domingo, 30 de novembro de 2008

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Da Capital Do Império

Flushing


Lado a lado. Mesquita e igreja presbiteriana

Flushing


Templo budista em construção ao lado de sede do templo da Ciência Cristã


Olá!
Foi Ernest Hemingway que disse que os subúrbios residenciais americanos são o local “onde acabam os bares e começam as igrejas”. O que é, na generalidade, verdade.
Só que neste cozido cultural que é a América em muitos subúrbios hoje não só há igrejas das mais diversas denominações cristãs mas templos das mais diversas crenças que ocupam o lugar onde pelos vistos o Hemingway gostaria de ver bares.
E se um dia forem a Nova Iorque não se esqueçam de visitar o subúrbio de Flushing mais conhecido por ser o local dos grunhidos do US Open em ténis do que pelas entoações nos seus templos religiosos. Mas que merece uma visita pela mistura incrível de templos religiosos literalmente uns ao lado dos outros, uma herança de um princípio de liberdade religiosa que data ainda da presença holandesa naquilo que hoje é Nova Iorque. Flushing é aliás o evoluir anglófono do nome holandês Vlissingen.
Mas antes de entrarmos na história quero também dizer vos que se numa viagem a Nova Iorque quiserem visitar uma “China Town” que não a de Manhattan então apanhem o Metro para Flushing. É como entrar na China. Lojas, peixarias, restaurantes, onde uma cara caucasiana é rara e onde o inglês quase não se fala. Entrei num desses restaurantes e comi estômago de porco frito. Nada mau embora talvez demasiado picante. A próxima vez quero provar o intestino de porco … também frito.
É obvio também que em Flushing deve haver agentes do Partido Comunista chinês porque numa esquina estava uma mesa com um dístico anunciando “ O Centro de Serviço para Deixar o Partido Comunista”. ( ver foto)
O que é interessante em Flushing é que a zona chinesa é substituída gradualmente por uma zona coreana, notada por mim pelos caracteres de escrita que são bem diferentes. E também pela igreja presbiteriana coreana. E uma outra anunciando orações em coreano e … espanhol! E há também judeus porque vi duas sinagogas. E muçulmanos porque vi uma mesquita … ao lado de uma igreja prebisteriana da comunidade coreana e chinesa. E Hindus porque vi (e visitei) um templo ao Deus Ganesh. E até budistas que estão a construir um enorme templo mesmo ao lado do templo dos Cientistas Cristãos (um grupo que apesar de se denominar de Ciência Cristã não acredita em procurar cuidados médicos para questões de saúde!). Ambos estão situados em frente a uma propriedade de uma igreja cristã coreana (creio que Metodista) e a dois passos de uma igreja católica chinesa que ficam quase em frente do edifício do Exercito da Salvação. Tudo isto numa distância que se pode percorrer perfeitamente a pé.
Membros da chamada Sociedade Religiosa de Amigos (uma seita hoje mais conhecida pelo nomes de Quakers) chegaram a Flushing em meados de 1600 para desagrado do então governador Peter Stuyvesant que de imediato os prendeu e os enviou para a Holanda. Penso que terá sido pelo facto dos Quakers serem pacifistas e lutarem então contra a escravatura. Em 1657 30 cidadãos do que é hoje Flushing enviaram uma carta ao governador lembrando-lhe que a liberdade religiosa é um conceito que se “estende a judeus, turcos e egípcios e Presbiterianos, independentes, Baptistas ou Quakers”. O homem que liderou essa luta dava pelo nome de John Bowne. A sua casa ainda lá está, hoje museu (encerrado “durante os próximos meses” para reabilitação) na rua que hoje tem o seu nome. E é nas suas proximidades num bairro residencial – surpreendente talvez pela qualidade das suas casas – que existe esse mosaico de templos, igrejas e mesquitas tudo erguido pelas diversas comunidades de imigrantes que chegam a Nova Iorque. A recém construída mesquita Hazrat I Abubakar Sadia é obra da comunidade afegã (ao lado da tal igreja presbiteriana construída por coreanos).
Talvez seja um sinal de que nem tudo é tolerância o facto de na parte frontal da mesquita estar fixado um aviso lembrando a todos que de acordo com a lei do estado de Nova Iorque é um crime interferir com actividades religiosas. E talvez não seja coincidência que do outro lado da rua numa casa privada o seu dono tenha escolhido colocar uma enorme bandeira americana no jardim.
Mas apesar disso depois de visitar Flushing não sei se o Hemingawy tinha razão quando afirmou que os subúrbios residenciais americanos são também zonas “ de grandes relvados e pequenas mentes”. Não parece ser Flushing um exemplo disso. Sei que se pode considerar Flushing o berço da liberdade e tolerância religiosa. (O governo holandês deu na altura razão ao John Bowne. Os Quakers regressaram aos Estados Unidos. Um deles formou o estado da Pensilvânia. O Peter Stuyvesant é hoje marca de cigarros. Os Quakers continuam a irritar muitos pelos seus princípios pacifistas)

À procura de desertores

Anúncio de centro para ajudar desertores do Partido Comunista. "China Town", Flushing, Nova Iorque.
Abraços,

Da Capital do Império,


Jota Esse Erre
Texto e fotos

terça-feira, 25 de novembro de 2008

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Da Capital do Império

Olá!

Como vocês sabem o Grupo dos 20 Gajos (G-20) esteve aqui recentemente para um boa jantarada em que um dos vinhos ( Shafer Cabernet Hillside Reserve 2003)) custa a retalho entre 350 e 400 dólares a garrafa. Nada mau!
Mas o que me chateou não foi isso. Eu acho que um bom vinho deve ser bebido sempre em boa companhia e mesmo em má companhia porque após o terceiro ou quarto copo a companhia começa a já não interessar muito, principalmente quando o pretexto para os copos é resolver os problemas financeiros do mundo.
O que me chateou um pouco foi ver que o Nicolas Czarkozi já foi ligeiramente infectado pela doença infantil da UEtupia que é o anti americanismo primário. É uma doença perigosa porque resulta de imediato na incapacidade de analisar friamente factos ou mesmo em certos casos na paralisação total do cérebro cada vez que a palavra “América” é mencionada. Em alguns casos leva mesmo demência total quando a palavra “Bush” é ouvida.
Digo isto porque o Czarkozi mostrando a tal infecção veio juntar a sua voz ao coro daqueles que nos últimos meses têm vindo a pregar o fim do estatuto dos Estados Unidos como superpotência mundial. Vêm aí os chineses! os indianos! e agora vejam lá até os brasucas vêm aí acabar com o estatuto de superpotência de Washington.
“Os Estados Unidos continuam a ser a maior potência mas já não são a única potencia,” disse o Czarkozi um pouco à La Palisse. Deve ter andado a estudar aqueles analistas que proclamam que os Estados Unidos “não podem já ditar e esperar que os outros sigam”. Pois claro que não. Não são nem nunca foram a única potencia nem nunca puderam ditar à espera que os outros seguissem. Foi por isso que houve guerras na Coreia, no Vietname, no Iraque. Sempre houve outras potências e sempre as haverá. Sempre houve e sempre haverá quem não obedeça a “sugestões” de grandes e superpotências. Ser superpotência nunca significou ser-se única potência ou omnipotência. Significa apenas isso: ser-se Numero Uno e por isso ter-se mais influencia, mais capacidade de acção, mais poder.
E aí nada mudou. Vejamos:
O rebentar da bolha financeira acabou logo à partida com o mito de uma economia mundial desligada da economia americana como se apregoava. Os Estados Unidos constiparam-se o mundo apanhou uma gripe. O que só pode espantar aqueles que ao início não podiam esconder o seu regozijo perante a crise americana demonstrando ou uma total ignorância da realidade ou um caso óbvio de doença infantil da UEtupia. Senão vejamos: O ano passado os Estados Unidos constituíram 21 por cento da economia mundial. Em 1980 eram 22 por cento. Tendo em conta o advento da China, Índia e brasucas a perda de um por cento da produção económica mundial em 27 anos não me parece um sinal de descalabro económico. E ou muito me engano quando a poeira assentar essa percentagem terá aumentado
Vejamos os números da crise: O Congresso aprovou um pacote de 700 mil milhões de dólares. Isso é 5 (cinco) por cento do Produto Interno Bruto americano. A Alemanha (a maior economia europeia) aprovou um pacote de entre 400 mil milhões e 536 mil milhões de dólares. Isso é entre 12 e 16 por cento do seu Produto Interno Bruto. O pacote aprovado pelos ‘bifes” é de 835 mil milhões ou seja 30 (trinta) por cento do seu PIB.
Essas percentagens não são de admirara Em termos de PIB a economia americana é quase tão grande como a dos outros seis países do G 7
Dividas americanas? São tantos zeros que já não sei se devo dizer triliões ou milhões de milhões. Mas qualquer que seja a palavra certa a percentagem da dívida do governo americano em relação ao PIB é de 62%. Muito? Talvez. Na zona do Euro é de 75 por cento. No Japão 180%.
E não vou entrar aqui em “research and development” ou investimentos na educação terciária. Não é preciso números. Basta ir dar uma passeata por uma universidade americana onde as bibliotecas estão abertas até ás 23 e 24 horas com malta a “marrar” e onde há computadores que sobram. Depois atravessar o lago e dar se uma passeata por uma universidade desse lado do charco e está tudo dito. Defesa? Os Estados Unidos gastam mais em defesa do que os seguintes 14 países em conjunto. E isso é apenas 4,1 por cento do PIB, mais baixo do que durante a Guerra-fria. Iraque, Afeganistão? Menos de um por cento do PIB. (Sim eu sei que o poder militar não é necessariamente sinal de força. Sei que é consequência.)
O Czarkozi deveria feito uma leitura fria dos números. Não o fez e depois meteu outra vez a pata na poça quando afirmou que “o dólar já não é moeda de reserva” do mundo. Aí eu desatei a rir às gargalhadas. Lembrei-me daquilo que o “garganta funda” disse aos jornalistas do Washington Post quando estavam a investigar o escândalo Watergate: “ If you want to know the truth follow the money”.
Ora bem: Vocês devem lembrar-se que o Euro atingiu 1,60 dólares por volta de Abril, altura em que a Libra esterlina valia pouco mais de dois dólares. Tenho a dizer que eu ficava cheio de inveja a ver os “europas” e “bifes” a virem a este lado do charco encher as malas de compras. Depois rebentou a bolha financeira e o Euro e a Libra Esterlina pareciam mergulhadores a saltar da prancha dos dez metros nos jogos olímpicos. A última vez que olhei para os câmbios o Euro estava a 1,26 e a Libra esterlina a 1,50 dólares. Nunca tão poucos caíram tanto em tão pouco tempo.
Então porquê? Porque em tempo de crise verdadeira, como aquela que se faz sentir agora através do mundo o princípio é muito simples. Segurança só há uma: no dólar e mais nenhuma. Só em Setembro (mês em que a bolha estoirou) a China comprou 43 mil e 600 milhões de dólares de títulos do tesouro americano.
A procura de dólares foi tão grande que a 29 de Outubro o banco central americano, o Federal Reserve assinou um acordo de “troca de liquidez” com os bancos centrais do Brasil, México, Coreia (do sul) e Singapura. Cada um vai receber dos States 30 mil milhões de dólares para “mitigar o alastramento das dificuldades …. em economias que são fundamentalmente boas e bem administradas”.
Enterrado no fim do comunicado dizia–se que o Federal Reserve tinha autorizado acordos semelhantes com a Austrália, Canada, Dinamarca, Inglaterra, Banco Central Europeu, Japão, Nova Zelândia, Noruega, Suécia e Suíça.
A julgar pelo que disse o Czarkozi eu pensava que deveria ter sido ao contrário. Obviamente o Czarkozi não leu o comunicado do FED. Pior do que isso: He did not follow the money. Só veio aqui beber um vinho caro …americano.
Abraços,
Da Capital do Império,

Jota Esse Erre