sexta-feira, 12 de março de 2010

Da Capital do Império

Alguém disse uma vez. Já não sei quem:
“Qualquer pessoa que tenha estado envolvida numa causa política - e coitado daquele que não tenha estado – conhece as pressões que o ardor político causa à honestidade intelectual. Quando se separa o universo em partes e se escolheu uma das partes, o melhor sinal de honestidade intelectual são as expressões de compreensão pelo outro lado e de antipatia pelo seu próprio lado”.
Tomei nota. Há muito tempo. Mas não tomei nota de quem o disse.
Abraços,

Da capital do Império

Jota Esse Erre

Ao largo da Ilha de Moçambique. Novembro de 2009

Foto Sérgio Santimano

Citações

"Aquele que controla o passado controla o futuro.
Aquele que controla o presente controla o passado"

In Ingsoc

Aforismos (1)

A intuição primeira da Filosofia é a de que o nosso ponto de vista é problemático. Não só causador de problemas pela sua insuficiência, como (o mais importante) ele próprio é um problema. O que é surpreendente (ou talvez não, se pensarmos um bocado sobre o assunto), é que isto que foi pensado logo no princípio ainda não tenha sido percebido completamente. Aliás, que nunca mais tenha sido percebido tão bem como quando se percebeu pela primeira vez.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Do Amor à Escola e aos professores

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Com a devida vénia ao Homem ao Mar

anaCrónicas 6

Tem razão o Fernando Rebelo em protestar contra tanta água. Eu próprio, que sou peixe, me estou a passar. Explico-me: peixe de signo. O que apesar de tudo, não por ser filho de Março mas por no-la atirarem à cara os que, é o seu direito de expressão, querem encontrar nessas coisas um caminho de compreensão do que não percebem mas sentem muito. Na realidade quantas vezes nos perguntam o tal do signo? Mas como fui sendo sempre peixe na boca dos outros – salvo seja – lá fui incorporando umas guelras inconscientes, uma barbatana dorsal sem grande esplendor e mesmo aquela característica dos peixes que é mais óbvia e menos se vê e que é aquele olho que já vem morto, na nossa percepção mais comum, no prato ou perto dele. Um olho míope extraordinário, capaz de ver para dentro como nenhum outro. Os peixes são como o Jaime Gama, pelo menos os das águas profundas, conspiram muito enquanto podem. Antes que a esclerose avance, irremediável, sem regresso.
Pois é Fernando, esta coisa da água, passados os recordes de Alqueva que festejámos com a pátria apesar de, como foram dizendo técnicos e agricultores, ser água sem destino útil na sua escala – as obras são feitas para serem grandes mas antes não se cuidou do recheio que as preencha – é de facto uma chatice mais que cinzenta, é cinzenta no que chove dentro e parece prolongar-se no tempo tornando-o indiferenciado, insuportavelmente o mesmo. E nós somos viciados de sol e Primavera, dinâmicos na letargia de Agosto. Portugal, o sol, as praias, o peixe, o Algarve, a vida feita no exterior, a vida sem interior que não seja o da objectivação nessas condições naturais (estarão em extinção?) que os suecos invejam – também nos davam jeito aquelas capacidades que eles desenvolvem e que só a vida nos interiores propicia. Já pensaram numa sardinhada interior? Eles não pensam noutra coisa mas ainda não inventaram o exaustor específico.
A solução é levar o signo a sério e como o insecto do Kafka se irmanou da insignificância, irmanarmo-nos da água, metamorfose mais simpática. Uma poupança em impermeáveis e guarda-chuvas, que nunca resistem a um vento maior e muito menos a esta moda do granizo. É que a chuva também está diferente e vem de paragens que não eram as anteriores. E tudo por causa do anticiclone dos Açores que resolveu deslocar-se do seu sítio natural. Pode ser que Portugal também saia do sítio e desça mais um bocado no mapa cósmico. Não seria pior.
Olha Fernando, vou dar um pulo a Marrocos. Lá não chove. Não levo a barbatana, claro.

FMR

Saudade


Cesária Évora

Com a devida vénia ao Repensando

“Rouge”

In memoriam. José Maria Gomes aka Zeca Diabo

Memória bem guardada entre os que mais de perto privaram com o José Maria Gomes, durante a sua transitória frequência do enclave ‘português’ no Rio das Pécoras, merece jus divulgação nesta injusta inoportunidade obituária. Escrevemos memória com o intuito de desanimar os que habitualmente as treslêem como segredos mais ou menos ciosamente desguardados. Nada disso.
Memória do que deveria ser oportunamente dito sobre o Zeca Diabo. Como afectuosa e privadamente referiam os que oficinaram nos 80 meados os jornais a que deu alma e corpo. Primeiro o Correio, depois o Oriente.

Por respeito aos altos padrões de modéstia e inabalável confiança axiológica nos princípios da Igualdade e da Fraternidade a que o Zé Maria se obrigava, propomos, tão só, uma síntese e uma estória.
Por que nos falta o talento do aforismo na mesma medida em que desconhecemos o patois moderno apropriado, ficamo-nos por uma visitação nobre: gentil-homem.
Um homem bom, uma pessoa tranquila, um cidadão perenemente incomodado e inconformado com a exploração, a injustiça e todos os arbítrios. O Zé Maria era genuinamente assim, sem alardes, sem crispações. Quem se não lembra daquele jeito peculiar de discordar semisorrindo: “Nãããão”. Ou quando o disparate do interlocutor era confrangedor, um compreensivo: “Nããão sócio, não sócio”.
Jornalista escrupulosamente honesto, o Zeca Diabo sucedeu, no quadro desfavorável de responder por veículos escritos ditos pró-governamentais, em apresentar produtos tecnicamente limpos, rigorosos.
“Espírito de missão”, justificava, e por aí ficava a explicação da missão. O espírito, esse, revelava-se no sacrifício de suportar golpes baixos dos adversários, que os havia, e até se autodesignavam de oposição.
Pois a estória foi mais ou menos a seguinte. Soprado sobre uma vaga intenção governamental de ressuscitar o dossiê caminhos-de-ferro, nada mais nada menos do que o modus operandi adequado a quem quer encomendar estudos e consultorias várias- chamemos-lhe o método do raccord histórico ou do precedente auspicioso-, o Zé Maria verteu prosa investigada sobre comboios em Macau. Propósito nada fácil, uma vez que nunca houve comboios por estas bandas, pelo menos de natureza ferroviária.
O nosso Zeca não se deixou limitar por essa inconveniência e tratou de desencantar, sim, desencantar, um achado etimológico e um filão semântico, uma “Gazeta dos Caminhos de Ferro”, publicada em 1902, em Lisboa. A gazeta repescava uma ‘cacha’do Morning Leader de Londres, que anunciara a formação de um “syndicato” português para financiar e construir a linha de caminho de ferro entre Macau e Cantão.
A percepção desta possibilidade seria qb, mas o Zé Maria reforçou-a com a irrefutabilidade do material circulante: numa pequena pedreira da Ilha da Taipa era, fôra, possível observar o afã das pequenas vagonetas de cascalho, para cá e para lá, sobre carris.
Os tais adversários, acima introduzidos, não enjeitaram a oportunidade para ‘desancar’ o Zé Maria, o “Oriente”, associando o “delírio” dos comboios à deriva mental e financeira do governo. No mais duro estilo madeirense, chegaram ao ponto de insinuar que o Zé Maria teria sido visto, madrugada alta, junto à dita pedreira, com uma cavilha numa mão e uma garrafa de mao tai na outra.
Foi a gota de água. “Sócio, puta que os pariu, fechamos o jornal e vamos para o Skylight, para o Mermaid, para o Ritz, para o Kin Dô, para qualquer sítio”.

(continua)

JSP

Novipensamento

"Greve é coisa do Século passado"

Fernando Pinto, presidente da TAP, 10 de Março de 2010

Aforismos Blogosféricos (4)

Se a vida fosse um espelho da blogosfera, a pulhice, a vileza, a pobreza de espírito, seriam a regra e não a excepção. Ou será ao contrário?

quarta-feira, 10 de março de 2010

Uma experiência do Paulo Ferreira

Os putos são porreiros


Os putos são porreiros, disse a mãe sem olhar para a amiga. Com a ganza na mão esquerda e o isqueiro na direita, deixou a chama tocar ao de leve na bolinha esverdeada. Ao de leve, para não a queimar. Ya, disse a amiga. Não sei como há pessoas que não curtem crianças. A mãe esfarelou a pedra e misturou-o ao tabaco com a ponta dos dedos. Os adultos são materialistas, ‘tás a topar? E a outra: Ya, não entendem a inocência dos putos. O aroma do haxe chegou até ao quarto, até ao miúdo sentado à secretária. Tinha à frente um caderno, e copiava as frases escritas na ficha. O gato pediu um saco ao seu novo amo. Lá fora a tarde ia radiosa, o sol entrava pela janela, batia em cheio na folha branca. A luz era tão forte que feria os olhos. Uma mosca esvoaçava às cegas de encontro ao vidro, a zunir. O gato foi à floresta apanhar uma lebre. A mãe enrolou o charuto, acendeu-o e passou-o à amiga. Depois estendeu a mão para a aparelhagem e subiu o volume. O miúdo conhecia bem aquela música, a mãe punha-a sempre que tinha visitas. Curtes este som? A amiga fez que sim com a cabeça mas não disse nada. Inspirava fundo, fechando os olhos para sentir a pedrada. Uma, duas, três vezes. Devolveu o charro e recostou-se nas almofadas indianas. Pela porta entreaberta, o rapazinho espreitou para a sala. A mãe tinha os olhos fechados e acompanhava o compasso da música com um balanço repetido do tronco. A amiga também tinha os olhos fechados, mas erguera os joelhos à altura do queixo, num movimento que lhe expunha as coxas. Pela fresta, o puto ficou de olhos postos no triângulo branco das cuecas, marcado pelo sulco da racha. A mãe disse qualquer coisa, mas a música estava alto e o miúdo não ouviu. A amiga ouviu, e respondeu. E ao responder moveu-se e baixou os joelhos. A atenção do puto voltou-se para a mosca pousada na vidraça. Amolecida pelo calor, não teve tempo de levantar voo. Num gesto súbito, o rapazinho aprisionou-a no punho cerrado, mas sem apertar, para não a esmagar. Com mil cautelas, não fosse ela fugir, segurou-a entre os dedos da outra mão e ficou um instante a observá-la. Depois, com gestos minuciosos, arrancou-lhe as asas, uma após outra, e pousou-a na folha do caderno. O bicho, na agonia, contorcia-se e rodopiava em arabescos loucos, deixando um rasto sanguinolento no branco do papel. O puto ficou-se a vê-la durante um bocado, até que a música acabou e a voz da mãe chegou da sala. Querido, já acabaste os trabalhos? Está quase, mamã. Num gesto seco, abateu a palma da mão sobre o insecto e esborrachou-o. Então acaba, e depois vem lanchar. O miúdo limpou a mão aos calções e ouviu a mãe a perguntar à amiga: Não queres um chá? Chá preto? Não, chá preto nunca bebo. Excita muito. Este é de flor de tília, lúpulo e lavanda. Bué de relaxante.

José Pinto de Sá

anaCrónicas 5

«Aquele que pertence verdadeiramente ao seu tempo, o verdadeiro contemporâneo é o que não coincide perfeitamente com ele nem adere às suas pretensões, definindo-se, neste sentido, como inactual.
A contemporaneidade é portanto uma relação singular com o seu próprio tempo, a que se adere preservando as suas distâncias; ela é a relação com o tempo que lhe adere pelo desfasamento e pelo anacronismo; Aqueles que coincidem excessivamente com a sua época, que se lhe adequam perfeitamente em todos os seus pontos, não são contemporâneos porque, por estas mesmas razões, não chegam a vê-la. Não conseguem fixar o olhar que lhe dirigem.»
Agamben escreve isto em 2008.
A sensação que tenho depois de um sem número de teses sobre a ditadura do presente, é que, de facto, os nossos modernos – eles atiram a palavra modernidade quando, por uma razão qualquer, necessitam de falar do futuro diante de um par de microfones apontados como armas; modernidade, dizem logo como passe de magia verbal e dizem que para lá caminhamos, sendo portanto essa modernidade vindoura o que nos espera para a frente, o futuro portanto, uma imprevisibilidade cada vez mais obscura a que não se quer reconhecer nem a obscuridade e muito menos diagnosticar as causas profundas e próximas naquilo que contém de opaco, invisível, irracionalidade alimentada, nevoeiro compacto sem Sebastião possível – são não só pessoas actualizadíssimas, portanto aderindo ao seu tempo sem desfasamento, coincidindo com ele, como não têm sequer tempo para pensar o que dizem, de tal modo o dizem sem o desfasamento que qualifica o pensamento como tal, sem tomarem distâncias para além do jogo interpartidário do poder e dos poderes. Diante, só têm mesmo os votos, as sondagens constantes exercendo a sua função de arma política e a manchete mais relevante da hora. Para além disso têm obviamente a dívida pública, mascote do regime. Como se depreende falo de líderes, esses visionários de serviço ao sistema como presente absoluto.

FMR

Em viagem de férias (25)


Em casa de uma amiga fotógrafa. Gotemburgo. 2008

Foto Sérgio Santimano

terça-feira, 9 de março de 2010

anaCrónicas 4

A guilhotina tem a marca do terror. Contra livros parece então o cúmulo da desvergonha, principalmente quando quem manda guilhotinar é quem edita. Como pode quem tem supostamente o amor dos livros dar cabo deles? Mas é assim, já o mesmo acontece às maçãs e ao peixe quando o excesso traz na oferta a quebra dos preços. Eles lá sabem porque raio é que acham que isso é lei a respeitar na economia básica? No meio desta regra há quem a ela não pertença e ao lado tenha fome. O mesmo para o livro, embora, no caso, esse tipo de fome seja menos perceptível e muitas vezes o faminto nem se dê conta dada a omnipresença da fome de primeiro tipo, a do estômago. Nunca o livro esteve tão claramente reduzido à sua expressão comercial, como nunca ouve tanta capa a despropósito da substância literária interior – vende-se para o olho.
Robespierre certamente que mandaria para a guilhotina não os livros mas quem guilhotinasse livros. E no meio de tanto novo analfabetismo em expansão ficamos de facto surpresos - ele há estatísticas para tudo portanto será difícil que tudo nelas, nas várias, não venha provar a senda constante do progresso (o puguesso como dizia o Cavaco mais primitivo) em direcção ao progresso ou se preferirem, à modernidade, essa galdéria que está em todas as bocas.
Como é possível? Na Itália, quando Berlusconi, esse supra-sumo da estética capilar requentada, entre outras aquisições, comprou a Mondadori, mandou as completas do Goldoni armazenadas já não sei onde pelo mesmo caminho, a guilhotina. O armazenamento, explicam, é mais importante que o livro e certamente mais importante que os leitores. Importância medida pela relação espaço versus pilim – como nos estacionamentos, essa mina de ouro certo. Os livros na realidade estão estacionados. Na altura pareceu-me que a façanha estava à altura do bicho. E pensei que viria bem ao mundo se o guilhotinassem a ele, talvez mesmo entre as partes – é uma metáfora, claro, já que não guilhotinam tomates. Mas aqui, com a tradição miserável que o livro e a leitura têm, guilhotinar livros do Sena, do Eugénio de Andrade, da Sofia? De facto tem razão o Luís Fernandes quando no Público clamou para que não lessem as coisas da Leya, essa editora que, entre outros tops, tem o Saramago. Será que o Nobel vai fazer ouvir a sua voz ou, tratando-se do patrão, a calará? Era uma boa ocasião para sair da editora e eventualmente fundar outra, alternativa e não monopolista. Mas isso obviamente obrigaria a ir contra a lógica best seller.

FMR

segunda-feira, 8 de março de 2010

Em viagem de férias (24)


Muito sueco 2. 2008

Foto Sérgio Santimano

anaCrónicas 3

Diante do gordo do Preço Certo acontece-nos descobrir o que sempre intuíramos mas o que nunca pensáramos. Este tipo, se decide fazer uma dieta, vai para o desemprego. A obesidade, a tal que se combate licenciando os sistemas de engorda da comida rápida nas praças da alimentação e nas escolas públicas é a razão do êxito. Sim, porque um emprego de luxo é uma forma específica de sucesso, já que a outra é ser parte da tal corrupção que, segundo mais de sessenta por cento dos portugueses, não é assim uma coisa tão má, porque nalguns casos, é redistribuída, reinvestida dizem. Portanto o ladrão que rouba para reinvestir é amigo do povo e o branqueamento de capitais uma das actividades morais mais destacadas dos narcotraficantes – por cá também há, como havia a ETA, ali, no paraíso obidense, vila postal a dois passos da pirotecnia criativa.
Aquela história do Brecht quando falava de demitir o povo e não o ministro perdeu o sentido. A massa é massa e vem-lhe o faro da oportunidade com ávida coerência própria, mistura de inveja e forte desejo de ascensão clicável. E à criatura massiva cheira que não lhe calhando o totoloto lhe pode calhar em alternativa o que reste, em notas voadoras, do saque de um multibanco próximo. Até dará uma ajudinha.
É assim o pão e circo, a vida actual no circo globalizado do mundo, a realidade constantemente espectacularizada – dizem-na também virtualizada para a tornar mais neutra – necessita das suas aberrações (os índios talvez tivessem alma, Bartolomeu de Las Casas bateu-se pela alma deles e, em Woizeck, o cavalo fazia que sim com a cabeça e não era lusitano) para que o espectáculo prenda os sentidos dos espectadores planetários com eficácia imperial e faça salivar a mente quando o fetiche, muitas vezes um automóvel, brilha sob a luz dos projectores em consonância com o clímax sonoro num verdadeiro horizonte cantante.
Diz-se: o teatro é grego, o espectáculo é romano. O gordo do preço certo tem garantida a sua posição de renda, como acontece em qualquer loja dos trezentos a um gordo que ofereça fetiches de uso quotidiano cujo valor multiplique trezentos pela precariedade geral em que somos olhos e barriga ávidos de propriedade. Assim como têm emprego certo, por contraposição, as boazonas que ajudam a decorar as mercadorias com o esbelto par de pernas mais o sorriso obrigatório, outra razão de competência específica para emprego certo. O gordo que se acautele, porque o gigante de Manjacaze lá morreu de uma altura que não parava de disputar o cimo da copa das árvores, o que às árvores seculares não agrada, pois mais alto, de direito autenticado pela tradição, só os pássaros e os arranha-céus de betão imortal. Um dia o corpo não poderá suportar o tamanho em crescimento constante – oxalá isso acontecesse à economia, dirão os preocupados com a pátria. O gordo, com aquelas piadas estafadas, só engorda mais. É o preço certo da própria dignidade animal, o culto da banha alimentada e mantida como uma amante no tempo antigo das amantes mantidas – também está em extinção, não as amantes, mas esta forma especificamente económica, já que não é um investimento, nem sequer um roubo eticamente apoiado na visão vulgar, não rende, é puro défice.
E a ração do gordo não é, por certo, qualquer uma.

FMR

Closed Zone


Yori Goodman

À espera

A chuva teima em acinzentar-nos os dias e a amargar-nos a existência.
Não esquecemos os amigos. Mas as ruas conduzem-nos a casa. Encolhidos. Encharcados.
Saudosos do sol, com vontade de rever os amigos.
Conversas que estão à espera que as nuvens se dissipem, copos vazios esperando o momento do encontro.
Um abraço enxuto.