terça-feira, 11 de maio de 2010

O mar existe...

E um dia encontras-te em frente ao mar e vais soltando as tuas verdades, foges para Sul e encontras-te, descobres o teu novo rumo.
Depois, vem um nevoeiro imenso.
Recordas apenas um brilho de um olhar, um sorriso, a quentura de um corpo, uma mão que se enlaçou na tua.
Depois, há uma névoa confusa. Puta que pariu estes tempos!
Mar que já não vejo, ondas confusas que me enrolam, nuvens cheias de cinzas!
De tudo, a partir de agora, desconfio. De todos descreio.

Uivo à beira de um desgosto.
Não creio em nada.

O mar existe.
Essa é a única certeza...

Ilha de Moçambique. Novembro de 2009

Foto Sérgio Santimano

Das "polémicas", reais ou inventadas

Não me parece que haja nenhuma polémica em especial neste blogue, de momento. No entanto, impõe-se um esclarecimento quanto ao tal de Agostinho Lopes e outros assuntos: primeiro, acho estranho que se identifique a "canalha totalitária", que a há, e foi até bem nomeada pelo Armando nos comentários ao post, com a prática política de um partido tão inócuo, parlamentar, e dentro do sistema como é hoje o PCP. Segundo, no meu caso pessoal faço questão de não ter vacas sagradas, detesto rebanhos e ainda mais pastores. O exercício de memória do Agostinho Lopes quanto à história das privatizações em Portugal é fundamental, por muito que isso doa a quem insiste em acreditar (esses sim) em cantigas de embalar sopradas com a palavra mágica, "esquerda", e assim dormem um sono sossegado enquanto se vai dando cabo daquilo que significa isso mesmo, a esquerda. Terceiro, que quem me conhece, ou quem lê este blogue, sabe muito bem onde me situo perante os valores democráticos, e a exigência, tanto na prática política como intelectual, como ainda (e isso é o mais importante) na forma como se vivem os valores que se apregoam, da democracia, da liberdade e da solidariedade; por isso mesmo me espanto, oh se me espanto, que perante os maiores ataques à democracia alguns fiquem calados, preferindo continuar a confundir a forma com o conteúdo, satisfazendo-se com o mínimo denominador comum, recusando a exigência em troca, lá está, de um bom travesseiro onde deitar a sua cabeça. Quarto, dizer que é pena que alguns anónimos-não-tão anónimos, que demonstram à exaustão desconhecer o que é a democracia e a liberdade, na prática da sua vida de todos os dias, aí onde é decisivo, pretendam lançar veneno, acusando à boa maneira do novo estalinismo pessoas que estão muito acima delas, que vivem de cabeça erguida recusando o anonimato, que assumem as suas opiniões, debatem ideias e não lançam lama para cima de outros, que parece ser a única maneira como esta gente opera no mundo, eles lá saberão porquê. Quinto, e por último, tenho a certeza absoluta que a amizade e o respeito intelectual que me unem a quase, quase todos os actuais e antigos colaboradores deste blogue se mantém intactos, e que, à nossa maneira e escala, o 2+2=5 continuará a ser um blogue à esquerda e um espaço de liberdade.

Crisis, what crisis ?


Supertramp - crisis, what crisis ?

Baile dos Bombeiros

Aí está ela, a auspiciosa conjunção astral que configura uma nova Era Luxitana. Na retícula ibérica habitada pelo Povo Eleito já soam os cantos da boa-aventurança: Pur-Tu-Gal, Pur-Tu-Gal, Pur-Tu-Gal.
Devidamente alinhados e conjugados, os planetas Fátima, Futebol e Fado vão demonstrar, mais uma vez, o excepcionalismo dos Lusitanos. Citius, Altius, Fortis. Estão abertas as Olimpíadas da Razão e, obviamente, os atletas são todos Portugueses.

Mas vejamos porque os Deuses dedicaram os seus melhores planetas a Portugal, elevando os seus habitantes e fazendo da sua História o Olimpo dos outros bípedes. Sim, que nisto de Deuses, todos eles respondem a outros Deuses, ad infinitum. À excepção, claro, de um supranumerário que convenceu o ruminante Abraão- as misteriosas ervas que mastigou a caminho de Ur foram retiradas do mercado- da sua...excepcionalidade.

O planeta Fátima, como se sabe, é consagrado no Altar do Mundo. Aí acorrem regularmente, não tanto como gostariam, os devotos trinitários. Quando foi necessário avivar a centelha da humanidade que fenecia na Grande Guerra e na bancarrota financeira, assegurando que os ismos que aí vinham seriam suplantados pela oração, a escolha recaiu sobre a Zona Centro. O umbigo de Portugal... visto de perfil.
Hoje, uma vez mais, em plena catástrofe financeira, bem como as aflitivas crises associadas e dependentes, Portugal recebe o mais alto dignitário da sua religião. E já se diz que a presença física de Benedito, e a significância espiritual, ajuda os crentes a suportar a(s) crise(s). O real significado da coisa, da crise, as suas amplitude e latitude, foi, é de dizer, capturado pela banalização e pela conspiração. Krisis? What krisis? Ruminavam nas trevas pré-digitais os jurássicos embora premonitórios...SUPERTRAMP.

Declaração de interesses: Estas linhas só involuntariamente ofenderão alguém. Temos o maior respeito pelas religiões do Livro e por todas as outras e não nos escudamos nas catacumbas da psiquiatria ou nas zonas de conforto da Literatura. Fica a nota sobre o excelente “2666” de Roberto Bolaño, onde se descreve uma ‘funny condition’, a fobia aos símbolos religiosos, e circula secundariamente uma personagem penitente, que se dá a conhecer por mijar em todas as igrejas de Sonora e Sinaloa. Iconoclasta e incontinente. Gostaria, a propósito, que não continuassem a desrespeitar a minha condição de ateu.

O planeta Fado, o mais pequeno dos três, é muito complexo. Transversal e subterrâneo.
Conta a lenda que o fado cresceu afidalgado e plebeu, marialva e covarde, ébrio e virtuoso, catártico e depressivo. Esta ambiguidade negou-lhe os galões da urbanidade. Erudita acima, mas cheira rural. Pisca modernidade, mas sonha com o integralismo lusitano.
A descontinuidade de Abril desferiu-lhe severas e bem merecidas pauladas, mas o vírus resistiu e, como a psoríase totalitária, deita a cabeça de fora sempre que pode. Ele é uma alma redescoberta, ele é identidade profunda, ele é teatrinhos e musicais La Féria, ele é cantantes e cantandeiras nas boas assessorias culturais. Ajoelhai. Ele é o Senhor Fado.
Só falta convencer os Portugueses que se devem comportar como numa qualquer produção de Bollywood. De cinco em cinco minutos, esteja-se onde estiver, fazendo o que quer seja, canta-se o Fado. Isto não é ser conformista, isto é estar conformado. Se a tristeza aperta... canta-se o Fado e trocam-se as vogais.
Por exemplo, o cidadão dirige-se a um banco, pode ser o BPP que já não existe, e pede um empréstimo para comprar pão, para tratar a avozinha entrevada, pagar a renda, ou mesmo para despesas sumptuárias. Água, Luz, estudos dos filhos. O balconista dá nega. Acto contínuo, o cidadão, que é fadista e crente, em vez de protestar deve entoar: Nããããão häháháhá dinheeeeeeeeeiro.

Declaração de interesses:

O fado, embora musicalmente muito limitado, deve ser desfrutado em local próprio, mal iluminado, bem regado, e com par de bandarilhas na mão.


Por fim, o planeta Futebol. Que na langue de bois deve escrever-se planeta Benfica.
Com a conquista do trigésimo-segundo campeonato, e coincidindo com a visita de Benedito, e a retoma do Fado, podemos dizer que está de regresso o futebol de regime. Semi-totalitário, quase unânime, orgulhoso, glorioso, seis milhões de irmãos e quatro milhões de bastardos, primos, estrangeirados, liberais.
Atentemos nos emblemas (cartazes, faixas, slogans) e cruzemo-los nas órbitas dos planetas Fátima e Fado:
“Graças a Deus Sou do Benfica” e “Obrigado Pai”. Entrámos numa década prodigiosa, anunciada pela Águia Vitória e apoiada pelo movimento anti-taxidermia dos No Name Boys.

Declaração de interesses:

Não somos simpatizantes do SLB. Felicitamos o clube da roda de bicicleta pela vitória no nacional 2009/2010. A despeito de o Benfica, como notou Domigos Paciência, ter feito um terço do campeonato contra dez jogadores, e, explicou Rui Oliveira e Costa, dos exercícios de contabilidade criativa, ao nível de um Goldman Sachs. Jogadas entre o Benfica Clube e o Benfica SAD que fizeram golo no défice swap.

Bom, toda esta lenga-lenga para alertar, mercê da conjugação planetária favorável, para o surto de criatividade lusitana que aí vem. As possibilidades são todas, mas, convém saber, estender-se-ão preferencialmente, Presidente Silva dixit, para o Mar e para o Artesanato. Mais tarde, corrigiu-se a cousa do artesanato para ‘indústrias criativas’. Solte-se a vontade que o talento e a imaginação sobejam. Milhões de portugueses- leia-se, benfiquistas- acelerando as suas motas-de-água (caravelas) Atlântico dentro, com os Açores na bússola e o sonho na Patagónia. Ou a vibrante indústria criativa das Caldas da Rainha.
Pur-to-Gal, Pur-To-Gal, Pur-To-Gal.
Muito estranhamos, por tudo isto, os desentendimentos que por aqui grassam a pretexto de uma personagem que desconheço: Agostinho Lopes. Lamento.
Poderemos contribuir, nestes tempos de verbas longas do FMI, recordando o exemplo de Vasco Gonçalves quando, na iminência do colapso das contas públicas, apresentava a solução: “Não precisamos de empréstimos (FMI), precisamos de fregueses”.
Portanto, o freguês webmaster Armando Rocheteau que não dê importância à canalha totalitária. Lembre-se, caro Armando, que estas gentes defrontam-se com sérias dificuldades no relacionamento com a Verdade, com a Realidade e com a Liberdade.
Deixo-lhe um conforto axiomático: o socialismo real não é verdadeiro; e o paradoxo do filho da puta: como sei que sou livre?
Avé.

JSP

Este post é mesmo só para irritar o Armando

O presidente da Camâra Municipal de Lisboa, António Costa, um dos líderes da "esquerda democrática e moderna", recebeu o Sport Lisboa e Benfica, o clube por excelência das "massas populares".

Sinais


Desenho Maturino Galvão

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Serge Gainsbourg e a arte da provocação pura e dura (1)

I want to fuck her

Whitney Houston e Serge Gainsbourg

Pode ver um vídeo, com a conversa mais desenvolvida, aqui

Proletas em Preto e Branco


Nova Iorque. Abril de 2010

Foto Jota Esse Erre

Da Capital do Império

O fim da UEtopia?

Em tempo de crise eu fiquei à espera que o presidente da Europa tivesse vindo a público tentar acalmar os seus cidadãos quanto à crise dos PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha). Tive sempre uma réstea de esperança emocional que estivesse enganado e que o Tratado de Lisboa que os Bien Pensants de Bruxelas meteram à força pela garganta abaixo dos seus cidadãos fosse como diziam a unificação da Europa e não apenas uma UEtopia como me dizia o meu cérebro.
Sei também que a Bélgica é uma invenção histórica para irritar os franceses e que ninguém toma a sério os belgas, mas mesmo assim tive uma esperança vaga que alguém se lembrasse de dizer ao presidente belga da Europa (alguém ainda se lembra do seu nome?) que uma das funções presidenciais é aparecer na televisão em tempo de crise e não aguardar pelo funeral.
Nem nada. O que assistismos foi a a presidentes e primeiros-ministros a trocarem acusações entre si. O que me fez lembrar o Charles de Gaulle que afirmou certa vez que “on peut sauter sur la chaise comme un cabri en disant: ‘L’Europe! L’Europe! L’Europe!’ mas celá n’aboutit à rien e celá ne signifie rien”. Pois não. O que não é bom sinal para o que vem por aí e que poderá resultar no desmoronar do Euro e nos sonhos da tal Europa unida.
Há no entanto que começar por pôr a Grécia em perspectiva. A Grécia não é em termos económicos a Lehman Brothers. Longe disso. A falência da Lehman Brothers teve mais implicações à escala global do que a falência da Grécia ou de Portugal poderá ter. Nenhum desses países tem o peso económico ou as ligações e tentáculos à escala internacional que tinha a Lehman Brothers.
Mas a crise nos PIGS traz ao de cima aquilo que a introdução do Euro foi: colocar a carroça à frente dos bois.
Uma moeda tem que ter vários atributos e um desses atributos é um governo central. Que não há e que não haverá pois um governo central não são burocratas em Bruxelas a discutirem o tamanho dos pepinos ou como é que se deve ou não fabricar queijos num qualquer canto da França. Foi por isso que os governos locais dos PIGS puderam agir irresponsavelmente para alegria dos seus cidadãos que viram o seu nivel de cima aumentar consideravelmente graças ao Euro. Euro forte significou dívidas baratas para esses paises fracos. Todos violaram o acordo sobre os défices orçamentais e nada aconteceu porque nada podia acontecer. Mas agora o Euro transformou-se numa armadilha.
No tempo do Escudo e do Drachma os governos saíam de crises deste género aumentando a sua competitividade através da desvalorização da sua moeda e de um aumento da inflação. Mas Frau Merkel e Monsieeur Sarkozy não vão permitir isso. O que singifica que para a Grécia e Portugal só há duas possiveis saídas: Cortes drásticos de despesa o que provoca uma deflação. O que significa que teoricamente vai ser uma tarefa muito árdua equilibrar as contas nestes países que pouca possibilidade têm de competir a nivel internacional. (Um estudo aqui publicado afirma que no minimo demorará até 2017 para a Grécia regressar ao nível que estava em 2008).
Daí que na semana passada na televisão eu tenha visto um analista financeiro americano a afirmar que “se vocês acreditam que a Grécia vai sair desta crise deste modo então vocês acreditam que os porcos (os tais PIGS) podem voar”.
O que leva a uma segunda alternativa: mais ajuda da Alemnha e da França o que a julgar pela reacção a este primeiro pacote será muito dificil. A Grécia pode então dizer “não temos dinheiro para pagar os juros das nossas dívidas”. O que terá consequências desastrosas para os bancos alemães e franceses. Ou então a Grécia abandona o Euro com consequências desastrosas para o projecto monetário europeu.
Impossivel de acontecer? Para a Argetnina também era impensável abandonar a ligacão da sua moeda ao dólar. Foi o que tiveram que fazer limitando depois o acesso ao dinheiro nos bancos para se evitar uma “corrida” aos depósitos.
Mais preocupante ainda é que mesmo se a a UE decidir salvar a Grécia (o que este pacote não promete) não há garantias que esteja tudo resolvido. Ao fim e ao cabo o governo federal americano salvou a Bear Sterns mas teve que deixar caír a Lehman Brothers.

Da Capital do Império,

Jota Esse Erre

Sinais


Desenho Maturino Galvão

domingo, 9 de maio de 2010

Dos bruxos de trazer por casa

Cuidado com "premonições", ou podemos acabar caindo no ridículo.

Campeão Nacional 2009/2010

Arreda Canalha Totalitária


Deixem-me puxar dos galões

Não são os da tropa que não frequentei. Mas ainda andava eu no Liceu António Enes, com o Luís Carlos Patraquim, o Victor Nogueira Pereira e mais uns quantos, quando lançámos um jornal, O Progresso. Mais tarde, já a frequentar a Universidade, ainda em Moçambique, com a Joana Pereira Leite, o José Luís Faria e, salvo erro, o Castro Guerra, foi a vez de O Manifesto. Em 1976, em Évora, estava num comando internacionalista, mais o José Pinto de Sá, a Dot e o Marciano, a lançar um dazibao, afixado no Arcada, com o sugestivo título Arreda Canalha Totalitária.
O O Progresso acabou com a interferência da extrema-direita universitária moçambicana, na altura liderada pelo Mesquitela e pelo Martinez. O O Manifesto fechou porque os dirigentes da Frelimo entenderam que só eles podiam falar de Marx. A Canalha Totalitária não arredou. Sou de esquerda e prefiro o Sócrates ao Coelho. Vivo com qualquer deles. Já se triunfar a Canalha Totalitária vou ter que emigrar. Antes contem comigo para combater a canalha.

(A propósito do que leio nos blogues)

Pintura João de Azevedo

Sinais


Desenho Maturino Galvão

sábado, 8 de maio de 2010