segunda-feira, 13 de novembro de 2006

domingo, 12 de novembro de 2006


Moldura híbrida da vigília

Pintura de Bela Rocha

Curriculum de BELA ROCHA

Nasceu em Maputo. Cedo se sentiu rodeada por um ambiente onde se sublinhava o gosto pelas artes e cultura em geral. Plural e facetada, a sua procura artística também se afirmou desde a sua adolescência, entre a dança e a pintura. Estudou teatro no Berliner Ensemble, em Berlim.
Também acedeu ao domínio da ilustração, área a partir da qual teve intervenção no livro «Raízes de Orvalho», de Mia Couto.
Entretanto viveu no Brasil, onde desenvolveu a técnica da pintura sobre seda. Em S. Paulo, dada a natureza da sua peculiar maneira de se exprimir, a sua arte foi usada, em termos próprios na Alta-Costura.

Da actividade artística de Bela Rocha deve salientar-se as seguintes exposições individuais:
1984: Alemanha, Potsdam,
1995: Moçambique, Centro Cultural Franco-Moçambicano, Maputo.
1996: Portugal – Galeria António Alegria Artes, Oliveira de Azeméis.
1997: Portugal – Centro Cultural de Aveiro.
1997: Portugal – Centro Cultural da Câmara de Albufeira.
1997: Portugal – Centro Cultural da câmara Municipal de Estarreja
1998: Portugal – Universidade Católica, Lisboa.
2006: Portugal – Galeria da câmara Municipal de Oeiras.

Exposições Colectivas
1995 a 1997: Moçambique – Centro Cultural Franco Moçambicano * Centro de Estudos Brasileiras * Associação Moçambicana de fotografia * Núcleo de Arte * Instituto Camões * Centro Cultural Português.

1997: Finlândia.
1998: Portugal – Galeria Esteta, Porto. Museu Nacional de Electricidade, Lisboa, como participante da Expo. ‘98
1999: Portugal – Évora, colectiva Internacional.

Está representada em colecções particulares na Alemanha, Brasil, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos da América, Finlândia, França, Haiti, Itália, Moçambique e Portugal,
incluindo: Museu Nacional de Arte de Moçambique, Museu Alpöoy Akö, Finlândia, e na Sede Internacional da UNICEF

Pesquisa
A procura das suas referências antropológicas e culturais levou-a a candidatar-se a uma bolsa de estudos na Fundação do Oriente, a qual foi aceite e os trabalhos desenvolvidos, depois prolongados, tutelados esteticamente pelos professores Rocha de Sousa e João Conceição Ferreira, cujos relatórios finais tiveram bom acolhimento. Este trabalho foi realizado em condições algo difíceis, do ponto de vista estrutural, mas os problemas daí decorrentes superados com êxito.
Bela Rocha vive e trabalha actualmente em Paço de Arcos, procurando aceder a novos suportes culturais e relações entre as suas principais fases, ilustradas no portofólio – entretanto seguidas na mesma linha que conduz o olhar sobre o mundo de uma maneira irónica, satírica, algo patética, tanto no «folclore» urbano como nas memórias da ruralidade moçambicana.

(Texto tirado do catálogo da exposição, na Biblioteca Operária Oeirense, em Novembro de 2006)

Obrigado, Blasfémias, pela publicidade grátis

Com uns dias de atraso, e por interposta polémica, fiquei a saber que o jcd do Blasfémias nunca percebeu, talvez por não querer perceber, a minha opinião sobre o papel do Estado, preferindo associar-me (aliás associar-nos, uma vez que insinua com o nome deste blogue, como se os outros que por aqui escrevem tivessem de partilhar as minhas opiniões- o que é extremamente liberal, como se percebe) a argumentos que não subscrevo, nem tenho de subscrever. Recomendo-lhe, sobre o tema, e se se quiser dar ao trabalho, este meu post, e também, embora com menos expectativas, algum tipo de honestidade intelectual.

Dia 15 de Novembro a O.T.A (Oficina de Teatro de Almada) volta a apresentar o Recital de Poesia Satirica intitulado Como é Diferente o Riso em Portugal . É um espectáculo – recital construído com textos de vários poetas portugueses. Com interpretação de Pedro Bernardino e Fernando Rebelo, este recital foi estreado na última edição da Quinzena da Juventude, em Almada, no Ponto de Encontro e seguiu depois para o Teatro Extremo entre Abril e Maio do presente ano e mais recentemente esteve no Cinearte (Barraca).

O local de actuação é no Ondajazz às 21h, seguido de um espectáculo musical Tel : +351 218873064

Quem já teve oportunidade de ver riu bastante e quem sabe pode sempre voltar e trazer amigos...

Venham passar um serão diferente e divertido!

Passem a palavra,s.f.f.

Abraços

O.T.A
 
Desenho de João Fróis Posted by Picasa

sábado, 11 de novembro de 2006

Os amanhãs ainda cantam

 
Poema de Paulo Sucena , Jornal da Fenprof, nº212, Outubro de 2006 Posted by Picasa

Sinais

 
Desenho de Maturino Galvão Posted by Picasa

Maureen & Cia comentam derrota de G W Bush

A cruzada anti-conservadora do NY Times ao longo dos seis anos do consulado bushista contribuiu para a mudança política surpreendente e vitoriosa incarnada por um novo Partido Democrático

Determinação, arrojo e qualidade teórica e política foram as armas empregues pela pleiade de cronistas do NY Times que, em conjunto, e nas mais diversas áreas desmistificaram o núcleo duro das teses neoliberais e imperiais da cruzada patrocinada por Bush-II e seus instrutores - os famigerados neoconservadores do Americam Entreprise e outros " think-tanks"- para implementarem a mirífica Pax Americana nos quatro cantos do Globo.

Se os textos de Krugman e de Tom Friedman, de coloração mais sintonizada com a economia política, sobretudo no caso do prof. de Princepton , nunca se furtaram a criticar o descalabro - económico e político - da gestão da gerência dos títeres da direita americana evangélica, rude e pudica com um insustentável nacionalismo serôdio a colar-se-lhe à pele; já os de Frank Rich e os de Maureen glosaram na microscópica e subversiva violência do discurso as gafes e os buracos de sentido e pensamento do trio dirigente mais polémico do Mundo nos últimos seis anos.

Especialmente, Maureen Dowd, a nossa querida Maureen, que começou por ser correspondente na era de Reagan para o NYT na Casa Branca, abalançou-se empertigadamente a desmontar o discurso e as fobias de Dick Cheney e do seu inseparável amigo, o martelo sedoso, o germano-americano Donald Rumsfeld, o homem de todos os exércitos. Havia mesmo conferências de Imprensa, em que Rumsfeld respondia directamente às verrinosas críticas de Maureen em directo. O que é o máximo, convenhamos.

Dois dias após o apuramento quase total ( o caso da Virgínia e da recontagem segue o seu curso...) Maureen Dowd desmonta a viragem e a adaptação por que passa, e é obrigado, GW Bush, num texto genial, " Come to Daddy", uma espécie de tradução livre de "volta a submeter-te ao paizinho ou come e cala-te..."Um must, que nos reconforta e alegra para podermos pensar melhor e em profundidade. Maureen é daquelas pessoas que faz " amor " com as palavras e usa o duplo (ou triplo) sentido de muitas para decompor o complexo mais sádico-masoquista que possa aparecer ou tentar fugir. O superlativo maquiavelismo da senhora arranca coroas e corações ao mais sofisticado dos gerentes do planeta, surpreendendo-o com uma virtude psicanalítica estonteante e apuradíssima onde não falta a análise política e individual mais abalançada e cruel.

O que nos diz Maureen no seu primeiro texto da era post-Bush? Que o pai Bush e James Baker obrigaram o neófito e o seu mais próximo estratego, Karl Rover, a demitir na hora Rumsfeld e a chamar para o seu lugar Robert Gates, membro do staff da "Alternativa para o Iraque ", que talvez consiga colar os pedaços partidos de uma democracia bipartidária calcada aos pés durante mais de cinco anos. " GWB não tinha alternativa senão realizar uma reviravolta integral edipiana. Não podia deixar em breve Nancy Pelosi incriminar Rummy pelas irregularidades cometidas no Iraque. Ele está longe de ser exactamente um senhor charmoso ou verdadeiro e foi dizer cretinices acerca disso na TV"...

Sobre o novo secretário de Estado da Defesa, Maureen narra os ecos de corredor sobre a sua personalidade. " Desde sempre se sentiu horrorizado com o estilo bélico, arrogante e ideológico da dupla Cheney/Rumsfeld, Verberou o modo como Bush apelidava o seu dream team de política estrangeira - incluindo a sua antiga colega e sovietóloga-expert Condoleeza Rice- o modo como tudo isso foi construído e cresceu ao longo do tempo, mesmo descontando o facto de ter sido obrigado a fazê-lo para se demarcar da equipe de Clinton. Tem um político realista como seu mentor, o general Scowcroft. Gates foi sempre um crítico de um estilo linear, moralizante e que despreza a nuance, despromovendo a diplomacia e criando muitos malandros".

F.Almeida Ribeiro

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Foto de José Carlos Mexia

Da série Sevilha Posted by Picasa

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Os sindicatos (2)

A dinâmica do poder mediático criou sobre os sindicatos outro estigma: o de serem Factores de Atraso. Os Factores de Atraso, crê-se, embora atrasem (delay) o processo da máquina, são na realidade intrinsecos a ela e ao seu mecanismo.

Liberdade

"se Deus não existe, tudo é permitido" (1)

"Um dia havemos de ser livres
E esse dia será
Quando todos estivermos mortos" (2)

A liberdade é entendida por muitos, a meu ver, de maneira errónea.

"E como o menor se entrega ao maior, para gozar do menor e dominá-lo, assim o maior se entrega também e arrisca a vida pelo Poder".(3)

(1) João Carlos Espada
(2) autor desconhecido
(3) Friedrich Nietschze

Os sindicatos (1)

Há muitas coisas curiosas no discurso mediático corrente, e sem dúvida que uma delas é o discurso sobre os sindicatos; antes de mais, a teoria dos sindicatos bons e sindicatos maus. Hoje em dia, já se notou, os únicos sindicatos que tem força para organizar greves, fazer manifestações, etc., são os relacionados com a função pública, ou, mais exactamente, aqueles cujos trabalhadores podem de facto fazer greve sem perderem algo mais que o dia de salário respectivo. Eu, por exemplo, que sempre trabalhei no sector privado, sei perfeitamente como, na maior parte dos casos, a hipótese de fazer greve nem sequer se coloca; e isto seja sobre que questão laboral for. O curioso é atribuir-se esta diferença de dinâmica sindical aos próprios sindicatos, como se fosse sua responsabilidade a brutal diferença de condições que subjazem à sua operacionalidade e efectividade.

A decência na guerra

Pelo menos os palestinianos quando matam civis não dizem que foi "por acidente".

Fissuras

O guarda da cancela declarou-se em greve.
( Era um direito que lhe assistia...)

Veio a chefe dos funcionários e, temendo a desordem, deslocou a subordinada para o posto
avançado.
A subordinada, subordinou-se e cumpriu a ordem.
Aplaudiram e corroboraram os Doutores.

Estava, assim, restabelecida a Ordem.

Dei por mim a pensar que aquele cinto com a fivela S ainda faz falta...
Aquela fivela S ainda faz sonhar
ainda se pensa,
se age,
se executa,
como se ele
Salazar
cá estivesse.

Aquele cinto que fustigou gerações (duas, pelo menos...)
continua suspenso sobre estas cabeças
cada vez mais ocas.

A greve continua a ser considerada como coisa de 'comunas'.

(Não é verdade que se vão resolver os problemas - que os há, e gravísimos - do nosso sistema educativo.)

A greve é a bofetada que dás na cara do teu próprio filho quando este te esgota a paciência! E tu tens consciência disso. Não resta outro recurso.

Mete tanto medo quanto a ideia de que os ditos 'comunas' comem criancinhas ao pequeno-almoço...

Quando havemos de deixar de ter medo?
de baixar a voz quando exprimimos a liberdade daquilo que intimamente pensamos?
de nos calarmos sempre que acharmos que temos razão?

Se a cadeira ousou sacudir Salazar o que é que nos impede de pensar... (e agir)?

Assim se criam as rupturas.
Abaixo este governo!
Ao fundo com este país!

«Felizmente que na minha pátria,
a minha verdadeira mãe, a minha santa Irlanda
apenas vivi uns anos d'infância, » Almada Negreiros

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Sinais

 
Desenho de Maturino Galvão Posted by Picasa

A inconfessável lucidez

 
Entre o medo do real e o confortável suporte do absurdo ou «A boneca fecundante»
Pintura de Bela Rocha

Mais logo, entre as 18h e as 22h, na Biblioteca Operária Oeirense, Rua Cândido dos Reis, 119, OeirasPosted by Picasa

Um azelha à chuva

Era uma vez… um país pequenino, com um povo muito atarefado, que enchia ruas e escritórios numa sinfonia de trabalho, alegria e felicidade, como uma colmeia na Primavera. Nada apagava o sorriso deste nobre povo, mesmo o mexoalho político era motivo de celebração e galhofa. Este prepóstero país, abacalhoado no gosto, com alguidaradas de sabedoria a escorrer dos quiosques todas as manhãs, não deixa de surpreender os mais desvelados. Há uns tempos, os mais atentos leram, no mesmo dia, duas notícias que, se dúvidas houvessem, poriam Portugal na senda dos mais avançados países do mundo.

A primeira dizia respeito às cabeçadas entre dois gestores na Caixa Geral de Depósitos que levou à intervenção do Ministro da tutela pondo ordem no revezo e deslocando o gado para outra pastagem. Como consequência, o Sr. Mira Amaral meteu a reforma… com os papéis entregues em mão na Caixa Geral de Aposentações. Claro que a mão não foi a dele. Pertencia à secretária particular. Nem dava muito trabalho, pois era só atravessar o Campo Pequeno, mas a vida a jacto dos gestores turbo não se coaduna com minhoquices burocráticas… e à tarde já estava com a sua pequena reforma de 18 mil Euros (3 621 contos) disponível na conta… podendo dedicar-se livremente a um futuro de… polquista, hirudinicultor, helicicultor, pescador de alto mar, criador de cavalos ou internauta num jardim público. Mas não foi o que ele fez. Em vez disso continuou a patinhar nos grandes tachos. Ultimamente, acostou ao Fórum da Competitividade e podemos vê-lo a perdigotar postas de pescada sobre bálsamos para endireitar a economia do país. Nem me preocupa saber quem lhe paga mais este complemento de reforma. Ele merece!

A outra notícia é mais seca, curta, anónima, e referia que na zona do Cadaval um emigrante morria de fome. Um desgraçado ignorado do “Estado social… mas em vias de privatização” que cometeu o erro de passar a vida a trabalhar em vez de ter entrado para um partido político ou de ter seguido uma anafada carreira no funcionalismo público.

Muitos dirão que o Sr. Amaral tem um cérebro privilegiado que lhe permitiu tirar um curso difícil e aceder a postos de grande responsabilidade. Que quem está na alta finança dá muitos lucros ao patrão e que as decisões importantes que toma justificam uma compensação choruda. Que são pessoas que geram muitos lucros para o país através da sua aguda inteligência e que dar-lhe 18 mil Euros é uma bagatela. Que no dia em que choverem Miras Amarais em Portugal sairemos para o pelotão da frente das nações mais ricas e avançadas deixando de vez para trás tarefas menores como servir cafés na Base das Lajes. Ou organizar jogos de futebol. Ou vasculhar por um bisavô nos Açores no passado dos laureados com o prémio Nobel.

Num país assolado por verdadeiras versões modernas de pragas bíblicas como a dos “padres cantores”, que assombram as ondas hertzianas nacionais, ou a dos “polícias escritores” que enricam as prateleiras da Biblioteca Nacional, é claro como água que o nosso futuro está na chuva. Numa chuvada de cérebros gestores que façam o que sempre fizeram, isto é, destruir as empresas públicas e esperar para ver qual é o próximo passo histórico do liberalismo económico (ou, a “terceira via” para os amigos mais íntimos).

Portugal nunca soube assumir compromissos ou tratados internacionais. O exemplo de Cabinda deveria vir à memória dos que aprenderam História no tempo em que havia mais escolas abertas. Mas quando nos tornamos tolos não brincamos em serviço, somos tolos a valer, perdemos todo o sentido da decência e honestidade intelectual. Subimos para cima de cadeiras e fazemos um triste espectáculo no fundo do palco. Quem não se lembra das velhas de cabelo pintado de loiro colado a laca, formando um belo cabeção, percorrendo as ruas em manifestações aprazadas que, ainda hoje julgam ter tido alguma influência na independência de Timor. Essa onda de “consciência política” que não se via desde o 25 de Abril e que aqueceu os corações dos indigentes das classes altas numa espécie de desígnio sagrado para preencher o vazio do seu quotidiano. Os portugas de curta memória não se lembram que, se não fossem as mulheres dos políticos americanos também falarem de política nos seus chás canastras, Timor ainda faria parte da Indonésia. E que talvez fosse a sua sorte.

Mas, Portugal continua um bom país para dançar aquela arte espanhola de bater com os pés no chão abanando os braços fazendo trejeitos com os dedos e comprar postais para mandar aos amigos In articulo mortis (“na hora da morte”).


Táxi Pluvioso
 
Foto de José Carlos Mexia

Da série Sevilha Posted by Picasa

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Sinais

 
Desenho de Maturino Galvão Posted by Picasa
 
A voyeuse ou «lugares de ontem»

A exposicão de Bela Rocha é amanhã. Encontramo-nos, das 18h às 22h, na rua Cândido dos Reis, nº 119, Oeiras Posted by Picasa
 
Desenho de João Fróis Posted by Picasa

USA: NY Times sem tergiversar: " Esta eleição avalia Bush e o seu partido deve ser afastado"

Trata-se de um libelo acusatório sem concessões nem operações de cosmética, demagógica ou eleitoralista. É o editorial político do NY.Times. Que fustiga implacavelmente a herança do meio-termo do segundo mandato de GW Bush como presidente dos EUA. Escalpeliza os traços estruturais da política da maioria republicana no Congresso e no Senado: " O corte nos impostos-acima-de tudo- arruinou o orçamento, enfraqueceu a classe média e hipotecou o futuro da economia. Recusou fazer frente ao sobreaquecimento terrestre e não fez pateticamente quase nada acerca da dependência interna do petróleo estrangeiro ".

" Os líderes políticos da maioria republicana, especialmente no Congresso, implementaram tóxicos sintomas de uma arrogância e autismo desmedidos como se estivessem há muito instalados no poder. Metodicamente marginalizaram a oposição - e mesmo os elementos moderados da sua própria maioria - para fora de qualquer desempenho ou iniciativa legislativa. A sua única ambição parece consistir em se perpetuarem no poder, indefinidamente ", sublinha.

E vai mais longe ainda: " Para nós, o intolerável foi criado pela tentativa do P.Republicano tentar minar o jogo de equilíbrio de forças que salvaguardam a Democracia americana desde a sua fundação". Para acrescentar de forma incisiva e peremptória: " Nos últimos dois anos, a Casa Branca tornou claro que exige poderes exorbitantes. Em vez de pôr em dúvida tais excessos, o Congresso controlado pelo PR habilitou-se mesmo a remover os limites que a habilidade do presidente reclamava. Parafraseando Tom Delay, os republicanos pensam que não são precisos regulamentos se o partido manipula o controlo de tudo ".

O Le Monde apresentava hoje um vasto texto de diálogo na Internete conduzido por um especialista, Guillaume Parmentier. Que no essencial, dava conta das grandes hipóteses de vitória folgada dos Democratas no Congresso, incerteza quanto à posse do Senado; e, por fim, dava relato de que - num artigo da grande correspondente do jornal em Washington, Corine Lesnes - em 46 circunscrições mais importantes 29 candidatos democratas não criticavam as opções de Bush na ida para a guerra no Iraque.

Ler editorial do The New York Times, aqui

FAR

terça-feira, 7 de novembro de 2006

 
Foto de José Carlos Mexia

Da série SevilhaPosted by Picasa

Mais um contributo para a Cruzada da Dra. Maria de Lurdes

Num rasgo de generosidade e percebendo que de nada valem negociações, aqui vai o meu modesto contributo: um decálogo para que essa odiosa, sinistra, mal-intencionada, e etc. classe de professores possa aceder ao grau de professor titular.
Dra. Maria de Lurdes, disponha...

« Só poderão aceder ao grau de professores titulares aqueles que:

1. Não digam, nunca, em circustância alguma, 'prontos'ou 'há-des' ou, ainda, não consigam fazer a concordância do sujeito com o predicado numa frase simples;
2. Declarem por escrito (sem erros ortográficos) e sob juramento solene que não leram (nem mesmo por mera curiosidade...) quaisquer livros da Margarida R.Pinto, do Paulo Coelho e quejandos;
3. Sabem mais coisas para além das matérias específicas que leccionam;
4. Viram no cinema (vá lá em VHS ou em DVD) uns quantos clássicos do Cinema;
5. Nunca tenham pensado ou mesmo levado os seus filhos ou outras crianças a lugares tão estupidificantes como a Eurodisney;
6. Leiam jornais e ouçam programas de rádio ( TSF, Antena 2, por exemplo...) pelo menos duas vezes por semana;
7. Estejam informados acerca do que se passa na actualidade, de forma a que possam emitir opiniões próprias;
8. Frequentem regularmente espaços onde decorrem eventos de natureza artístico- cultural;
9. Saibam comunicar e entendam qual é o seu verdadeiro papel na instituição - escola: através do ensino transformar as mentalidades;
10. Pensem, ajam e trabalhem segundo a sua consciência, sabendo integrar-se num colectivo.
6.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

"Como é diferente o riso em Portugal"

É este o título do espectáculo - recital de poesia satírica que a Oficina de Teatro de Almada vai oferecer-vos nos seguintes dias e locais:

Bar do Cinearte - Teatro A Barraca , 7 de Novembro, 22.30 h. (entrada livre, consumo mínimo 3€);

Ondajazz (um pouco mais a seguir à Casa dos Bicos), 15 de Novembro, 21.00h (entrada 3€ com direito a assistir ao concerto após o nosso espectáculo.)

Santiago Alquimista (perguntem a quem quiserem...), 13 de Dezembro, 21.30h. (Se quiserem experimentar antes há espectáculos todas as 4ªs. feiras...)

Apareçam.
Ou, então, divulguem junto dos vossos piores inimigos, conhecidos ou vizinhos chatos.
Um grande bem-haja para todos.

Mc Ferrin




Via O Jansenista, a quem agradeço.

Contos do Outono .2

Já vos tinha contado que a minha nova madrasta saiu de uma fairy-tale. O daddy anda feliz. No entanto não vos tinha dito tudo sobre os amigos de meu pai. Cambada de perversos polimorfos, como diria o doutor Freud. E, isto do blogue tem sido um ver se te avias. Ele há o correspondente de Washington que é antieuropeu. O André que é anarquista responsável. O FAR sempre ao serviço da revolução mundial. Os comunas que entraram, saíram, ficaram. Os nostálgicos do Ultramar. Os fotógrafos para os mais variados gostos. A malta da pintura dos mais variados tons. Os críticos, especialistas em tudo, Landru e Parcídio. As viúvas tipo Amélia e Maria João. Os gajos que se chatearam. A malta que entrou. O JSP. O Maturino. Os cus do Salvado. Eu sei lá. Vocês sabem-na toda. Mas confesso que a confissão da Diva ao Frisó me espantou. Há quem se apresente como transformista, só para chocar a criançada, que aliás acha piada a tudo. Agora, contar memórias assim? O meu pai diz que a escrita do amigo foi para atender à musa. Confesso que, para mim, não há fairy-tale, nem musa, que resista a esta realidade. Temo por eles. Temo por meu pai. A minha madrasta vai fugir. Serão, pai e madrasta, também perversos polimorfos? Que confusão reina aqui!

Josina MacAdam

Bela Rocha

 
«Entre o céu e a terra» ou Ensinei os meus filhos a voar e a tocar nas luas. Posted by Picasa

Gérard Chaliand: Irão, Arábia Saudita e Turquia podem intervir no Iraque caso haja tentações separatistas

O célebre e histórico geopolítico acha que os EUA devem evitar a chantagem da partilha do Iraque em três zonas confessionais. Caso contrário, assistir-se-á a uma guerra islâmica regional...

O rigor e minúcia da análise de Chaliand condensam todas as grandes análises mundiais sobre a Guerra no Iraque. Desde os finais de Setembro passado que o NY Times, o Washington Post e a grande série de revistas controladas pelos democratas yankees não cessam de reclamar o começo da retirada das tropas de ocupação lideradas pelos EUA no Iraque. Os ângulos de ataque à política desastrosa de GW Bush compõem um florilégio de requintados pormenores, desde a cruel submissão de Rumsfeld ao "petroleiro" Cheney e as altas e sonantes dissensões tácticas no interior dos estados-maiores dos aliados.

Tom Friedman expressou ontem esse tom geral de decepção: " A equipe Bush julga que somos uma cambada de estúpidos. Pensam que conseguirão fazer ignorar todos os insultos que o team de Bush cometeu contra os militares norte-americanos nos últimos seis anos, por causa da piada infeliz de Kerry que eles exageram e torcem. Não existe nada mais insultuoso do que enviar as tropas do EUA sem o número suficiente de homens para iniciar uma invasão de um território estrangeiro não sob o impulso da Doutrina da Super-força de Collin Powell mas pelo contrário sob o lema de Rumsfeld de só as suficientes para perder? ".
" Para a administração Bush já é demasiado tarde para mudar de estratégia. O que ela agora pode fazer, é considerar ainda prematura uma retirada. Para evitar uma retirada que possa vir a ser interpretada como uma derrota. (....) Uma retirada americana neste momento seria interpretado pelos movimentos insurreccionais à escala do mundo como uma vitória sobre a primeira potência do Mundo ", sublinha Chaliand.

" Bagdad é o centro máximo da confrontação inter-confessional. Com o leste da cidade ocupado pelos xiitas e o oeste pelos sunnitas, sendo as zonas de contacto entre elas o palco de liquidações étnicas. Uma coisa parece, desde já, certa: nunca mais o Iraque será dirigido a solo pelos sunitas sozinhos ", frisa. " Os EUA devem agora definir o que querem que não aconteça jamais no Iraque; e, nomeadamente, devem acautelar o não surgimento de um novo e alargado foco de guerra multi-confessional "., aponta.

Ler mais aqui

FAR

domingo, 5 de novembro de 2006

 
Foto de José Carlos Mexia

Da série Sevilha Posted by Picasa
Armando,

Tenho dado sempre uma vista de olhos no 2+2=5. Está à vontade com os textos do Pratinho de Couratos. Podes usá-los como quiseres. Não estou na protecção dos direitos de autor como o caçador Miguel de Sousa Tavares. Todas as rolas que ele matou sentiram-se vingadas quando os tipos do blog freedomtocopy.blogspot.com o acusaram de ter plagiado o seu dilecto, “menos best que seller “, “Equador”. Ele ficou uma fera. Foi pena não ter estado outro caçador por perto para lhe dar um tiro.
Estou a tentar manter o ritmo de meter um post no blog dia sim, dia não. Um por dia seria muito violento. Significaria parar de vez com a escrita do livro. Que mesmo assim caminha a passo de caracol. Numa situação normal já estaria escrito. Tenho que terminá-lo. Não posso privar a GNR deste hino panegírico dos seus imemoráveis feitos. Eles quase ganharam a guerra do Iraque, e, em Timor, acabaram com as rivalidades Loromonu Lorosae, mostrando que, sob a união do cachecol do Benfica, todos poderiam ser como o seu presidente. Ou seja, ter uma vida razoável num país que despede metade da tropa.
De facto temos que nos encontrar mas por enquanto isto está difícil. Lá mais para o fim do ano, talvez. Tenho que te levar completo o primeiro livro que escrevi. Apesar do descomedimento vernáculo é uma critica mordaz ao nosso tempo. Do qual tento retratar o aspecto absurdo. (Exemplos desse absurdo não faltam. A banca aumenta os juros sob o astuto pretexto de que prevê idêntica atitude do BCE. Meses mais tarde, aparece o Trichet com aquela cara de paramédico da zona euro e confirma as previsões. Que videntes são os lusos gestores bancários! Sem consultar a Maya, ou ter ido a Vilar de Perdizes comprar uma mezinha - no seu significado latino como “líquido próprio para clister” e não no sentido popular de “remédio caseiro” -, estes sabichões estariam um passo à frente para ajudar a economia familiar. Os chefes de família exultaram, pois já tinham ajustado o seu orçamento, porque o aumento da taxa Euribor fora feito meses antes. Mas não. Mal o Trichet se escapule entre os flashes, vai mais um aumento na taxa de juro portuga. Se isto não é engraçado, então perdi o sentido de humor. E nem vou falar de Bush e os bushistas. A teoria dos dois Estados na Palestina é hiper super mega hilariante, como diria a nossa querida Floribella).
No primeiro livro levei ao extremo estas pérolas do nosso maravilhoso tempo, que pelo exagero do disparatado e ilógico, incluiu o “Rei Ubu” na corrente realista. O mundo ultrapassou a fase kafkiana da Guerra-fria para entrar na ubuesca idade do império americano. Escrevi o livro como um quadro pontilista ou impressionista. Eles usavam pequenas pinceladas para construir a imagem maior, eu atirei frases curtas para compor um quadro da maior realidade portuguesa. Ele assenta na polissemia e nos trocadilhos, e como as pessoas não têm tempo para ir ao dicionário meti o significado de algumas palavras. Dá-lhe um ar pobretanas, eu sei, não parece intelectual, mas que se lixe, escrevi-o a pensar na geração videogame, que não perde tempo em leituras. Talvez no futuro faça uma revisão do texto.
A obscenidade e amoralidade impedem a sua publicação. Não conheço escritor que tivesse ido tão longe. Talvez andem lá perto o Marquês de Sade com a destruição dos valores em “Justine”, ou o deboche de Henry Miller nos “Dias Tranquilos em Clichy”. Mas o pior é a destruição que faço do cristianismo. O que escrevi não é herético é mesmo blasfemo.
Só me interessava publicar para mandar um exemplar ao Cardeal Patriarca. Não espero que ele tenha uma apoplexia como o Papa quando os turcos estavam às portas da Europa no século XV, mas para que ele se dane, e, quem sabe, com o susto… deixe de fumar.
Um abraço.

Maturino Galvão

Sinais

 
Desenho de Maturino Galvão Posted by Picasa

MISSIVAS

           Olá Frisó!

           Há tantos anos... demorei a responder-te, mas vou estando
           feliz por te saber entre os de mais e guardares algumas dessas
           recordações que tanto nos unem. Eu guardo umas outras!
           Depois... foste crescendo no tamanho... irrequieto...
           sempre bonito... curioso... brincalhão... distraído... atraente.
           Por algumas levaste cargas de pancada dos outros miúdos,
           do director da escola primária e da tua mãe, que em todos
           os carnavais te vestia de menina. Por outras os matulões
           não te largavas           
Ainda te recordas, com certeza, que eles te chamavam para as
           cabanas construídas por baixo das mangueiras, para o
           jardim da igreja ou para as obras e davam-te chuinga e cigarros
           "Havana". Apalpavam-te as pernas e tu masturbavas um a um.
           Ficavas espantado com os ruídos que sussurravam entre os
           dentes... fechavam os olhos e expressavam esgares... ficavam
           rosados e arfavam... parecia que iam rebentar. Mas o mais
           espantoso era o tamanho dos pénis. Inchavam muito e ficavam
           enormes. Tudo clandestinamente, Frisó.
           Até que naquele dia, vais lembrar-te, um deles te pediu que
           desses beijos e lhe lambesses o pénis. Assustaste-te e fugiste
           para casa. Tinhas chupado em dois cigarros, mas não mascaste
           chuinga. Levaste uma enorme carga de pancada da tua mãe,
           porque cheiravas a tabaco. Foi nessa altura - devo confessar-te
          agora - que aproveitei para te afastar daqueles jogos
           perversos e perigosos, ensinando-te a viajar no "minibus" da
           escola sempre sentado ao lado das meninas, para te encostares
           a elas de ombro, braço e perna. Para depois darem as mãos...
           apalparem os corpos... nos orgãos... trocarem as línguas...
           criar dores nos testículos... e passaste a masturbar-te. Os
           matulões deixaram de incomodar-te. Coisa boa, não foi Frisó?
           Prometo que da próxima serei mais breve na resposta,
           aproveitando o "2+2=5" para trocarmos recordações.            

Tua Amiga Diva.
 
Desenho de João Fróis Posted by Picasa

sábado, 4 de novembro de 2006

Islândia: vá a Reykjavik tirar a barriga de misérias

A antiga colónia dinamarquesa rica em peixe e alumínio apresenta taxas de crescimento asiáticas e uma dívida externa record de 300 % superior ao PIB
Este artigo da enviada especial de Libération, que pode ler aqui, deve despertar muita boa inveja aos políticos europeus carregados de angústia e náusea pelo "stop and go" das suas fracas performances económicas continentais. A famosa ilha grande a SE da Gronelândia está a um passo de se transformar na grande coqueluche da Europa do Glamour e Amor sem Fronteiras. É que as minas de alumínio estão mesmo a dar, o peixe e o marisco rendem cada vez mais e os investimentos externos dos novos gurus económicos locais, de formação universitária realizada nos EUA ,tornaram-se em intrépidos compradores e investidores no Reino Unido e nos paraísos Sociais-democratas da Escandinávia. Será que Sócrates vai encorajar o investimento e a deslocação das bolsas de desemprego nacional para a Islândia em detrimento de uma muito louvável aproximação com a dinastia do Khadafi líbio? É uma magna questão para o fim-de-semana, convenhamos. E sonhem acordados...

FAR
 
Foto de José Carlos Mexia

Da série Sevilha Posted by Picasa

Pratinho de Couratos

A muito meritória divulgação pelo Armando do blogger-revelação do momento Taxi Pluvioso não dispensa a consulta do original. Recomendo vivamente aos nossos leitores o Pratinho de Couratos. É simplesmente do melhor na blogosfera nacional do momento, na minha opinião. Não estou a brincar. É mesmo bom. O autor é um escritor, na verdadeira acepção da palavra, e de um modo algo antigo, clássico, numa tradição queirosiana que infelizmente se vai perdendo pelos corredores estreitos da "literatura moderna" portuguesa, onde só parece haver lugar para duas coisas: a citação e a auto-citação. No caso do Taxi Pluvioso, nada disso; é escrita de combate, mas escrita, antes de tudo, porque só a boa escrita pode ser uma arma eficaz, o resto é, como dizia, o mediocre carrossel auto-referencial e reverencial do mui luso pântano literário (do mui luso pântano, ponto final). Aproveite-se esta oportunidade que a moderna tecnologia nos dá para o ler, que sirva para fazer justiça a quem o merece, pelo menos por uma vez.

(quero apenas notar que, ao contrário do Armando, eu não conheço o tipo de parte alguma; e só para afastar interpretações costumeiras sobre estes elogios algo desmesurados que se fazem.)

Pássaro


Beija-me pássaro, que a minha alma necessita do fogo.
Beija-me, que a minha alma vem do inferno dos dias todos que se amontoam uns sobre os outros, agora sim.
Beija-me que preciso que não tenhas medo de mim. Quero-te agora e até ao fim, não te quero a tua metade mais luminosa, quero acima de tudo a mais sombria, a mais difícil, a mais inacessível, e isto só porque te quero.
Por isso espero, fico, até ao fim.
A minha alma vem da morte. Morreu muitas vezes antes de nascer. Por isso espera, tranquila. Sei de tudo isto, mas preciso do teu beijo de pássaro.
Porque preciso de ti para voar. Não o sei fazer.

A inconfessável lucidez de Bela Rocha de Sousa


Banho V


O ENCANTAMENTO DAS DORES ENCOBERTAS

A pintora, suspensa da sua condição solitária e da memória de outros sonhos – África longe, teatro, cinema de ensaio, experimentações várias – vive uma espécie de inconfessável lucidez em torno das suas sempre sentidas práticas da linguagem plástica. Ela assume uma espécie de inconfessável lucidez, algo que absorve as coisas de estados depressivos ou de melancolias onde muitos contentamentos perdidos parecem ressuscitar através de sonhos surreais, de circos impossíveis, personagens quase sempre grotescas de uma efabulação do mundo caótico e excessivo em que vivemos. Dessas obsessivas representações, nas quais alguns monstros reaparecem com a notícia das catástrofes naturais, desprende-se uma ironia sarcástica, a mistura das coisas e das pessoas, o anacronismo capaz de geminar épocas diferentes, rostos da abundância e da fome, um riso falso na cor saturada que transforma o mundo em abóbada azul, em finitude do que não tem fim. Então o espaço pode por vezes distender-se, multiplicar-se em trípticos, a fim de sustentar as cenas de narrações caricaturais, tão expressionistas quanto surrealistas, ou aproximação disso, absorvidas que foram as principais fases da revolução artística do século XX.
A autora destes cenários impossíveis, e contudo quase realistas de certa maneira, tem dentro de si a enorme quantidade de memórias e símbolos, coisas que, como diria Juan Gris, atestam a qualidade da arte produzida, em aprendizagens que comportam o vómito das derivas pelas terras dos outros e o valor intrínseco dos personagens sgnificantes espalhando-se pelo espaço da tela, na imitação da aldeia ensandecida proposta por Dürrenmatt em «A Visita a Velha Senhora». As pessoas compram-se e vendem-se, a natureza erótica de muitos conjuntos alia-se a um enorme comprazimento do ver, esgaravatando intimidades, tapetes e sombras por baixo dos canapés, divas decadentes reclinadas na simples espera, mulheres balzaquianas também, mas sem literatura, só boquilha, retratos por vez emblemáticos das noites de prazer e da juventude acabada. Juventude, em todo o caso, refeita na vida urbana que a Velha Senhora comprou e tutela, uma sociedade de lazer, súbita e absurda, onde senhores de chapéu de coco vogam em bicicletas de alta roda fronteira, ou esquecem as mulheres velhas e solitárias que se deitam em longas banheiras de esmalte, pés retorcidos. Em certos casos, uma dessas personagens, mulher rasurada, nudez tombada, donzela de grande cabeleira, salta do contexto comunitário para o lugar do retrato, ou a pequena dimensão do enquadramento, como se nos deitasse a língua de fora, enquanto a cor se mantém saturada e algumas outras representações reassimilam imagens de África, os meninos ladinos que por vezes deixam as latas amolgadas e estendem a mão à própria mãe.
Bela Rocha é uma pintora de talentos inatos e de avanços instintivos, como se ela mesma se tivesse legado à condição de alguns dos seus personagens. Pinta laboriosamente, sobretudo sobre seda, e contorna bichos e homens com a linha delicada do bordado da vida. Ao lado dos nossos irmãos de raça, vivem animais humanizáveis, pássaros, gazelas mutantes, seres absurdos, toda uma natureza que lembra simultaneamente a cidade e o paleolítico, retorno às origens e ríspida contestação do mundo global em que nos iludimos, autofágicos.

ROCHA DE SOUSA
2006


(texto de apresentação da exposição: A Inconfessável Lucidez)

Sinais

 
Desenho de Maturino Galvão Posted by Picasa

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

China: investimento em África gera controvérsia crescente

A RP. da China lidera o investimento estrangeiro em África, em todas as latitudes. Cresceu mesmo 10 vezes mais nos últimos três anos e atingiu perto de 1 bilião de Euros. Só que a política de " não ingerência " desagrada à ONU e às ONG´s humanitárias poderosas por causa do apoio a Khartoum na guerra do Darfur, na simpatia para com a repressão imposta por Mugabe e no comprometimento pelos atentados ecológicos no corte da floresta equatorial do Gabão

Duas investigadoras do Instituto de Relações Internacionais norte-americano publicaram um artigo ontem no NY.Times alertando para a aversão repentina (backlash) que as populações africanas de diversos países começam a sentir pela presença de técnicos e civis anónimos naturais da China destacados ou, de forma espectacular mesmo clandestinos, pelas doces colinas verdes do imenso continente. O pretenso e formal apoliticismo da presença de centenas de milhares de chineses acabou por "facilitar" e caucionar todas as formas de atentados aos direitos humanos e ecológicos. Isto aconteceu enquanto o comércio bilateral atingiu 40 biliões de dólares no ano passado, quadruplicando em cinco anos. E fazendo da China o maior parceiro mundial do desenvolvimento económico do continente africano.

Intitulando o artigo de " Os perigos da estratégia africana de Pequim ", Elisabeth Economy e Karen Monaghan, narram o descalabro do apoliticismo da intervenção internacional das firmas e dos técnicos chineses. Ao princípio, a estratégia de não interferência chinesa ultrapassou a rigidez dos protocolos outrora impostos pelos EUA, a Europa e as grandes instituições internacionais tipo FMI, Banco Mundial e ONU, entre outras, referem as duas cientistas sociais. " O que está a acontecer no Sudão retrata o pior exemplo das consequências da não interferência entre negócio e política. Recusando pressionar Kharthoum para aceitar a presença de capacetes azuis en Dafur, Pequim tenta esquecer verdadeiramente as atrocidades cometidas. No Zimbabué, a confortável ajuda económica chinesa conserva no poder o regime repressivo de Robert Mugabe ", frisam.

Recentemente, fazendo-se eco do crescente mal estar causado pela presença " apolítica " das firmas e dos técnicos chineses através do continente africano, um conjunto de governantes autóctones resolveu accionar as cláusulas sobre transparência e igualdade exigidas pelo articulado do texto geral da ONU/OUA, intitulado um Novo Partenariado para o Desenvolvimento de África. " Torna-se evidente dia após dia que obrigar a China a subscrever tais princípios se tornará numa etapa decisiva para o desenvolvimento e a estabilidade do continente no longo termo", salientam as duas especialistas.

FAR
 
Foto de José Carlos Mexia

Da série Sevilha Posted by Picasa

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Alice no país dos maravilhados

Os portugueses estão acostumados a receber ordens. Sejam espirituais – quando a realidade se mostra dura e crua, o corrupio para a batina dos padres não pára e a marcha dos andores enchem em sofridos ladairos as ruas de cidades e vilórias. (A noção de que a natureza pode ser dominada por gestos rituais constitui o ponto mais elevado do pensamento científico português). Sejam físicas – a produtividade baixa não é um problema de formação dos trabalhadores ou incompetência dos empresários e gestores, mas a falta de chicote nuns e noutros.

A experiência da emigração deveria servir para tirar as devidas lições. Os portugueses a trabalhar em Portugal são uns calaceiros, uns chico-espertos sempre na esperança de enganar o próximo e embornalar mais uns trocos. Mas chegam à Suiça para labutar num café, transmutam-se em exímios empregados, correm que até gastam os sapatos. A diferença está no supervisor, que faz parte das casas suíças, que não lhes dá tréguas para mandriar. Os empresários portugueses nunca perderam a mentalidade de pucareiros e só sabem produzir a partir de salários baixos e almadraques do Governo. Quando a mão-de-obra sobe, ou o Governo retira o tapete, lá vão eles à procura de um proletariado que se contente com menos, e um Estado magnânimo nos subsídios. Os nossos gestores, que trabalham no estrangeiro, regressam de férias à amada Pátria, envoltos em espampanante frufrulhar de rendas e prestígio, desdobram-se em entrevistas aos Meios de Comunicação Social e cerimónias de elogios, enquanto que nas empresas onde trabalham não passam de meros funcionários, que nem pela rapariga das fotocópias são desejados.

Uma nação valente de empreiteiros que retalham o país com alcatrão e o enchem de cimento e betão, sem pensar o futuro dos transportes nem as regras a que obedecem as deslocações das pessoas, sem pensar nas alterações que isso trará para o clima, que primeiro pinta os traços nas estradas e depois coloca o alcatrão. Que é incapaz de planeamento e organização, tem o seu futuro traçado. O povo viverá agarrado à crendice no bom estilo da falecida intrujona de Fátima (e santa por certo), em que a fé dará a bonomia e paz de espírito necessários até chegar a hora da morte. Ao Estado caberá o papel de preboste, buraco hiante, sedento de dinheiro que nunca será suficiente, carregando nos impostos e combate à evasão fiscal, angariando fundos sem saber a sua finalidade. (A única finalidade no horizonte é o esbanjar puro e simples como tem sido feito até hoje. Só que agora os portugueses querem grandes obras. Já não lhes chega o fontanário e a casa do povo. Exigem pontes e centros culturais. Ficaram mais caros a quem paga impostos).

A única luz ao fundo do túnel como sempre vem da estação pública de televisão ao programar para as noites de Domingo o Gato Fedorento antecedido pelas jeremiadas do vidente de Celorico de Basto. Quem foi educado visualmente no cinema dos falsos raccords de Jean-Luc Godard, não encontrará nenhum salto de imagem, na passagem do programa do professor universitário, para o dos espirituosos pais do “cunami”, ambos são engraçados, ambos divertem. Talvez o professor provoque mais risota, a sua facúndia invejável, aquele ar de eterno catecúmeno a abanicar os corredores do poder, que ele bem desejaria de gatinhar, mas que tem de se contentar em soprar com o vento da garganta, faz rir, lá isso faz rir. Pelo menos antes de Boliqueime ter chegado a Lisboa.

A não ser que este pernóstico Governo que vem resolver os problemas do país, logo de chofre, na tomada de posse, com a proposta da venda de aspirinas (ou de RU 486) nas mercearias do Sr. Belmiro, nos cure a dentalgia de oitocentos anos com carradas de piadas do mesmo calibre. Os prenúncios são bons. Aumentos, sob pretextos de maravilhar, para arrecadar mais carcanhol – como ordena o FMI e sua velha tia provinciana, a Comissão Europeia. Os vaticínios dos profissionais e comentadores da política são ainda melhores. Ecce Homo disse Pilatos ao apresentar o Cristo flagelado e nós poderemos dizer perante empíreo futuro: “eis o peixe, freguesa!”. Há sempre vantagens em viver num país sem espelho, as Alices não se perdem no seu caminho, e os coelhos vão para a panela. E quão glorioso é este futuro à porta da toca.

Táxi Pluvioso

Com a devida vénia ao Pratinho de Couratos
 
Foto de José Carlos Mexia

Da série Sevilha Posted by Picasa

Sinais

 
Desenho de Maturino Galvão Posted by Picasa

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Exposição de Bela Rocha de Sousa // A Inconfessável Lucidez

9 de Novembro, 5ªfeira, das 18h às 22h, na Galeria Biblioteca Operária Oeirense, Rua Cândido dos Reis, nº119, Oeiras

 
«Espaço absurdo e narrático dos seres e das coisas» ou Quando as luas nos enlouquecem Posted by Picasa

Brasil: Lula terá que ampliar coligação com o PMDB

Politólogo Alfredo Valladão ( Scien.-Po-Paris) destaca incontornabilidade da política governamental de alianças compartidos "clientelistas", o que se traduz no preço elevado( custos eleitorais) das concessões a fazer em postos, Orçamento e acordos com lobbies

Enquanto o NY Times bate na tecla do realismo da reeleição de Lula da Silva, da ausência de lua-de-mel com o eleitorado e da necessidade de ser prosseguida a acção social e a política de reformas fiscais, o Le Monde, através de um gigantesco chat da sua correspondente no Rio de Janeiro, Annie Gasnier, destaca entre outras a proeza da gestão económica da equipe Lula e os bons resultados no combate à irradiação da miséria. A entrevista ao Libération do politólogo Alfredo Valladão ler a, que pode ler aqui, frisa que, o problema para a" Oposição, é que Lula permanece um mito, o do operário que se tornou presidente, e é difícil atacar um mito falando de corrupção ".

A Grande Imprensa internacional continua a alardear especulações sobre a composição do staff presidencial e da nomeação do futuro ministro da Economia. Delfim Neto não merece censura particular dos meios intratáveis da finança internacional. Diversos estrategos do PT, segundo a Folha de S. Paulo, têm vencido em tribunal os processos contra abuso de poder e corrupção, como é o caso de José Dirceu, o antigo braço-direito de Lula e guevarista arrependido de alta capacidade intelectual.

A correspondente do Le Monde no Brasil relembra que o governo anterior de Lula " ensaiou uma política económica muito rigorosa " , decidindo, por exemplo, " reembolsar mais do que o montante da dívida externa ", seis meses depois das grandes turbulências verificadas aquando da sua eleição em 2002." Mesmo os círculos económicos confessam que se realizou uma recuperação muito importante do estado financeiro do país. Por isso, as praças bolsistas e o mercado internacional não revelaram quaisquer sinais de inquietação nas últimas semanas".

" A inflação deixou de ser cíclica, estagiando em torno de 2 a 3 por cento, o que é um recorde. E a última desvalorização ocorreu em 1998, imediatamente após a reeleição de Fernando Henriques Cardoso ", frisa para adiantar Annie Gasnier: "Actualmente, os exportadores queixam-se junto do governo da sobrevalorização da moeda. Dois reais valem um dólar. Face à China, nomeadamente, os brasileiros têm dificuldade em concorrer nas exportações, o que provoca crise no têxtil, no calçado, ou amortece as exportações de soja ".

Segundo a Imprensa brasileira de ontem, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, deve ser reempossado no cargo. Com efeito, O Brasil envolveu-se na conquista de um lugar de representante permanente no Conselho de Segurança da ONU. O apoio do Japão fez com que a China invalide o seu agréement. A Argentina e o México também se mostram muito reticentes à pretensão carioca para a propulsão de um cargo de grande impacto e visibilidade internacional. A Alemanha, a Índia, o Japão e a África do Sul também se perfilam para concorrer.

FAR

Ler mais no Libération

Sinais

 
Desenho de Maturino Galvão Posted by Picasa
Armando,

Com o país com água pelas barbas mando-te mais uns desenhos. Estou a tentar que fiquem mais visíveis. No meu computador não vejo grande coisa. Mas já percebi que isso está relacionado com a definição do ecrã. E com outras coisas ainda mais esquisitas que a minha mente analógica não alcança.

Ainda estou para escrever uma fábula neo-liberal mas ando meio perdido com tanta escrita. Até a porcaria do livro está quase parado. Apanhei o hábito de escrever antes do sol se levantar que pela manhã a inspiração desaparece com o orvalho.

Recebi um mail do Severo. Gostaria de responder mas não sei se aquele endereço é mesmo o dele. Ou uma morada digital emprestada. Bem, o melhor será enviar depois logo se vê.

Um abraço.

Maturino Galvão