Do que desespero é muito pouco
fugaz e breve e, sem que se repita,
de não se repetir, retorna sempre.
Em nada cremos : o desejo e o amor,
o sol poente numa tarde clara,
o lúcido e confuso matinal degelo,
o que sentimos belo ou é ternura,
apenas são pretextos - sobrevivos,
ansiamos transmitir o mesmo engano.
Pois nenhum mundo nos fará melhores,
nem nenhum Deus nos salvará do mal.
Nunca nenhum salvou . Apenas nos fartámos
de horror que não sabiamos. E queremos
novos mundos e deuses sem enganos,
em que, depois de já sabermos que
somos falsos e vis, cruéis e vácuos,
possamos dar-nos ao supremo engano
de calmas e fraternas sobrevidas.
É desespero tudo, mas repete-se
tão sem se repetir, tão sempre de outros,
tão noutros e com outros que esperamos
o mais que inda virá. Às vezes, nada.
O Sim . O Não. Um simples hesitar
Às vezes muito pouco. O pouco. O muito.
O desespero é fácil tal como esperar.
Jorge de Sena
2 comentários:
tao desesperadamente cruel, lucido suave e belo...como aquela restea de esperança que encontras no olhar....Aquele que ainda nao se cruzou no teu...
Bia
Very nice site! » »
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