domingo, 5 de fevereiro de 2006

As caricaturas, o ocidente, os polemistas e os amigos deles

Era uma oportunidade que a extrema-direita não queria perder, como era previsível. Os confrontos de ontem na Dinamarca, originados devido à polémica das caricaturas, foram a prova disso. E a grande preocupação do Governo e da polícia foi para que não fossem queimados exemplares do Corão, o livro sagrado muçulmano, como relata The Copenhagen Post. O Islam on-line também dá conta da preocupação dos muçulmanos dinamarqueses e dos vários avisos que fizeram. O francês Le Monde revela a apreensão de Bruxelas e dos principais governos europeus pelo desenrolar desta situação. Os líderes da europa dos 25 condenam todos os activistas que queiram denegrir qualquer religião, de maneira ofensiva.
Hoje os protestos vão continuar no mundo árabe
. No Líbano, já se verificaram confrontos entre manifestantes e policia, revela a Reuters. Ontem, também foi dia de sair à rua. As embaixadas da Dinamarca, Noruega, Suécia e Chile, em Damasco, foram o alvo da ira dos manifestantes enfurecidos, qua acabaram por as incendiar, relata o DN. A Conferência Islâmica também já tomou posição e quer que a Assembleia Geral nas Nações Unidas organize um debate urgente sobre a questão, e exige uma resolução a condenar as caricaturas, revela a Saudi Press Agency. As ameaças mais radicais também não podiam faltar. Numa entrevista ao jornal italiano Il Giornale Mahmoud Zahar, dirigente do Hamas, considerou que "devíamos matar todos aqueles que ofendem o Profeta mas, em vez disso, estamos a protestar pacificamente".
Desde a polémica que envolveu Salman Rushdie e os seus Versículos Satânicos, nunca o ocidente e o mundo árabe se tinham insultado desta forma. Isto pode ser uma antevisão de situações mais graves, caso não se consiga conter esta escalada de violência e de ódio mútuo, considera o
The Times

sábado, 4 de fevereiro de 2006

Caricaturas e indignação

Gauchet : «Une disproportion entre les caricatures et l'indignation»
Propos recueillis par Alexis Lacroix

[03 février 2006]

L'historien et philosophe Marcel Gauchet, rédacteur en chef de la revue Le Débat, a publié récemment La Condition politique (Gallimard). Il réagit à la polémique internationale suscitée par les caricatures du prophète Mahomet parues en septembre dernier dans le quotidien danois Jyllands Posten et rééditées le 10 janvier par un périodique norvégien, Magazinet.

LE FIGARO. – La publication de dessins satiriques dans la presse scandinave suscite une polémique et des protestations dans le monde arabe. Quelles réflexions vous inspire cette situation ?

Marcel GAUCHET – Je m'interroge sur l'origine véritable d'une telle émotion au sujet de caricatures plutôt innocentes. Des pays arabes s'indignent, mais leurs anathèmes reflètent-ils vraiment le sentiment de leurs populations ? Quant à l'Europe, que représentent au juste les protestataires qui s'agitent ? On est en droit de nourrir les plus grands doutes sur la portée de ces indignations. Dans cette affaire – que la presse danoise qualifie d'«affaire Mahomet» –, on rêverait vraiment d'un travail d'enquête, capable d'établir qui sont ces insurgés de la vraie foi... La naïveté de la presse, c'est parfois de prendre pour argent comptant un semblant d'unanimité dans l'indignation des consciences musulmanes. N'est-ce pas le premier piège de cette affaire ?

Certes, mais les menaces proférées ne sont pas nées de l'imagination des médias !

Absolument, et il convient sans doute de les recevoir avec le plus grand sérieux. Il convient aussi de s'interroger sur leur signification véritable : un accès de colère si aigu ne trahit-il pas avant tout la profondeur d'un désarroi ? La disproportion entre les dessins et l'indignation est ce qui doit faire réfléchir. Comme Sayyid Qotb ou Hassan el-Banna – les premiers théoriciens de l'islamisme dans les années 20 –, ceux qui lancent des fatwas contre un simple dessin humoristique révèlent d'abord par cette susceptibilité exacerbée un profond sentiment de vulnérabilité. Une religion sûre d'elle-même pourrait-elle donner lieu à une colère si disproportionnée ? Qui, parmi les catholiques, aurait l'idée de mettre en scène un tel esclandre planétaire ? A-t-on vu se déchaîner les ligues de vertu quand telle chaîne de télévision a présenté un sketch suggérant que Benoît XVI, du fait de ses origines allemandes, était un pape nazi ? Il faut dire que les fondamentalistes ne sont pas encouragés à cet auto-examen par l'attitude des Occidentaux. En proie au «sanglot de l'homme blanc», de nombreux Occidentaux n'osent toujours pas porter un regard critique sur certains aspects – ou certaines dérives, notamment islamistes – de l'islam. Le tiers-mondisme expiatoire a la vie dure.

L'«interdit de la représentation» dans l'islam n'explique-t-il pas, en partie, la vigueur de ces protestations ?

Franchement, je ne suis pas sûr qu'alléguer ces raisons anthropologiques soit bien pertinent. Les Occidentaux baignent désormais, comme chacun sait, dans une culture de l'image. Et cela, n'importe quel musulman le sait. Aussi l'interdit de la représentation qu'il se doit de respecter lui-même ne s'applique pas aux non-musulmans. Exerçons-nous donc à la finesse ! Essayons de traverser les apparences ! Ne nous en tenons pas, autrement dit, pour comprendre le cogito fondamentaliste, à l'effroi qu'inspire la rhétorique du djihad. Ces rodomontades dissimulent bien souvent un doute taraudant sur la solidité de l'identité qu'on défend avec cette ardeur guerrière.
In Le Figaro

aqui

Pinturas nocturnas de gente viva na grande urbe





As frases mais mundanas de uma sexta-feira à noite
(Deleuze, Wittenstein e a vendedora do mercado da Ribeira ficam para depois):
-"Aquela gaja do teatro está-me a dar uma moca."
-"Se as gajas se querem casar, que casem, mas essas fufas do ILGA não venham cá com merdas."
-"Porra, essa boca é um bocado mau estilo"
- "Estou-me a cagar que o gajo seja o mais rico do mundo. Tudo isto é uma pateguice pegada"
- "Ó sr Fernando, que pratos de bacalhau é que tem?"
- "Ó filho não podemos ir de taxi porque o papá vai casar em Março."
-"O jogo ainda agora começou e os gajos já estão a ganhar dois zero?"
-"Porra! Conheces! Ela vivia ali ao pé do Polana, e estudava no Liceu Salazar".
- "Grandes bubas no bar do Pinto. Agora já não existe."
-"Olha quem apareceu! Aquele gajo está insuportável."
-"Como é menina, vamos acasalar?"
-"Pá, agora paro no Paródia, a cena por lá é porreira."
-"Porra, o Tokyo está cheio e a música hoje é uma merda"
-"Então boa noite, até amanhã."
(porteiro do Tokyo)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

Que queres tu de mim?

Confesso, Susana, que só vou aceitar este repto porque sou incapaz de resisitir a um convite vindo do sexo feminino.

1- Tenho a mania das mulheres.
2- Tenho a mania de que é com a tristeza, a melancolia e o sofrimento que se aprende a viver. Que a grande arte é sobre estes assuntos e não outros. E que hoje em dia, infelizmente, não se dá importância a estas coisas.
3- Tenho a mania que a lógica nada nos ensina, porque não contempla aquele ponto invisível onde o olhar passa e pára.
4- No entanto, também tenho a mania da lógica, da filosofia e da ciência, e a mania que nem todas as formas de pensar são iguais.
5- Derivada da mania acima, tenho a mania que isto não tem de ser sempre assim, que o real não é um facto dado mas um conjunto de aproximações sem valor de verdade per si. Esta é a pior de todas as minhas manias, e a que mais dissabores me tem dado.

O meu repto vai para o João Galamba do Metablog, Ale do Moro Aqui, Carlos Gil do Xicuembo, e dois muito especiais: para o Camarada Jesus e para todos os Ventoinhas (estes dois últimos podem, sem dificuldades, elevar este debate a outros niveis).

Regulamento do passatempo disponível aqui.

A arte e a polémica: um outro olhar

“Os fundamentalismos religiosos levam a estas situações dogmáticas, que não são aceitáveis”

“O ascendente do islamismo sobre a sociedade é maior do que o do catolicismo, pois não há naquelas sociedades uma separação entre a Igreja e o Estado como no Ocidente”

“Apesar das eventuais consequências as nossas sociedades não podem ceder a estas formas de chantagem”

“Todas as religiões são essencialmente antidemocráticas, porque são a voz de Deus. Se tiverem condições, o seu cariz teocrático vem ao de cima”


António
Cartoonista
“Publico”, 03.02.2006

Filmes a não perder

“Munich”, de Steven Spielberg
Inspirado no ataque do movimento «Setembro Negro» aos atletas da delegação israelita durante os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972. O resultado foi trágico, como é do conhecimento público: onze mortos. A história desenvolve-se na perseguição dos envolvidos nos atentados por um agente da polícia secreta de Israel, a Mossad.
“Walk the Line”, de James Mangold
Conta a história de uma das lendas da música popular norte-americana: Johnny Cash. Com um som inconfundível e um dark look que se colou à pele, daí o cognome “Man in Black”, o filme conta a sua história, os seus amores e o seu envolvimento com as drogas duras. Entre a paixão por June Carter e a atracção pelo abismo, Cash percorreu grande parte da sua vida no fio da navalha, oscilando entre a destruição e a redenção. Morreu em 2003.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006


Foto de José Carlos Mexia

As identidades defendem-se à bomba?

Por duas vezes o jornal dinamarquês Jyllands-Posten foi ameaçado à bomba por um grupo muçulmano, revoltado com as caricaturas do profeta Maomé publicadas no diário. Os muçulmanos não gostaram não só do conteúdo crítico mas também se indignaram por considerarem que o Islão proibe representações de Maomé. Face a esta atitude radical, vários jornais alemães e franceses decidiram publicar as caricaturas, considerando que está em causa a liberdade de expressão. O jornal alemão Welt publicou uma das caricaturas com o argumento que “o direito à blasfémia” assenta nas liberdades democráticas. E considera que as caricaturas são inofensivas. Uma das caricaturas do Jyllands-Posten foi também ontem manchete do francês France Soir: “sim, nós temos o direito de caricaturar Deus”, e publica as restantes caricaturas nas páginas interiores. Face a esta atitude, o proprietário do France-Soir, Raymond Lakah, um francês de origem egípcia, despediu hoje o director Jacques Lefranc por ter decidido a sua publicação. As primeiras reacções de indignação já se fizeram ouvir e a controvérsia promete continuar. Há pouco, dois grupos armados palestinianos já consideraram qualquer cidadão da Dinamarca, França e Noruega que esteja na Faixa de Gaza ou na Cisjordânia como um "alvo". E a coisa promete não ficar por aqui.
Mais uma vez, o choque de culturas na Europa dá-se com bombas e polémica. É de novo o confronto entre a tradicional identidade europeia, que se baseia em valores democráticos, e o melting pot cultural dos novos valores incorporados, em que a Europa se transformou. Qualquer opção é difícil. Este é mais um caso a acrescentar ao que se passou com o véu islâmico em França, e à tragédia que envolveu o filme Submissão, de Theo van Gogh, morto por um holandês de origem marroquina. O assassino considerou o filme, que relatava a vida submissa e menosprezada das mulheres árabes, insultuoso para o Corão.

CORPO-A-CORPO


Foto de Sérgio Santimano


Surpreender-te no ar desprevenido
que por vezes assumes
- o busto inclinado para trás,
semicerradas as pálpebras
num olhar de penumbra difusa
- e fazer-to.
Munir-me com toda a manha
e arteirice de um velho legionário
experimentado,
usar o bote, a finta, o ataque
envolvente e de surpresa
de modo a garantir sem probabilidade
de erro ou falha
que não possas entrincheirar-te
na retractibilidade dos rins
ou na chave de pernas.

Mas não se diz de certas coisas
que as fazemos:
aparecem feitas.

Rui Knopfli

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

" American Vertigo: Traveling America in the Footsteps of Tocqueville ", by Bernard-Henri Lévy


Na estrada com Mister Lévy

O polémico e inveterado polemista pariseense foi passar um ano aos EUA, a convite de diversas instituições e da revista The Atlantic Monthly. Disso resultou um livro que exprime a sua impressão sobre a América do início do séc. XXI. Falou com o casal Clinton , numa visita à Biblioteca de Little Rock, encontrou-se com Woody Allen, que adora, e trocou confidências com Sharon Stone e Warren Beatty, por exemplo. Tudo para apurar o pulsar do coração dos USA. " E bom senhor, o inocente amor pelo paradoxo- América é magnificente
mas louca, glutona e modesta, embriagada com o materialismo e a religiosidade, puritana e viciosa, encarando de frente o futuro mas também obscecada com o passado. O querer do sentimento americano " é muito forte e maneável, extremamente tenaz e, finalmente, quase vazio "., refere o crítico Garrison Keillor, na sua recensão irónica e blasé estampilhada na edição dominical do The New York Times., 29 Janeiro pp.

Copyright FAR

"Assobiando contra o vento, sem lenço nem documento" - Propostas de Inverno

Belle And Sebastian - The Life Pursuit (2006)
Depois do fundamental "Dear Catastrophe Waitress", os Belle & Sebastian lançam agora o seu novo álbum "The Life Pursuit". A banda indie das terras altas e ventosas da Escócia, de som doce e sussurrante, apresenta-se agora com um sonoridade mais afirmativa, mantendo no entanto o perfil que a caracterizou desde que a sua estreia, em 1996.
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Ursula Rucker - Ma' at Mama (2006)
É o seu terceiro trabalho e acabou de chegar às prateleiras das lojas de discos. A palavra é a sua arma mortífera. O seu som é único. Não é pop, não é hip-hop, não é soul, não é jazz. É tudo misturado, cantado com uma voz divinal onde o amor, a raiva e a poesia urbana se fundem até à excelência. Herdeira groove do jazz, R’n’B, e soul, Ursula Rucker canta uma América contraditória, violenta e dividida. Um disco fundamental.
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Os Mutantes – Os Mutantes (1968)
Continuam a ser uns célebres desconhecidos fora do Brasil. No entanto foram uns dos pilares do movimento tropicalista, que nos anos 60 os juntou a Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão e Tom Zé, entre outros. Caetano dizia na altura que “a tropicália foi o avesso da bossa nova". Os Mutantes eram os irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista e Rita Lee. O trio lançou este seu primeiro trabalho em 1968 e surpreendeu os criticos. Ainda hoje é um documento importante do movimento tropicalista. Psicadelismo, distorções q.b., sonoridades urbanas, pop, experimentalismo, música concreta e poesia simbólica. O disco tem tudo para ser um must. Difícil de encontrar, mas a Internet faz milagres.

Wolfgang Amadeus Mozart - Cosi fan tutte (1789-90)

Mozart nasceu em 1756 e comemoram-se agora os seus 250 anos. O programa de festas é grande e há que aproveitar o máximo. É um dos músicos mais geniais de sempre. Quem gosta deste género de música, sabe que tudo é bom em Mozart. A harmonia, a beleza e o romantismo das suas composições são inconfundíveis. A minha proposta vai para uma ópera. "Cosi fan tutte" foi composta entre 1789 e 1790 e, juntamente com "As Bodas de Fígaro" e "Don Giovanni", faz parte da trilogia feita com o libretista, ex-padre e libertino Lorenzo da Ponte. O tema da ópera são as mulheres e a sua inconstância quanto à fidelidade conjugal. A sua apresentação gerou um forte escândalo naquele tempo e só regressou aos palcos já em pleno século XX. A sua audição combina bem com um cognac ou aguardente velha, numa noite fria.

Elis (2)

Como nossos pais

Não quero lhe falar, meu grande amor
Das coisas que aprendi nos discos
Quero lhe contar como eu vivi e tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
E eu sei que o amor é uma coisa boa
Mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa
Por isso cuidado, meu bem, há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal está fechado pra nós que somos jovens
Para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz

Você me pergunta pela minha paixão
Digo que estou encantado como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade, não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento o cheiro da nova nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva do meu coração
Já faz tempo eu vi você na rua cabelo ao vento gente jovem reunida
Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Como nossos pais

Nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não se enganam, não
Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer que tou por fora ou então que tou inventando
Mas é você que ama o passado é que não vê
É você que ama o passado é que não vê
Que o novo sempre vem
Hoje eu sei que quem deu me deu a idéia de uma nova consciência e juventude
Está em casa guardado por Deus contando vil metal
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo tudo o que fizemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Como os nossos pais

terça-feira, 31 de janeiro de 2006

ALTERNÂNCIAS...

Entra Cavaco e sai Sampaio.
Como já antes entraram e saíram Guterres e Durão e Santana e, depois, Sócrates.

Não há nada como alternar!

Há que mudar algo para que tudo fique na mesma!

Mudam-se as moças mas a teta é a mesma...

E, com passo de lesma, cá vamos erigir Cavaco.
Prestar-lhe honras de Estado ( as quais lhe são devidas, por inerência de cargo...)

Choro por Portugal (a Teresa, uma senhora...)
Choro, desgostoso (muito mais que a Barroso...)

Só se expatria QUEM SENTE POR DESGOSTO TER POR PRIMEIRA-DAMA A MARIA!

(Conheço um tipo que fabrica passaportes... anti-CAVACO, uni-vos!)QUEIRO
Neste post do Random Precision:

«A Teresa e a Lena vivem juntas há quase três anos. O amor que a Teresa e a Lena vivem e que sentem uma pela outra levou-as a projectar e a planear uma vida conjunta pelo resto dos seus dias. Por isso, e como é natural, querem constituir uma família em plena comunhão das suas vidas. Querem celebrar um compromisso formal e solene entre ambas, que as vincule reciprocamente tanto do ponto de vista patrimonial como do ponto de vista moral. Querem formar uma sociedade familiar que integre todos os seus bens, e querem celebrar um compromisso mútuo de respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência. Querem também que a família que pretendem formar seja reconhecida e tenha plena eficácia jurídica na sociedade em que vivem. Querem, numa palavra, casar-se!
Por isso, no próximo dia 1 de Fevereiro de 2006 pelas 14,30 Horas a Teresa e a Lena vão apresentar-se na 7ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa (sita na Avenida Fontes Pereira de Melo, nº 7 – 1º andar em 1050-115 Lisboa), onde requereram já a abertura do respectivo processo de publicações, precisamente para se casarem.»

Mais posts no Random Precision sobre o tema aqui e aqui, e reaccções dos liberais-só-para-os-negócios aqui.

Amanhã irei fazer os possíveis para aparecer na 7ª Conservatória em solidariedade com a causa e a coragem destas duas mulheres. Convido os leitores a fazerem o mesmo.

Foto de José Carlos Mexia

Existe algum messias chamado Bill Gates?

É interessante a forma com está a ser noticiada a presença de Bill Gates em Portugal. Está a ser tratado como uma espécie de D. Sebastião binário, que vem salvar uma jangada de pedra que se afunda. Mas bem pode ser balão de oxigénio para o governo, com uma necessidade urgente de apresentar iniciativas. Se para a Microsoft tudo isto são peanuts, e conferências deste tipo ficam bem a empresas desta envergadura, as acções conjuntas que vai ter com o governo não vão ser obras de caridade. O preço a pagar ainda não se conhece. Como também não se sabe como se vai concretizar o seu envolvimento com o Estado português na dinamização do plano tecnológico, na criação de centros de desenvolvimento de software e nos centros de especialização tecnológica. Quais os seus custos e benefícios? Todos nos lembramos das acções de formação nos anos 80 e 90, de má memória. Servia para os organizadores ganharem fortunas, Estado incluído. Mas depois dos tempos de desperdício, a situação mudou e a margem de manobra diminuiu significativamente. Analisar se as contrapartidas para Portugal são vantajosas e os efeitos da parceria a curto ou médio prazo é um imperativo. Assim como a exigência de prazos e resultados. A formação não deve ser mais um emprego, mas um caminho para desempenhar funções com mais qualidade e eficiência. No entanto este tipo de encontros internacionais não deixam de ser importantes. Trazem uma lufada de ar fresco ao bafiento empresariado nacional, pouco interessado em apostas estratégicas e mais virados para o lucro do curto prazo. Espero que esta conferência da Microsoft em Lisboa tenha resultados visíveis e que as conclusões do encontro que tem o nome pomposo "Impulsionar a competitividade global através da inovação local" dêem em qualquer coisa. É uma oportunidade que não se pode desperdiçar.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

A coisa está a animar

Não podiamos deixar de assinalar a entrada de Vasco Pulido Valente na blogosfera, através de O Espectro. Junta-se à Constança Cunha e Sá, mas parece que há mais um colaborador a caminho. VPV começou já a dar o ar da sua graça. Hoje colocou o seu primeiro post e entrou a matar. Eis o texto: "As graçolas sobre a "recuperação" de Alegre não me parecem de muito bom gosto. Depois de trinta anos de ociosidade no parlamento, três meses de trabalho matam um homem".

Instabilidade

Estabilidade
O caso Cavócrates


Institucional aperto – foto de uma semana que virá -, entre o nosso primeiro e a figura presidencial, aperto de mão logotípico, valendo mais que mil palavras – já lá vai o tempo em que uma imagem valia mil palavras, isto é, hoje, uma palavra autêntica, nesta rarefacção do verbal, agora que tudo se faz com trezentos vocábulos, vale mil imagens, é puro caviar, já que as trezentas palavras usadas e abusadas mais não são que funcionalidade, água a correr nos canos da comunicação automática - mais que um telefonema de parabéns retribuído pelo anúncio de um bom tempo em assumido porvir. Vamos entender-nos dizem pela mesma boca mental, para bem do crescimento e da produtividade, essas ninfas da desgraça que nos perseguem. Não será? Mesmo quando em fim de tarde, o futebol cosendo nas imperiais a moleza de um gás de bolhas tristes e o Benfica voando na memória da águia amestrada de serviço – ela nunca olha para a baliza - se instalem e a criatura esbracejando em Sagres, exiba corada do nariz até aos artelhos, falando vermelho primário, o número de sócio, como quem foi a Meca: mesmo aí, o assunto é a nossa impotência produtiva. Já não há mar que valha, o que é que querem?
E a triste figura que aí vem, montada naquelas maxilas largas, a pôr um olhar moral estrumado em vários salários, outras tantas flores de virtude, a bestificar em denodado esforço um raciocínio, coisa diferente de ruminar confiança nos portugueses, eles são capazes, até são como os outros, os europeus, a triste figura dizia, afirme, para nosso conforto : eu confio nos portugueses, tudo dito depois de uma pausa de maturação prévia, coisa para longo alcance. Eles até são normais, penso.
O bom político faz-se pagar, o mau político é mau porque não ambiciona mais que o que tem. Logo o mau político não capitaliza na governação, é um péssimo político, pois governar é desenvolver com toda a discreção sinais clandestinos de riqueza não ostentável – como por exemplo contas na Suíça. O bom político, pelo contrário, é o que ambiciona o mesmo que os políticos reformados instaladamente em Conselhos de Administração obtiveram, ou o mesmo que os ex ministros repimpados instaladamente em Conselhos de Administração têm. Como se sabe não são salários, são qualquer coisa por vezes mais que 50 vezes um salário mínimo nacional – será possível?
É fazer contas.
O que espanta é que esta estabilidade, apregoada à exaustão como um seguro de vida obrigatório, mesmo como o ar que se respira, seja martelada no esquecimento e ocultação de outras instabilidades ( por vezes oculta-se com maior eficácia o que se expões até à saturação), as que atiram as criaturas para a inactividade, a incapacidade, a negação de si mesmos, o desemprego.
Mas o que é que estes europeus querem?

f.arom

Canção


Ilustração de Ivone Ralha


Que saia a última estrela
da avareza da noite
e a esperança venha arder
venha arder em nosso peito

E saiam também os rios
da paciência da terra
É no mar que a aventura
tem as margens que merece

E saiam todos os sóis
que apodrecem no céu
dos que não quiseram ver
- mas que saiam de joelhos

E das mãos que saiam gestos
de pura transformação
Entre o real e o sonho
seremos nós a vertigem

Alexandre O'Neill

Contos do Ano Novo .6

O país a sofrer um choque tecnológico e ele céptico. O insucesso nas ciências e na matemática acabrunham qualquer um. Culpa do sistema de ensino? Das indústrias de explicações? Quem sabe? A verdade é que no caso dele a culpa foi da prof. e dos colegas. Era no tempo da segregação sexual. Liceus femininos e masculinos. Matemática com n horas semanais. E a prof. tão diferente dos coirões que por aí dão aulas. Também é verdade que com o tempo as fantasias se requintam. Trinta putos entre os 15 e os 19 anos. A prof. decotada e perfumada. A aula começava com o M. a pôr o lenço em cima da carteira. Em seguida um olhar cúmplice para os colegas. Começava o momento pitagórico. O número abria-se. Seguia-se a construção faseada, em técnica oriagami, de um pássaro tomando forma. Maravilha das geometrias. Fase completa, olhar, risos na assistência. A prof. entusiasmadíssima com a recepção dos alunos. Nova pedagogia avant la lettre. E aí, a 10 minutos do fim da aula, M. abre a braguilha e tira o pirilau. Põe o pássaro perfeito na mão livre e esgalha uma. Depois o delírio. Toca, o rapaz vem-se, o pássaro voa. Que sincronia! A turma desmancha-se em aplauso. A prof sai em glória. Como perceberam esta história é do passado. O insucesso na matemática persiste, mas hoje as escolas são mistas. Fodemos uns com os outros. Masturbamo-nos pouco. Bendita democracia!

Josina MacAdam