sábado, 1 de julho de 2006

POEMA

Sou distante não desespero. Sei

que longe outros caminhos se abrirão

ao sangue à sede à força de mais braços.


E não aceito sem medo a solidão

das paredes desertas deste céu.

Sei que a luta persiste, não desisto.


Apenas distante, não ausente. Sei

que me dói este espaço proibido

entre a palavra e os lábios da cidade.


Sei que se escrevo é mais inútil que

lançar violento pedras ao ar fresco

sem destino sem fim e sem motivo.


Sou distante. É vazio este esforço

de desenhar vertigens no papel:

distante, não ausente. Só longínquo.

E acaricio a frase, distraído.


António Franco Alexandre, in " A distância ", 1969

sexta-feira, 30 de junho de 2006

The Ratazanas



Amanhã, na feira de Carcavelos, não falto. É o 2º dia do Festival Musa 2006.

O meu amigo João Pedro e a sua banda de early reggae vão actuar.
O site da banda é este.

O do festival Musa aqui

Foto de José Carlos Mexia

Da capital do Império

Olá!
Vão me desculpar mas hoje tenho que vos voltar a falar do futebol. Pensei primeiro em tentar explicar-vos porque é o milionário Warren Buffet decidiu doar trinta mil milhões de dólares a outro milionário, o Bill Gates, mas isso fica para a próxima.
Eu tenho que vos falar de futebol porque pela primeira vez na história dos Estados Unidos o campeonato do mundo de futebol está a provocar aqui uma atenção desmedida. Não só em termos de cobertura desportiva (ratings da TV a subirem para números nunca vistos, jornais como o Washington Post com fotos de primeira página do mundial, discussões acesas na televisão – aos berros – sobre se o futebol pode triunfar nos Estados Unidos) mas também entre os “bien pensants” e intelectuais do país.
Parece que o futebol e os hooligans se tornaram agora coisa “chique” entre os intelectuais americanos que vêm na espontaneidade dos adeptos e nas “nuances” do jogo algo de “cool” e libertário quando comparado com as pirosices das claques ensaiadas dos jogos tradicionais americanos com as meninas de saias curtas a dançarem ao lado dos campos.
Há que dizer que não é só entre os intelectuais de Nova Yorque que o futebol está a causar sensação. Entre os economistas e cientistas também.
Os americanos têm uma fé desmedida na ciência e análise sociológica e psicológica de tudo, o que em parte explica porque é que nas suas lides com o mundo fazem tanta asneira. Não sabem que tal como no futebol nem tudo na vida tem uma explicação ou causa. Mas devido a essa crença na ciência o futebol está a ser analisado sob os mais diversos ângulos em artigos de fundo em todos os jornais americanos, com análises que devem deixar o pessoal de A Bola de boca aberta.
Por exemplo: O New York Times publicou um artigo de dois economistas (Stephen Dubner e Steven Levitt) que descobriram que a maior parte dos futebolistas de “elite” nascem nos primeiros meses do ano. Uma análise das selecções juniores revela que a esse nível isso ainda é mais notório. Não vou entrar aqui nas percentagens mas posso garantir-vos que não tem nada que ver com os signos astrológicos dos jogadores.
A explicação é simples. Os dois economistas explicaram que na Europa os grupos etários do futebol têm a sua data limite. E a data limite é 31 de Dezembro. Para um treinador a escolher jovens para a sua equipa dá-lhe mais benefícios físicos escolher portanto jovens nascidos no início do ano do que no final do ano pois terão fisicamente vantagem. Maturidade não é claro está habilidade, mas dois economistas citam um outro professor, Anders Ericsson, que se especializa em estudar o que é que torna uma pessoa bem sucedida naquilo que faz. E mais uma vez não são os signos astrológicos. Praticar e treinar. É tudo o que torna uma pessoa naquilo que faz. Pelo que os jovens que são seleccionados por serem nascidos no início do ano são depois treinados e devido a serem maiores fisicamente, tem vantagem sobre os outros jovens. Daí todas essas estrelas nascidas na primeira metade do ano.
O New York Times publicou também um artigo sobre estudos feitos sobre os penalties pelos professores Pierre-Andre Chiappori da Universidade de Colombia, o Steven Levvit acima citado da Universidade de Chicago e o professor Timothy Grosecle da Universidade da Califórnia em Los Angeles. Estes professores têm obviamente muito tempo entre mãos porque analisaram todos os penalties da primeira divisão de França entre 1997 e 1999 e da Série A em Itália em 1997 e 2000. Isto porque aparentemente o penalti do futebol é a situação ideal para estudar as previsões da “game theory”. Não sei bem o que isso é mas aparentemente é algo que interessa aos economistas porque pode responder à questão se as pessoas usam sempre as melhores possibilidades em situações com que deparam. No meu caso posso dizer-lhes que não mas aparentemente no futebol não interessa porque estatisticamente quer um jogador atire a bola para o seu lado favorito ou para o outro lado ou para o meio as suas chances de sucesso são praticamente as mesmas.
O professor Ignacios Palacios Huerta da Universidade de Brown foi mais longe e analisou os penalties de jogadores que marcaram pelo menos 30 dessas faltas para verificar se há sequências previsíveis. Não há e os estudos indicam que apesar disso (ou será por causa disso?) em penalties os jogadores têm um grande nível de sucesso. A malta de A Bola podia ter-lhes dito isso pois como todos nós sabemos… “não ha penalties falhados ha sim penalties mal marcados”.
Branko Milanovic do centro de estudos Carnegie Endowmente escreveu um artigo sobre como o futebol é a prova de que quando a globalização e a comercialização reinam há sem qualquer dúvida uma concentração de qualidade e sucesso, como provado pelo facto de haver uma concentração da melhor força de trabalho nos melhores clubes. Isso por seu turno beneficia os países de onde sai essa mão-de-obra como provado pelo facto de que a era das cabazadas às equipas africanas já acabou.
Para Milanovic o campeonato do mundo tem assim uma lição para todos. A movimentação livre da força de trabalho é uma coisa boa mas deveria ser acompanhada de leis requerendo que imigrantes de países pobres gastem pelo menos um em cada cinco anos a trabalhar nos seus países. Os jogadores do futebol podem ir para onde querem mas a FIFA exige que joguem pelas suas selecções e o mesmo deveria ser feito aos “brains” que saem do terceiro mundo para o primeiro.
Os intelectuais americanos têm também estado fascinados com a arbitrariedade dos árbitros no futebol notando como uma má decisão pode influenciar todo um campeonato. “Um espelho da vida, de todas as suas desigualdades, dos seus momentos de brilhantismo e também de tédio”, escreveu um dos analistas yankee. Bonito não?
Em típica maneira americana um outro analista perguntou se a “arbitrariedade’ dos árbitros poderia ser medida em “termos estatísticos” e se essa arbitrariedade é estatisticamente igual para todos. Talvez a malta de A Bola queira fazer este estudo com fundos da Fundação Luso-Americana…
Outros como Roger Coehn vêm no futebol reflexos das diferentes sociedades. Assim a selecção da França “é o equivalente desportivo de uma sociedade a envelhecer e sobre regulamentada: Ponderosa, sem imaginação e demasiado receosa da concorrência”. O la la! Mon Dieu! Les Bleus não vão gostar disso mas depois de baterem “nuestros hermanos” devem estar a rir-se do Cohen.
Bryan Curris diz que muitos americanos se sentem agora atraídos para o futebol porque a maior partes dos jogadores de futebol não são “formas grotescas dos seres humanos” como acontece no basquetebol ou no futebol americano (o dos capacetes). Os jogadores de futebol, disse ele, “tem físicos alcançáveis, fortes e compactos, o tipo de físico que impressiona intelectuais e as mulheres que os amam”. É bom saber isso…
Na rádio ouvi um outro comentarista manifestar a sua surpresa pelos Estados Unidos terem celebrado o seu empate com a Itália como se fosse uma vitória. Nos Estados Unidos, dizia ele, só há duas opções: ganhar ou perder. Desde quando é que empatar é ganhar?
Eu vou-me e deixo-vos como se diz aí nos relatos com … o esférico no miolo do campo.
Um abraço,

Aqui da capital do império.


Jota Esse Erre

quinta-feira, 29 de junho de 2006

Petróleo e gás: novos desafios e alianças

O famoso geopolítico Alexandre Adler analisa num texto surpreendente a " entrada a passos gigantescos na era do post-petróleo". Toda a marcha atrás já é "impossível", indica.
Discrimina as " várias causas " que provocam tão "colossais" alterações. Enumera-as: o sobreaquecimento atmosférico; a irresistível ascenção , quer da China, quer da Índia, em potência; a mutação inevitável da tecnologia e dos modos de vida; e, enfim a dependência agora quase insustentável de uma região do Mundo - o Golfo Pérsico - cuja instabilidade política domina interna ou externamente os estados petrolíferos que o marginam.

Adler adverte para os perigos oriundos de uma dependência unilateral e para a exigência de " diminuir o consumo de hidrocarbonetos " para abrandar o sobreaquecimento do planeta." A partir deste ponto, consequências de todos os géneros, quer as que se relacionam com as relações entre Estados, quer nas que terão inescapáveis interferências na vida quotidiana mais banal, podem desde já ser deduzidas; são, com efeito, pouco usuais e mesmo muitas vezes paradoxais ", sinaliza.

O politólogo avança mesmo com teses geopolíticas, que classifica de " conclusões inesperadas " na relação estrita das relações entre grandes potências. Assim, avança que a China jamais poderá negociar " preços políticos de rebaixa " com a OPEP. O que a fará virar para o gás russo e a compra de centrais nucleares antisísmicas. " E a colocará no mesmo barco dos países do Oeste, e não do Sul ou de Leste ". Trata-se de uma " aposta " inevitável a médio prazo, assegura.

A outra consequência paradoxal e inesperada, prende-se com " a europaízação do modelo de crescimento norte-americano ", com incidência na economia energética fundamental. E explica com mão-de-mestre: ": A correcção de tiro mais rápida e mais rentável a curto prazo, trata-se por uma adaptação dos meios de transporte ferroviários americanos para o estilo TGV francês- para começar no Texas de W. Bush?- tirar partido das centrais modernizadas onde a multinacional gaulesa tem vantagens competitivas de grande impacto e o lançamento de centros urbanos pedonais servidos por transportes em comum perfomantes ".

" Uma política europeia prudente deverá tender para associar Moscovo mais estreitament à construção do destino da Europa. (...) Evitar a " capitulação perante as petromonarquias e petroteocracias que, militarizando a região, podem acabar por traumatizar definitivamente a economia mundial " ,constituem outros lances de uma visão estratégica que recomenda a integração económica vital e combinada da UE, Russia, China e Índia.


FAR

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Foto de Maya Santimano

Gotland, Suécia. 2005

terça-feira, 27 de junho de 2006

AMOR

Amor, amor, amor, como não amam

os que de amor o amor de amar não sabem,

como não amam se de amor não pensam

os que de amar o amor de amar não gozam.


Amor, amor, nenhum amor, nenhum

em vez do sempre amar que o gesto prende

o olhar ao corpo que perpassa amante

e não será de amor se outro não for

que novamente passe como amor que é novo.


Não se ama o que se tem nem se deseja

o que não temos nesse amor que amamos,

mas só amamos quando amamos o acto

em que de amor o amor de amar se cumpre.


Amor, amor, nem antes, nem depois,

amor que não possui, amor que não se dá,

amor que dura apenas sem palavras tudo

o que no sexo é o sexo só por si amado.


Amor de amor de amar de amor tranquilamente

o oleoso repetir das carnes que se roçam

até ao instante em que paradas tremem

de ansioso terminar o amor que recomeça.


Amor, amor, amor, como não amam

os que de amar o amor de amar o amor não amam.

Jorge de Sena

México. 2005



Poema Azteca

Tochihuitzin Coyolchiuhqui


VIEMOS SONHAR

Assim deixou dito Tochihuitzin,
Assim deixou dito Coyolchiuhqui:
De repente saímos do sonho,
só viemos sonhar,
não é verdade, não é verdade
que viemos viver sobre a terra.
Como erva na Primavera
é o nosso ser.
O nosso coração faz nascer, germinam
flores da nossa carne.
Algumas abrem as suas corolas,
e depois secam.
Assim o deixou dito Tochihuitzin.

(finais do século XIV-meados do século XV)

Extraído de Quinze poetas Aztecas (antologia poética)
Editora Assírio & Alvim, 2006
Tradução de José Agostinho Baptista




Fotos e Post de Pedro Caldeira Rodrigues

segunda-feira, 26 de junho de 2006

O Fumo Mata

Fumar é causa de cancro do pulmão e da laringe. Causa também impotência sexual.
Põe Macário Correia a lamber cinzeiros.
Saiba tudo
aqui

domingo, 25 de junho de 2006


Foto de José Carlos Mexia

Utilidades sem prestação alguma

uma sola de sapato solitário

uma rã coxa

um silêncio ruidoso

uma luz esquecida do filamento

um filamento solitário e primo da sola

uma rã que não coaxe

um coaxar ferrugento

um pau suficientemente idoso para respeito

um sapo que não azul

um azul sem pedrada

uma cama com pernas que não ande

um limão com gripe

uma gripe de sapo que não azul e estremeça

um tremoço não remoçado

sem casca

que não azul
como o sapo
que não cantigue
como a rã
que não coaxe
como a gente
que não bisbilhote
como a mosca
na língua do sapo
que não gripa
como o dois cavalos
que não atrelados
a nenhum sol
saído de gregos
pelo seu carro aéreo
limpo a seco
nas lavandarias
do Olimpo
multinacional
linguarudo
cemitério de moscas abelhudas
................................................
...............................................

( espaço livre... a preencher com desutilidades do leitor
A CORES
numa base pedagógica interactiva - também pode arremessar)


- continua no próximo descapítulo

f.arom

sexta-feira, 23 de junho de 2006


Foto de Maya Santimano

Tove Larsmo, Suécia. 2005

Ato de Contrição

Pelo que não fiz, perdão!
Pelo tempo que vi, parado,
correr chamando por mim,
pelos enganos que talvez
poupando me empobreceram,
pelas esperanças que não tive
e os sonhos que somente
sonhando julguei viver,
pelos olhares amortalhados
na cinza de sóis que apaguei
com riscos de quem já sabe,
por todos os desvarios
que nem cheguei a conceber,
pelos risos, pelas lágrimas,
pelos beijos e mais coisas,
que sem dó de mim malogrei

— por tudo, vida, perdão!

Adolfo Casais Monteiro

Desde a Serra

Como os amigos saberão, o autor destas linhas encontra-se em retiro pelas bandas da Serra de Grândola, sítio daqueles onde a ideia de paraíso faz sentido. Junto do cheiro do sobro e do azevinho, perto dos homens que colhem a cortiça, nem quero saber de mais nada. Segurança Social por um canudo? Vejo a ribeira a correr ao longe. Ministra insulta professores? Ouço os melros que habitam no telhado por cima da minha cama. Guerra no Iraque, muro na Palestina, bombas no Irão? Vou à Taberna dos Mosqueirões onde encontro homens que sabem o seu lugar no Mundo, que sabem que sabem muito e pouco ao mesmo tempo. O monte onde estou tem nome romântico: Monte dos Amados, e pelo menos para mim faz sentido na medida em que o amo. Talvez um dia consiga viver apenas esta vida, até lá... Comovo-me com ela. Escreví um poema assim:

Do monte sinto saudade
O monte é meu companheiro
Porque o monte me diz a verdade
No monte sou verdadeiro

Se queres saber quem eu sou
Pergunta áquela ribeira
De todas as imagens que dou
Ela sabe a mais verdadeira.

Um abraço aos amigos do Barreiro, do Cais e de outros sítios por aí, e compreedam-me por não "blogar" mais neste momento. Sinceramente, não me apetece. Peço apenas aos meus companheiros deste blogue que ajudei a fundar, que não se percam em polémicas fúteis, e desde que lhes faça sentido, escrevam, escrevam, escrevam. I'll be back...

quinta-feira, 22 de junho de 2006

OAXACA (1)




Fotos de Pedro Caldeira Rodrigues
Oaxaca, México. 2005


OAXACA

Oaxaca é a cidade de Francisco Toledo, o pintor-indígena, o maior pintor mexicano vivo. É a cidade dos museus de Mezcal. Na sua zona antiga, popular, está o mercado 20 de Noviembre, estão as lojas de tecidos, de roupas, os barbeiro, de músicos que improvisam na rua, sem pedinchar. Dos protestos sindicais. Neste estado do Sul do México, já banhado pelo Pacífico, ainda convivem 15 grupos etno-linguísticos: Amuzgo, Chatino, Chinanteco, Chontal, Cuicateco, Huave, Ixcateco, Mazateco, Mixe, Mixteco, Náhuatl, Triqui, Zapoteco, Zoque… No total, mais de um milhão, um terço da população do estado de Oaxaca. Recuperam dos prolongados tormentos. Oaxaca não é um museu vivo. É um mistério que aguarda pelos que o tentem respeitar e entender, para depois se desvendar.

Pedro Caldeira Rodrigues

OAXACA (2)




Fotos de Pedro Caldeira Rodrigues
Oaxaca, México. 2005

quarta-feira, 21 de junho de 2006


Foto de José Carlos Mexia

7 receitas e um amor perfeito

um

misture perfume de cidreira
com um pouco de pó de estar calado
mexa com o olhar
e desacelere


dois

da canela
um cio de dedos
dos beijos
dois
em papel de seda embrulhados
ponha a marinar em sais de azul
e desmorda os beiços


três

dois mais um silêncios
bem atados
por fios cor de cobre altaneiro
HO2! OH!
ligue a ficha do instinto
salive q. b.
e raspe de uma nuvem mais à mão
um pouco de rosa tardio
não acrescente açúcar


quatro

pão
pô-lo migado para dentro de um perfume de coxas
cheire quatro vezes
lamba dois olhares por entre os seios
e prove mesmo
ponha um pouco de salsa
e acorde definitivamente


cinco

pegue em um bom litro
de transparentes desejos
filtre um pouco de amor
temperado com assobios de pássaro
remexa ao ritmo de um compasso coxo
e sirva
coberto de rosas ardentes


seis

seguidas rosas
num alinhamento vermelho
sob o muro branco escondidas
como saias sem roda
mais outro tanto
de paus feitos
e obterá um rebanho


o amor perfeito

é branco
incontinente
e cabe na palma da mão
como o destino pintado ao meio de um amarelo em flor
são esses os rios que correm
para um delta inconhecido
e é aí nessa fertilidade ampla das marés
que se dá o milagre
ou antes
a coisa
e a coisa é
um estático poente estriado
de rosas e azuis caçado na rede furada das borboletas

f.arom

terça-feira, 20 de junho de 2006


" Prima Karin"
Lago Lersjön


Foto de Maya Santimano
Sunne, Värmland, Suécia. 2005

Crónicas do Jocélio

O retorno do recalcado. Agora a direita pedagógica, a MFM, a FB, os meus colegas e o meu sindicato (tramaram todos a Ana Benavente), o editor da Gradiva (um abraço para um colega de curso), o matemático Nuno Crato, e tantos outros, para não falar da direita pura e dura, atacam o Ministério da Educação. Este agora tem tempos diferentes, mas fazem hoje todos parte do mesmo coro. Numa das salas da minha escola, a de Orientação Escolar e Profissional (grande nome), li qualquer coisa como: se o prof de matemática tem de ensinar matemática ao Miguel, tem de saber tanto de matemática quanto do Miguel. Pensava eu que todos tinham compreendido, à luz de estatísticas inelidíveis, feitas por organismos internacionais, o estado a que isto chegou. Parece que o bom senso não é partilhado. Trata-se só de senso comum. Querem voltar ao passado! Não conhecem o sabor do saber. Esqueceram Barthes, esqueceram-se do que viveram e marcham todos contra o “eduquês”. Para eles é à martelada que se ensina.Clint Eastwood, na pele de Dirty Harry, na sala de aula. Melhor, esperam uma atitude reverencial e macia por parte dos alunos, que aos profs não pagam para entrarem em westerns. Terão filhos, terão netos? Que fantasmas? Pior, não reconhecem esta escola onde tem assento todo o cidadão. Querem voltar ao passado? Oiçam o António Mourão!

Jocélio Vasco Salvado Elias