que foram eles que, num ataque mudo, inocularam os outros continentes?
Ou a sua antiquíssima sapiência (que não os impediu de serem uns paus mandados há séculos)descobriram o antídoto e fazem "caixinha"?
Ou será que essa doença magana e anti-lúdica não se "dá" nas pessoas que vivem sobre as maiores reservas de petróleo do planeta.
Se for esta a razão para a imunidade dos árabes à sida, como não podemos ir todos para lá, proponho que se paguem viagens (ou que se crie um corredor aéreo), mas só de ida, a gays, toxicodependentes, mães infectadas, homofílicos já sidosos, etc.
De certeza que seriam recebidos de braços abertos, por exemplo, pelos sauditas que nadam em petro-euros e (como mera força de expressão) gostam de todas as modernisses que lhes impingem.

Nota: "Não se pode resistir a um comentário perante o quilate e o timbre destas crónicas", afirmou o Executive Director of UNAIDS and Under Secretary-General of the United Nations.

Anónimo disse...

Caro Armando

uma pequenina crítica e em apelo:
Em primeiro lugar a guerra contrtra sida é quase impossível se não mesmo impossível ser vencida, ao passo que a guerra no médio oriente só não se resolve porque não há vontade das nações envolvidas para que isso aconteça.
Segundo:Estou à espera que faças pelo menos uma visitinha ao ao meu blog cito joanamurinello.blogspot.com

Armando Rocheteau disse...

Olá Joana:
Antes de mais um beijinho e um obrigado pelas visitas e comentários.
Não consigo deixar comentários no teu blogue. Azelhice minha? Também não tens caixa de correio onde os deixe.
Continua com os teus sonhos. Continuarei a visitar-te!
Mais um beijinho para ti e outro para a Tico