sábado, 16 de fevereiro de 2008

Terra - Somewildwish


Somewildwish/23
Foto:g.ludovice

Intimidades (4)

Jazza

Gotemburgo. Suécia. 2007/2008


Foto Sérgio Santimano

Allegro giocoso II

Armando, Webmaster Flash:

Pois, conforta-me saber que comungas das minhas preocupações quanto aos problemas que podem resultar da irreverência do Alegria. Ele é bom rapaz, sofre, porém, da síndrome das Meninas da Rádio - pões-lhe um microfone à frente...e ele canta, canta, canta. Não estranhará que tenha titulado um dos seus livrinhos, de 1998, de...ROUXINOL do MUNDO. Não fosse tão lusitano e teria partido em digressão por uma, duas, três galáxias.
Admito que a sua voz de cançonetista rebarbado, género muito em voga nos comícios cubanos patrocinados por uma marca de brilhantina, de que não me ocorre o nome, não seja maçadora por aí além.
Quem nunca se divertiu, ou deu algumas risadas, com o tronitruante diseur, um vero Pai Coragem, clamando muito republicano, suficientemente laico e algo socialista: Pergunto ao vento que passa, quando é que se janta?

Pois, a questão é que debaixo da imensa capa do poeta-espadachim, sussurando discretos por detrás da voz carbonária do Alegria, acomodam-se conjurados os hóspedes do albergue espanhol “Lo Pomposo”. Vejamos, então, de que varas se faz a canoa socialista do Alegria.
O Cravinho e o Ferrinho, comunistas sucessivamente extraviados ao ritmo dos Pogroms internos, comunistas alternadamente contentes e descontentes, a brigada do reumático do Bernardino, os herdeiros de Zenha, os parentes do Manel Serra, a maioria dos poetas não-publicados, o Grupo Onomástico “Os Rogérios”, o subgrupo “Os Jerónimos”, a Associação dos Indivíduos de Apelido Cunha ou Cunhal, os Cidadãos Motorizados, os Amigos dos Hospitais, os cidadãos pedonais, os tanoeiros, calceteiros e cardadores da Zona Centro, os almocreves do Minho e os mixordeiros do Sul e Ilhas. Todas as organizações ambientalistas de Condeixa. HipHop do Mondego e assaltantes de Vila da Feira.
Um gajo que costuma estar parado à esquina da Rua dos Douradores, as cabras velhas de Fânzeres, a família mais chegada, os imigrantes portugueses em Palermo. E mais os leninistas de Santa Comba Dão, a associação dos comerciantes aggiornatos “O Ábaco”, pequenos marinheiros e grandes idiotas. Corruptos em liberdade eo bastonário Márinho Pinto. A Associação Nacional de Tascas e os Vinhos Camelo Alves.
Atenção também aos apoios internacionais expressos do Alegria, em que avulta o Partido Socialista do Vaticano, e os mais envergonhados, o PCUS, Berlusconi e o malogrado presidente do Equador “El Loco”, e, quem diria, o Marques Mendes- agente albanês inflitrado que chegou a desempenhar o cargo de presidente do PSD. E mais Kim Il-sung, o senhor Proudhon, o Koba, entre os menos vivos, e Chávez, Morales e George Bush, entre os mais vivos.

Cuidado que os gajos têm dinheiro.São apoiados pela família Suharto, diz que dois para um o dízimo dos evangélicos e 4/5 das sobras no franchise de livrarias “Ler Poesia, é dar de comer ao Alegria”.

Ah! Canalha, que vou-me ele!

JPS

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Allegro giocoso


Caro Armando, Webmaster Flash:

Perdoa este incursão confessional, mas é que...estou ficando preocupado com o Manel A. Não sei muito bem porquê, é mais aquela sensação de desconforto, um je ne sais quoi, uma suspeita mal-alimentada de que este ‘puto ainda vai fazer merda’. Sabes como é a juventude? Inconsequente, irrelevante, disposable. Pior, muito pior, como diz o venerável Táxi Pluvioso, são aqueles abencerragens remoçados a botox e delusion que acreditam transportar uma herança histórica autorizada no ADN... os jovens de espírito.
Enclausurados no Espaço, sim, que a imobilidade e a inacção têm álibi, mas quasi-homens livres do Tempo. Isto é, dizem hoje os mesmos dislates que disseram ontem, mas sem sair do mesmo lugar. Numa forma mais popular, são disparatados e preguiçosos.
Pois que estou muito entristecido com a desmesurada atenção que têm merecido as farroncas genuinamente lusitanas do Alegria. Agarrem-me que eu mato-o! Não me desafiem! E outros exemplos da cartilha pusilânime. Quer então dizer o Alegria que se não o desafiarem lá fica tudo como está e já nem é preciso botar mais socialismo no aqueduto. Ó rapaz, se tens algo a dizer, avança, enche o peito e trova, trova, trova. Olha, sei lá, vai a votos.

Sei que se devem respeitar os mais velhos, por exemplo, uma palmada nas costas, mais uma almofada, uma mantinha para os joelhos, ouvir pela uncentésima vez as crónicas do tempo passado. Mas, sujeito de privilégio, o Manel teve direito a ainda mais, muito mais. O PS proporcionou-lhe bom pré, bom conduto, combustível para a alma, e, pai esmerado, até lhe cuidou da reputação. Para não chocar os enteados da sorte, aqueles que têm de andar a chafurdar para encher o bandulho, nomeou-o reserva moral vitalícia e perpétua, papel que tem desempenhado sacrificada e ininterruptamente nestes longos 34 anos que já leva de sabático. E lá de quando em vez, quando o ennui aperta, lá é dado à estampa mais um livrito de rimas. E, coração grande, a rapaziada do Largo do Rato organiza mais uma homenagem ao grande letrista, perdão, estro da nação.

Manel, deixa o Primeiro-Ministro trabalhar. Olha, faz como o Louçã, ameaça que vais partir para uma Volta a Portugal do desemprego, vais à primeira etapa, constatas que não percebes nada do assunto, desistes, e, como ele fez, vai estudar economia. É a poesia, estúpido!


JSP

Intimidades (3)

Joseph Beuys, João César Monteiro, J. Seberg e Picasso

Gotemburgo, Suécia. 2007/2008


Foto Sérgio Santimano

Schizos e Paranos (2)

Inventar um novo estilo de escrever, de ler, de pensar. Continuemos neste desafio e provação. Mas com os sentidos e o erotismo bem activos, claro. Convidamos todos a participarem. A nos darem as suas linhas de acção e pensamento. A mostrarem as suas escolhas e predilecções. Nas últimas semanas, desencadeou-se uma grande troca cruzada de opiniões, em torno do Holocausto, provocada por uma crónica irregular e despretensiosa sobre uma visita a Auschwitz-Birkenau. O mundo da Blogosfera lusitana vive agora no balanceamento que lhe é permitido pela “ética republicana”, à la JP Pereira, e o trauma luxuriante dos filhos do pós-modernismo militante, de que o Metablogue é o expoente máximo e soberano.

O que se passa, efectivamente, é que a profusão dos comentários, e de alguns marcantes e expressos, criaram uma boa série de argumentos para seguir os conselhos de Wittegenstein à letra. Que nos prescreve, com non-chalance, o autor das Pesquisas Filosóficas? Três coisas, para que Jacques Bouveresse alerta, fundamentalmente: “A primeira, relaciona-se com o facto de não só uma cadeia de razões tem um objectivo, uma finalidade, como muitas vezes não possui nenhum começo. A ausência de justificação (no sentido de ausência de lugar para um problema de justificação), não pode, realmente ser interpretada como uma ausência de legitimidade. Podemos dizer do conceito agonal (reminiscência) o mesmo que Wittgenstein diz da dúvida, pode estar ausente ou funcionar no grau mínimo ou no máximo”.

Na última colecta póstuma de textos, “Deux Régimes de Fous”, Gilles Deleuze aborda as suas relações intelectuais e humanas com Michel Foucault. A traços fortes e decisivos, portanto: “ Não só o admirava como, ainda por cima, me fazia rir. Ele era mesmo muito engraçado Não tinha com ele senão uma coisa em comum: ou trabalho, ou digo coisas insignificantes. Há muito poucas pessoas no mundo com quem se consiga falar de coisas insignificantes. Passar duas horas com alguém, dizendo coisas insignificantes, é a súmula da amizade. Só com grandes amigos se pode falar de coisas insignificantes. Com Foucault, era do género uma frase para aqui outra para acolá. Um dia, na corrente da conversação, ele disse: eu gosto muito de Péguy, porque é um louco. Questionei-o: Porque dizeis que era um louco? Basta olhar como escreve. Isso é muito interessante em relação com o próprio Foucault. Isso queria dizer que alguém que sabe inventar um novo estilo, produzir enunciados novos, é um louco”.

(Continua)

FAR

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

E os Desertos?


Deserto do Saara: الصحراء الكبرى, aṣ-ṣaḥrā´ al-koubra
Saara: tuaregue tenere (deserto).
O deserto compreende parte dos seguintes países e territórios:
Argélia, Burkina Faso, Chade, Egipto, Líbia, Marrocos, Saara Ocidental,

Mauritânia, Mali, Niger, Senegal, Sudão, e Tunísia.
Vivem cerca de 2,5 milhões de pessoas na área do Saara.

(fonte:wikipedia)


No maior deserto do mundo
estão cinco milhões de jóias
humanos olhos tão aguados,
e os meus também,
que com vontades deixei que
se dispensassem de mim
e
caíssem sobre aquela África, no último vôo
ao sentir que o grande pássaro sem canto
ia
comigo gorda de recuos e a chegar inteira,
à velha Europa de penas e fados, de novo.

Já são ausências, aquilo com que vejo.
Já só são o sem fim do espaço, que eles lá vêem...


Benjamin (1)


Fustel de Coulanges recomenda ao historiador interessado em ressuscitar uma época que esqueça tudo o que sabe sobre fases posteriores da história. Impossível caracterizar melhor o método com o qual rompeu o materialismo histórico. Esse método é o da empatia. Sua origem é a inércia do coração, a acedia, que desespera de apropriar-se da verdadeira imagem histórica, em seu relampejar fugaz. Para os teólogos medievais, a acedia era o primeiro fundamento da tristeza. Flaubert, que a conhecia, escreveu: “Peu de gens devineront combien il a fallu être triste pour ressusciter Carthage”. A natureza dessa tristeza se tomará mais clara se nos perguntarmos com quem o investigador historicista estabelece uma relação de empatia. A resposta é inequívoca: com o vencedor. Ora, os que num momento dado dominam são os herdeiros de todos os que venceram antes. A empatia com o vencedor beneficia sempre, portanto, esses dominadores. Isso diz tudo para o materialista histórico. Todos os que até hoje venceram participam do cortejo triunfal, em que os dominadores de hoje espezinham os corpos dos que estão prostrados no chão. Os despojos são carregados no cortejo, como de praxe. Esses despojos são o que chamamos bens culturais. O materialista histórico os contempla com distanciamento. Pois todos os bens culturais que ele vê têm uma origem sobre a qual ele não pode refletir sem horror. Devem sua existência não somente ao esforço dos grandes génios que os criaram, como à corvéia anónima dos seus contemporâneos. Nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie. E, assim como a cultura não é isenta de barbárie, não o é, tampouco, o processo de transmissão da cultura. Por isso, na medida do possível, o materialista histórico se desvia dela. Considera sua tarefa escovar a história a contrapelo.

Walter Benjamin
, in Sobre o Conceito de História (1940)

A Marcha


AZAGAIA

Intimidades (2)

Al Pacino

Gotemburgo. Suécia. 2007/2008

Foto Sérgio Santimano

Da Capital do Império

Olá,

Aposto que vocês nunca ouviram falar do Antonio Charfauros. É o presidente do Partido Democrático na ilha de Guam, um território administrado pelos Estados Unidos cujos habitantes não podem votar nas eleições americanas.
Pois o Antonio outro dia perante espanto seu recebeu um telefonema de “um big shot” da campanha da Hilária. E no dia a seguir outro telefonema de um outro “big shot” da dita cuja. E no dia seguinte outro telefonema de outro “big shot”.
O Antonio não diz precisamente quem lhe telefonou mas toda a malta sabe que nos últimos dias o Bill e a sua filha Chelsea e outros voluntários da campanha da Hilária têm estado atarefadíssimos agarrados ao telefone a falar com os “super delegados” à convenção do Partido Democrático. Porquê? Explico:
A Hilária, o Bill e a Chelsea fizeram contas à vida e decidiram começar a fazer aquilo que aí os dirigentes da UEtupia fizeram quando foram derrotados nos referendos sobre a constituição da “Europa”: Demitir o povo. Os dirigentes europeus reuniram-se entre si mudaram o nome ao documento e depois disseram que já não é preciso referendo porque …. não é constituição. (O Sócrates que vos explique!)
A Hilária e o Bill reuniram-se com os peritos fizeram contas à vida e viram que vai ser muito difícil conseguir o número de delegados suficientes para ela ser nomeada pelo que há que começar a namorar os 794 “super delegados” à convenção. Os tais “super” são os congressistas do partido, governadores estaduais do partido, dirigentes estaduais do partido, antigos presidentes (o Bill por exemplo) antigos vice-presidentes etc. O Partido Democrático chama-lhes “super” e todos os quatro anos paga lhes uma viagem ao local da convenção para beberem uns copos, ir a umas boas jantaradas e encher o estádio com muita vibração para a televisão ter boas imagens da coroação do seu candidato.
Mas este ano o Obambi estragou a festa a falar de “mudança”, “esperança” e “unidade” pelo que a nomeação do candidato Partido Democrático às eleições presidenciais vai este ano ser feito por métodos … não democráticos. Vão ser os “super” a decidir. O que vai dar uma guerra civil dentro do partido. O que está já a provocar gáudio dentro do Partido Republicano que (vejam lá a ironia!) não tem “super” só “normal”. O que torna para mim a convenção deste ano do Partido Democrático bem atraente embora eu tenha a dizer que os Democratas são uns forretas porque das vezes anteriores não deram nada de borla aos jornalistas. Nem um café! Enquanto os Republicanos da última vez davam cerveja, hambúrgueres e bolos de chocolate. (Os democratas tinham contudo melhores cantores).
Pode ser que até lá a campanha da Hilária entre em colapso total. Se dentro do Partido Republicano o Benito Adolfo Giualiani tinha feito a Flórida o estado onde tinha que “vencer ou morrer” a Hilária adoptou agora a mesma posição em relação ao Texas e à Pensilvânia. Ela chama-lhe os “firewall states” e parece resignada ao facto de que na próxima semana vai apanhar outra sova em Wisconsin e no Havai. É perigosa essa coisa dos “firewall”! Na Terça-feira ela estava visivelmente de mau humor depois de apanhar uma sova do Obambi na Virgínia, Maryland e Washington. Foi-se embora para o Texas antes de serem anunciados os resultados e nem adeus disse. É mau sinal! O Obambi esse foi para Wisconsin. Dá pelo menos um ar de confiança afirmando em subentendidos: O Texas há-de vir tenho muito tempo para isso.
Vocês recordam-se que estas primárias iriam ser a coroação da Rainha Hilária como sucessora da dinastia clintoniana mas a Hilária está reduzida a apostar nos “grandes estados” e se isso não der resultado terá que confiar nos “super”. O Obambi entretanto vai somando delegados tendo já ganho 22 estados contra 13 da Hilária o que lhe da uma ligeira vantagem no numero de delegados. A crescente atracção do Obambi é óbvia – Norte, sul, leste oeste, o homem ganha em todos os Estados Unidos.
Para mal da Hilária o Obambi começou entretanto a ganhar votos entre os “hispânicos” as mulheres e a classe trabalhadora do Partido. Se isso se aprofundar …. Hasta la vista Hilaria.
O que tenho a dizer não devera acontecer. Vi um estudo da campanha do Obambi (mandada por engano a um grupo de jornalistas!) que diz que tudo vai terminar sem que o Hilária ou o Obambi tenham os delegados necessários para a vitória.
Por isso eu perguntei ao Antonio Charfauros se ele já tinha recebido telefonemas dos “big shot” do Obambi. Ele disse que não mas que aguarda. O melhor é o Obambi começar a mexer-se. Os Clintons, não se deixam convencer por slogans de “mudança” e “esperança”. Trabalham árduo, nunca desistem, sabem jogar sujo e raramente admitem derrota. Vai ser fogo!

Abraços,
Da Capital do Império,

Jota Esse Erre

Sinais


Desenho Maturino Galvão

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Terra - Somewildwish


Somewildwish/22 (Lobito Restinga 05)
Foto:G.ludovice

O PS visto por Baptista-Bastos

Goste-se, ou não dele, Baptista-Bastos formula neste texto algumas questões importantes e que merecem análise detalhada. Ousemos falar aberta e claramente. Aquilo a que B-B chama “misticismo barroco” que resultados tem produzido para o País ensaiado por esta "gente de manejos burocráticos e de cerviz dobrada ante o Príncipe?Nada. Pior: tem cometido o mais condenável de todos os crimes: o socialicídio”. “O PS é uma desgraça e o Governo“socialista” uma miséria”…Não se sabe de que partido é o B-B., helàs…Vamos discutir em voz alta? Manuel Alegre tinha sido muito cauteloso na entrevista ao “Público”.

"OS SOCIALICIDAS
Vai por aí algum alvoroço com as declarações de Manuel Alegre sobre as derivas do PS. O PS já nasceu com derivas: basta atentar nos seus fundadores. Provinham, quase todos, do antifascismo, mas ética e ideologicamente eram diferentes. De católicos "progressistas" a ex-comunistas, até republicanos de traça jacobina, o PS foi, quase, um trâmite freudiano de adolescentes contra os pais. O que os impediu de compreender as mitologias da social-democracia, esta mesma diversamente interpretada e opostamente aplicada nos países escandinavos. Provinham de uma leitura catequista do marxismo, caldeada na experiência da República de Weimar.

Quando, no PREC, se gritava: "Partido Socialista, partido marxista!" - a exclamação estava a mais. A interrogação seria mais apropriada. O estribilho ficou mudo, quando Willy Brandt mandou dizer que as estentóricas frases eram estranhas à teologia do "socialismo democrático". Por essa época, Manuel Alegre, numa entrevista que lhe fiz, disse, dramático, que "a social-democracia era a grande gestora do capitalismo". Goste-se ou não dele, a verdade é que nunca foi ambidextro na forma de protestar.

Na realidade, há muitíssimo poucos socialistas no PS; no Governo, parece-me que nenhum. Observo aquelas figuras, marcadas por uma espécie de misticismo barroco, e pergunto-me: que tem feito pelo País esta gente de manejos burocráticos e de cerviz dobrada ante o Príncipe? Nada. Pior: tem cometido o mais condenável de todos os crimes - o socialicídio.

Não é de agora, o delito. Com José Sócrates, socialista de ocasião, propagandeou-se a "esquerda moderna" como justificação de todas as malfeitorias ideológicas, sociais, morais e éticas. Mas ele resulta de uma génese política malformada. As "tendências" no PS, desenvolvem-se, exclusivamente, com palavras e frases protocolares. E os poucos que pertencem a uma genealogia oposta são marginalizados ou tidos como anacronismos.

Há, nesta gente, falta de garra, de honra, de competência, de credibilidade, de integridade, de vergonha. Trabalhadores precários: 1 700 000. População empregada: 5,2 milhões de pessoas. Desempregada: cerca de meio milhão. Dois milhões de portugueses na faixa da pobreza. São conhecidos os vencimentos escandalosos, as mordomias, as pensões de reforma não apenas no "privado" como no "público". O regabofe na sociedade portuguesa é mais do que revoltante. O PS é uma desgraça. O Governo "socialista" uma miséria. E ambos têm de saciar imensos e sôfregos apetites.

Manuel Alegre repetiu o que se sabe - e que só o não sabe quem o não quer saber. Afinal, pouco se ambiciona do PS: apenas um bocadinho de socialismo."
Baptista-Bastos, Diário de Notícias de 13/02/2008

FAR

Depois da idiotice, a ignorância enquanto ponto de vista

O João Luís Pinto acha que uma mluher que engravide contra a sua própria vontade só pode ser negligente.
Passo a explicar que uma mulher que tome a pílula sempre sem falhar tem uma probabilidade de 0,1-1% de engravidar (nos sites mais leigos é mais ou menos isto que vem. Ou seja, em mil mulheres plenamente capaz, que tomam regularmente a pílula, de uma a dez podem engravidar. O senhor João Luís Pinto, como é uma pessoa nobre, acha que estas mulheres devem ter o filho contra a sua vontade porque o senhor João Luís Pinto não quer pagar os seus abortos. Prefere assim, empurrá-las para a ilegalidade, para os riscos de infertilidade, infecção e morte.
A minha pergunta a esta gente é esta: quanto custa uma mulher? Quanto é que é muito? O que é pagar muito para uma mulher não ter os riscos? A mulher, a filha, a prima, a amiga do senhor João Luís Pinto tem preço? Gostaríamos de saber quanto.
Outra e outra vez, lembro que esta gente está relacionada com os sectores que não querem educação sexual nas escolas, e são as pessoas que querem gente com menos do ordenado mínimo (condições - como todos sabemos, ideais para uma educação sexual segura e infalível).

Intimidades (1)


Gotemburgo. Suécia. 2007/2008

Foto Sérgio Santimano

Sinais


Desenho Maturino Galvão
Vem, assim, de mansinho.
Vem alumiar mais o sol deste meu cigarro
- iluminas meus olhos, tornas mais terna a manhã -
Assim, de mansinho, chegando como que do nada,
és a estrela que me ilumina,
um beijo profundo e terno.

Trópico amado.
A palavra depois do olhar.

De mansinho chegas e iluminas os meus olhos.
(Quisera um longuíssimo cigarro para perpetuar o momento...)

Tu,
a de olhos claros e pele morena com quem sonho, que vejo.

Aquela, a dos olhos da cor de um dia que nasce, da voz macia com a cor do trópico.

Amado trópico... onde repousa o meu desejo...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Terra - African Woman


African Woman/13 06 MINHA MÃE
Foto:G.Ludovice Em homenagem ao poema
"Adeus à hora da largada"
Minha Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
tu me ensinaste a esperar
como esperaste nas horas difíceis
Mas a vida
matou em mim essa mística esperança
Eu já não espero
sou aquele por quem se espera
Sou eu minha Mãe
a esperança somos nós
os teus filhos
partidos para uma fé que alimenta a vida
Hoje
somos as crianças nuas das sanzalas do mato
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos
nos areais ao meio-dia
somos nós mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafezais
os homens negros ignorantes
que devem respeitar o homem branco
e temer o rico
somos os teus filhos
dos bairros de pretos
além aonde não chega a luz elétrica
os homens bêbedos a cair
abandonados ao ritmo dum batuque de morte
teus filhos
com fome
com sede
com vergonha de te chamarmos Mãe
com medo de atravessar as ruas
com medo dos homens
nós mesmos
Amanhã
entoaremos hinos à liberdade
quando comemorarmos
a data da abolição desta escravatura
Nós vamos em busca de luz
os teus filhos Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
Vão em busca de vida.
(Sagrada esperança)

Agostinho Neto