quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

Morreu Fernando Adrião

Foi uma das glórias mundiais do hóquei em patins, nas décadas de 50 e 60. Um ídolo e um exemplo para muitos que viveram em Moçambique, ao mostrar que afinal os títulos, mesmo mundiais, também podiam ser conquistados, desde que houvesse arte e perseverança. Foi 136 vezes internacional, pentacampeão do Mundo e tetracampeão da Europa. Quem não tem no seu imaginário os relatos da rádio dos jogos de hóquei, em que era raro não se ouvir “golo, golo, gooooooooolo de Fernando Adriãoooo?” Juntamente com Livramento, Adrião marcou uma época ao ser o maior do seu tempo.
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PS. Na fotografia:Vencedores da Taça das Nações - Montreux/ Suiça 1958 – Selecção de Moçambique em representação de Portugal. 1º-Vasco Romão Duarte, Eduardo Passos Viana, Alberto Moreira, Victor Rodrigues. 2º-António Souto, Abílio Moreira, Francisco Velasco, Fernando Adrião, Amadeu Bouçós, Manuel Carrelo

quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Bolívia enfrenta novos desafios

A Bolívia provavelmente está perdida com a eleição de Evo Morales para a Presidência da República. Mas o simples facto de um índio, representante dos plantadores de coca e socialista à antiga, ter sido escolhido para a primeira magistratura do país andino é um alvissareiro sinal de que a democracia está funcionando, ainda que com muitos problemas, na América Latina. Seria precipitado afirmar que a região já não corre risco de retrocesso institucional, mas é bom recordar que há 10 ou 15 anos atrás, seria impensável que alguém pudesse se sagrar presidente e que encarnasse os piores temores de Washington e das elites económicas locais.
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Embora me regozije com o que aparenta ser um avanço em termos de consolidação democrática, uma real alternância de poder, daquelas que contariam interesses profundamente enraizados, não invejo a situação dos bolivianos. Morales tem uma difícil escolha pela frente. Ou tentará fazer o que prometeu e quase com certeza levará seu país à ruína financeira, ou rapidamente esquecerá seus compromissos de campanha, o que poderá, no pior cenário, custar-lhe o cargo.
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Devo agora confessar ao leitor que padeço de simpatias esquerdistas. Gostaria de ver um "governo popular" dar certo, como promete ser o de Morales. A chance de que isso ocorra é, no entanto, muito remota.
Hélio Schwartsman
Folha de S.Paulo
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Pode ler AQUI o artigo completo.
Ideia inspirada na Esquerda Republicana

“Deputados e governantes devem ser aumentados” – Cavaco Silva ao DE

Em entrevista hoje ao Diário Económico, Cavaco Silva considera que para se afirmar uma cultura de competência dos titulares de cargos públicos só há uma forma: "pagando melhor a deputados e a membros do Governo será mais fácil atrair para a vida política pessoas com qualificações elevadas". O clarividente candidato, esquecendo os resultados das práticas dos seus governos, acrescenta: "era bom que a AR repensasse esse assunto e pensasse naquilo que acontece nas outras administrações públicas, por exemplo, em Inglaterra, em França". Bolas, isto até pode ser verdade. Mas porque é que este princípio não resultou quando ele era governante? Porque é que deu tantas primeiras páginas ao Independente? Para o candidato, aqueles é que eram tempos. Agora não. E confessa ao DE que o país atravessa um momento "muito grave". Há dois dias já tinha dito o mesmo ao jornal de Negócios: “o país tem falta de rumo”. Enfim, só coisas boas para uma coabitação frutuosa. Nesta que é a sua segunda entrevista a um jornal económico, o candidato que não lê jornais e que nunca se engana vem agora afirmar que considera possível um cenário de dissolução da Assembleia da República. "Nenhum presidente da República pode abrir mão dos poderes que a Constituição lhe confere", para a seguir rematar “as pessoas, neste momento, acham que o Presidente da República pode fazer muito.” Cavaco ilusionista a vender gato por lebre, a preparar terreno para o governo do presidente. Nesta interessante entrevista o candidato mandou diversos recados a José Sócrates sobre os mais variados temas económicos. Cavaco deve ter sido possuído pela ideia que existe em muitos países africanos:" o presidente é o nosso pai". Será que ninguém lhe responde:"vai chamar filho a outro"? Ou será que o candidato está a preparar a publicação das suas sebentas de economia? Já agora, porque não aproveita algum tempo livre para reler a constituição, principalmente na parte dos poderes do presidente? Ou a sua Maria, aquela atrevida, não lhe dá sossego? A Vox Pop conclui: “Bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz mas não o que ele faz”.

Realidades oníricas, nº37, 1/2
Pintura acrílica sobre seda, 1998
Bela Rocha
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Há sol na rua
Gosto do sol mas não gosto da rua
Então fico em casa
À espera que o mundo venha
Com as suas torres douradas
E as suas cascatas brancas
Com suas vozes de lágrimas
E as canções das pessoas que são alegres
Ou são pagas para cantar
E à noite chega um momento
Em que a rua se transforma noutra coisa
E desaparece sob a plumagem
Da noite cheia de talvez
E dos sonhos dos que estão mortos
Então saio para a rua
Ela estende-se até à madrugada
Um fumo espraia-se muito perto
E eu ando no meio da água seca.
Da água áspera da noite fresca
O sol voltará em breve

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Boris Vian

canções e poemas

terça-feira, 10 de janeiro de 2006

Prémio: “ó meu, boceja lá que ninguém está a ver”

“Cresce nos blogues e nos jornais, o enfado enorme que atravessa os comentários sobre estas eleições. Resta saber se haveria o mesmo enfado se não fosse esperado que Cavaco as ganhasse. (…)
E no entanto... estas eleições são muito mais interessantes do que parecem, muito mais importantes do que se imagina. Elas mexem fundo no sistema político-partidário, nos partidos, nos grupos dentro dos partidos, nas personalidades. Muita coisa vai começar, alguma está a acabar de forma inesperada".
JPP, Abrupto, 10.1.06, 15:43

Pode-se deduzir da análise de Pacheco Pereira que além dos assessores e da normal entourage do presidente, muita coisa vai mudar na Presidência da República? Será que Cavaco já pensa num governo sombra, ou ainda se mantém nas orientações políticas ao governo de Sócrates? Para quem diz que "o país está sem um rumo" é manifesto o propósito com que o aparelho cavaquista se vai sentar no cadeirão de Belém. As eleições vão mexer no sistema político-partidário? Ó Pacheco Pereira. Mas isso é uma revolução. Você já se esqueceu que agora é conservador? Uma recaida qualquer um tem, mas aguente-se. Porque embora se ganhe uma batalha, não significa que a guerra esteja no papo. Volte sempre ao
2+2=5.


Ilustrações de Ivone Ralha

Ilustrações para livro
PESCADORES DE MAR MUITO – testemunhos de Angelo Sobral Farinha
De Arlindo Mota e João Martelo

Alcatruzes. Andiches. Aparelho. Armação à valenciana. Arte do cerco. Calamento. Covos. Enviada. Ensarramamento do aparelho. Gibo ou radar. “Jeeps”. Mercaço. Parte da viúva. Pegaços. Piteira ou toneira. Rabeira. Redes de emalhar. Sacada. Turina. Xávega ... palavras antigas?

Cavaco com medo que lhe falte a reforma?

Ontem à noite no programa Prós e Contras da RTP, o ministro Teixeira dos Santos alertou para a falência iminente da Segurança Social. Ou seja, o Estado dentro de 10 anos não terá dinheiro para pagar reformas. Tudo devido ao envelhecimento da população. Terá sido esse o motivo que levou Cavaco Silva a recandidatar-se? Há uns anos disse ao jornal Público que em pensões e subvenções ganhava 9.356 euros líquidos por mês. Sem contar com mais uma série de alcavalas. Que é muito. Será que ele já sabia, esteve a fazer contas à vida e decidiu avançar rumo a Belém? Ora .. ahhh….. 10 anos ….. 18 .. vezes… 10 mil …ahhh .. a dividir … vezes 37 ... ahhh … ora … mais uma cannndidatuuura….ahhh …. e fico safo. Ah, ...….ahhh.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

Maria Rita. Hoje e amanhã no Coliseu dos Recreios em Lisboa. O concerto tem como base o seu novo álbum, “Segundo”. Para assistir com a paixão como se ouvem, ou ouviam, os grandes intérpretes da MPB, como era o caso de Elis Regina. Maria Rita atingiu já o estatuto de maioridade e descolou para outros voos. A não perder.

Foto de Ivone Ralha


O AUTOR A UM AMIGO QUE LHE DISSERA
NÃO SER ELE CAPAZ DE CITAR
MAIS DO QUE TRÊS THOMAS
NA VIDA CULTURAL ANGLO-SAXÓNICA



Thomas Moore
Dylan Thomas
Thomas Stearns Eliot
John Thomas (1)
Thomas Gainsborough
Por quem me tomas?

(1) cf., D. H. Lawrence

Rui Knopfli
T .S. ELIOT. THE SHADOWS OF RAINBOW

(Ao Ricardo Rangel e ao Kok Nam)

1. The formal word exact without vulgarity
A história agora é o Iraque, já que nós, bronzeos,
e a história somos o molde. Na voz do sangue,
há sempre um negro ou cigano de violão azul.
Há um tempo para as estrelas dormirem
e outro para fazerem amor; quer dizer,
copular de olhos acesos ou já mortiços.
E inútil esbracejar ante os verdugos.
Diriam: espera assim, vergastado, pois virá
a escuridão. Teremos luz, o vinho, a dança, a orgia,
porque, sabes, os cavalos também se abatem. E as flores!
( Não é cada poema o caixão, o epitáfio, o ilegível mármore? )

2. Temos, há muito. sibilas, na boca e na garganta índicas.
Angoche ou Zavala são só luzes fixas pela “Nikon”?!
Temos a perturbação no vórtice das aves, na plena
rotação de iluminações luarentas; e há veios raivosos
de conversas cerca das gazelas e da pose eterna das garças.
Há rostos no ocu1to e este cheira a crime, a incursão
de uma balada de tiros, com odor perfeito, único,
do espumoso aberto às nossas 24 horas. Mas é do lar
da amizade ou da submissão? As praias e as reservas
devoram turistas e seus iates, aviões a jacto ( ou, poeta,
da jactância?), pela agitação de tanto cascalho marinho.
And do not think of the fruit of action

3. É inútil esbracejar, se hispar a artéria do jazz
de um encenado morremorrer na Julius Nyerere
ou nos pês-agás da Coop, Ei-lo, o grito de Átila!
E ele tem alvos; não cessa o que, ímpio, enlameia
esta tela (secas, fome; dilúvios, miséria! ) de Dali,
de três metros suficientes para um poeta dizê-lo:
“Temos a cama franca, a mulher, útil paixão!”

Into another intensity; o fim é sempre evolução.

Heliodoro Baptista
Beira, Chaimite, 28 de Dezembro de 2005
In “ Nas Coxas Morenas da Memória “


O caso do clip serial killer

A hora já não era de ponta no cubículo de papel selado e carimbos. A menina Lurdes pegara no lenço de papel rosa e limpara uma lágrima esquiva, o chefe palmatoara-a verbalmente, sem comas, por mais um ofício mal amanhado, um reles b ortografado q que a atraiçoara e que não viera de Viseu que a máquina não tinha sotaque, soluçando apenas nas maiúsculas em dias ímpares, era mesmo internacional, como a pensão do lado, conhecida pelo gato francês recepcionista, sem cauda nem piano. Com o alfabeto Lurdes tinha um conflito latente, era mais a tabuada o seu jeito, mas metera-se a dactilógrafa e ofícios era o que mais batia – onde já vai este tempo em que a dactilografia era um horizonte!?.
Clip impacientava-se, na secretária de Lurdes, a noite era o seu reino desejado. Era voluntário da sua própria causa, militante do seu parafuso a menos, e lá se metia, Clip clandestino, em aventurosas situações. A sua pancada era saltar para o goto de qualquer incauto e provocar uma asfixia erótica e arroxeada, que lhe quebrasse a rotina. No goto o Clip flipava de gozo : era mesmo um Clip de imaginadas curtições vanguardistas, ele que nunca saíra de Campo de Ourique. Rebelara-se contra esse papel redutor de ajuntador de folhas a que fora condenado sem remissão, e sem perspectiva de progressão na carreira, obrigado a 40 anos de serviço, quarenta!, decidira-se pelo desvio à norma. Zeus que ajuntasse nuvens que ele não ajuntaria papeis. Embora tímido ansiava a visibilidade, como qualquer vocacionado serial killler.
Além de tudo o mais, não surgira o agrafo, essa modernice, a justificar a sua ira permanente? Detestava os agrafos, essa coisinha que feria o papel e o fazia abraçar-se incestuoso, num gesto definitivo, para a vida, como na velha monogamia. No aperto das folhas o nosso Clip era mais brando, amigando-as num gesto de proximidade terna quase apenas sugerido embora a golpes de tédio.
Clip tinha também noção dos seu pergaminhos : alguns de entre os mais notáveis Cliperes tinham nome próprio, além de que um Clip era parte dos Clipes, da família dos Clipes, célebres por terem estado presentes em tudo o que a história regista como solenidade e charneira desde a invenção do papel. Não clipara o acordo de Yalta um célebre Clip, um Clip como já não há, um Clipossauro? E o muro não caíra por o terem os Clipes desclipado? E não fora Leonardo o criador da forma Clip?
Mas ao Clip da dactilógrafa Lurdes, mais que a inovação agrafos, perturbava-o saber que existiam parentes bastardos, de plástico. Foleirice dos tempos correntes, esta visão obcecara-o, tornara-o vingativo-dependente. Imitações de plástico da forma clípica? O desejo de vingança acentuou-se e uma vontade cliptocídica tomou-o de assalto. Pensara ser um Clip bomba, um suicida Clip, mas não lhe chegara a coragem, teria de cursar primeiro a via da fé cega e ele, naquele convívio diário com o papel tornara-se laico, republicano e socialista. Mas a tara vingativo-dependente não o largava. Que fazer? Eclipsar-se noite sim noite não, imiscuir-se na intimidade gastronómica dos outros, disfarçar-se de Clip no mundo das profusas saladas, juntar folhas de alface numa original forma de apresentar pratos, entrar pela nouvelle cuisine dentro, esse design de pendurar nas paredes do estômago.
Uns anos passados e o currículo do nosso Clip, Clip de nome próprio e Clip de apelido, Clip Clip portanto, Biclip para os mais chegados, já somava incontáveis viagens pelos gotos deste público alvo - como se sabe os amantes da nouvelle cuisine viajam muito pois é uma cozinha que se apanha muito no avião. Tornou-se um clip viajado. O que mais lhe custava era o regresso à caixinha da Lurdes e ao simplório cubículo burocrático. Ter de atravessar laringe, traqueia, e depois ser cuspido sem pára quedas, era desporto radical. Mas voltar à base, ao cubículo de Lurdes era humilhação, desclassificação.
Hoje o nosso Clip reformou-se e está num lar de velhinhos Cliptómanos que o afagam com ímpeto coleccionador.

f.arom

Contos do Ano Novo .3

Estava a terminar o Secundário. Bom aluno, bonito, desportista. Não estava já para a disciplina que exigia o desporto. Já tinha sido campeão. Não estava, agora, numa competitiva. A Escola também se fazia numa boa. Na conversa com a namorada de turma ia apreendendo com facilidade o que os profs. diziam. Estava naqueles impasses da vida. Que curso escolher? Que namorada ter? Que fazer? Tinha começado a ler Heinlein, “Um Estranho Numa Terra Estranha”, e Kerouac. Os charros com os amigos faziam parte e alimentavam as indecisões. Digamos que estava a preparar-se filosoficamente para a vida. Foi detido e conduzido para interrogatório, quando fumava com os amigos e contemplava o pôr-do-sol. O delegado do Ministério Público interessou-se pelo seu caso. O meio era pequeno e o “juiz de fora” cedo percebeu que a conduta do rapaz não tinha que ver com estereótipos. Mas no interrogatório a que presidiu ficou-lhe uma dúvida. Os rapazes tinham confessado ter queimado uma pedra que, depois de misturada com tabaco, tinham fumado num cachimbo de prata. De prata? Isso é que devia ser caro! O qui pro quo resolveu-se. O magistrado deve estar numa comarca mais perto de casa, mais sabedor. O nosso rapaz terminou o Secundário, dirige hoje uma equipa de investigação, casou, tem filhos, assentou na terra. Quem sabe se na crise dos 40 volta aos impasses? E o magistrado fumará hoje em cachimbos de prata?

Josina MacAdam

Questão fundamental

Estar na perspectiva de uma paixão
é estar já apaixonado.

domingo, 8 de janeiro de 2006


Foto de Ivone Ralha



Quem escreve

Quem escreve quer morrer, quer renascer

num ébrio barco de calma confiança.

Quem escreve quer dormir em ombros matinais

e na boca das coisas ser lágrima animal

ou o sorriso da árvore. Quem escreve

quer ser terra sobre terra, solidão

adorada, resplandecente, odor de morte

e o rumor do sol, a sede da serpente,

o sopro sobre o muro, as pedras sem caminho,

o negro meio-dia sobre os olhos.


António Ramos Rosa
ACORDES, QUETZAL

O poder e a crise (2)

PREMISSAS DA DIALÉTICA:

1- "A História” e “O Mundo” são a mesma coisa
2- "A História" é a história do Poder
3- O estado habitual da humanidade é a crise
4- O Poder existe entre crises
5- Qualquer crise torna o Poder mais forte*

*- Não se confunda "O Poder" com as versões conhecidas do mesmo

Má notícia: começou a campanha. Boa notícia: acaba a 22.

Começou às 00:00 a campanha eleitoral para as presidenciais de 22 de Janeiro. Se até agora a única novidade foi a subida desproporcionada do candidato da direita, o estado das coisas parece que só se vai alterar se acontecer algo de relevante, que penalize Cavaco Silva. As pessoas estão a encarar esta campanha como uma espécie de reality show. Cavaco faz aqui o papel de José Castelo Branco, sem as afectações. Se neste caso, ele ganha apenas pela simbologia, já a candidata a primeira-dama perde em todos os pontos. Consegue ser pior do que Betty Grafstein. Mas o eleitorado parece gostar de figuras sem graça e politicamente absurdas. Num país em que uma desgraça nunca vem só, é vê-las diariamente em grande destaque nos jornais a serem avidamente consumidas, só nos faltava mais esta, a acreditar nas sondagens: apanhar com cinco anos de cavaquismo presidencialista. Se durante os seus governos foi o descalabro que todos nos lembramos, sem esquecer os seus indescritíveis ministros, vamos agora ter agora direito a um bónus: apanhar com a sua inenarrável Maria. Passará de imediato para o primeiro lugar do Top 25 da primeira-dama mais kitsch da Europa. É tão sexy e galvanizadora como a Elena Ceausescu. O casal da Vivenda Mariani vai ser tão bom para a credibilidade de Portugal lá fora como o caso Apito Dourado. Vai trazer tanta lufada de ar fresco à vida política como a febre das carraças. Não se percebe esta doentia atracção pelo abismo que reina neste país. Porque será que há cada vez mais pessoas a pirarem-se para o estrangeiro? Será receita médica?

sábado, 7 de janeiro de 2006

"Não nos falta comunicação, ao contrário, temos comunicação demais, falta-nos criação. Falta-nos resistência ao presente"

Gilles Deleuze

Foto de Ivone Ralha


“Y fuiste reparada
donde tu madre fuera violada”
S. João da Cruz, Cântico Espiritual


Desfloras-me
desfloro-te
porque temos flores
um para o outro
o teu ritmo
em mim
sobre mim
é muito antigo
é como o dos animais
ganho a minha virgindade
que te dou
e que não perco
sou sempre virgem
a minha dor
o meu sangue
são a tua dor
o teu sangue

Adília Lopes
O optimista inveterado: o que é ?

Por Kay Jamison, John Hopkins University

Numa entrevista ao semanário " Der Spiegel ", esta semana , a psiquiatra norte-americana, Kay Jamison, especialista mundial sobre a Depressão Masculina, que ensina na Universidade John Hopkins, traça o perfil dos optimistas inveterados que constitui a matéria do seu mais recente livro, " A exuberância: paixão pela vida ", Edit. Alfred A. Knopf, New York.

" Os entusiastas constituem um agrupamento de seres inacreditávelmente curiosos, orientados para o futuro, concentrados, criativos e provocam tudo e todos os que os cercam. Entusiasmo é por si própria uma palavra maravilhosa, que provém do latim: " En theos"- o deus interior.

O antigo presidente dos USA, Bill Clinton, faz parte desse grupo fascinante. Desde que entra numa sala, toda a gente fica encantado com ele- mesmo que tenha acabado de sair do hospital. Ele é inacreditávelmente curioso. Quando quer mesmo alguma coisa, custe o que custar, chega a telefonar às pessoas a meio da noite.

Um tipo semelhante é o Prémio Nobel da Medicina, Carleton Gajdusek, célebre pelos seus longos e importantíssimos monólogos, que abordam todos os sujeitos. Em Estocolmo, derrubou todos os protocolos porque o seu discurso demorou 165 minutos sem parar. Mas toda a gente ficou entusiasmada- mesmo os membros da Academia Sueca.

O caso mais extremo de grandes entusiastas deve ser o do presidente Theodore Roosevelt. Amava a vida, amava a natureza. Amava o trabalho- e tinha mesmo um fraco pela guerra. Achava tudo uma maravilha, especialmente o que o rodeava. Com 42 anos foi o mais novo e dos mais vivaços de todos os presidentes yankees. Mesmo em adulto ficava radiante por causa das festas de Natal. Quando no dia de S. Valentim lhe morreu a mãe e a mulher ao mesmo tempo, fez das fraquezas forças e, mesmo adoentado, escreveu vários livros, dedicou-se à caça e fundou um rancho de gado, nos meses imediatos à perda daqueles entes queridos. Bloqueios, incertezas e tristezas nunca tiveram lugar na sua vida ".



Copyright FAR

Tu és um Homem-carro


O teu carro é um Homem
Tu és um Homem-carro
Tu és o acelerador do carro
Tu és a rugosidade cerebral
Pneus do carro chiando
Travagem perigosa acelerando
Tu és desafiante em forma-carro
Tu és carne ligada a nervos
Tu és reagente-estímulo
Em forma de auto-estrada
Tu és um carro-Homem
O teu Homem é um carro
Tu sabes sobre ti
Que és um animal-carro
Queres da vida o mesmo que
O teu carro