terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Caso Litvinenko: viúva revela fortes cumplicidades com Boris Berezovsky

O NY Times ouviu Marina em Londres. Assegura que o marido tinha estado no FSB ( ex-KGB) de 1973 a 2000. Tendo tomado partido pelo multimilionário exilado actualmente em Londres, caiu em desgraça, foi preso e teve que fugir com a família...

Marina Litvinenko, engenheira química e professora de dança-ginástica, rompeu o silêncio e deu uma curta entrevista de uma hora ao correspondente do NY Times em Londres,Alan Cowell. Começam a dissipar-se as dúvidas acerca da morte por envenenamento do antigo agente do FSB, conforme perspectivamos em três textos anteriores. Confirma que o marido era oficial do FSB, " por um pouco não se tornou no mais novo general da polícia secreta russa". Só agora se confirmam as hipóteses de ser um agente secreto, portanto. Tinha um " perfil muito calmo e silencioso", conta a esposa que ficou com um filho de 12 anos para criar.

Como tinha sido destacado para a divisão de combate ao crime económico organizado, Alexandre Litvinenko parece ter entrado nos meios económicos dos novos barões-predadores da economia russa no tempo tenebroso de Boris Ieltsin. Por isso, conhece Boris Berezovky, agora exilado em Londres, e decidiu anunciar em conferência de Imprensa, no princípio de 2000, que Putin preparava um complot para o assassinar. Foi castigado, preso e perseguido, e sai da Rússia com papéis falsos.

Devido à sua enorme rede de contactos, Alexandre Litvinenko consegue fazer com que a sua esposa e filho o venham a encontrar em Londres, numa acidentada viagem de Moscovo, via Marbella e Istambul. Marina conta ao repórter que, na capital britânica, o marido entra no mundo espesso e trágico dos oposicionistas a Putin e onde pontificavam os homens do multimilionário e investidor, Berozovsky.
2006 marca o crescendo da política selectiva de controlo e perdição de todos os opositores de Putine.Com os meios londrinos se pautam por uma febril actividade oposicionista, o FSB foi atacar no terreno e tentar realizar o trabalho sujo: intimidação, chantagem e atentados pessoais. Litvinenko revela em Julho à esposa: " Eles vão nos matar". Eu não quis acreditar que isso iria acontecer, sublinha a viúva. E, então, a 1 de Novembro último Alexandre começa a adoecer em grau cada vez maior. É internado e morre três semanas depois. O corpo clínico do hospital londrino, acrescenta Marina," disse-me que ele não tinha hipóteses de ser salvo".

FAR

Georges Bataille: " A poesia surrealista é sagrada..."

" A poesia surrealista é sagrada na medida em que não tem textura. A verdade da poesia moderna consiste em ter privado a poesia de substância. Da mesma maneira que uma coisa não pode ser sagrada, a liberdade não pode estar presa nas leis. O sagrado consome e destrói as coisas, a liberdade opõe-se às leis."

" Como escrever? senão como uma mulher normalmente honesta que se despe numa orgia."

" Imaginam-me sem razão niilista, limitado aos excessos dionisíacos. Estar alerta ao impossível não consiste numa infelicidade (não é também a facilidade ). O para lá da tempestade é a calma do alerta onde principia, na prossecução das rupturas que deseja, a amizade do homem por si próprio."

"(...) em suma, para mim, como para Nietzsche e Camus, o mundo não pode ter pensamentos sem qualidade. Retomo com todo o gosto a frase, desta feita tão nietzschiana, de Albert Camus: " O segredo da Europa é que ela não ama a vida, é por isso que escolheu amar o que existe para lá da vida imediata. Mas a Europa é neste caso o comunismo, cuja grandeza e miséria derivam com efeito da negação do instante presente."

" Uma vez que a destruição, ou o absurdo, soltam e não destroem, a verdade do homem alerta (...). Esta verdade difícil - para o espírito formado pela lógica -em relação com ela (eu ) desejaria afirmar, justamente ,que isso apela para a felicidade do agora ou nunca ".

In Georges Bataille, Les problèmes du surréalisme, tome VII.OC. Gallimard
FAR

Nota Bene: Nesta silly season invernosa, na ausência de grande manancial informativo, jogo com estas proposições sublimes de Georges Bataille, o grande escritor e filósofo francês, contemporâneo de Sartre, mas ainda muito mais radical e indomável.
 
Foto de José Carlos Mexia

Da série Sevilha Posted by Picasa
As azagaias a tremerem
Esticadas que se encontravam entre as pálpebras
Para o sono não ser um lago
A crescer dentro delas.
As afiadas lanças paradas a guardarem só
A boca dos sonhos do guerreiro.
As azagaias à porta da realidade
Sem a caçarem.
É isso a consciência.

in/Caixinha com rodas
Ed. Geic 2006

Soberania da mulher

O debate sobre a despenalização da IVG, é preciso não esquecê-lo, é um debate; isto a propósito de uma certa tendência para o tacticismo que se nota no campo do Sim. Por um lado, entende-se- é preciso focar a atenção nos pontos que são mais consensuais, essencialmente o problema de saúde pública que é o aborto clandestino. Mas por outro é redutor e potencialmente contraproducente. Porque este debate deve encerrar a questão de uma vez por todas, é essencial que percorra todos os lados de um assunto tão complexo.
Vem isto a propósito deste texto de Miguel Vale de Almeida, que é essencialmente sobre uma questão deste debate que vem sendo ignorada: a soberania da mulher sobre o seu corpo. O texto é excelente, e merece ser lido na íntegra. Deixo alguns excertos:

«É óbvio que um feto e mesmo um embrião são "vida". É óbvio inclusive que são vida da espécie humana. É por isto ser tão óbvio que tanto os apoiantes do "sim" como os apoiantes do "não" concordam que a decisão quanto a abortar é um problema moral e ético que se coloca a quem tem que decidir. E é por isto ser tão óbvio que há qualquer coisa de ridículo nas discussões sobre o "começo" da vida - feitas por qualquer dos lados da "barricada".
O que isto significa é que a questão se põe noutro plano. E esse plano é o da comparação entre a vida humana duma Pessoa individual e social, feita e com biografia e projectos - a mulher que engravida - e a vida no sentido lato que o embrião é. A primeira tem que pesar prós e contras da consequência de ter um/a filh@; a segunda "existe" num plano potencial e passivo. É por isto que o referendo não é sobre a vida.»

«(...)o que me faz impressão é a facilidade com que toda a gente, de um lado e outro, parece abandonar o discurso sobre o corpo feminino e a soberania de cada mulher sobre ele. Faz-me impressão que o lado do "não" consiga passar a mensagem de que esse discurso é "feminista", logo "extremista". Que o outro lado aceite estes termos, como geralmente aceita através do silêncio, é sinal do atraso cívico do país. É que o discurso sobre a soberania da Pessoa sobre o seu corpo nada tem de extremista - é pura e simplesmente o resultado de uma visão moderna e liberal sobre a autonomia dos indivíduos. Extremista e ultrapassado é o discurso sobre a maternidade forçada como fado e destino.»

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

domingo, 17 de dezembro de 2006

Los Santeros e Mad Dog Clarence convidam

Los Santeros

Mad Dog Clarence
Caríssimos convivas: O emérito baixista-vocalista-bêbado-decadente-estúpido dos magníficos Los Santeros (eu), e o único e mítico special guest star permanente dos ditos deuses, o grande bluesman do Cais do Sodré e Conde Barão, Mad Dog Clarence, irão celebrar o seu aniversário. Convidam amigos e fãs para um evento social e sociopata, que promete mexer com tudo o que mexe no nosso país, a Caras, a Lux e o Blitz. Assim: Dia 21 de Dezembro de 2006 no Ateneu Comercial de Lisboa, à Rua das Portas de Santo Antão, junto ao Coliseu, a farra e a fanfarra começarão com um mega-jantar/ comício de apresentação da candidatura de Mad Dog Clarence à junta de freguesia dos Prazeres. Oradores: José Galinha Pássaro, Nico Nicotina e Nélson "Eddie" Rápido. De seguida, passaremos ao concerto ligeiro protagonizado por Los Santeros com Mad Dog Clarence na primeira parte. Espera-se festa da rija e da boa!
Os preços são: jantar + concerto (não existe opção de jantar sem o concerto, senão depois pirava-se toda a gente, e como é que era?): 13 € Concerto apenas: 3 € (como já devem ter percebido, o jantar só seriam 10, mas esta opção não existirá- isto porque nós temos muita lata, mas, senhores, os músicos tem de viver, de comer, de se vestirem, e isto é um filme do Fellini dos anos 50). O menu (isto já é Fellini dos anos 60- "La nave va" e assim) será brasileiro, ou seja, feijoada, picanha e cenas desse género. Ainda vou saber como será para os vegetarianos (ainda existem gajos assim?), uma vez que quem tratou disto foi o Mad Dog que, como é óbvio, não se preocupou com irrelevâncias dessas. Os senhores doutores e as meninas que quiserem jantar podem inscrever-se deixando um comentário a este post. Relembro que neste evento esperado há eras, para além de um concerto de Los Santeros terão direito a uma primeira parte inteirinha de Mad Dog, e quem o conhece sabe bem o que isso quer dizer: um ataque de asma, afasia, talvez até uma ambulância. Ou seja, espectaculo garantido.
Agradecido pela atenção dispensada,

Jorge Luís Borges: " É preciso que a leitura seja um prazer "

"É preciso que a leitura seja um prazer. Um tipo de alegria que partilhemos com os outros. A leitura imposta é um absurdo, não é ? Por que é que se deve impor o prazer? Um livro é uma grande felicidade".

P. " Gostaria que um conto seu desse origem, por exemplo, a um conto simétrico? Borges: Era uma boa coisa que a leitura funcionasse dessa maneira.“

P. " Pensa que um crítico deve recriar a obra? Borges: Claro. Shakespeare, por exemplo, está mais estruturado hoje do que quando escreveu... Cervantes também. Cervantes foi enriquecido por Unamuno ; Shakespeare por Coleridge, por Bradley. É assim que um escritor cresce : Depois da sua morte, continua a desenvolver-se no espírito dos leitores. E a Bíblia, por exemplo, é mais rica hoje que quando foi composta. É ao trabalho do tempo que isso se deve. Tudo isso faz parte integrante da obra. Caramba! Não sei se ousarei dizê-lo: cada vez que cito Shakespeare, dou-me conta que o refinei ainda mais".

Jorge Luís Borges, in" Entretiens sur la Poésie". Gallimard-Col.NRF.1990

FAR

Country Road, Bar & Pool




Fotos de FFC

Sukhumvit Soi 19, Bangkok, Tailândia. Novembro de 2006

sábado, 16 de dezembro de 2006

Sinais

 
Desenho de Maturino Galvão Posted by Picasa

Sam The Kid


Via As Palavras ao Som do Rock

Sinais

 
Desenho de Maturino Galvão Posted by Picasa
Armando,

O vosso anónimo pousou um comentário na troca de argumentos que eu tive com o FAR, (que não sei quem é mas tem grande erudição), no post sobre o Litvinenko, e eu respondi à letra. Dando a curva pela cultura europeia, para não ser directo e chocar sensibilidades, mandei-o bater punheta, foder a mãe e levar no cu. Creio que abarquei todo o gostinho portuga. Faltou talvez mandar ir almoçar com os chineses, que quereria dizer comer baratas e formigas, e assim eu faria uma referência à péssima culinária portuguesa (propagandeada como excelente – por cá só o hambúrguer McDonald’s é bom).

Enfim o anónimo tem uma opinião. E tu sabes o que dizem das opiniões… são como os cus, toda a gente tem um/uma.

Eu já te escrevo e mando uns desenhos sobre a actual agitação nos meios literários e judiciais – sobre a mais recente intelectual lusa Carolina Salgado. Tenho ainda que acabar um texto para o blog e deixar o dia clarear para procurar os meus apontamentos. Mais para meio da manhã mando-te outro mail.

Um abraço.

Maturino Galvão

Pratinho de Couratos e Soft Asphalt
 
Foto de José Carlos Mexia

Da série Sevilha Posted by Picasa

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

O 2+2=5 feito pelos seus leitores

Recebemos na caixa de correio um interessante comentário de uma pessoa que conhecemos, do qual transcrevo esta parte:

«Deus queira que o André estabilize a sua situação financeira e libidinal. Ele tem brincado com a malta: textos disparatados, polémicas inúteis, ausência de perspectivas e, sobretudo, o descaramento de se querer, ora anarquista, ora social democrata, ora nao sei-o quê, a gingar com a malta. Armando: poe cobro a tais disparates. O blogue fica prejudicado muitissimo e, quem anda por bem e a tentar o melhor que sabe e pode, fica muito triste com tais leviandades e chico-espertismos. Atencao e toma as providências necessárias para evitar mais aleivosias e piruetas de mau-gosto!»
 
Desenho de João Fróis Posted by Picasa

O caso Litvinenko: droga mortífera acessível e à venda na Internet

Cientista social yankee lembra promessas e realidades do estilo Putin. E fala do estranho poder da droga letal incarnada pelo Polónio 210

O artigo de Edward Luttwark, sociólogo norte-americano especializado na geopolítica russa, dá-nos mais pistas para tentarmos compreender a morte do ex-espião do KGB, Alexandre Litvinenko. Revela clicar aqui algumas notas importantes: 1) avança com a hipótese de um ajuste de contas " político " pago pelo multimilionário russo Boris Berezovski. Talvez este também se queira posicionar como eventual sucessor de Putin: ninguém o sabe; 2) como o morto se queria converter ao islão, há a hipótese de um crime religioso hediondo; 3) a pista do assassinato com Polónio 210 parece ter credibilidade: a droga de textura nuclear pode ser adquirida facilmente e até na Net. O que desmente o porta-voz do Kremlin, conforme vimos ontem.

O cientista social lembra o fabuloso poder letal do Polónio 21O, que " só tem uma duração útil de 138 dias " e, com uma dose de 1/100 milionésimo de grama, provoca lesões irreversíveis no tecido humano. Luttwark lembra, por outro lado, todo o progressivo endurecimento de Putin, desde que tomou posse do Kremlin em 1999. Em sete anos, o líder russo eliminou já todos os rivais conhecidos e abraçou uma forma de isolacionismo económico muito incómodo para os investidores estrangeiros. No domínio das energias fósseis, petróleo e gás, Putin desencadeou há alguns meses um processo de chantagem com as firmas estrangeiras- Shell, Total, entre outras - na zona das ilhas Sakhalinas, onde os ocidentais investiram já perto de 40 biliões de dólares nos estaleiros. Pois, o que é que ele fez passar: a poluição causada é enorme - os salmões morrem é de morte natural...- e toca é embalar as coisas e zarpar. O dossier da crise fronteiriça letonio-russa é também escalpelizado: trata-se de retaliações crescentes contra o grau independentista das antigas repúblicas soviéticas. Com contágio repressivo idêntico na Geórgia e na Ucrânia.

FAR

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

 
 
Fotos de FFC

Shwedagon Pagoda, Yangon, Myanmar. Novembro de 2006 Posted by Picasa

" Quem entra no KGB só de lá sairá morto "

O Le Monde questionou o n.° 3 do Kremlin, Dimitri Peskov. Afirma que o seu patrão está inocente. E revela que a Rússia produz 1 grama de Polonium 210 por mês...

Vamos tentar perceber a " fonte dos fantasmas" que inquieta toda a Europa? Vamos seguir o que se sabe e é colhido por máquinas de Informação muito pesadas e lestas, como o M15 britânico, a secreta alemã e tutti quanti... E que depois salta a contas gotas para os Média. Há o perigo de Poutine se chatear, agora que ele vê a real e magnífica perspectiva de se entender com a chanceler tedesca, Ângela Merkl, e a erótica francesa Ségolène Royale no G-8. Daqui a uns meses...

Ora, o texto de Thierry Wolton, clique aqui, dá-nos mais algumas boas pistas. E fala com o conhecimento de causa de ter investigado o antigo KGB, hoje FSB, em Moscovo. A tese é que Poutine teve que " restaurar " os privilégios do KGB, muito mal tratados durante o consulado de Yeltsin. Hoje sabe-se, como o escrevemos já aqui no blogue, que os amigos de Poutine e fiéis servidores de Youri Andropov estão na maior no aparelho de Estado russo. Há mesmo a hipótese de um deles, por acaso destacado na Gazprom, o colosso mineiro e gasista da Rússia, Medeved, ser " escolhido " para suceder a Poutine, o futuro presidente do gigantesco consórcio por sua vez...

Wolton conta que os ex-colegas de Poutine no KGB passaram um mau bocado: fizeram umas associações e com a subida do chefe ao Kremlin juraram nunca mais cometer erros. Isto é, arquivos do KGB fechados a sete chaves e toca a iniciar uma reconversão dourada nos mais diferentes patamares da democracia " vertical " poutinesca. " Outros ligaram-se à máfia; todo este pequeno mundo dedicou-se para tirar proveito(s) da política e dos negócios. Nenhum deles nunca rompeu com o KGB-FSB: nunca se deixam os serviços secretos".

A Rússia está a abarrotar de dinheiro, de divisas fortes, por causa da venda do petróleo e do gás. E dos contratos gigantescos a que tem direito. Os meios da alta finança internacional, segundo o NYT, notam que a Rússia possui sozinha face aos 25 membros da U Europeia, a soma de todas as reservas de divisas estrangeiras da Europa. O que é obra e dá para sonhar com o impossível.E ai de quem nos faça frente!!! Wolton falada da "pequena dose de terror " que apareceu na cena política russa em 2000. " Na Rússia de Poutine é difícil distinguir entre os órgãos, os antigos agentes dos serviços secretos, a máfia, tanto os interesses são cruzados e os protagonistas serem muitas vezes os mesmos ", sublinha.

O Le Monde foi por outros caminhos e ouviu o n°.3 do Kremlin., numa entrevista ontem publicada. O que é que ele diz de relevante? Afasta peremptoriamente a hipótese do veneno ter sido produzido na Rússia. " Nós temos um sistema impecável de controlo do material nuclear. Tudo funciona perfeitamente. ". E revela que a Rússia produz " um grama por mês de polónio 210, numa só fábrica situada numa aldeia estratégica ". E nega terminantemente que o estado russo esteja implicado no processo de corte da emissão russa da BBC, no dia seguinte à morte de Alexandre Litvinenko em Londres " . E acima de tudo aponta: " Vestígios radioactivos foram também sinalizados em Londres nos lugares frequentados pelos opositores russos exilados, como ( o multimilionário Boris) Berezovski ou o ( emissário independentista tchetcheno) Zakaiev ".

FAR

Viva Allende!


"I don't see why we need to stand by and watch a country go communist due to the irresponsibility of its people." - Henry Kissinger

Desde a morte de Pinochet que o Insurgente, e em menor escala o Blasfémias, tem-se dedicado a uma verdadeira campanha de desinformação e intoxicação sobre a figura e a actividade política de Salvador Allende. O propósito é evidente: como surge demasiado escandaloso o apoio declarado ao ditador (exceptuando o Claudio Tellez do Insurgente, que não tem vergonha das suas tendências proto-fascistas), tenta-se suavizar a sua imagem com o argumento das circunstâncias: que o Chile estaria no caos, e que o golpe de 1973 teria sido uma inevitabilidade, quando não um verdadeiro acto patriótico. Para o fazer, escrevem-se as maiores diatribes na tentativa de demoniozar Allende. Leu-se por exemplo, que perseguia e torturava, tal como Pinochet, ou que queria instaurar a ditadura, como Pinochet fez. Nesta campanha repugnante a História não ocupa lugar: como fontes, apenas vemos artigos de pura propaganda de think-tanks ultraliberais ou neoconservadores como o Cato Institute e outros. Mas há algo que não bate certo nesta história: onde estão as vítimas de Allende? Os jornais que encerrou, os partidos que proibiu? Onde estão as vozes a denunciar terem sido torturadas, presas ou os seus familiares mortos? E como é possível que, querendo instaurar a ditadura, tenha ido a votos em eleições parlamentares, três anos depois de eleito, tendo reforçado a votação? Recomendo a este respeito aos nossos "liberais" este breve resumo, que nada tem de esquerdista, sobre esses anos. É verdade que ignora o boicote económico e atribui todas as culpas da crise à actuação do governo, mas é precisamente por isso que eu o recomendo, para contrapor aos textos paranóicos e mentirosos que devoram como lei divina.
O que Allende tinha de verdadeiramente perigoso para estas mentes é, paradoxalmente, o contrário do que o acusam: a ideia que o guiou toda a vida, a de construir o socialismo através da democracia, e não contra ela. Evidentemente, não seria a democracia "liberal", ou "burguesa", antes uma ideia peregrina, a democracia "social"; mas o seu comprometimento com os principios democráticos e a vontade popular, que sempre respeitou, é inatacável. Os "liberais", que nos seus blogues já começam a revelar-se opondo liberdade e democracia, como se uma pudesse existir sem a outra, que nos perdoem, mas nesta matéria não recebemos lições deles.

Uma excelente análise sobre Allende pode ser encontrada neste artigo de Tomás Moulian no Le Monde Diplomatique, edição brasileira.