quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007
terça-feira, 13 de fevereiro de 2007
Sim! e a história de uma campanha
Ganhou o Sim. O Sim à escolha medicamente assistida, o Sim à liberdade das mulheres, o Sim ao combate ao aborto clandestino.
Para mim, além disso, foi ver recompensado todo o esforço dos Médicos Pela Escolha e de todos os outros com quem convivi durante a campanha.
Em termos pessoais a campanha arrancou no Verão, no melhor bar do Bairro Alto, o Loucos e Sonhadores, quando fui convidado juntamente com o meu grupo de amigos pela Mara para uma Associação que se apresentava, até para uma noite de copos, como algo muito mais sério que a habitual indignação. A piscar-nos o olho, estava ali a proposta de passar à acção, de fazermos mesmo coisas por isto.
A coisa já tinha arrancado há bem mais tempo, mas para nós começou ali. E muito durou. Seguiram-se as reuniões embrionárias em casa do João e as primeiras reuniões em Santa Maria. Depois a preparação do argumentário, com várias leituras do 7 teses sobre o aborto do Dr. Miguel Oliveira e Silva e a tese do Cunhal que a Teresa desencantou. E, entretanto, encontrar pessoas novas. Juntar pessoas para fazer coisas (a frase é simples, mas diz muito). Conhecer o Vasco Freire, o João, a Rosa e a Sara. Depois a Dra. Maria José Alves, a Dra. Ana Campos e a Dra. Ana Matos Pires. A seguir a malta do norte, como a Cecília e o Bruno. A coisa andava e o grupo do costume sorria.
Depois foram as burocracias, a recolha de assinaturas e o aproximar da campanha, com as reuniões de terça feira a crescerem. Preparam-se os argumentos, antecipam-se outros, procura-se financiamento, querem-se mais contactos, e continuamos a tentar juntar pessoas.
Com o aproximar da capnha, acumulavam-se flyers e autocolantes, e quando a mesma começou, foi um corropio. Só se falava de aborto. Combinávamos distribuições de flyers (com particular destaque para duas horas dentro do metro sempre a mudar de carruagem) e dividíamo-nos para debates. Corríamos tudo o que pudéssemos. Chegávamos a casa e despejávamos as maiores alarvidades que os gajos do não tinham dito hoje.
As reuniões eram sempre uma confusão divertida (tirando quando alguém lá dizia que tinha medo que os outros ganhassem), gastámos fortunas ao telemóvel, faltámos a aulas, mas valeu a pena. Domingo à noite, enquanto dançávamos e festajávamos, senti que tinha participado na coisa. Não com a importância do Sócrates, óbvio, mas que tinha feito qualquer coisa. Afinal, é mesmo possível juntar gente e fazer coisas, mesmo que isso signifique enfrentar insituições com centenas de anos no poder. Mesmo que isso implique ouvir mentiras atrás de mentiras e que às vezes nos faça sentir impotentes por ver que os outros têm meios que nós não temos.
Mas vale a pena. É possível fugir à conversa do "não dá" e "isso não vale a pena". Esta luta deu e valeu a pena. E o que se conquistou é muito grande.
Muito obrigado aos que me aturaram estes dias todos (muito me "ouviu" o André Carapinha no messenger). Agora é lutar pelo resto (Código Deontológico, IVG no SNS, mais Planeamento Familiar, etc). Dia 11 foi bom, mas há mais por fazer.
Para mim, além disso, foi ver recompensado todo o esforço dos Médicos Pela Escolha e de todos os outros com quem convivi durante a campanha.
Em termos pessoais a campanha arrancou no Verão, no melhor bar do Bairro Alto, o Loucos e Sonhadores, quando fui convidado juntamente com o meu grupo de amigos pela Mara para uma Associação que se apresentava, até para uma noite de copos, como algo muito mais sério que a habitual indignação. A piscar-nos o olho, estava ali a proposta de passar à acção, de fazermos mesmo coisas por isto.
A coisa já tinha arrancado há bem mais tempo, mas para nós começou ali. E muito durou. Seguiram-se as reuniões embrionárias em casa do João e as primeiras reuniões em Santa Maria. Depois a preparação do argumentário, com várias leituras do 7 teses sobre o aborto do Dr. Miguel Oliveira e Silva e a tese do Cunhal que a Teresa desencantou. E, entretanto, encontrar pessoas novas. Juntar pessoas para fazer coisas (a frase é simples, mas diz muito). Conhecer o Vasco Freire, o João, a Rosa e a Sara. Depois a Dra. Maria José Alves, a Dra. Ana Campos e a Dra. Ana Matos Pires. A seguir a malta do norte, como a Cecília e o Bruno. A coisa andava e o grupo do costume sorria.
Depois foram as burocracias, a recolha de assinaturas e o aproximar da campanha, com as reuniões de terça feira a crescerem. Preparam-se os argumentos, antecipam-se outros, procura-se financiamento, querem-se mais contactos, e continuamos a tentar juntar pessoas.
Com o aproximar da capnha, acumulavam-se flyers e autocolantes, e quando a mesma começou, foi um corropio. Só se falava de aborto. Combinávamos distribuições de flyers (com particular destaque para duas horas dentro do metro sempre a mudar de carruagem) e dividíamo-nos para debates. Corríamos tudo o que pudéssemos. Chegávamos a casa e despejávamos as maiores alarvidades que os gajos do não tinham dito hoje.
As reuniões eram sempre uma confusão divertida (tirando quando alguém lá dizia que tinha medo que os outros ganhassem), gastámos fortunas ao telemóvel, faltámos a aulas, mas valeu a pena. Domingo à noite, enquanto dançávamos e festajávamos, senti que tinha participado na coisa. Não com a importância do Sócrates, óbvio, mas que tinha feito qualquer coisa. Afinal, é mesmo possível juntar gente e fazer coisas, mesmo que isso signifique enfrentar insituições com centenas de anos no poder. Mesmo que isso implique ouvir mentiras atrás de mentiras e que às vezes nos faça sentir impotentes por ver que os outros têm meios que nós não temos.
Mas vale a pena. É possível fugir à conversa do "não dá" e "isso não vale a pena". Esta luta deu e valeu a pena. E o que se conquistou é muito grande.
Muito obrigado aos que me aturaram estes dias todos (muito me "ouviu" o André Carapinha no messenger). Agora é lutar pelo resto (Código Deontológico, IVG no SNS, mais Planeamento Familiar, etc). Dia 11 foi bom, mas há mais por fazer.
Vencedores e vencidos do referendo
Vencedores:
José Sócrates- Coerência a toda a linha, empenhamento, uma estratégia clara desde o primeiro minuto que se revelou vencedora, e sobretudo a afirmação de uma posição óbvia do PS face à sua tradição nesta matéria. Para esquecer Guterres de vez.
Bloco de Esquerda- Marcou pontos na sua guerra particular com o PCP. Provou que a sua posição em apoiar o referendo era a certa. O capital de legitimidade da nova lei será, assim, muito maior.
Ribeiro e Castro- Devo ser o primeiro a escrever isto, mas como único rosto visivel do Não no campo partidário, coerente desde o primeiro minuto (ao contrário de Marques Mendes), ganhou estima e popularidade entre muita da Direita. Mesmo a guerrilha interna do CDS foi-lhe favorável: ao não querer aparecer com o líder, a oposição simplesmente... não apareceu.
Liberais- Vasco Rato, Carlos Abreu Amorim, Helena Matos, Adolfo Mesquita Nunes, tiveram a única posição digna neste assunto para quem se diz liberal. Que, como ficou provado, é um termo muito mal utilizado em Portugal...
André Carapinha- Esta foi só para embirrar.
Vencidos:
Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa- A vergonhosa estratégia da dissimulação, a tentativa de agradar a gregos e troianos, não só não resultou como os descredibilizou. Mendes, especialmente, perde mais uma batalha e tem muitas explicações a dar ao PSD, que foi neutro apenas em teoria. Um ponto a menos para a política manobrista e sem vergonha. Ainda bem.
Igreja Católica- Apostou tudo e perdeu. Mobilizou, discretamente, os padres a Norte, e às claras a Opus Dei nas cidades. Inventou 11 movimentos, teve mais tempo de antena, teve as missas dominicais, o catecismo nocturno, as homilias televisivas, os media católicos. Mea culpa, também eu pensei que tivesse mais força. Já não tem.
"Liberais"- Se preciso fosse, ficou claro o que são a maioria dos "liberais" portugueses: os restos de uma Direita salazarenta e beata abrigados sob o capote do liberalismo, a ideologia da moda. Vide o exemplo do citado abaixo, o "liberal" da Opus Dei e próximo do PNR,
André Azevedo Alves- Esta foi só para embirrar ainda mais um bocadinho.
José Sócrates- Coerência a toda a linha, empenhamento, uma estratégia clara desde o primeiro minuto que se revelou vencedora, e sobretudo a afirmação de uma posição óbvia do PS face à sua tradição nesta matéria. Para esquecer Guterres de vez.
Bloco de Esquerda- Marcou pontos na sua guerra particular com o PCP. Provou que a sua posição em apoiar o referendo era a certa. O capital de legitimidade da nova lei será, assim, muito maior.
Ribeiro e Castro- Devo ser o primeiro a escrever isto, mas como único rosto visivel do Não no campo partidário, coerente desde o primeiro minuto (ao contrário de Marques Mendes), ganhou estima e popularidade entre muita da Direita. Mesmo a guerrilha interna do CDS foi-lhe favorável: ao não querer aparecer com o líder, a oposição simplesmente... não apareceu.
Liberais- Vasco Rato, Carlos Abreu Amorim, Helena Matos, Adolfo Mesquita Nunes, tiveram a única posição digna neste assunto para quem se diz liberal. Que, como ficou provado, é um termo muito mal utilizado em Portugal...
André Carapinha- Esta foi só para embirrar.
Vencidos:
Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa- A vergonhosa estratégia da dissimulação, a tentativa de agradar a gregos e troianos, não só não resultou como os descredibilizou. Mendes, especialmente, perde mais uma batalha e tem muitas explicações a dar ao PSD, que foi neutro apenas em teoria. Um ponto a menos para a política manobrista e sem vergonha. Ainda bem.
Igreja Católica- Apostou tudo e perdeu. Mobilizou, discretamente, os padres a Norte, e às claras a Opus Dei nas cidades. Inventou 11 movimentos, teve mais tempo de antena, teve as missas dominicais, o catecismo nocturno, as homilias televisivas, os media católicos. Mea culpa, também eu pensei que tivesse mais força. Já não tem.
"Liberais"- Se preciso fosse, ficou claro o que são a maioria dos "liberais" portugueses: os restos de uma Direita salazarenta e beata abrigados sob o capote do liberalismo, a ideologia da moda. Vide o exemplo do citado abaixo, o "liberal" da Opus Dei e próximo do PNR,
André Azevedo Alves- Esta foi só para embirrar ainda mais um bocadinho.
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007
Irão: The Guardian diz que Pentágono tem plano para atacar de surpresa
O ataque tem os objectivos já definidos, sob peritagem militar, e pode surgir o mais tardar em 2008....
Um extenso artigo, Sábado, publicado no The Guardian, Londres, dá como certa a tese de que Bush e os seus muxaxos estão a ultimar os preparativos para bombardear de surpreza( in spring) os sítios nucleares do Irão. Robert Gates e o Estado-Maior das Forças Armadas americanas, que despacharam mais um porta-aviões para o Golfo Arábico, não conseguem impedir a aposta mirabolante da dupla Bush/ Cheney para bombardear o Irão.
Ler mais no Truthout.Com, Ewen MacAskill, USA able to strike in the spring Iran.
FAR
Um extenso artigo, Sábado, publicado no The Guardian, Londres, dá como certa a tese de que Bush e os seus muxaxos estão a ultimar os preparativos para bombardear de surpreza( in spring) os sítios nucleares do Irão. Robert Gates e o Estado-Maior das Forças Armadas americanas, que despacharam mais um porta-aviões para o Golfo Arábico, não conseguem impedir a aposta mirabolante da dupla Bush/ Cheney para bombardear o Irão.
Ler mais no Truthout.Com, Ewen MacAskill, USA able to strike in the spring Iran.
FAR
México

Mercado de Santo Domingo Tehuantepec, no Istmo. A tortilla, base da alimentação da população pobre, a maioria dos 106 milhões de habitantes, está a escassear. O preço do milho aumentou, depois do leite e dos ovos. O México volta a agitar-se.

Cocos em tiendas pela estrada fora. Uma bênção refrescante em dias de Sol impiedoso, de vento agreste, de condução arriscada. Mas sempre recompensados por uma ampla sensação de liberdade.
Texto e fotos de Pedro Caldeira Rodrigues. (Novembro de 2006)
SIM!
Sim à liberdade, à responsabilidade, à dignidade, à saúde. Sim a um Portugal mais moderno, um Portugal que confia na capacidade de decisão dos seus cidadãos, que não se deixa enredar em falsos moralismos, que não julga o próximo, que sabe o significado verdadeiro da palavra "liberal". Sim a um Portugal laico. Sim, sobretudo, às mulheres, à sua inteligência, à sua capacidade decisória, à sua maioridade, ao fim da tutela do Estado sobre os seus úteros. Este Sim é um Sim à Vida, porque serve os vivos e não os potenciais vivos, porque confia nas pessoas e não em deuses, porque aceita o lugar de todos e cada um e respeita os seus valores. 11 de Fevereiro de 2007 ficará na história do meu país. E na minha história pessoal como o dia em que continuei a acreditar nele.domingo, 11 de fevereiro de 2007
sábado, 10 de fevereiro de 2007
VIII. O Caso Litvinenko: Berezovsky narra versão na "The New Yorker"
O multimilionário russo exilado em Londres, Boris Berezovsky, aceitou falar ao jornalista do The New Yorker, Michael Specter, enquadrado num extenso artigo sobre as causas da morte dos oponentes de Putin, publicado na edição do final de Janeiro último. O repórter apalpou o pulsar da vida sociocultural moscovita de hoje. A profundidade dos contactos e a diversidade dos pontos de vista confrontados, dão-nos uma visão muito bem trabalhada e alargada do clima de medo e intimidação criado pela mítica dinâmica instilada pela "democracia soberana" à la Putin, que ainda não esclareceu definitivamente se quer suceder a si próprio no Kremlin.
Ora, se um antigo impedido de Putin declara que, "se tivesse sido o KGB/FSB a matar Litvinenko, existiam outros ex-agentes mais importantes para serem dizimados, como por exemplo, Oleg Kalunin, refugiado nos USA", Berezovsky sustenta, por outro lado, que o seu amigo Sasha "foi executado pelo FSB" e de uma forma "artesanal", pois, "subestimaram a perícia dos médicos ingleses que, em menos de três horas antes da sua morte, detectaram o rasto do polónio 210" . "Os homens do FSB enlouqueceram. Fintaram-se a si próprios. Se a morte de Sasha tivesse ocorrido nas primeiras duas semanas, talvez não houvesse traços do envenenamento", sublinhou.
FAR
Ora, se um antigo impedido de Putin declara que, "se tivesse sido o KGB/FSB a matar Litvinenko, existiam outros ex-agentes mais importantes para serem dizimados, como por exemplo, Oleg Kalunin, refugiado nos USA", Berezovsky sustenta, por outro lado, que o seu amigo Sasha "foi executado pelo FSB" e de uma forma "artesanal", pois, "subestimaram a perícia dos médicos ingleses que, em menos de três horas antes da sua morte, detectaram o rasto do polónio 210" . "Os homens do FSB enlouqueceram. Fintaram-se a si próprios. Se a morte de Sasha tivesse ocorrido nas primeiras duas semanas, talvez não houvesse traços do envenenamento", sublinhou.
FAR
México

Camarões frescos e fritos junto a uma praia do Pacífico, acompanhados por tomate, abacate, tortilla… Com uma Modelo Especial, ou uma Corona Extra, mais as ovas fritas e os bolos de coco vendidos por mulheres que calcorreiam a areia pelo dia, permite-se uma breve mas particular reconciliação com a vida, com o mundo, com quase tudo.
Areais sem fim, com pelicanos, aves de rapina, bandos de golfinhos e pescadores na sua actividade artesanal. Em Portugal existe a Boca do Inferno, este local na costa de Chiapas foi eleito como a Boca del Cielo.
Texto e fotos de Pedro Caldeira Rodrigues. (Novembro de 2006)
Presidenciais francesas: Ségolène tem máquina de Comunicação com falhas
Mitterrandistas históricos aderem a Sarkozy: Enrico Macias, o cantor argelino chouchou do antigo Pr. , o jornalista glamour George-Marc Benamou e o antigo ministro da Indústria de tonton , o multifacetado Bernard Tapie...Também Alain Bauer, um maçon rocardiano de alta voltagem faz parte do lote.
No primeiro Mundo, os war rooms da manipulação sofisticada não deixam nada ao acaso. Jacques Séguèla, o mundialmente célebre publicitário multiplicou por três os conselheiros
de imagem da sua aposta-fétiche, Ségolène Royal. Falta de agenda diária, breakdown na principal redactora dos textos da candidata e uma gigantesca descoordenação parecem obrigar o estado-maior da campanha a " cerrar as fileiras". Bernard Kouchner, o french doctor criador dos Médecins Sans Frontières, disse ontem na TV, que esperava para ver os tópicos essenciais da campanha, e depois entraria nela ou não. Um dos políticos mais populares de França a dizer isto, alto e bom som, diz bem do estado de crise anunciada que se vive nos meandros do estado-maior da candidata, que por acaso é concubina do líder do PS, partido que a apoia.
O Le Canard Enchainé noticia hoje que uma antiga secretária parlamentar de Ségo, Evelyne Pathouot, que desembala pormenores picantes das viagens políticas da patroa e reclama alguns ordenados em atraso. O Figaro, sentiu o efeito da estória, só que Pathouot esta inscrita agora no partido de Sarkosy e assessora dois deputados do partido que a recuperou. A propósito, o falhado candidato ecologista independente, Nicolas Hulot, que trabalha na TF1, a maior rede privada de TV francesa, ultrapassou um mau bocado porque a empresa deixou de lhe pagar quando ele " ameaçou" candidatar-se, situação normalizada agora pela desistência efectiva do projecto que tentou liderar.
Por fim , neste arranque monumental da pré-campanha, atenção especial para a apresentação oficial do programa de Ségolène Royal no Domingo, 11, num polidesportivo nos arredores de Paris. A central de Comunicação de candidata foi entretanto reformulada: Aurélie Filippetti assume agora o comando, por causa do surmenáge da anterior " caneta " de Ségo., Sophie Bouchet-Petersen. O grande prémio de Literatura da Academia Francesa, Erik Orsenna, vai assumir o talcargo. E na Pub-Com, Séguèla parece ter contratado mais adjuntos, Devarieux-Villaret, e a norte-americana Natalie Rastoin foi recambiada.
Portanto, o que se assiste é a uma monumental Feira de Vaidades, onde os intelectuais e os publicitários-comunicadores jogam a pele e tentam extrair o máximo de notoriedade. Veja-se o caso, singular e emblemático, de George-Marc Benamou, o jornalista -vedeta que tinha criado com Bernard-Henri Lévy e os amigos do costureiro Yves Saint-Laurent, a mais audaciosa das revistas políticas do último quartel do séc. XX, a mítica Globe, em papel-couché e com um arriscado projecto editorial de uma extravagância inimaginável para os suporters de um Presidente eleito pela Esquerda... Plural. Benamou fez o que quis, foi o testamenteiro das memórias privadas de Mitterrand e caiu num buraco sem fundo... onde o Nicolas Sarkosy o foi recuperar agora.
FAR
No primeiro Mundo, os war rooms da manipulação sofisticada não deixam nada ao acaso. Jacques Séguèla, o mundialmente célebre publicitário multiplicou por três os conselheiros
de imagem da sua aposta-fétiche, Ségolène Royal. Falta de agenda diária, breakdown na principal redactora dos textos da candidata e uma gigantesca descoordenação parecem obrigar o estado-maior da campanha a " cerrar as fileiras". Bernard Kouchner, o french doctor criador dos Médecins Sans Frontières, disse ontem na TV, que esperava para ver os tópicos essenciais da campanha, e depois entraria nela ou não. Um dos políticos mais populares de França a dizer isto, alto e bom som, diz bem do estado de crise anunciada que se vive nos meandros do estado-maior da candidata, que por acaso é concubina do líder do PS, partido que a apoia.
O Le Canard Enchainé noticia hoje que uma antiga secretária parlamentar de Ségo, Evelyne Pathouot, que desembala pormenores picantes das viagens políticas da patroa e reclama alguns ordenados em atraso. O Figaro, sentiu o efeito da estória, só que Pathouot esta inscrita agora no partido de Sarkosy e assessora dois deputados do partido que a recuperou. A propósito, o falhado candidato ecologista independente, Nicolas Hulot, que trabalha na TF1, a maior rede privada de TV francesa, ultrapassou um mau bocado porque a empresa deixou de lhe pagar quando ele " ameaçou" candidatar-se, situação normalizada agora pela desistência efectiva do projecto que tentou liderar.
Por fim , neste arranque monumental da pré-campanha, atenção especial para a apresentação oficial do programa de Ségolène Royal no Domingo, 11, num polidesportivo nos arredores de Paris. A central de Comunicação de candidata foi entretanto reformulada: Aurélie Filippetti assume agora o comando, por causa do surmenáge da anterior " caneta " de Ségo., Sophie Bouchet-Petersen. O grande prémio de Literatura da Academia Francesa, Erik Orsenna, vai assumir o talcargo. E na Pub-Com, Séguèla parece ter contratado mais adjuntos, Devarieux-Villaret, e a norte-americana Natalie Rastoin foi recambiada.
Portanto, o que se assiste é a uma monumental Feira de Vaidades, onde os intelectuais e os publicitários-comunicadores jogam a pele e tentam extrair o máximo de notoriedade. Veja-se o caso, singular e emblemático, de George-Marc Benamou, o jornalista -vedeta que tinha criado com Bernard-Henri Lévy e os amigos do costureiro Yves Saint-Laurent, a mais audaciosa das revistas políticas do último quartel do séc. XX, a mítica Globe, em papel-couché e com um arriscado projecto editorial de uma extravagância inimaginável para os suporters de um Presidente eleito pela Esquerda... Plural. Benamou fez o que quis, foi o testamenteiro das memórias privadas de Mitterrand e caiu num buraco sem fundo... onde o Nicolas Sarkosy o foi recuperar agora.
FAR
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007
Sim por fim
Este post será, em princípio, o último que irei colocar até às 19 horas de domingo (reservo-me o direito de legítima defesa se os blogues do Não quebrarem o pacto). Quero aqui fazer um breve balanço de uma campanha que, como poucas, apaixonou tanta gente- e a sua primeira grande virtude foi mesmo essa: pudemos sentir, para o bem e para o mal, um cheirinho da verdadeira democracia, essa que não pertence a directórios partidários mas a todos nós. Sentimo-nos parte mesma dessa democracia, importantes, decisivos na nossa singularidade. Para quem acredita na democracia participativa, este foi um motivo de orgulho e esperança, mesmo que, note-se, o referendo não seja vinculativo (e eu espero bem que seja, em nome da instituição referendo, que muito prezo apesar das curiosas nuances com que é aplicada em Portugal- mero meio de desresponsabilização das maiorias em temas controversos).
Não irei repetir os argumentos que me levam, desde o princípio, a tomar uma clara posição pelo Sim. Registo que tive oportunidade de aprofundar outros, em blogues, artigos de jornal, debates ou simples conversas. Registo também que, se possivel fosse, e eu pensava seriamente que não, saio da campanha ainda mais convicto da justeza da minha posição pelo Sim. Espero e confio que o dia 11 de Fevereiro de 2007 seja lembrado para sempre como o dia em que Portugal deu um passo decisivo em direcção à urbanidade, à liberalidade dos costumes, à civilização.
Com maior ou menor brilhantismo, com mais ou menos empenho, todos procurámos dar o nosso contributo pela causa que defendemos. Da minha parte, fiz o que pude e o que sei. Orgulho-me da maioria dos meus contributos; reconheço que por vezes me excedi (como num certo e famoso post de que os leitores habituais deste blogue certamente se recordam), também, reconheça-se, porque me fizeram subir a mostarda ao nariz. Seja. A vida é feita de apostas, umas certas, outras erradas.
A blogosfera foi palco central do debate, o que só surpreenderá os mais distraídos. Cada vez mais os blogues serão elementos do processo mediático-democrático, transportando as suas virtudes e os seus defeitos. Habituemo-nos, e saibamos cultivá-la da melhor forma, rejeitando os seus ramos podres. Também neste caso, o futuro está nas nossas mãos.
As análises sobre o que correu bem e o que correu mal ficarão para depois dos votos contados, até porque dependem muito do resultado final. Termino com um sincero apelo aos meus compatriotas para que, independentemente da sua opção neste referendo, não deixem de votar. Se há algo que ainda resta da Democracia, nestes tempos de império económico, isso é o voto, e ainda mais neste caso. No dia 12 seremos todos portugueses, com as nossas idiossincracias, e o mundo continuará a girar. Até lá!
Mambo 7
Não se consegue conhecer com as mãos a estatura da impossibilidade, é gorda, cresce sem recuo no seu corpo destreinado de medida observável. Senta-se a achar des-soluções sob a frondosa árvore da imaginação, na ocupação do tempo. Sobrevive-lhe. A impossibilidade mastiga-nos sem paragem e se o mundo fosse um desenho despreocupado de menino, a estrada toda que prossegue para fora do papel desde onde se iniciou?Morreria, a não possibilidade!!
A propósito da visita do presidente da China a Moçambique
Carta Aberta a Hu Jintao
Marcelo Mosse*
Camarada Jintao
Nos últimos anos, em Moçambique temos estado a operar uma transição para a democracia aceite de mãos abertas pelos todos. Também encentamos uma viragem para a economia liberal, a custo de muito esforço. A democracia de Moçambique tem ainda muitos espinhos; precisa de ser melhorada. É uma democracia mínima. Mas a democratização tem permitido que apreendamos uma nova cultura política. Instituições como liberdade de expressão e de imprensa e pluralismo político são como que bandeiras desse processo. As liberdades de expressão e associação consagradas na nossa Constitução da República permitem-nos que exigamos e defendamos o respeito pelos direitos humanos.
Reconhecemos e agradecemos o apoio da China à libertação de Moçambique da dominação colonial. Depois dessa libertação, Moçambique sofreu inúmeros desastres naturais e uma guerra fracticida de 16 anos, a qual destruíu infraestruturas básicas de educação, saúde, transportes e comunicação. Há 15 anos iniciamos a reconstrução do Estado. Não se tem tratado apenas de reerguer infra-estruturas; trata-se também de estabelecer novas instituições, sistemas, regras de transparência e normas de gestão de recursos naturais. Enfim, novos valores na gestão do bem público.
O nosso Estado, camarada Jintao, está em processo de reforma, vamos dizer de modernização. E muitos destes processos têm tido o apoio da comunidade internacional ocidental bilateral, do Banco Mundial (FMI) e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Somos um país pobre, dependente, como deve saber, e precisamos desse apoio.
Somos pobres, mas não somos cegos; e gostamos de nós!! Por isso, ao longo destes anos, criticamos os doadores ocidentais pelos aspectos negativos que a sua “cooperação” implicava; criticamos a destruição da anterior indústria do caju; o reendividamento com a “assistência técnica”; o rigor excessivo no controlo da despesa pública; as privatizações (desastrosas) impostas; as tecnologias inadequadas; a chamada “tied aid” (que a China hoje promove); as unidades de implementação de projectos; o disempowerment do Estado; os capacity buildings cíclos e ineficazes, etc.
Muito dinheiro, crédito e donativos, foram gastos nesses processos. Podíamos estar melhor, é certo. Não estamos. Contudo, o país tem mudado de face; temos mais escolas, hospitais, melhores comunicações, estradas, instituições em amadurecimento, etc. Em suma, apesar dos aspectos negativos dessa cooperação, há muitos ganhos visíveis. No entanto, continuamos dependentes.
Camarada Jintao
Uma das nossas grandes guerras é, pois, vencer a dependência externa. Isso pode ser alcançado se gerirmos melhor o nosso bem público, os nossos recursos e melhorarmos os termos de troca com o estrangeiro.
Ainda persistem condicionalismos na cooperação com o ocidente, é certo, mas eles tem sido removidos através do diálogo político que se faz no âmbito do apoio orçamental que recebemos. São condicionalismos de que não nos podemos queixar: a transparência e o combate à corrupção, a independência e eficiência do judicário, a melhoria da gestão financeira do Estado, o respeito pelos direitos humanos, etc, ajudam-nos a melhorar a gestão do nosso bem público.
Nos últimos anos, a sua China tornou-se um actor de relevo na economia mundial, tendo reforçado a cooperação com África, essencialmente virada para a captação de matéria-prima. A sua China procura em Africa não mercados para os seus produtos, mas matéria-prima, recursos naturais. Moçambique, que também precisa da ajuda da China, é um dos vossos alvos preferenciais. Os moçambicanos aceitam, de braços abertos, a cooperação com a China. Ela é necessária. Mas gostariam que essa cooperação fosse transparente, equilibrada, e que os termos de troca fossem equitativos.
Uma das nossas grandes guerras é vencer a dependência externa; não apenas a dependência ocidental. Isso significa que a cooperação com a China não tem de ser uma cooperação de dependência e, pior, clientelar. Não queremos transferir a dependência do ocidente para a China, queremos eliminá-la; não queremos que a Hidroelétrica de Cahora Bassa tenha um novo dono estrangeiro; não queremos que as empresas chinesas ganhem falsos concursos nas obras públicas e maltratem impunemente os nossos cidadãos; não queremos um novo ciclo de endividamento externo, principalmente quando não aplicado no sector produtivo e sobretudo quando aplicado em bens supérfluos como palácios; não queremos que cidadãos chineses entrem em Moçambique sem documentação nenhuma, quando repatriamos tanzanianos e congoleses nas mesmas condi- ções; não queremos, sobretudo, esta delapidação sem paralelo dos nossos recursos florestais.
Não queremos ser um “Dumba-Nengue” chinês. Ou “take away”, como no passado colonial. A China pode nos construir estádios de futebol, oferecer bolsas de estudos, erguer pontes, apoiar no combate à malária, mas essa generosidade não pode ter como moeda de troca a promoção da riqueza fácil para as nossas elites, do vandalismo ambiental, da pirataria nas obras públicas, da precarização do emprego, da des-resconstrução das instituições que temos vindo a reconstruir. Por isso, gostaríamos de vê-lo a anunciar não a construção de um novo palácio presidencial, mas a deixar claro às empresas chinesas que Moçambique é um país com regras, instituições e leis (incluindo de gestão ambiental) democráticas que devem ser respeitadas.
Camarada Hu Jintao
Somos pobres, mas gostamos de nós. Uma das coisas que temos tentado fazer é constuir um Estado de Direito. Isso passa pelo funcionamento pleno do nosso aparato legal, da nossa administração pública. A China e os chineses devem respeitar isso. Muito gostariamos de vê-lo a ordenar os seus concidadãos a terminarem o saque desenfreado aos nossos recursos. A China não tem o direito de promover uma cooperação que, a longo prazo, vai custar caro aos moçambicanos, mais caro do que aquela cooperação que se diz condicionalizada.
Moçambique precisa do IDE chinês, precisa de acordos comerciais equilibrados, relações laborais justas e créditos concessionais para o sector produtivo. Mas sabemos que não há almoços grátis. E também não basta dizer que é uma cooperação sem condicionalismos, pois pior que colocar condicionalismos em cima da mesa, é encenar montanhas de caridade cujo substracto assenta numa nova relação de dependência e subordinação politica e económica, onde o nosso único papel é alimentar de recursos as empresas e a economia do seu país.
* Coordenador Executivo de Centro de Integridade Pública
Marcelo Mosse é Jornalista e pesquisador independente; Pós-graduado em Estudos de Desenvolvimento e Mestrando em Estudos Africanos no ISCTE/Lisboa. Já foi editor do Metical e do MediaFAX. É co-autor da foto-biografia de Samora Machel (Maguezo Editores, 2001), co-autor, a par de Paul Fauvet, da biografia de Carlos Cardoso (Ndjira, 2003; Double Storey, 2004; Caminho, 2004). Escreveu, juntamente com Peter Gastrow, o estudo “Mozambique: Threats Posed by Criminal Networks” (2001, Institute for Security Studies).
Marcelo Mosse*
Camarada Jintao
Nos últimos anos, em Moçambique temos estado a operar uma transição para a democracia aceite de mãos abertas pelos todos. Também encentamos uma viragem para a economia liberal, a custo de muito esforço. A democracia de Moçambique tem ainda muitos espinhos; precisa de ser melhorada. É uma democracia mínima. Mas a democratização tem permitido que apreendamos uma nova cultura política. Instituições como liberdade de expressão e de imprensa e pluralismo político são como que bandeiras desse processo. As liberdades de expressão e associação consagradas na nossa Constitução da República permitem-nos que exigamos e defendamos o respeito pelos direitos humanos.
Reconhecemos e agradecemos o apoio da China à libertação de Moçambique da dominação colonial. Depois dessa libertação, Moçambique sofreu inúmeros desastres naturais e uma guerra fracticida de 16 anos, a qual destruíu infraestruturas básicas de educação, saúde, transportes e comunicação. Há 15 anos iniciamos a reconstrução do Estado. Não se tem tratado apenas de reerguer infra-estruturas; trata-se também de estabelecer novas instituições, sistemas, regras de transparência e normas de gestão de recursos naturais. Enfim, novos valores na gestão do bem público.
O nosso Estado, camarada Jintao, está em processo de reforma, vamos dizer de modernização. E muitos destes processos têm tido o apoio da comunidade internacional ocidental bilateral, do Banco Mundial (FMI) e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Somos um país pobre, dependente, como deve saber, e precisamos desse apoio.
Somos pobres, mas não somos cegos; e gostamos de nós!! Por isso, ao longo destes anos, criticamos os doadores ocidentais pelos aspectos negativos que a sua “cooperação” implicava; criticamos a destruição da anterior indústria do caju; o reendividamento com a “assistência técnica”; o rigor excessivo no controlo da despesa pública; as privatizações (desastrosas) impostas; as tecnologias inadequadas; a chamada “tied aid” (que a China hoje promove); as unidades de implementação de projectos; o disempowerment do Estado; os capacity buildings cíclos e ineficazes, etc.
Muito dinheiro, crédito e donativos, foram gastos nesses processos. Podíamos estar melhor, é certo. Não estamos. Contudo, o país tem mudado de face; temos mais escolas, hospitais, melhores comunicações, estradas, instituições em amadurecimento, etc. Em suma, apesar dos aspectos negativos dessa cooperação, há muitos ganhos visíveis. No entanto, continuamos dependentes.
Camarada Jintao
Uma das nossas grandes guerras é, pois, vencer a dependência externa. Isso pode ser alcançado se gerirmos melhor o nosso bem público, os nossos recursos e melhorarmos os termos de troca com o estrangeiro.
Ainda persistem condicionalismos na cooperação com o ocidente, é certo, mas eles tem sido removidos através do diálogo político que se faz no âmbito do apoio orçamental que recebemos. São condicionalismos de que não nos podemos queixar: a transparência e o combate à corrupção, a independência e eficiência do judicário, a melhoria da gestão financeira do Estado, o respeito pelos direitos humanos, etc, ajudam-nos a melhorar a gestão do nosso bem público.
Nos últimos anos, a sua China tornou-se um actor de relevo na economia mundial, tendo reforçado a cooperação com África, essencialmente virada para a captação de matéria-prima. A sua China procura em Africa não mercados para os seus produtos, mas matéria-prima, recursos naturais. Moçambique, que também precisa da ajuda da China, é um dos vossos alvos preferenciais. Os moçambicanos aceitam, de braços abertos, a cooperação com a China. Ela é necessária. Mas gostariam que essa cooperação fosse transparente, equilibrada, e que os termos de troca fossem equitativos.
Uma das nossas grandes guerras é vencer a dependência externa; não apenas a dependência ocidental. Isso significa que a cooperação com a China não tem de ser uma cooperação de dependência e, pior, clientelar. Não queremos transferir a dependência do ocidente para a China, queremos eliminá-la; não queremos que a Hidroelétrica de Cahora Bassa tenha um novo dono estrangeiro; não queremos que as empresas chinesas ganhem falsos concursos nas obras públicas e maltratem impunemente os nossos cidadãos; não queremos um novo ciclo de endividamento externo, principalmente quando não aplicado no sector produtivo e sobretudo quando aplicado em bens supérfluos como palácios; não queremos que cidadãos chineses entrem em Moçambique sem documentação nenhuma, quando repatriamos tanzanianos e congoleses nas mesmas condi- ções; não queremos, sobretudo, esta delapidação sem paralelo dos nossos recursos florestais.
Não queremos ser um “Dumba-Nengue” chinês. Ou “take away”, como no passado colonial. A China pode nos construir estádios de futebol, oferecer bolsas de estudos, erguer pontes, apoiar no combate à malária, mas essa generosidade não pode ter como moeda de troca a promoção da riqueza fácil para as nossas elites, do vandalismo ambiental, da pirataria nas obras públicas, da precarização do emprego, da des-resconstrução das instituições que temos vindo a reconstruir. Por isso, gostaríamos de vê-lo a anunciar não a construção de um novo palácio presidencial, mas a deixar claro às empresas chinesas que Moçambique é um país com regras, instituições e leis (incluindo de gestão ambiental) democráticas que devem ser respeitadas.
Camarada Hu Jintao
Somos pobres, mas gostamos de nós. Uma das coisas que temos tentado fazer é constuir um Estado de Direito. Isso passa pelo funcionamento pleno do nosso aparato legal, da nossa administração pública. A China e os chineses devem respeitar isso. Muito gostariamos de vê-lo a ordenar os seus concidadãos a terminarem o saque desenfreado aos nossos recursos. A China não tem o direito de promover uma cooperação que, a longo prazo, vai custar caro aos moçambicanos, mais caro do que aquela cooperação que se diz condicionalizada.
Moçambique precisa do IDE chinês, precisa de acordos comerciais equilibrados, relações laborais justas e créditos concessionais para o sector produtivo. Mas sabemos que não há almoços grátis. E também não basta dizer que é uma cooperação sem condicionalismos, pois pior que colocar condicionalismos em cima da mesa, é encenar montanhas de caridade cujo substracto assenta numa nova relação de dependência e subordinação politica e económica, onde o nosso único papel é alimentar de recursos as empresas e a economia do seu país.
* Coordenador Executivo de Centro de Integridade Pública
Marcelo Mosse é Jornalista e pesquisador independente; Pós-graduado em Estudos de Desenvolvimento e Mestrando em Estudos Africanos no ISCTE/Lisboa. Já foi editor do Metical e do MediaFAX. É co-autor da foto-biografia de Samora Machel (Maguezo Editores, 2001), co-autor, a par de Paul Fauvet, da biografia de Carlos Cardoso (Ndjira, 2003; Double Storey, 2004; Caminho, 2004). Escreveu, juntamente com Peter Gastrow, o estudo “Mozambique: Threats Posed by Criminal Networks” (2001, Institute for Security Studies).
Histórias (quase) verídicas com dois finais possiveis (1)
Maria, uma adolescente de 16 anos, engravidou do namorado, Manuel. Num dia de bebedeira em que não tinham preservativo, descontrolaram-se,e fizeram amor sem protecção. Maria teve azar: engravidou. No 11º ano, cheia de planos para o futuro, esse filho que trazia no ventre iria ser um marco na sua vida: o fim dos verdes anos, da ingenuidade e esperança da adolescencia, de muitas das noitadas. Mas Maria decidiu que queria ter o filho. O problema é que Manuel não queria. Não parava de a pressionar para abortar. Tanto que Maria deixou de gostar dele, e acabou o relacionamento cheia de mágoa e raiva por quem não sentia como ela o filho que carregava, e não respeitava a sua decisão. Confusa, contou à mãe. Esta, após o choque, falou com o marido. Ambos concordaram: ela era nova demais. Tinha de abortar. Ao saber disto, Maria explodiu: que não, queria ter, ela é que sabia. Quanto mais argumentava, mais os pais se convenciam que o seu sentimento não era mais que a prova da sua imaturidade. O ex-namorado não parava de lhe ligar, os pais berravam com ela, ameaçaram-na de deixar de a sustentar, e acabava-se a escola, o futuro sonhado como advogada. Mesmo as melhores amigas lhe diziam que era muito nova, que o melhor era abortar. Até que Maria cedeu.
Numa manhã de chuva, limpou as lágrimas da noite em claro, e saiu de casa.
(agora escolha você o final, com o seu voto no dia 11):
Hipótese A- Entrou num apartamento em Loures, onde a esperava uma senhora de meia-idade. Esta dirigiu-a para um quarto, deitou-a na cama, e disse-lhe:
- Abra as pernas.
Hipótese B- Entrou no Hospital de Santa Maria, dirigiu-se à obstetricia, onde a esperava uma médica de meia-idade. Esta pediu-lhe que se sentasse, olhou para a ficha e disse:
- Tem a certeza que quer mesmo abortar?
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007
"A vida concebida jamais será vencida". "Espalhem a notícia"!
Isto, que recebi hoje na caixa de correio, e a utilização de Sérgio Godinho, no Blogue do Não, preocupam-me.
A malta do "não" virou à esquerda. Sérgio Godinho deixa-me descansado. O populismo revolucionário não.
México

Pelas estradas montanhosas do estado de Chiapas, avisam-se os potenciais infractores e com um argumento de peso: multa por despejar lixo, 90 salários mínimos! No México o salário mínimo é baixo mas a coima, assim multiplicada, intimida!

Crianças e graúdos estendem uma pequena e frágil corda entre as bermas da estrada, à entrada dos pueblos, e forçam os veículos a parar. Contribui-se com uns pesitos para a Virgen de Guadalupe, Santa Padroeira do México e das Américas e homenageada por multidões nas peregrinações e festas anuais de 12 de Dezembro
Texto e fotos de Pedro Caldeira Rodrigues. (Novembro de 2006)
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007
Alain Finkielkraut não apoia Sarkozy
O efeito bola de neve de Sarkozy esbarrou junto a Alain Finkielkraut, filósofo, membro da geração de Glucksman, B-H. Lévy e associados. O Canard Enchainé tinha aventado a hipótese da adesão de Finkielkraut a Sarkozy, ao candidato da direita liberal e pró-americana. Numa declaração ao Le Monde, o filósofo denuncia os vícios do PS e da sua candidata e aventa, como possibilidade anónima, o apoio a Bayrou, Sarkozy ou mesmo Voynet, a star erótica dos Verdes. Diz, por outro lado, que teria aderido à campanha do ecologista Nicolas Hulot, caso este se tivesse disposto a disputar a campanha.
FAR
FAR
terça-feira, 6 de fevereiro de 2007
Aborto: um contributo de Ana Cristina Leonardo- 2ª parte e última
Aborto, uma polémica de sempre (continuação)
Se a religião sempre se pronunciou sobre o aborto, e também a ciência viria a intervir no debate, caberá ao Estado e ao Direito legislar sobre o tema. Aquilo a que alguns autores, nomeadamente Elisabeth Badinter, chamaram «a invenção da maternidade», ideia romântica que começa a propagar-se em finais do século XVIII e que desenha uma mulher plenamente realizada no seu papel de mãe, toda ela bondade e sentimentalismo, cruzar-se-á com os desígnios do poder político, que, pela primeira vez, irá defender o feto, agora não por motivos de fé mas por razões de Estado. A demografia torna-se ideologia (então, como agora, era necessário fazer aumentar a natalidade), a maternidade é explicitamente regulamentada e o aborto voluntário declarado contrário ao patriotismo nascente. Em 1810, o artigo 317 do Código Penal francês é claro: «Quem provocar aborto de uma mulher grávida com ou sem o seu consentimento (...) é punido com prisão». Em Portugal, o Código Penal de 1886 considera o aborto ilícito em todas as situações e, já no século XX, a tendência mantém-se, embora o Projecto da Parte Especial do Código Penal de 1966, do Prof. Eduardo Correia, previsse, como excepção, o aborto terapêutico (acrescente-se, a título de curiosidade, que a tese apresentada por Álvaro Cunhal em 1940 para o exame de 5º ano da Faculdade de Letras de Lisboa versava o tema: O Aborto - Causas e Soluções, Campo das Letras,1997). O que se verifica, portanto, é que após séculos a tecer, como Penélope, no recato das casas, as mulheres e, consequentemente, a maternidade, ganham uma exposição cada vez maior no espaço público, com todas as consequências daí decorrentes.
A grande alteração ao estado das coisas - tendencialmente repressivo da IVG (em França, por exemplo, em 1942, o aborto é considerado «crime contra o Estado» e sujeito à pena capital - ficará tristemente célebre o caso de Marie-Louise Giraud, guilhotinada a 9 de Junho de 1943 por práticas abortivas) - dar-se-á com a introdução, na década de 70, do argumento que pugna pelo «direito das mulheres ao seu próprio corpo». E, embora hoje em dia, este pareça ser um argumento em desvantagem na discussão, a sua consistente defesa pela filósofa Judith Jarvis Thomson em 1971 continua a ser uma referência inultrapassável (ver A Ética do Aborto, organização e tradução de Pedro Galvão, Dinalivro, 2005).
A grande viragem (mesmo se, já desde 1967, a legislação britânica fosse bastante tolerante na matéria) ocorre em 1970, quando, nos Estados Unidos, o Supremo Tribunal, no caso Roe versus Wade, decide a favor de a mulher poder escolher interromper a gravidez. Segundo Ronald Dworkin, especialista em filosofia do Direito, o que estava então em causa não dizia respeito «ao problema metafísico da pessoa do feto ou teológico da sua alma, mas sim ao problema jurídico de o feto ser ou não ser uma pessoa do ponto de vista constitucional» (in História do Aborto). E se Jane Roe dá hoje voz aos chamados movimentos Pró-vida, a decisão continua a fazer lei, apesar da insistência de George W. Bush em atribuir personalidade jurídica ao feto.
As palavras de Ronald Dworkin poderão, eventualmente, agradar a Paula Teixeira da Cruz. Afinal, colocar a questão do aborto em termos absolutos de vida ou de morte, não parece estar a levar a lugar nenhum, apresentando-se a própria comunidade científica dividida quanto ao assunto. Sendo, contudo, irrecusável, que no debate sobre a IVG, seja ela encarada sob o prisma do Direito ou da Saúde Pública, se introduz um irrecusável problema moral, dificilmente a discussão ética poderá ser varrida para debaixo de tapete.
O caso ocorrida na Irlanda ocorrido em 1992, que envolveu uma adolescente grávida que ameaçou suicidar-se se não lhe fosse permitido interromper a gravidez, talvez seja exemplo suficiente para percebermos os limites do que está em causa. Sendo a Irlanda, juntamente com Portugal, Polónia e Malta, dos países europeus com legislação mais repressiva na matéria, o Supremo Tribunal irlandês levantaria a interdição da jovem se deslocar ao estrangeiro, e esta pôde abortar em Inglaterra. Ora isto, independentemente da posição de cada um sobre a moralidade do aborto, deixa-nos perante a questão mais radical de todas: como obrigar uma mulher grávida que não quer ser mãe a sê-lo? O que nos conduz a uma segunda pergunta: até onde pode o Estado interferir nas decisões individuais dos seus cidadãos? É que, independentemente de concordarmos ou não com o argumento do «direito ao corpo», independentemente de aceitarmos ou não a existência de um conflito de interesses entre o estatuto da mulher e do feto, e, até independentemente de nos colocarmos de um lado ou de outro, o que é inegável é que a Natureza atribuiu à mulher o poder da maternidade. Enquanto assim for, não há legislação que possa mudar esse facto.
A grande alteração ao estado das coisas - tendencialmente repressivo da IVG (em França, por exemplo, em 1942, o aborto é considerado «crime contra o Estado» e sujeito à pena capital - ficará tristemente célebre o caso de Marie-Louise Giraud, guilhotinada a 9 de Junho de 1943 por práticas abortivas) - dar-se-á com a introdução, na década de 70, do argumento que pugna pelo «direito das mulheres ao seu próprio corpo». E, embora hoje em dia, este pareça ser um argumento em desvantagem na discussão, a sua consistente defesa pela filósofa Judith Jarvis Thomson em 1971 continua a ser uma referência inultrapassável (ver A Ética do Aborto, organização e tradução de Pedro Galvão, Dinalivro, 2005).
A grande viragem (mesmo se, já desde 1967, a legislação britânica fosse bastante tolerante na matéria) ocorre em 1970, quando, nos Estados Unidos, o Supremo Tribunal, no caso Roe versus Wade, decide a favor de a mulher poder escolher interromper a gravidez. Segundo Ronald Dworkin, especialista em filosofia do Direito, o que estava então em causa não dizia respeito «ao problema metafísico da pessoa do feto ou teológico da sua alma, mas sim ao problema jurídico de o feto ser ou não ser uma pessoa do ponto de vista constitucional» (in História do Aborto). E se Jane Roe dá hoje voz aos chamados movimentos Pró-vida, a decisão continua a fazer lei, apesar da insistência de George W. Bush em atribuir personalidade jurídica ao feto.
As palavras de Ronald Dworkin poderão, eventualmente, agradar a Paula Teixeira da Cruz. Afinal, colocar a questão do aborto em termos absolutos de vida ou de morte, não parece estar a levar a lugar nenhum, apresentando-se a própria comunidade científica dividida quanto ao assunto. Sendo, contudo, irrecusável, que no debate sobre a IVG, seja ela encarada sob o prisma do Direito ou da Saúde Pública, se introduz um irrecusável problema moral, dificilmente a discussão ética poderá ser varrida para debaixo de tapete.
O caso ocorrida na Irlanda ocorrido em 1992, que envolveu uma adolescente grávida que ameaçou suicidar-se se não lhe fosse permitido interromper a gravidez, talvez seja exemplo suficiente para percebermos os limites do que está em causa. Sendo a Irlanda, juntamente com Portugal, Polónia e Malta, dos países europeus com legislação mais repressiva na matéria, o Supremo Tribunal irlandês levantaria a interdição da jovem se deslocar ao estrangeiro, e esta pôde abortar em Inglaterra. Ora isto, independentemente da posição de cada um sobre a moralidade do aborto, deixa-nos perante a questão mais radical de todas: como obrigar uma mulher grávida que não quer ser mãe a sê-lo? O que nos conduz a uma segunda pergunta: até onde pode o Estado interferir nas decisões individuais dos seus cidadãos? É que, independentemente de concordarmos ou não com o argumento do «direito ao corpo», independentemente de aceitarmos ou não a existência de um conflito de interesses entre o estatuto da mulher e do feto, e, até independentemente de nos colocarmos de um lado ou de outro, o que é inegável é que a Natureza atribuiu à mulher o poder da maternidade. Enquanto assim for, não há legislação que possa mudar esse facto.
Ana Cristina Leonardo
México

Município autónomo zapatista, território rebelde, Chiapas. “Aqui, o Governo obedece!", dizem ainda os cartazes. Revolução mediática? Novembro 2006
Mais cores de Chiapas, Sul do México. Novembro 2006
Texto e fotos de Pedro Caldeira Rodrigues
Iraque: NY Times e Businessweek alertam para preocupante escassez de material militar
Scott Ritter: "Parem a guerra do Irão antes que comece"...
Frank Rich escrevia, Domingo, no NY Times, que Cheney apresentou uma triste cara de parvo no programa político de Wolf Blitzer na CNN. Ele entende num artigo muito bem estruturado que o começo do processo do seu braço-direito, Scooter Libby, por alegadas falsas declarações que estiveram na origem do despedimento de um antigo oficial da CIA, que inventou a posse do urânio nigeriano pelo Iraque, pode gerar a revelação de outros escândalos que estiveram na base da opção guerreira de GW Bush em terras da antiga Mesopotâmia. O mais importante é que Libby é um dos homens-chave do vice-presidente. E incorre em vários crimes de prisão efectiva, podendo arrastar na queda o omnipotente estratego da Casa Branca, Karl Rove. Quando se adensam nuvens sobre o braço-de-ferro eminente entre a presidência e o Congresso por causa do Irão e do reforço das tropas no Iraque, imagine-se o barril de pólvora que amargura Dick Cheney.
Frank Rich, do plantel de ouro e ética profissional do NY Times, enquadra muito bem tanto referencial que obscecou o Conselho Nacional de Segurança yankee, antes e depois da inculpação do homem-chave do vice Cheney, o homem prático e o guerreiro mangas-de-alpaca experimentadíssimo. Se houve "montagem" falaciosa na apresentação de razões objectivas e concludentes para a invasão do Iraque, o que é que nos estão a "vender" para apoiarmos uma missão preventiva sobre Teerão? E vai mais longe: " Um inspector superior do Pentágono relatou, sob anonimato na última edição do BusinessWeek, que há falta de armas e munições no Iraque para as tropas americanas. O que acontecerá se lhe juntarem mais umas dezenas de milhares de soldados? O comando dos Marines e do Exército disseram, por seu turno, ao Washington Post que os carros e veículos de protecção eram em número tão escasso que suplicavam para que cinco brigadas de super equipadas Humvees lhes caíssem do céu".
Tom Friedman, também do NYT, mostra claro como a água - e nós sabemos como o jornal foi acusado de sionismo sofisticado no blogue - como advoga a tese das negociações bilaterais e tripartidas entre os EUA, o Irão e a Síria, por causa do Iraque e de assuntos pendentes, como é bom de perceber. "A hostilidade que se gerou entre os EUA e o Irão, desde a queda do Shah em 1979 não é orgânica, nem estrutural. Pela força da cultura, da história e da geografia, os americanos possuem actualmente um extenso lote de interesses comuns com o povo iraniano. E não sou o único a dizer isto. O antigo embaixador iraniano em Londres, Hossein Adeli, disse-me em Davos, recentemente, que havia agora mais acuidade no diálogo com os Estados Unidos. E acrescentou-me que, a coisa mais importante para estabilizar o Médio Oriente, era resolver o conflito latente entre o Irão e os EUA".
E Friedman adianta ainda: "Isso alteraria por completo todo o Médio Oriente e lançaria o percurso para a resolução do conflito israelo-palestiniano, porque o Irão é o vector fulcral postado por detrás do Hamas, do Jihad Islâmico, do Hezbollah e da Síria. A ajuda activa do Irão poderia ser também decisiva para estabilizar o Iraque"
Scott Ritter, o super agente da CIA reformado que denunciou a pressão de Israel junto dos EUA para bombardearem o Irão, num texto transcrito já no blogue e realizado com Seymour Hersch, do The New Yorker, foi deixar a sua mensagem para a revista The Nation, texto com acesso Online. Disse que alertou os Republicanos do Congresso em 2003 para o " engano e mistificação da explicação fabricada para invadir o Iraque; já que poderia acabar não só por envolver os EUA numa guerra difícil como destruir a credibilidade do Partido Republicano e dar, no futuro, grandes chances de os Democratas vencerem as Legislativas e as Presidenciais". Para evitar tão desastrosas e sangrentas consequências, Ritter aconselha os Democratas a tornarem públicas perante o povo americano, as análises dos diferentes Serviços de Informações sobre a eventualidade da posse de armas nucleares pelo Irão. "Se as Informações não revelarem indícios para uma guerra contra o Irão, então o Congresso deve fazer tudo para assegurar que os EUA não entrem em guerra por um mero decreto presidencial".
FAR
Frank Rich escrevia, Domingo, no NY Times, que Cheney apresentou uma triste cara de parvo no programa político de Wolf Blitzer na CNN. Ele entende num artigo muito bem estruturado que o começo do processo do seu braço-direito, Scooter Libby, por alegadas falsas declarações que estiveram na origem do despedimento de um antigo oficial da CIA, que inventou a posse do urânio nigeriano pelo Iraque, pode gerar a revelação de outros escândalos que estiveram na base da opção guerreira de GW Bush em terras da antiga Mesopotâmia. O mais importante é que Libby é um dos homens-chave do vice-presidente. E incorre em vários crimes de prisão efectiva, podendo arrastar na queda o omnipotente estratego da Casa Branca, Karl Rove. Quando se adensam nuvens sobre o braço-de-ferro eminente entre a presidência e o Congresso por causa do Irão e do reforço das tropas no Iraque, imagine-se o barril de pólvora que amargura Dick Cheney.
Frank Rich, do plantel de ouro e ética profissional do NY Times, enquadra muito bem tanto referencial que obscecou o Conselho Nacional de Segurança yankee, antes e depois da inculpação do homem-chave do vice Cheney, o homem prático e o guerreiro mangas-de-alpaca experimentadíssimo. Se houve "montagem" falaciosa na apresentação de razões objectivas e concludentes para a invasão do Iraque, o que é que nos estão a "vender" para apoiarmos uma missão preventiva sobre Teerão? E vai mais longe: " Um inspector superior do Pentágono relatou, sob anonimato na última edição do BusinessWeek, que há falta de armas e munições no Iraque para as tropas americanas. O que acontecerá se lhe juntarem mais umas dezenas de milhares de soldados? O comando dos Marines e do Exército disseram, por seu turno, ao Washington Post que os carros e veículos de protecção eram em número tão escasso que suplicavam para que cinco brigadas de super equipadas Humvees lhes caíssem do céu".
Tom Friedman, também do NYT, mostra claro como a água - e nós sabemos como o jornal foi acusado de sionismo sofisticado no blogue - como advoga a tese das negociações bilaterais e tripartidas entre os EUA, o Irão e a Síria, por causa do Iraque e de assuntos pendentes, como é bom de perceber. "A hostilidade que se gerou entre os EUA e o Irão, desde a queda do Shah em 1979 não é orgânica, nem estrutural. Pela força da cultura, da história e da geografia, os americanos possuem actualmente um extenso lote de interesses comuns com o povo iraniano. E não sou o único a dizer isto. O antigo embaixador iraniano em Londres, Hossein Adeli, disse-me em Davos, recentemente, que havia agora mais acuidade no diálogo com os Estados Unidos. E acrescentou-me que, a coisa mais importante para estabilizar o Médio Oriente, era resolver o conflito latente entre o Irão e os EUA".
E Friedman adianta ainda: "Isso alteraria por completo todo o Médio Oriente e lançaria o percurso para a resolução do conflito israelo-palestiniano, porque o Irão é o vector fulcral postado por detrás do Hamas, do Jihad Islâmico, do Hezbollah e da Síria. A ajuda activa do Irão poderia ser também decisiva para estabilizar o Iraque"
Scott Ritter, o super agente da CIA reformado que denunciou a pressão de Israel junto dos EUA para bombardearem o Irão, num texto transcrito já no blogue e realizado com Seymour Hersch, do The New Yorker, foi deixar a sua mensagem para a revista The Nation, texto com acesso Online. Disse que alertou os Republicanos do Congresso em 2003 para o " engano e mistificação da explicação fabricada para invadir o Iraque; já que poderia acabar não só por envolver os EUA numa guerra difícil como destruir a credibilidade do Partido Republicano e dar, no futuro, grandes chances de os Democratas vencerem as Legislativas e as Presidenciais". Para evitar tão desastrosas e sangrentas consequências, Ritter aconselha os Democratas a tornarem públicas perante o povo americano, as análises dos diferentes Serviços de Informações sobre a eventualidade da posse de armas nucleares pelo Irão. "Se as Informações não revelarem indícios para uma guerra contra o Irão, então o Congresso deve fazer tudo para assegurar que os EUA não entrem em guerra por um mero decreto presidencial".
FAR
Um raminho de salsa...
Apenas o talo verde penetrasse o útero ele deixaria de ser...
Só aquele contacto bastaria.
É sensata, a Natureza.
Sabe muito, sabe demais.
Sabe mesmo mais que qualquer um dos mortais.
Dizem coisas
Arvoram-se de sabedorias várias
São tão certos nas suas certezas.
Um talo verde, um simples talo verde,
interrompe
a hipótese
de vir ao mundo
mais alguém
que há-de continuar a perpetuar a certeza
que pode ser desfeita por um
singelo
simples
talo verde...
Só aquele contacto bastaria.
É sensata, a Natureza.
Sabe muito, sabe demais.
Sabe mesmo mais que qualquer um dos mortais.
Dizem coisas
Arvoram-se de sabedorias várias
São tão certos nas suas certezas.
Um talo verde, um simples talo verde,
interrompe
a hipótese
de vir ao mundo
mais alguém
que há-de continuar a perpetuar a certeza
que pode ser desfeita por um
singelo
simples
talo verde...
segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007
O Sim e as sopas
Há uma certa franja de potenciais eleitores no Sim que afirma ir-se abster, ou até votar Não, por motivos, a meu ver, irrelevantes, confusos e acessórios. Como exemplos conhecidos, o Rui Albuquerque ou o João Caetano Dias. São a favor da despenalização da prática do aborto, mas como são contra o Serviço Nacional de Saúde, preferindo soluções privadas, recusam a ideia de estar a votar num aumento de despesas do SNS, ou na mesmo na realização de uma prática tão controversa como esta gratuitamente. Em resumo, despenalização sim, desde que a mulher pague o aborto. Vejamos com atenção estes argumentos:
Em primeiro lugar, o argumento é irrelevante. Estamos a votar a despenalização de um acto, por vontade da mulher, dentro de um limite de tempo. Se os citados são, lactu sensu, defensores de um modelo diferente na saúde, devem, por outro lado, compreender que o modelo que existe é este, e que, sendo assim, os diversos actos médicos são praticados dentro do modelo existente. Sendo o aborto, se o Sim ganhar, um acto médico progressivamente normalizado, será praticado dentro do quadro que exista; se as opções políticas no futuro forem no sentido da privatização, pois evidentemente também a prática do aborto o será.
Em segundo lugar, o argumento é confuso, pois como já demonstrou o Manuel, a legalização não irá aumentar as despesas do SNS, pelo contrário, irá diminui-las. Já li dos citados outro argumento, que será o de que a mulher quando aborta não está doente, e que uma coisa é pagar as doenças, outra as decisões livres. Mas a mulher quando engravida de sua vontade, e faz um parto, também não está doente, e todos nós pagamos as despesas de um acto que depende da sua vontade. E não me parece que passe pela cabeça de ninguém (pelo menos para já), que o parto seja um acto “não-médico”, como querem fazer crer que o aborto seja.
Em terceiro lugar, o argumento é acessório. Por exemplo, eu, que sou acerrimamente defensor de um sistema de saúde universal e gratuito, votaria Sim sem qualquer dúvida mesmo que o modelo proposto fosse o de apenas poder ser praticado em clínicas privadas. Porque mais importante que a forma é o conteúdo, e mais importante que questões como “quem paga” é a possibilidade de livre escolha da mulher e o combate ao aborto clandestino. Poder-se-ia argumentar que a minha posição é mais fácil, uma vez que os indícios disponíveis (e atenção, para já são apenas indícios), apontam no sentido da sua inclusão no SNS; mas essa apreciação será viciada por perspectivas ideologicamente muito diferentes do mundo. Para os citados, vivemos num sistema semi-socialista, enquanto eu, muito sinceramente, não vejo socialismo nenhum. Aliás, quanto ao SNS, o que vejo é uma tendência crescente de privatização e redução da gratuitidade, através dos hospitais-empresa ou do aumento das taxas moderadoras. Também eu poderia, pela mesma lógica, abster-me por considerar que a lógica do sistema é a privatização; mas isso é tomar o acessório pelo essencial, e esta é uma questão de liberdade e civilização e outra de saúde pública.
Em primeiro lugar, o argumento é irrelevante. Estamos a votar a despenalização de um acto, por vontade da mulher, dentro de um limite de tempo. Se os citados são, lactu sensu, defensores de um modelo diferente na saúde, devem, por outro lado, compreender que o modelo que existe é este, e que, sendo assim, os diversos actos médicos são praticados dentro do modelo existente. Sendo o aborto, se o Sim ganhar, um acto médico progressivamente normalizado, será praticado dentro do quadro que exista; se as opções políticas no futuro forem no sentido da privatização, pois evidentemente também a prática do aborto o será.
Em segundo lugar, o argumento é confuso, pois como já demonstrou o Manuel, a legalização não irá aumentar as despesas do SNS, pelo contrário, irá diminui-las. Já li dos citados outro argumento, que será o de que a mulher quando aborta não está doente, e que uma coisa é pagar as doenças, outra as decisões livres. Mas a mulher quando engravida de sua vontade, e faz um parto, também não está doente, e todos nós pagamos as despesas de um acto que depende da sua vontade. E não me parece que passe pela cabeça de ninguém (pelo menos para já), que o parto seja um acto “não-médico”, como querem fazer crer que o aborto seja.
Em terceiro lugar, o argumento é acessório. Por exemplo, eu, que sou acerrimamente defensor de um sistema de saúde universal e gratuito, votaria Sim sem qualquer dúvida mesmo que o modelo proposto fosse o de apenas poder ser praticado em clínicas privadas. Porque mais importante que a forma é o conteúdo, e mais importante que questões como “quem paga” é a possibilidade de livre escolha da mulher e o combate ao aborto clandestino. Poder-se-ia argumentar que a minha posição é mais fácil, uma vez que os indícios disponíveis (e atenção, para já são apenas indícios), apontam no sentido da sua inclusão no SNS; mas essa apreciação será viciada por perspectivas ideologicamente muito diferentes do mundo. Para os citados, vivemos num sistema semi-socialista, enquanto eu, muito sinceramente, não vejo socialismo nenhum. Aliás, quanto ao SNS, o que vejo é uma tendência crescente de privatização e redução da gratuitidade, através dos hospitais-empresa ou do aumento das taxas moderadoras. Também eu poderia, pela mesma lógica, abster-me por considerar que a lógica do sistema é a privatização; mas isso é tomar o acessório pelo essencial, e esta é uma questão de liberdade e civilização e outra de saúde pública.
Resta o problema de um acto controverso ser pago por quem não concorda com ele, e não apenas por quem o faz. Mas esta, mais uma vez, é uma questão de princípio que pouco toca a realidade. Eu também não concordo com muito do uso que se faz do dinheiro dos meus impostos, por exemplo comprar submarinos. Mas, como defendo que o Estado deve assegurar determinados serviços aos cidadãos, mantenho que mesmo assim os impostos são justificados. Os citados defendem outro modelo, em que os cidadão pagariam os serviços directamente. Tem o direito de o fazer, e de defender as suas posições; mas devem concordar que o que está aqui em jogo não são modelos de sociedade, mas a resposta a uma questão concreta.
Nunca será de-mais repetir que no dia 11 iremos responder apenas a uma pergunta: se concordamos com a despenalização da IVG, por vontade da mulher, até às dez semanas, se realizada num estabelecimento de saúde. Todas as outras conjecturas, embora legítimas e importantes, não devem sobrepor-se a esta questão essencial.
Nunca será de-mais repetir que no dia 11 iremos responder apenas a uma pergunta: se concordamos com a despenalização da IVG, por vontade da mulher, até às dez semanas, se realizada num estabelecimento de saúde. Todas as outras conjecturas, embora legítimas e importantes, não devem sobrepor-se a esta questão essencial.
Aborto: um contributo de Ana Cristina Leonardo- 1ª parte
Aborto, uma polémica de sempre
Portugal reinicia uma discussão onde parece continuar a haver demasiado «ruído». Ou como alguns temas nos recordam os limites da razão humana.
«Um bebé não é um problema metafísico» foi uma frase que encheu as ruas de Paris, há cerca de 20 anos, durante uma campanha em prol da maternidade. Em Portugal, hoje, a discussão diz respeito ao aborto. Paula Teixeira da Cruz, do Movimento Voto Sim, afirmou que «não estamos a discutir nem a vida nem a morte. Recuso-me a discutir o problema nesses termos» (DN, 20-01-2007). A verdade é que muitos insistem em fazê-lo.
Não sendo os bebés, definitivamente, um problema metafísico, há questões levantadas pelos opositores do Sim que nos deixam na dúvida sobre se não o serão o zigoto, o embrião e o feto. Um dos argumentos mais publicitados pelo Não assenta no seguinte raciocínio: (premissa a) o feto é, em potência, um ser humano; (premissa b) todos os seres humanos, mesmo os seres humanos em potência, têm direito à vida; (conclusão): o feto tem direito à vida. Daí se infere que a interrupção voluntária da gravidez (IVG) é atentatória desse direito, logo, um crime, um crime parente próximo do homicídio.
É esta, aliás, a posição oficial da Igreja católica, que classifica o aborto como um dos pecados sujeitos a excomunhão (e isto apesar de algumas vozes discordantes, como a do padre Anselmo Borges, teólogo e professor de Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que propõe a distinção entre vida, vida humana e pessoa humana): «A gravidade moral do aborto provocado aparece em toda a sua verdade, quando se reconhece que se trata de um homicídio (...)» (João Paulo II, Enc. Evangelium Vitae, 25/03/1995, n. 58); e ainda: «Também a legislação canónica, há pouco renovada, continua nesta linha quando determina que "quem procurar o aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae", isto é, automática» (idem, n. 62). Mas, a não ser que se faça da vida humana uma leitura religiosa - e essa é uma posição legítima embora, obviamente, impossível de sujeitar a referendo - a argumentação atrás exposta, contrária à IVG, não parece defensável. Porque se o que falta provar é, precisamente, que todos os seres humanos em potência têm direito à vida, não se pode, ao mesmo tempo, afirmá-lo como premissa sem incorrer em falácia. O filósofo Pedro Madeira vai mais longe. Em «Argumentos sobre o Aborto» (www.criticanarede.com) acrescenta: «(...) é, de qualquer modo, falso que, se um ser tem potencialmente um direito, então tem, efectivamente, esse direito. Enquanto cidadão português, sou potencialmente presidente da República; o presidente da República é o Comandante Supremo das Forças Armadas; no entanto, daí não se segue que eu seja agora o Comandante Supremo das Forças Armadas».
Do lado do Sim, insiste-se nas condições sócio-económicas das mulheres desfavorecidas e na realidade dos números, apesar da lei proibitiva. São razões fracas, que pecam por circularidade. Porque do facto dos cidadãos carenciados terem menos condições para contratar um assassino não resulta que o Estado deva disponibilizar um serviço grátis de gangsteres ao domicílio. Assim como do facto de existirem ladrões, apesar da lei proibitiva, não se infere que o roubo deva ser legalizado. Note-se que esta contestação aos argumentos do Sim, não implica uma equivalência moral dos exemplos. Apenas se pretende mostrar que, nos casos expostos, a sustentabilidade da argumentação é difícil, se não impossível.
Nada disto é novo. O aborto nunca foi um facto pacífico. No Ocidente, durante a Antiguidade, a sua regulamentação, regra geral, apenas tinha em conta os interesses masculinos e, consequentemente, só era punível quando estes eram lesados: «Estigmatizado como sinal de decadência dos costumes ou visto como atentado à ordem familiar e social, o aborto é considerado uma manifestação de inaceitável autonomia feminina» (in História do Aborto, Giulia Galeotti, Edições 70, 2007). Pelo menos até ao século XVIII, o aborto é encarado como um assunto de mulheres. Rodeado de insondáveis mistérios, à semelhança de tudo quanto dizia respeito ao segundo sexo: não por acaso, durante o longo período da «caça às bruxas», que vai do século XIV ao XVII, uma das acusações mais recorrentes é a das práticas abortivas.
Com o cristianismo a impor-se como religião do Estado, o aborto ganhará o estatuto de «crime abominável», um pecado que atenta contra a acção criadora de Deus, destruindo uma criatura que Lhe pertence. Apesar deste princípio geral, a posição sobre o momento em que o feto passa plenamente a pessoa não será unânime. Embora contrário ao aborto, é Santo Agostinho quem avança com a posição mais tolerante, alicerçada na teoria da animação diferida, que faz atrasar o aparecimento da alma em relação ao momento da concepção: «não é homicida quem provoca o aborto antes da infusão da alma no corpo», sugerindo-se que esta surge nos rapazes aos 40 dias e nas raparigas aos 80. A polémica atravessará séculos: em 1558, o Papa Sisto V publica a bula Effraenatam, que condena à excomunhão todos os que provocarem o aborto, sem fazer distinção entre feto animado ou não animado. Em 1591, Gregório XIV retoma a posição agostiniana. Em 1679, Inocêncio XI vem reafirmar que o nascituro é pessoa desde o momento da concepção… Como se vê, a discussão sobre o estatuto do zigoto, do embrião e do feto (embora sob outros nomes) é coisa antiga.
A ciência acabaria por ser chamada à colação, na medida exacta em que se interessa cada vez mais pelos segredos da vida intra-uterina. Quando, em 1762, Charles Bonnet propõe, em defesa do preformismo, que qualquer organismo já contém em si os futuros seres pré-formados a que dará origem, o naturalista suíço crê estar, não só a contribuir para o avanço da ciência como a confirmar a Génese bíblica. De acordo com o preformismo, desde o momento da concepção, ou o espermatozóide transporta em si um «homunculus», (animaculismo), ou este já está contido no óvulo (ovismo). A polémica entre preformismo e epigénese - hipótese proposta em 1759 pelo embriologista alemão Kaspar Friedrich Wolff, que, ao invés de Bonnet, defendia que as novas estruturas se iam formando progressivamente - foi um dos debates intelectuais mais acesos do século XVIII, só resolvido com a teoria celular, já no século seguinte.
Para todos os efeitos, é interessante sublinhar que então, como agora, as posições contrárias ao aborto, mesmo quando assentes em princípios religiosos mais ou menos assumidos, nunca deixaram de tentar credibilizar-se através da ciência. Vejam-se, por exemplo, as declarações actuais de Nuno Vieira, da Plataforma Não Obrigada, um dos muitos portugueses católicos que responderam à chamada do bispo de Leiria para ir a Fátima «celebrar a vida», esclarecendo que o movimento a que pertence está empenhado em dotar a sua campanha de «dados científicos», procurando utilizar uma «linguagem moderada e esclarecedora».
(continua)
Portugal reinicia uma discussão onde parece continuar a haver demasiado «ruído». Ou como alguns temas nos recordam os limites da razão humana.
«Um bebé não é um problema metafísico» foi uma frase que encheu as ruas de Paris, há cerca de 20 anos, durante uma campanha em prol da maternidade. Em Portugal, hoje, a discussão diz respeito ao aborto. Paula Teixeira da Cruz, do Movimento Voto Sim, afirmou que «não estamos a discutir nem a vida nem a morte. Recuso-me a discutir o problema nesses termos» (DN, 20-01-2007). A verdade é que muitos insistem em fazê-lo.
Não sendo os bebés, definitivamente, um problema metafísico, há questões levantadas pelos opositores do Sim que nos deixam na dúvida sobre se não o serão o zigoto, o embrião e o feto. Um dos argumentos mais publicitados pelo Não assenta no seguinte raciocínio: (premissa a) o feto é, em potência, um ser humano; (premissa b) todos os seres humanos, mesmo os seres humanos em potência, têm direito à vida; (conclusão): o feto tem direito à vida. Daí se infere que a interrupção voluntária da gravidez (IVG) é atentatória desse direito, logo, um crime, um crime parente próximo do homicídio.
É esta, aliás, a posição oficial da Igreja católica, que classifica o aborto como um dos pecados sujeitos a excomunhão (e isto apesar de algumas vozes discordantes, como a do padre Anselmo Borges, teólogo e professor de Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que propõe a distinção entre vida, vida humana e pessoa humana): «A gravidade moral do aborto provocado aparece em toda a sua verdade, quando se reconhece que se trata de um homicídio (...)» (João Paulo II, Enc. Evangelium Vitae, 25/03/1995, n. 58); e ainda: «Também a legislação canónica, há pouco renovada, continua nesta linha quando determina que "quem procurar o aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae", isto é, automática» (idem, n. 62). Mas, a não ser que se faça da vida humana uma leitura religiosa - e essa é uma posição legítima embora, obviamente, impossível de sujeitar a referendo - a argumentação atrás exposta, contrária à IVG, não parece defensável. Porque se o que falta provar é, precisamente, que todos os seres humanos em potência têm direito à vida, não se pode, ao mesmo tempo, afirmá-lo como premissa sem incorrer em falácia. O filósofo Pedro Madeira vai mais longe. Em «Argumentos sobre o Aborto» (www.criticanarede.com) acrescenta: «(...) é, de qualquer modo, falso que, se um ser tem potencialmente um direito, então tem, efectivamente, esse direito. Enquanto cidadão português, sou potencialmente presidente da República; o presidente da República é o Comandante Supremo das Forças Armadas; no entanto, daí não se segue que eu seja agora o Comandante Supremo das Forças Armadas».
Do lado do Sim, insiste-se nas condições sócio-económicas das mulheres desfavorecidas e na realidade dos números, apesar da lei proibitiva. São razões fracas, que pecam por circularidade. Porque do facto dos cidadãos carenciados terem menos condições para contratar um assassino não resulta que o Estado deva disponibilizar um serviço grátis de gangsteres ao domicílio. Assim como do facto de existirem ladrões, apesar da lei proibitiva, não se infere que o roubo deva ser legalizado. Note-se que esta contestação aos argumentos do Sim, não implica uma equivalência moral dos exemplos. Apenas se pretende mostrar que, nos casos expostos, a sustentabilidade da argumentação é difícil, se não impossível.
Nada disto é novo. O aborto nunca foi um facto pacífico. No Ocidente, durante a Antiguidade, a sua regulamentação, regra geral, apenas tinha em conta os interesses masculinos e, consequentemente, só era punível quando estes eram lesados: «Estigmatizado como sinal de decadência dos costumes ou visto como atentado à ordem familiar e social, o aborto é considerado uma manifestação de inaceitável autonomia feminina» (in História do Aborto, Giulia Galeotti, Edições 70, 2007). Pelo menos até ao século XVIII, o aborto é encarado como um assunto de mulheres. Rodeado de insondáveis mistérios, à semelhança de tudo quanto dizia respeito ao segundo sexo: não por acaso, durante o longo período da «caça às bruxas», que vai do século XIV ao XVII, uma das acusações mais recorrentes é a das práticas abortivas.
Com o cristianismo a impor-se como religião do Estado, o aborto ganhará o estatuto de «crime abominável», um pecado que atenta contra a acção criadora de Deus, destruindo uma criatura que Lhe pertence. Apesar deste princípio geral, a posição sobre o momento em que o feto passa plenamente a pessoa não será unânime. Embora contrário ao aborto, é Santo Agostinho quem avança com a posição mais tolerante, alicerçada na teoria da animação diferida, que faz atrasar o aparecimento da alma em relação ao momento da concepção: «não é homicida quem provoca o aborto antes da infusão da alma no corpo», sugerindo-se que esta surge nos rapazes aos 40 dias e nas raparigas aos 80. A polémica atravessará séculos: em 1558, o Papa Sisto V publica a bula Effraenatam, que condena à excomunhão todos os que provocarem o aborto, sem fazer distinção entre feto animado ou não animado. Em 1591, Gregório XIV retoma a posição agostiniana. Em 1679, Inocêncio XI vem reafirmar que o nascituro é pessoa desde o momento da concepção… Como se vê, a discussão sobre o estatuto do zigoto, do embrião e do feto (embora sob outros nomes) é coisa antiga.
A ciência acabaria por ser chamada à colação, na medida exacta em que se interessa cada vez mais pelos segredos da vida intra-uterina. Quando, em 1762, Charles Bonnet propõe, em defesa do preformismo, que qualquer organismo já contém em si os futuros seres pré-formados a que dará origem, o naturalista suíço crê estar, não só a contribuir para o avanço da ciência como a confirmar a Génese bíblica. De acordo com o preformismo, desde o momento da concepção, ou o espermatozóide transporta em si um «homunculus», (animaculismo), ou este já está contido no óvulo (ovismo). A polémica entre preformismo e epigénese - hipótese proposta em 1759 pelo embriologista alemão Kaspar Friedrich Wolff, que, ao invés de Bonnet, defendia que as novas estruturas se iam formando progressivamente - foi um dos debates intelectuais mais acesos do século XVIII, só resolvido com a teoria celular, já no século seguinte.
Para todos os efeitos, é interessante sublinhar que então, como agora, as posições contrárias ao aborto, mesmo quando assentes em princípios religiosos mais ou menos assumidos, nunca deixaram de tentar credibilizar-se através da ciência. Vejam-se, por exemplo, as declarações actuais de Nuno Vieira, da Plataforma Não Obrigada, um dos muitos portugueses católicos que responderam à chamada do bispo de Leiria para ir a Fátima «celebrar a vida», esclarecendo que o movimento a que pertence está empenhado em dotar a sua campanha de «dados científicos», procurando utilizar uma «linguagem moderada e esclarecedora».
(continua)
Um raro exemplo de lucidez no meio desta berraria...
...O mais belo texto que li sobre esta questão, no Quase em Português:
Metafísica elementar
Metafísica elementar
«Carlos, na barriga da mulher grávida não está nenhuma criança. Ela está na tua cabeça. Ou na cabeça da mãe. Se está na cabeça da mãe, ela está na barriga, existe mesmo de verdade, merece todo o amor e protecção. Mas se só está na tua cabeça, e não na dela, não está na barriga da mãe. É verdade, o que temos na nossa cabeça existe mesmo, é real. Mas não tens o direito de plantar as criaturas da tua cabeça na barriga duma mulher sem o seu consentimento. Pois ela tem razão, a barriga é dela.»
Revelações e éticas
No 25 Centímetros de Neve considera-se que terem morrido "apenas" quatro mulheres por aborto clandestino desde 1998 é uma boa notícia. Revelador. Como revelador é a não-publicação do meu segundo comentário ao post. Éticas.
No comentário ao post em questão já tive oportunidade de corrigir este número: terão sido, pelo menos, dez. De qualquer modo, o número é irrelevante; todas as elas teriam, provavelmente, sobrevivido, se o resultado de 98 tem sido diferente. Uma morte que seja, por uma causa que poderia ter sido evitada, é um absurdo e uma imoralidade. Os defensores do Não lavarem as mãos destas mortes, recusando responsabilidades sobre as circunstâncias que a elas conduziram, ao mesmo tempo que nos acusam de "tentarmos adequar as realidades às nossas opiniões", é também revelador de certas éticas. Como disse a Rita Ferro "as mulheres que abortam ou são levianas ou são frívolas". Ainda há, hoje, num país supostamente "moderno" e "europeu", quem pense assim.
Precisamos do homem na campanha
Muito do resultado do referendo do dia 11 depende deste homem: José Sócrates. O seu capital político actual é inegável, e a sua imagem respeitada, ao contrário da maioria dos políticos portugueses. Sócrates poderá, se participar a sério nesta campanha, virar muitos dos indecisos para o Sim, com argumentos razoáveis e moderados. Nada está ganho, todos os votos contam, e a abstenção penalizará inevitavelmente o Sim. Agora que veio da China, o que se espera do primeiro-ministro é que seja coerente com a importância que diz atribuir a este referendo, e se lance para uma última semana de campanha em grande. domingo, 4 de fevereiro de 2007
México

Frase inscrita numa velha casa em San Cristóbal de las Casas, Los Altos de Chiapas, Sul do México. Onde caberão os sonhos do mundo? Novembro 2006

Crianças indígenas em Zinacatán, Los Altos de Chiapas: à espera de turistas, de pesos, de esperança. Novembro 2006
Texto e fotos de Pedro Caldeira Rodrigues
sábado, 3 de fevereiro de 2007
Da capital do Império
Olá,
Já não sei quem é que disse que “um conservador é um liberal que foi agredido pela realidade”. Sei contudo que foi o Papa João Paulo II que disse que “a inevitabilidade do progresso é um mito”.
E embora eu saiba que o facto de o Papa ser infalível não significa que tenha sempre razão, neste caso até tem. Na verdade a civilização, ao contrário do que muitos de vocês possam pensar, não é inevitável. Deve ser por estar ciente dessa realidade que o Papa era politicamente conservador. Obviamente a certo passo da sua vida foi agredido pela realidade e estou quase certo que essa realidade foi aquela dos “progressistas” da vanguarda da luta dos operários, o Polska Zjednoczona Partia Robotnicza.
Vem isto a propósito de quê? O que se passou foi que outro dia após horas em frente ao computador, quando eu pensava que devia estar quase a chegar ao fim da Internet, deparei com um portal francês que de imediato me acordou da estupidificação a que o ciberespaço pode levar. Nesse portal um desses intelectuais que abundam aí pela UEtupia afirmava que o problema do “mundo em desenvolvimento” era a interferência dos “países ricos”. Seguiu-se depois uma lição pormenorizada (impressionante diria mesmo) sobre a exploração dos “países ricos” e a interferência dos ….( adivinharam!!!) Estados Unidos no Iraque e no Médio Oriente em geral ao longo das ultimas décadas. Enfim, um daqueles intelectuais “progressistas” que num ritual de auto flagelação que já chateia repete sem fim e regularmente que a história do ocidente não é nada a não ser a historia do racismo, sexismo, imperialismo, exploração e outras formas de discriminação, tudo culpa da brancalhada, mea culpa, mea culpa, minha maxima culpa etc. etc. e tal e coisa.
Fez-me lembrar todos aqueles que por exemplo em África (a começar pela Argélia) acreditavam ( se calhar ainda acreditam!) que a liberdade era a condição original automática ou “default” a que esses países iriam regressar logo que regimes colonialistas coercivos fossem derrubados. Acabava-se com o colonialismo, corria-se com os imperialistas e… presto tudo a caminho do paraíso.
Pois, pois ….
Olhe-se para muitas partes do mundo (ente os quais o Médio Oriente) e a realidade é que há muitos grupos de pessoas (enquanto tal) que não estão interessados nas subtilezas magníficas da democracia e da tolerância. E quando falo de grupos de pessoas não falo de dirigentes políticos como os esclarecidos do Khmer Rouge por exemplo que como nós sabemos foram educados em filosofia nas universidades progressistas da França. Na verdade há que admitir que a ideia de que países terríveis existem apenas porque pessoas boas e decentes são oprimidas por dirigentes maus ou pelos capital/imperialistas ocidentais não tem nada a ver com a realidade. Olhe-se para o Iraque ou para o Líbano ou para o Ruanda ou para a antiga Jugoslávia para compreender que essa não é a realidade na sua totalidade.
A verdade é que muitos e muitos não irão num próximo futuro entrar na família das democracias liberais ou da tolerância., não por causa da exploração dos “países ricos” ou por terem “maus líderes” mas porque há quem apenas queira o poder e porque como diria o Frank Sinatra … “that’s life”. E como os americanos gostam de dizer “life is not fair”
Eu sei que todos nós queremos acreditar que vamos todos a caminhar para o melhor. É algo que faz parte talvez do nosso humanismo inerente, essa crença de que o mau já passou, que apesar de tudo ..tudo vai melhorar. Mas a verdade é que quando dos dois lados do charco se abandonar a fantasia de “um processo histórico” que leva inevitavelmente à modernidade, à civilização e aceitarmos a ideia de que para muita gente ideias medievais, etnia ou outras parvoíces são mais importantes que a ciência, igualdade de oportunidade e a democracia então seremos todos… mais felizes porque saberemos lidar com a realidade e assim traçar uma linha no terreno e afirmar sem dúvida e sem culpa: Até aqui podem ir mas não mais. Será nessa altura que seremos verdadeiros liberais … educados pela agressão da realidade.
Um abraço,
Da Capital do Império
Jota Esse Erre
Já não sei quem é que disse que “um conservador é um liberal que foi agredido pela realidade”. Sei contudo que foi o Papa João Paulo II que disse que “a inevitabilidade do progresso é um mito”.
E embora eu saiba que o facto de o Papa ser infalível não significa que tenha sempre razão, neste caso até tem. Na verdade a civilização, ao contrário do que muitos de vocês possam pensar, não é inevitável. Deve ser por estar ciente dessa realidade que o Papa era politicamente conservador. Obviamente a certo passo da sua vida foi agredido pela realidade e estou quase certo que essa realidade foi aquela dos “progressistas” da vanguarda da luta dos operários, o Polska Zjednoczona Partia Robotnicza.
Vem isto a propósito de quê? O que se passou foi que outro dia após horas em frente ao computador, quando eu pensava que devia estar quase a chegar ao fim da Internet, deparei com um portal francês que de imediato me acordou da estupidificação a que o ciberespaço pode levar. Nesse portal um desses intelectuais que abundam aí pela UEtupia afirmava que o problema do “mundo em desenvolvimento” era a interferência dos “países ricos”. Seguiu-se depois uma lição pormenorizada (impressionante diria mesmo) sobre a exploração dos “países ricos” e a interferência dos ….( adivinharam!!!) Estados Unidos no Iraque e no Médio Oriente em geral ao longo das ultimas décadas. Enfim, um daqueles intelectuais “progressistas” que num ritual de auto flagelação que já chateia repete sem fim e regularmente que a história do ocidente não é nada a não ser a historia do racismo, sexismo, imperialismo, exploração e outras formas de discriminação, tudo culpa da brancalhada, mea culpa, mea culpa, minha maxima culpa etc. etc. e tal e coisa.
Fez-me lembrar todos aqueles que por exemplo em África (a começar pela Argélia) acreditavam ( se calhar ainda acreditam!) que a liberdade era a condição original automática ou “default” a que esses países iriam regressar logo que regimes colonialistas coercivos fossem derrubados. Acabava-se com o colonialismo, corria-se com os imperialistas e… presto tudo a caminho do paraíso.
Pois, pois ….
Olhe-se para muitas partes do mundo (ente os quais o Médio Oriente) e a realidade é que há muitos grupos de pessoas (enquanto tal) que não estão interessados nas subtilezas magníficas da democracia e da tolerância. E quando falo de grupos de pessoas não falo de dirigentes políticos como os esclarecidos do Khmer Rouge por exemplo que como nós sabemos foram educados em filosofia nas universidades progressistas da França. Na verdade há que admitir que a ideia de que países terríveis existem apenas porque pessoas boas e decentes são oprimidas por dirigentes maus ou pelos capital/imperialistas ocidentais não tem nada a ver com a realidade. Olhe-se para o Iraque ou para o Líbano ou para o Ruanda ou para a antiga Jugoslávia para compreender que essa não é a realidade na sua totalidade.
A verdade é que muitos e muitos não irão num próximo futuro entrar na família das democracias liberais ou da tolerância., não por causa da exploração dos “países ricos” ou por terem “maus líderes” mas porque há quem apenas queira o poder e porque como diria o Frank Sinatra … “that’s life”. E como os americanos gostam de dizer “life is not fair”
Eu sei que todos nós queremos acreditar que vamos todos a caminhar para o melhor. É algo que faz parte talvez do nosso humanismo inerente, essa crença de que o mau já passou, que apesar de tudo ..tudo vai melhorar. Mas a verdade é que quando dos dois lados do charco se abandonar a fantasia de “um processo histórico” que leva inevitavelmente à modernidade, à civilização e aceitarmos a ideia de que para muita gente ideias medievais, etnia ou outras parvoíces são mais importantes que a ciência, igualdade de oportunidade e a democracia então seremos todos… mais felizes porque saberemos lidar com a realidade e assim traçar uma linha no terreno e afirmar sem dúvida e sem culpa: Até aqui podem ir mas não mais. Será nessa altura que seremos verdadeiros liberais … educados pela agressão da realidade.
Um abraço,
Da Capital do Império
Jota Esse Erre
VII. Castoriadis: O "universalismo não é uma criação específica do Ocidente"
" Num certo sentido o "universalismo" não é uma criação específica do Ocidente. O budismo, o cristianismo, o Islão, são " universalistas " pois o seu apelo dirige-se, em princípio, a todos os seres humanos que possuem idêntico direito e dever de a eles se converterem. Esta conversão pressupõe um acto de fé e acarreta consigo a adesão a um universo de significações (normas, valores, etc), específico e fechado. Este fecho é o traço característico das sociedades com uma forte heteronomia. O que é precisamente característico da história greco-ocidental é a ruptura desse fecho, o questionamento dos significados, das instituições, das representações estabelecidas pela tribo, o que confere um outro conteúdo ao universalismo; essa ruptura é acompanhada pelo projecto de autonomia social e individual e, portanto, pelas ideias de liberdade e de igualdade, de auto-governação das colectividades e dos direitos dos indivíduos, da democracia e da filosofia."
"Ora, o Islão, como aliás quase todas as religiões, pretende ser uma instituição total e recusa a distinção entre o religioso e o político. Esta corrente completa-se e auto-excita-se através de uma retórica "anticolonialista" acerca do qual o mínimo que podemos dizer, no caso dos países árabes, é que ela é vazia. Se existem hoje árabes na África do Norte é porque esta foi colonizada por eles a partir do séc. VII; e o mesmo se aplica aos países do Médio Oriente e os primeiros colonizadores não-árabes do Médio Oriente e da África do Norte não foram os europeus, mas outros muçulmanos - primeiro os turcos `seldjuks` e depois os turcos otomanos. O Iraque permaneceu sob domínio turco durante cinco séculos e sob protectorado britânico durante quatro anos. Não se trata de minimizar os crimes do imperialismo ocidental, mas de denunciar esta mistificação que consiste em apresentar os povos muçulmanos como desprovidos de qualquer responsabilidade em relação à sua própria História ".
In C. Castoriadis, "A ascensão da Insignificância", págs. 68/69. Bizâncio.Lxa.
FAR
"Ora, o Islão, como aliás quase todas as religiões, pretende ser uma instituição total e recusa a distinção entre o religioso e o político. Esta corrente completa-se e auto-excita-se através de uma retórica "anticolonialista" acerca do qual o mínimo que podemos dizer, no caso dos países árabes, é que ela é vazia. Se existem hoje árabes na África do Norte é porque esta foi colonizada por eles a partir do séc. VII; e o mesmo se aplica aos países do Médio Oriente e os primeiros colonizadores não-árabes do Médio Oriente e da África do Norte não foram os europeus, mas outros muçulmanos - primeiro os turcos `seldjuks` e depois os turcos otomanos. O Iraque permaneceu sob domínio turco durante cinco séculos e sob protectorado britânico durante quatro anos. Não se trata de minimizar os crimes do imperialismo ocidental, mas de denunciar esta mistificação que consiste em apresentar os povos muçulmanos como desprovidos de qualquer responsabilidade em relação à sua própria História ".
In C. Castoriadis, "A ascensão da Insignificância", págs. 68/69. Bizâncio.Lxa.
FAR
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007
Se não há dinheiro... Parto clandestino?
Um dos argumentos mais fantásticos do "não" é o facto do Sistema Nacional de Saúde não ter dinheiro e/ou meios para levar a cabo as IVGs, caso o "Sim" ganhe dia 11 de Fevereiro.
Bom, para já importa explicar que o aborto é médico até às 9 semanas. Ou seja, faz-se uma Ecografia, dão-se comprimidos e uma semana depois volta a fazer-se uma Eco. Entre as 9 e as 10 semanas é médico - cirúrgico, o que significa que além de comprimidos é necessária uma pequena cirurgia, que não necessita de internamento.
Ora, se o SNS não pode realizar estes procedimentos, temos que pensar no que acontecerá às mulheres. Não abortando nos hospitais e não abortando clandestinamente, resta-lhes seguir a gravidez. O que, obviamente, obriga a seguimento por consultas com análises e ecografias. No parto, há inclusive um internamento.
É exactamente o mesmo número de mulheres. Logo, se não há dinheiro para as mulheres realizarem abortos até às 10 semanas, também não há para prosseguir as mesmíssimas gravidezes. E então, além do aborto clandestino, o "não" acaba de inaugurar as gravidezes não-seguidas e, pasmem-se, o parto clandestino.
Bom, para já importa explicar que o aborto é médico até às 9 semanas. Ou seja, faz-se uma Ecografia, dão-se comprimidos e uma semana depois volta a fazer-se uma Eco. Entre as 9 e as 10 semanas é médico - cirúrgico, o que significa que além de comprimidos é necessária uma pequena cirurgia, que não necessita de internamento.
Ora, se o SNS não pode realizar estes procedimentos, temos que pensar no que acontecerá às mulheres. Não abortando nos hospitais e não abortando clandestinamente, resta-lhes seguir a gravidez. O que, obviamente, obriga a seguimento por consultas com análises e ecografias. No parto, há inclusive um internamento.
É exactamente o mesmo número de mulheres. Logo, se não há dinheiro para as mulheres realizarem abortos até às 10 semanas, também não há para prosseguir as mesmíssimas gravidezes. E então, além do aborto clandestino, o "não" acaba de inaugurar as gravidezes não-seguidas e, pasmem-se, o parto clandestino.
México

Pequena tienda de mezcal em Matatlan, estado de Oaxaca. Como dizem as memórias sábias por estas paragens longínquas, Si no hay remedio, litro y medio! Novembro 2006

Luminosidade no final da tarde com sereia e tubarão em Tuxtla Gutiérrez, capital do estado de Chiapas. Novembro 2006
Texto e fotos de Pedro Caldeira Rodrigues
quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007
Kim & Bernardino
Visita ofuscada
A 24 horas da chegada de Sócrates ao ex-enclave português de Macau, a visita já está ofuscada, secundarizada, mais banalizada, ainda, pela presença do filho mais velho de Kim Jong-il. Não que seja exactamente novidade nos círculos relevantes da Região Administrativa Especial, mas porque, aproveitando uma fotografia fornecida pelo Yomiuri Shimbun, a mais influente antena de informação para a região da Ásia-Pacífico, o diário de língua inglesa “South China Morning Post”, dedica-lhe uma inabitual manchete a toda a largura da broad sheet e compatível cobertura na capa e interiores, bem como o principal editorial. Culminando o que reclama ter sido “uma investigação de seis semanas”.
Obviamente, a estória surge na antecâmara da próxima ronda de conversações, dia 8 de Fevereiro, sobre a questão nuclear norte-coreana. Em que, é pacífico, Washington vai concordar com o desbloqueamento de parte (13 milhões de dólares) dos 24 milhões congelados no banco Delta Ásia de Macau.
Kim Jong-nam, segundo o SCMP, reside em Macau, com carácter permanente, há já 3 anos, repartindo o seu muito tempo entre os hotéis em que pernoita, casinos, restaurantes coreanos- há seis meses foi esfaqueado mortalmente um junket de Seul, a mulher e filhos numa vivenda da Ilha de Coloane e outras amenities.
O que é que isto tem a ver com a visita do PM de Portugal? Bom, é que o filho de Kim Jong-il viaja muito, e fá-lo com passaporte português ou da República Dominicana; e foi exactamente com este último que foi detido, e expulso, quando pretendia entrar no Japão. Kim justificou-se, então, com “uma imensa vontade de visitar a Disneylândia”, em Tóquio”.
Dir-me-ão os convivas do “2+2=5” que a questão do passaporte é de somenos. Que o líder da bancada do PCP também tem passaporte português.
Pois nós temos uma explicação plausível: Ou Bernardino e Kim Jong-nam são uma e a mesma pessoa, ou são duas pessoas, mas permutaram. E ningúem ficou a perder, nem a ganhar.
Para citar o André Glucksmann- fica sempre bem, malgré o apoio a Sarkozy- “sans le froid, pas d’abbé Pierre”.
JSP
A 24 horas da chegada de Sócrates ao ex-enclave português de Macau, a visita já está ofuscada, secundarizada, mais banalizada, ainda, pela presença do filho mais velho de Kim Jong-il. Não que seja exactamente novidade nos círculos relevantes da Região Administrativa Especial, mas porque, aproveitando uma fotografia fornecida pelo Yomiuri Shimbun, a mais influente antena de informação para a região da Ásia-Pacífico, o diário de língua inglesa “South China Morning Post”, dedica-lhe uma inabitual manchete a toda a largura da broad sheet e compatível cobertura na capa e interiores, bem como o principal editorial. Culminando o que reclama ter sido “uma investigação de seis semanas”.
Obviamente, a estória surge na antecâmara da próxima ronda de conversações, dia 8 de Fevereiro, sobre a questão nuclear norte-coreana. Em que, é pacífico, Washington vai concordar com o desbloqueamento de parte (13 milhões de dólares) dos 24 milhões congelados no banco Delta Ásia de Macau.
Kim Jong-nam, segundo o SCMP, reside em Macau, com carácter permanente, há já 3 anos, repartindo o seu muito tempo entre os hotéis em que pernoita, casinos, restaurantes coreanos- há seis meses foi esfaqueado mortalmente um junket de Seul, a mulher e filhos numa vivenda da Ilha de Coloane e outras amenities.
O que é que isto tem a ver com a visita do PM de Portugal? Bom, é que o filho de Kim Jong-il viaja muito, e fá-lo com passaporte português ou da República Dominicana; e foi exactamente com este último que foi detido, e expulso, quando pretendia entrar no Japão. Kim justificou-se, então, com “uma imensa vontade de visitar a Disneylândia”, em Tóquio”.
Dir-me-ão os convivas do “2+2=5” que a questão do passaporte é de somenos. Que o líder da bancada do PCP também tem passaporte português.
Pois nós temos uma explicação plausível: Ou Bernardino e Kim Jong-nam são uma e a mesma pessoa, ou são duas pessoas, mas permutaram. E ningúem ficou a perder, nem a ganhar.
Para citar o André Glucksmann- fica sempre bem, malgré o apoio a Sarkozy- “sans le froid, pas d’abbé Pierre”.
JSP
Cavaco 2
Pau e Pinho
Conforme prometido, por uma vez, cumprida a palavra, aqui estamos a pretexto de sublinhar a ‘negrito’ a, pensamos, inadmissível gaffe de Cavaco Silva. Que tantou intrigou o Táxi Pluvioso.
Pois, o senhor professor chamou a Belém, para uma conversa em família, os amiguinhos da Imprensa indígena (subcontinente), no aquecimento para a visita oficial ao Indostão. Aparentemente, acreditando no que viria a ser divulgado nos média da Índia, Cavaco Silva asseverou que é muito mais fácil fazer negócios com indianos do que com chineses. Pois, sabeis vós, a China não é uma democracia. Segredo mal guardado e desvendado quando José Sócrates afinava a visita oficial à China?!
Mais do que elaborar sobre as ‘consequências’ presumíveis da boutade, que se resumiram a algumas hesitações formais no agendamento da visita e a um downgrade cerimonial à chegada, convirá reflectir sobre o enquadramento cultural do modus operandi. 500 anos passados e determinados sectores do pensamento estratégico português mantêm em vigor a doutrina de Gama. Que, grosso modo, passa por dizer aos de Cochim que os de Calicute são umas bestas, e aos de Calicute que as bestas são os de Cochim. Assim mesmo, sem a elegância de um paradoxo, e fazendo jus à ‘teoria’ que defende a existência do Homo Lusitanus: uma variante do Homo Sapiens que se caracterizava por um crâneo rombo, ligeiramente desviado, cerca de 15 graus, para a direita, dispositivo adequado à casquinada, à graçola, e ao gargalo, esqueleto pequeno, curvo, e, segundo as últimas escavações de Foz Côa, apresentava-se com uma mão à frente e outra atrás. Infelizmente, é contagiosa esta tendência marginal para o disparate.
Não obstante, a profunda preparação técnica da da visita do Primeiro-Ministro, muito por mérito do secretário de Estado Serrasqueiro, Manuel Pinho entregou de bandeja o constrangimento mediático. De facto, afirmar na China, perante os chineses, que o Portugal moderno, da UE e da inovação, oferece salários baixos como vantagem comparativa oferece salários baixos…Bom, só faltou referir a mansidão do povo em geral, a tolerância à penúria e uma taxa razoável de adaptação às novas tecnologias. Uma tradição que remonta ao SG Ventil.
JSP
Conforme prometido, por uma vez, cumprida a palavra, aqui estamos a pretexto de sublinhar a ‘negrito’ a, pensamos, inadmissível gaffe de Cavaco Silva. Que tantou intrigou o Táxi Pluvioso.
Pois, o senhor professor chamou a Belém, para uma conversa em família, os amiguinhos da Imprensa indígena (subcontinente), no aquecimento para a visita oficial ao Indostão. Aparentemente, acreditando no que viria a ser divulgado nos média da Índia, Cavaco Silva asseverou que é muito mais fácil fazer negócios com indianos do que com chineses. Pois, sabeis vós, a China não é uma democracia. Segredo mal guardado e desvendado quando José Sócrates afinava a visita oficial à China?!
Mais do que elaborar sobre as ‘consequências’ presumíveis da boutade, que se resumiram a algumas hesitações formais no agendamento da visita e a um downgrade cerimonial à chegada, convirá reflectir sobre o enquadramento cultural do modus operandi. 500 anos passados e determinados sectores do pensamento estratégico português mantêm em vigor a doutrina de Gama. Que, grosso modo, passa por dizer aos de Cochim que os de Calicute são umas bestas, e aos de Calicute que as bestas são os de Cochim. Assim mesmo, sem a elegância de um paradoxo, e fazendo jus à ‘teoria’ que defende a existência do Homo Lusitanus: uma variante do Homo Sapiens que se caracterizava por um crâneo rombo, ligeiramente desviado, cerca de 15 graus, para a direita, dispositivo adequado à casquinada, à graçola, e ao gargalo, esqueleto pequeno, curvo, e, segundo as últimas escavações de Foz Côa, apresentava-se com uma mão à frente e outra atrás. Infelizmente, é contagiosa esta tendência marginal para o disparate.
Não obstante, a profunda preparação técnica da da visita do Primeiro-Ministro, muito por mérito do secretário de Estado Serrasqueiro, Manuel Pinho entregou de bandeja o constrangimento mediático. De facto, afirmar na China, perante os chineses, que o Portugal moderno, da UE e da inovação, oferece salários baixos como vantagem comparativa oferece salários baixos…Bom, só faltou referir a mansidão do povo em geral, a tolerância à penúria e uma taxa razoável de adaptação às novas tecnologias. Uma tradição que remonta ao SG Ventil.
JSP
Carl Bernstein: GW Bush e os seus homens--de-mão causaram mais estragos do que a era Nixon
O célebre jornalista que desvendou o " Watergate " tece uma catilinária tonitruante contra as mentiras e as ilegalidades praticadas a esmo pelo presidente, os seus ministros-chave e o partido...
O texto de Carl Bernstein foi publicado pelo Truthout.com, tendo sido retirado da edição Online do Washingtonpost.com. Ombreia com mais umas dezenas de textos de valor superlativo inseridos na passada semana. O veterano do Post escreve agora mais regularmente nas páginas da Vanity Fair. E não cala o seu desgosto e amargura pelo estilo de governação imposto por GW Bush e os seus muxaxos. Vamos relatar duas ou três passagens fundamentais, pois.
" No que se refere ao consulado de GW Bush, o sistema americano falhou - tragicamente", aponta, para argumentar: " A América tem instituições -hoje, aqui e agora, o que não aconteceu no tempo do Watergate - que fazem o trabalho para assegurar que um desonesto e perigoso PR (como o provou tantas vezes), prossiga uma guerra que já matou milhares de soldados americanos, causou grandes perturbações em milhões de vidas e diminuiu a benquerença pelos USA em muitos lugares do Mundo ".
Ao contrário do caso Watergate, em que os homens-de-acção não pertenciam ao topo do governo ou da administração, e tentaram minar a Constituição e eliminar os opositores políticos ; no presente elenco governativo americano o presidente-executivo e vice-presidente Cheney, o Procurador-Geral Gonzales, Condi Rice e D. Rumsfeld "aceitaram de bom grado ignorar a majestosa história constitucional dos USA, para suspender realmente muitas das garantias constitucionais que faziam a diferença da nossa Nação no concerto mundial, com reais liberdades noutros lugares desconhecidas e que nunca tinham sido restringidas até agora pelos objectivos de curto prazo dos governantes "
" Nixon e os seus apaniguados mentiram e abusaram terrivelmente dos limites e garantias constitucionais, mas foram desarmados ", recorda Bernstein, que conclui: " A gerência Bush - especialmente os líderes acima referidos -não foram desarmados e causaram grandes prejuízos"..E recorda um corifeu do partido Republicano, que referiu que no" Watergate não existiram vítimas. Se ao menos conseguíssemos dizer sobre a era Bush, que os nossos representantes nas duas Câmaras do Legislativo e a máquina judiciária tinham sido suficientemente corajosos para fazer julgar o Presidente e os seus acólitos..." E remata: " O pior foi o processo de mentiras e de violência perpetrado pelo Pr. e os seus colaboradores - nas razões que constroem para ir para a guerra, na forma como a conduzem e nos processos de intimidação que aplicam contra os seus opositores ".
FAR
O texto de Carl Bernstein foi publicado pelo Truthout.com, tendo sido retirado da edição Online do Washingtonpost.com. Ombreia com mais umas dezenas de textos de valor superlativo inseridos na passada semana. O veterano do Post escreve agora mais regularmente nas páginas da Vanity Fair. E não cala o seu desgosto e amargura pelo estilo de governação imposto por GW Bush e os seus muxaxos. Vamos relatar duas ou três passagens fundamentais, pois.
" No que se refere ao consulado de GW Bush, o sistema americano falhou - tragicamente", aponta, para argumentar: " A América tem instituições -hoje, aqui e agora, o que não aconteceu no tempo do Watergate - que fazem o trabalho para assegurar que um desonesto e perigoso PR (como o provou tantas vezes), prossiga uma guerra que já matou milhares de soldados americanos, causou grandes perturbações em milhões de vidas e diminuiu a benquerença pelos USA em muitos lugares do Mundo ".
Ao contrário do caso Watergate, em que os homens-de-acção não pertenciam ao topo do governo ou da administração, e tentaram minar a Constituição e eliminar os opositores políticos ; no presente elenco governativo americano o presidente-executivo e vice-presidente Cheney, o Procurador-Geral Gonzales, Condi Rice e D. Rumsfeld "aceitaram de bom grado ignorar a majestosa história constitucional dos USA, para suspender realmente muitas das garantias constitucionais que faziam a diferença da nossa Nação no concerto mundial, com reais liberdades noutros lugares desconhecidas e que nunca tinham sido restringidas até agora pelos objectivos de curto prazo dos governantes "
" Nixon e os seus apaniguados mentiram e abusaram terrivelmente dos limites e garantias constitucionais, mas foram desarmados ", recorda Bernstein, que conclui: " A gerência Bush - especialmente os líderes acima referidos -não foram desarmados e causaram grandes prejuízos"..E recorda um corifeu do partido Republicano, que referiu que no" Watergate não existiram vítimas. Se ao menos conseguíssemos dizer sobre a era Bush, que os nossos representantes nas duas Câmaras do Legislativo e a máquina judiciária tinham sido suficientemente corajosos para fazer julgar o Presidente e os seus acólitos..." E remata: " O pior foi o processo de mentiras e de violência perpetrado pelo Pr. e os seus colaboradores - nas razões que constroem para ir para a guerra, na forma como a conduzem e nos processos de intimidação que aplicam contra os seus opositores ".
FAR
Saltam da toca
Peço em primeiro lugar desculpa por andar sem tempo para escrever. A campanha pelo Sim assim o obriga.
Vinha só lembrar que João César das Neves admitiu na TSF em debate com Daniel Oliveira que é a favor da mesma penalização do aborto mesmo no caso das mulheres violadas. É um chavão, mas não aguento: abominável. Obrigar as mulheres a terem filhos da pessoa que mais odeiam é criminoso (a outra hipótese é serem presas!). Mas esta é a facção do "não" que andava calada e que tem que falar para toda a gente ver de que lado está o extremismo.
Pró vida?! Anti-escolha é bem mais adequado.
Vinha só lembrar que João César das Neves admitiu na TSF em debate com Daniel Oliveira que é a favor da mesma penalização do aborto mesmo no caso das mulheres violadas. É um chavão, mas não aguento: abominável. Obrigar as mulheres a terem filhos da pessoa que mais odeiam é criminoso (a outra hipótese é serem presas!). Mas esta é a facção do "não" que andava calada e que tem que falar para toda a gente ver de que lado está o extremismo.
Pró vida?! Anti-escolha é bem mais adequado.
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