terça-feira, 13 de abril de 2010

Amor - 69


Washington DC

Foto Jota Esse Erre

A propósito da deputada Cidinha Campos

Se repararmos bem nos termos e nos argumentos da deputada (perceptíveis neste e noutros vídeos acessíveis no YouTube), observaremos um estilo e o recurso a meios que são inaceitáveis em muitos países democráticos, como o uso público de informação judicial que se deveria manter reservada, a referência por alcunhas ofensivas a pessoas ainda não julgadas e condenadas ou a parentes seus, a exibição livre de epítetos e de insultos, ao melhor estilo de um «tribunal popular», que não podem aceitar-se num parlamento por mais hediondos que possam ser os crimes cometidos pelos seus destinatários. Por isto, e passada a novidade, fui deixando de achar grande piada aos vídeos populares da corajosa Cidinha Campos. Eles são reveladores de um lado populista e demagógico da democracia que também nos deve preocupar. Venha ele da esquerda ou da direita.
Rui Bebiano

Vídeo aqui

Sinais


Desenho Maturino Galvão

segunda-feira, 12 de abril de 2010


Pintura João de Azevedo

De Paulo Portas a Pedro Passos Coelho

Há uns dias, num desses fora televisivos em que os cidadãos dizem de sua justiça, um desempregado gritava contra os privilégios dos funcionários públicos que “não sabem o que é trabalhar”. Uns minutos depois, um funcionário público, irado, perguntava se seria justo que um desempregado, “que está em casa sem fazer nada”, recebesse os mesmos 600 euros que ele, que todos os dias tem de fazer pela vida.
É assim que estes senhores, de Paulo Portas a Pedro Passos Coelho, querem os cidadãos: a esgatanharem-se pelas migalhas que sobram. Convencidos que a culpa da sua miséria é do miserável que mora ao lado. E um dia destes, convencidos que culpa da sua miséria é deles próprios.

Daniel Oliveira

Música e Ciência


World Science Festival 2009: Bobby McFerrin Demonstrates the Power of the Pentatonic Scale

Sinais


Desenho Maturino Galvão

sábado, 10 de abril de 2010

Amor - Nas alturas


Viana do Castelo

Foto Jota Esse Erre

anaCrónicas 14

O bispo de Tenerife

O silêncio era uma regra do tempo e do medo do chefe. Agora há chefes, a cobardia soltou-se e há menos silêncio, cada chefe diz o que se lhe pede no débito do combate mediático global. Há uma ética do ruído, se não se lhe chamar ausência dela e os golpes sucedem-se na arena comunicacional. As intervenções da hierarquia do clero no mapa actual da pedofilia são nalguns casos desassombradas e entre a impossibilidade do seu silenciamento agora – na nossa Casa Pia, Pia repito, os casos que não vieram a lume, muitos mais que os conhecidos certamente, se não metiam membros do clero deviam-se basicamente a uma claustrofobia e miséria próprias de um bafio de sacristia misturado com regras de disciplina de caserna – e o comentário dos casos subsumido no escândalo alargando com os crimes crescendo a conta-gotas, ouvem-se as coisas mais extraordinárias. Duas delas bradam aos céus diria para parafrasear uma expressão bispal. A da comparação com o racismo que conduziu ao holocausto é obviamente deslocada e mesmo estúpida, mas a do bispo de Tenerife só o pode inculpar a ele como provável praticante – aos Domingos claro. Afirmar que a pedofilia é culpa da atitude provocatória e erótica das vítimas é pôr o carrasco no altar dos santos. Está tudo certo, esta é a igreja deles.

FMR

Sinais


Desenho Maturino Galvão

quinta-feira, 8 de abril de 2010


Gylen Prag Restaurante. Gotemburgo, Fevereiro 2010

Foto Sérgio Santimano

anaCrónicas 13

Cavaco e Bruni

Foi uma piada do Valente numa das crónicas traseiras do Público mas confesso que me ri. Sobre a banalização do escândalo a possibilidade ainda do escândalo. Certamente para consumo nacional, já que todos conhecem a Bruni, até descascada, pois fez por isso, e ninguém conhece o Cavaco, que nunca se descascaria, a não ser por cá. O que dá o sinal da nossa globalização específica: importamos todos os modelos e somos formigas anónimas lá fora. Exceptuando o Mourinho, mas esse é quase inglês e chama-se Mou, vejam no La Repubblica e o Cristiano Ronaldo que é da Madeira. Mas o planeta futebol é o de uma globalização específica e aí fala-se futebolês, o único esperanto quase absoluto, mais extenso que o inglês de trocos. Para nós o Cavaco fugir com a Bruni seria um sobressalto grande e levar-nos-ia por momentos a esquecer o pesadelo da dívida, o que este governo cuida de inculcar como a pior das sombras no nosso juízo perdido, com perseverança e carinho responsáveis - credivelmente. E com quem fugiria o Sarkozy?

FMR

Sinais


Desenho Maturino Galvão

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Baile dos Bombeiros





Embora falhando por uns dias a saison pascal, não queríamos deixar de a assinalar com uma parábola e alguns conselhos úteis. É sabida a importância da refeição comunal entre os bípedes, e ao que parece a cousa começou por ser um assunto de fraternidade virtual: acantonando os iguais melhor se redistribui a desigualdade e se consolida a hierarquia, o poder, se quisermos. Isto é, temos de convencer os amesedados que enquanto um come carne o outro manja raspas de corno, e ambos os fregueses ficam igualmente satisfeitos. Blurp.
Cumprida esta homenagem à antropologia das barracas, tomemos o exemplo da ceia fundadora. Conduto austero e esfaimante, vinho martelado e pouco, ambiente crispado e convivas com um olho na conversa e outro no garrafão. Soi disant, uma típica janta de pescadores desempregados na Galileia.
A imagem ‘pegou’ e vêmo-la glosada, por exemplo, no exemplar banquete de Viridiana ou, em registo estático, o painel dos Sopranos fixado por Annie Leibovitz. Anarquia versus Totalitarismo?
Bom, teremos de nos inclinar para a visão subversiva de Bunuel, esse aragonês monogâmico, se bem que Tony Soprano revele elevadas potencialidades na política prática.
Serve isto, afinal, para denunciar a forma repulsiva como se constrangem os cidadãos que têm de acorrer às ‘sopas dos pobres’. Saudados, afagados, compreendidos, encaminhados para o salão de dar ao dente ou sorver a sopinha. Lá está a refeição comunal da ceia fundadora. Pior, filmados, entrevistados, despudorados. Foda-se, deixem os homens comer em paz.

E vamos aos conselhos úteis. Através das fotos, ter-se-á um vislumbre da morte do surrealismo...também já morreu tanta coisa. O Charme Discreto da Burguesia foi trocado pela chama indiscreta da iconoclastia.
Trocadilho da treta, pois, mas, em Taipé, há outras modalidades interessantes, para além deste “Modern Toilet”.
Um bistrot temático sobre dinossauros, onde tudo, tudo, imita ossos, mandíbulas, ovos, pegadas, fósseis, banda sonora imaginária arrepiante- não há nada como ser atendido por um T Rex de metro e meio e cortesia oriental-, um, digamos, japanese coffee shop dedicado a Marilyn Monroe, sob o genérico “Wherever you are, how cold you may be, we love you Marylin”, e ainda o “Tacones Lejanos”, uma casa de, digamos, diversões.

E votos de que os amigos do “2+2=5” tenham passado uma Santa Páscoa. Uma quadra onde não é próprio revisitar a Via Láctea, pois, do amigo Bunuel.

JSP

PS: Estejamos atentos que estão tentando transformar a morte de Eugene Terre’Blanche, militante fascista, Huguenote antisemita e rabicho, num caso político e desportivo. Deve considerar-se a possibilidade de se tratar de um simples caso de ensarilhamento burocrático ou delonga na execução das penas.






Sinais


Desenho Maturino Galvão